Capítulo 4. Absurdo Mas Possível

Laura continuou comendo e pensando. Seria bom ter sua herança nas mãos, terminaria sua residência e faria o doutorado bem mais tranquila, mas não para ajudá-los.

— Ele fez alguma exigência?

— Um exame ginecológico para confirmar que você é fértil e limpa — Onofre não contou toda a verdade, mas descobriria quem era a médica dela e falaria com ela em secreto.

Laura achou tudo aquilo um absurdo, mas não podia negar que era vantajoso e não achou Jason repugnante. Já que não tinha nenhum pretendente, podia sacrificar um ano de sua vida, mas para não demonstrar que concordava de cara, pediu:

— Preciso pensar um pouco, me dêem dois dias.

Onofre não ficou feliz, mas suspirou aliviado.

— Tudo bem filha, entendo que seja um grande passo para você, falarei com Jason.

Laura levantou-se e disse que precisava ir embora. Seu pai levantou-se para levá-la até a portaas Leda ficou sentada, finalmente começando a comer. 

Ele não a levou em casa e Laura precisou andar muito até o ponto de ônibus e só chegou em casa uma hora e meia depois. Amanda a esperava, preocupada.

— Menina, que bom que chegou, eu estava ficando preocupada. 

— Até que lá, foi rápido, demorei foi vindo pra casa, pois meu pai não teve a decência de sequer, me levar ao ponto de ônibus.

Elas entraram e fecharam a porta e sentaram na cama de casal, onde as duas dormiam, para conversar. Laura contou toda a proposta e Amanda riu de se escangalhar e rolar na cama.

— Ei, amiga, que reação estranha é essa? — perguntou Laura.

— Você será a dona do hospital, vai mandar no Dr. Fontes. — continuou rindo.

— Quer dizer que você não acha isso um absurdo?

— Convenhamos que o cara é um gato, não será nenhum sacrifício se deitar com ele, além disso, ele é podre de rico e você ficará muito bem nessa história. A única coisa pesada é sua família.

— Você tem razão. De qualquer maneira, pedi dois dias para dar uma resposta. E mesmo que não dê muito certo, vou poder receber minha herança e tirar a gente desse muquifo.

— Então, vamos dormir, que amanhã tem trabalho. — disse Amanda.

— Tá certa, vou tomar um banho rápido, boa noite.

No dia seguinte, Laura foi a ginecologista e fez sua consulta habitual, mas pediu um atestado  médico de suas condições, para fins de contrato pré nupcial. A doutora entendeu e deu um atestado completo, incluindo sua virgindade.

Laura saiu satisfeita do consultório e foi até seu professor. Conversou com ele sobre os transplantes de célula tronco e medula, verificando os riscos e possibilidades de cura. Não trataria um bebê como mercadoria, afinal, seria seu filho e o amaria de todo coração.

Jason passou o dia agitado em seu escritório, não acreditou que aquela ratinha pediu dois dias para pensar. 

— Sou o empresário solteiro mais cobiçado da cidade e ela ainda tem que pensar.

— Por quê o senhor não lhe envia alguns presentes? — sugeriu Carl.

— Presentes não, mas flores sim, isso, boa ideia Carl. Vou escrever um cartão e você faz o pedido. Envie Rosas rosas, não vermelhas.

Ele escreveu no cartão:

" Obrigada por pensar na minha proposta com carinho, prometo te tratar muito bem."

Carl foi à floricultura e fez o pedido, escolhendo a dedo, duas dúzias de rosas, que formou um belo buquet e causou um furor, quando chegou na recepção do hospital e Laura foi chamada para receber.

Ela levou o buquet para o vestiário, já que não podia entrar com ele nas enfermarias. Pegou o bilhete e apesar das rosas serem lindas, deu-as para as faxineiras, pois não tinha onde colocar. Leu o bilhete e pensou:

" Ele deve me achar muito ingênua e tola, mas não precise mostrar a ele, pense o que quiser, ficaremos juntos só o tempo que for necessário e poderemos fazer bebês in vitro."

Depois disso, voltou ao trabalho e quando terminou o dia, a recepção do hospital estava toda florida e junto com Amanda, voltou para casa. No dia seguinte conversaria com seu advogado e pediria que ele acompanhasse tudo de perto.

*

Onofre foi para o escritório do advogado, naquele mesmo dia, logo depois de falar com Jason.

— Como vai, senhor Peçanha, em que posso ser útil?

— Creio que minha filha Laura irá se casar e gostaria de saber como estão as aplicações da herança dela?

— Vão muito bem, senhor, e passarão às mãos dela conforme dita o testamento de Dona Eulália.

— Sim, com certeza, e a casa?

— A escritura da casa também será entregue a ela e a verba de manutenção que lhe é passada todos os meses, cessará. Antes, porém, uma vistoria será feita na mansão, para que seja entregue em perfeitas condições.

— Uma vistoria? O senhor está desconfiando de mim, Dr. Nestor?

— É de praxe, mas as vezes que passei por lá, percebi que a casa parece abandonada, acaso não está morando mais lá? O jardim estava deplorável, se D. Eulália estivesse viva, morreria de desgosto.

Onofre não gostou do trocadilho e olhou carrancudo para o advogado.

— Bem, não vim aqui para isso, na verdade gostaria que a hetanca de Laura fosse depositada em uma conta especifica, que o gerente do meu banco abriu especialmente para ela e é uma conta especial. Nunca gostei do banco que minha finada esposa utilizava. Aqui está. — passou o cartão com os dados para o advogado.

— Tudo dependerá de sua filha, senhor Peçanha, mostrarei a ela sua sugestão.

Onofre nunca gostou daquele advogado, ele não era tão maleável como o irmão falecido, que facilitou para ele poder manejar a herança de Leda. Agora não tinha mais o que fazer, precisava esperar a resposta de Laura.

Se despediu e saiu do escritório, 

aborrecido por não ter conseguido nada. Jason não sabia que Laura receberia essa herança e Onofre achou melhor não contar, para que ele não se metesse em seus negócios, pois ainda tentaria um jeito de ficar com a herança para si, custasse o que custasse, estaria preparado, depois do casamento, ele conseguiria esse dinheiro, ou não se chamava Onofre.

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