Capítulo 5

Depois que chegou em casa, Olívia tomou um remédio para dor de cabeça e apagou literalmente, quando acordou já passava das 21:00 horas. O som da goteira pingando no balde aguçava a sua audição três vezes mais nítido.

Olívia - Não aguento mais isso!

Ela fecha os olhos novamente e vira para o outro lado da cama fitando o nada branco da parede. Sua vida definitivamente estava sem direção, a impressão que tinha é que estava em um bote no meio do mar, que quanto mais remava mais longe ficava da terra firme

O barulho da goteira estava a incomodando tanto que Olívia teve que pegar um travesseiro e colocar em cima do rosto tampando o ouvido, revirou várias vezes na cama e sentou bruscamente jogando o travesseiro longe.

Olívia - Merda! Como eu vou pagar o aluguel agora?

Ela leva as mãos à cabeça e começa um choro de desespero.

Olívia - Nunca vou conseguir a guarda do meu sobrinho sem emprego, nunca! Se estava difícil antes, agora ferrou tudo.

Ainda incomodada com o pinga pinga, Olívia se levanta e olha para a panela transbordando água e molhando o chão.

Olívia - Oh, não!

Derrotada, bufa, pega a panela que estava bem pesada e leva para o banheiro despejando toda a água suja no ralo da pia, retorna e a posiciona no mesmo lugar.

Como não tinha comido nada o dia inteiro, Olívia prepara um rápido sanduíche e come com leite gelado. Enquanto isso, releia novamente as documentações da adoção do Liam.

Ela sabia que desempregada deu dez passos para trás novamente voltando para a estaca zero. O que tinha que fazer era acordar cedinho amanhã e procurar um emprego antes que a assistente social descubra e dificulte ainda mais as coisas.

Sentada no sofá, vira o rosto para o lado tendo acesso visual ao porta retrato que estava exposto em cima da mesinha de apoio. Havia uma foto dela e da irmã tomando uma pina colada na praia, ambas sorriam bastante e Olívia se pega lembrando desse dia com saudade e alegria.

Sua irmã fez de tudo por ela, perdeu a melhor fase da sua vida para trabalhar e cuidar da parte chata dos adultos, deu carinho, amor e atenção. Enfim, Olívia devia isso a Ember.

Olívia - Porque você escondeu a gravidez?

Ela pega o porta retrato.

Olívia - Além de irmã éramos melhores amigas, não deveria ter me escondido.

De repente, Olívia se pega pensando no pai da criança que continuava um grande mistério.

Olívia - Será que ele sabia que ia ser pai? Quem será?

A dúvida corroía, mas Olívia não poderia focar nesse mistério no momento. Sua vida estava um poço sem fundo e tinha que sair dessa. Decidida a recomeçar, ela começou a pesquisar na internet vagas de empregos e mandou o currículo pelo e-mail.

Com os olhos pesando de sono, Olívia acabou dormindo no sofá com o notebook em cima da barriga, que de longe foi uma péssima idéia, pois ao se virar o aparelho escorregou e foi parar com tudo no chão. Com o barulho, ela acordou assustada, olhou para o chão e rapidamente pegou o notebook com o coração na boca.

Olívia - Não, não, não!

Infelizmente o aparelho não estava ligando, e a maré de azar de Olívia só trouxe à tona que tudo na vida dela estava dando errado.

Olívia - Talvez a Ruth tenha razão, como irei cuidar de uma criança assim, como?

Se perguntava a si mesmo não tendo respostas nenhuma. Estressada, Olívia queria dançar, pois tinha o hobby da dança e literalmente praticar lhe deixava mais leve, tirando um pouco do peso que sentia sobre suas costas.

Mesmo sendo tarde, a academia que frequentava ficava aberta até meia noite, Olívia pulou daquele sofá e correu para o quarto, vestiu uma legging preta e uma camiseta da mesma cor, calçou um tênis e amarrou o cabelo no penteado de rabo de cavalo.

Quando saiu de seu apartamento para pegar o elevador, deu um largo sorriso pois ele não estava mais em manutenção. Entrou e apertou no andar da recepção.

O elevador descia fazendo um barulho de ferros batendo um no outro que parecia que ia parar a qualquer momento. Quando chegou na recepção, Olívia não viu ninguém, nem o porteiro que ficava no turno da noite, saiu do prédio e foi caminhando pelas calçadas de cabeça baixa.

Durante todo o trajeto se pega pensando no assédio que sofreu logo cedo. Era muito grata a dona da floricultura por ter lhe dado uma oportunidade e estava bastante triste por ter saído e não ter dado uma satisfação.

Olívia - Provavelmente o traste do marido dela vai inventar histórias e dizer que eu fiz alguma coisa de errado, não queria que ela pensasse mal de mim.

Lamentou Olívia.

Olívia - Porque tudo na minha vida dá errado?

Finalmente ela chega à academia. Ao entrar, havia umas quatros pessoas malhando nos aparelhos.

Olívia - Boa noite!

Recepcionista - Boa noite, Olívia! Veio tarde hoje.

Olívia - Na realidade eu nem vinha, mas tenho que aproveitar, já que será meu último mês.

Ela logo se deu conta que não teria dinheiro para pagar o próximo mês.

Olívia - Poxa, eu esqueci o cartão.

Recepcionista - Não tem problema eu libero a sua entrada.

Olívia - Obrigada, você é um anjo!

Ambas sorriem. Olívia sobe as escadas e entra no salão de dança com a lateral toda espelhada. A sala estava um pouco escura pois não tinha ninguém usando naquele momento, ela acende as luzes do ambiente e tira o tênis colocando no cantinho, ficando só de meias.

Olívia conecta o seu celular na caixinha de som e coloca uma música para tocar. 🎵 Def Leppard - Armageddon. Logo o primeiro som agudo da guitarra começou a invadir todo lugar.

Olívia era aquele tipo de dançarina que não tinha coreografia, dançava com alma, logo seus movimentos eram criados na hora deixando cada passo harmonioso e especial aos olhos de quem tinha o privilégio de vê-la em ação. Mesmo sendo um hobby, ela levava a sério seus momentos de conexão com a dança.

Ela poderia dançar qualquer música que e conseguia transmitir a realidade da canção com uma leveza absurda. A recepcionista se aproxima com os outros frequentadores da academia e ficam a assistindo de longe, era bonito de se ver.

Olívia só se deu conta que tinha plateia quanto deu o último rodopio no ar, olhou para o lado e recebeu uma salva de palmas bastante calorosa. As suas maçãs do rosto imediatamente ficaram vermelhas iguais a um tomate maduro.

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