Renascer Do Crepúsculo "A Lenda Da Condessa".
Estava exatamente às quatro da manhã quando finalizei a cirurgia cardíaca que parecia durar uma eternidade. Minhas mãos, exaustas pela precisão e delicadeza do procedimento, começaram a tremer levemente, quase imperceptíveis para qualquer pessoa que não estivesse prestando atenção. Olhei para o relógio na parede, percebendo que aquela cirurgia havia se estendido para além de minha resistência física.
Olhando para o médico auxiliar ao meu lado, um profissional competente e confiável, pedi gentilmente: "Dr. Oliveira, poderia finalizar a sutura no paciente, por favor? Meus dedos parecem não responder como deveriam".
Ele assentiu compreensivamente, assumindo a tarefa enquanto eu me afastava do campo cirúrgico. Minha mente oscilava entre o alívio de estar prestes a terminar e a decepção de não poder concluir aquela cirurgia com minhas próprias mãos. A exaustão pesava em meus ombros, física e mentalmente, mas eu não podia deixar transparecer. Afinal, como uma médica experiente, eu estava acostumada a todo tipo de desafio.
Enquanto observava o Dr. Oliveira trabalhar com habilidade, meu olhar se desviou para o relógio novamente. Hoje era meu trigésimo aniversário. Quem sabe, em outros tempos, aquilo significaria uma comemoração especial. Mas como uma menina prodígio, filha única de pais ricos, mas ausentes, aprendi a não valorizar tanto os meus aniversários. Para mim, o trabalho sempre foi a prioridade.
A cirurgia foi um sucesso, e o paciente estava fora de perigo. Alguns residentes se aproximaram, visivelmente impressionados com o resultado e desejando parabenizar-me pelo aniversário. Eu pedi que aguardassem até o amanhecer pelo menos. Ainda havia muito a ser feito, e eu precisava de um momento de descanso antes de qualquer comemoração.
Caminhei pelos corredores do hospital, cumprimentando algumas enfermeiras pelo caminho. Elas sabiam da minha dedicação à medicina e compreendiam como era importante para mim ter sucesso naquilo que eu escolhi como missão de vida. À medida que me aproximava do corredor onde ficava o escritório e a sala de descanso, avistei Emília, minha amiga e colega de profissão, sorrindo para mim.
Em um abraço caloroso, ela me desejou feliz aniversário. "Parabéns, Catarina! Você é uma médica incrível e merece todo o reconhecimento neste dia especial", ela disse sinceramente.
Emília sempre foi uma companheira fiel, compartilhando das mesmas paixões e lutas diárias no hospital. Seu apoio e amizade eram inestimáveis para mim. Sorri em resposta, agradecida por ter alguém que sabia a importância que aquele dia representava.
Conversamos por alguns minutos, compartilhando nossas experiências daquele plantão,demos risadas quando Emília contou o que houve no pronto socorro momentos antes uma senhora de oitenta anos veio até o hospital dizendo que era uma emergência, precisava remover toda a pele em excesso do rosto pois seu novo namorado a chamará de velha, Emília tentou aconselhar a mulher que no pronto socorro não fazíamos cirugia plástica, ainda tivemos tempo de compartilhar um chá da máquina ao lado da enfermaria antes de decidirmos voltar ao trabalho. Ainda havia muitos pacientes a serem atendidos, vidas a serem salvas. Mas, no fundo do meu coração, senti um profundo sentimento de gratidão. Apesar das dificuldades e sacrifícios, eu estava orgulhosa do caminho que escolhi seguir. E, mesmo que meu aniversário possa passar em meio a cirurgias e plantões, eu sabia que estava cumprindo meu propósito. Isso, por si só, era motivo suficiente para celebrar.
Enquanto caminhava em direção ao escritório para confirmar a próxima intervenção, fui surpreendida pela nova enfermeira-chefe, Gotel. Seu semblante sério e postura formal eram notáveis desde que ela tinha entrado no hospital, mas mesmo assim, ela sempre foi educada e prestativa, muito diferente da enfermeira-chefe anterior, Rose, que percorria os corredores com mau humor estampado no rosto.
Gotel entrou na sala e se aproximou de mim, interrompendo meu próximo passo. "Dra. Catarina, desculpe, mas eu precisava te avisar que o paciente seguinte da cirurgia eletiva pediu para que fosse adiada", ela informou em tom profissional.
Meu olhar se fixou no rosto dela por um breve momento, surpresa com a notícia inesperada. "E qual foi o motivo?", perguntei curiosa.
Gotel suspirou antes de responder: "O pai dele faleceu recentemente. Ele precisou ir ao funeral e sentiu que não seria capaz de enfrentar a cirurgia nesse momento".
A compreensão encheu meu coração, há alguns anos havia perdido minha avó Alice,a última coisa que queria seria estar em uma cirurgia enquanto ela estava sendo velada, fiz um sinal com a cabeça e agradeci a Gotel pela informação. Independentemente das aparências, ela sempre demonstrou eficiência e empatia em seu trabalho. Ela ainda me surpreendeu antes de sair ao entregar uma pequena caixa em minhas mãos, desejando-me um feliz aniversário.
Abri a caixa e me deparei com um colar delicado, com um pingente em formato de rosa. Um sorriso discreto apareceu em meus lábios, mesmo que eu não soubesse explicar o motivo. Havia algo familiar naquela joia, como se eu já a tivesse tido em minhas mãos em algum momento anterior.
Suspirei, afastando os pensamentos confusos que invadiram minha mente. Meu celular vibrou no bolso, interrompendo minha contemplação. Era Stephan, meu.. amigo..meu melhor amigo..na verdade é complicado... desde o mês passado ele insistentemente cobrava que eu reservasse um tempo para celebrar meu aniversário com ele. Eu me odiei por prometer que jantaríamos juntos na noite seguinte. Até tentei pegar mais um plantão para evitar o compromisso, mas não tive sucesso, não tenho nada contra Stephan é um advogado de sucesso é um homem atraente, inteligente, parece perfeito.. perfeito demais..
Respondi à mensagem dele com um emoji sorrindo e confirmei: "Não se preocupe estarei lá".
Coloquei o colar de volta na caixa e guardei-a em meu jaleco. Enquanto seguia em direção à sala de descanso, deixei escapar um suspiro cheio de sentimentos conflitantes. Meu trigésimo aniversário estava cheio do vazio de sempre. Mas, no fundo do meu coração, eu sabia que aquele dia seria especial, de alguma forma. E talvez, justamente por causa das reviravoltas que a vida me presenteia, aquele jantar com Stephan pudesse ser uma agradável surpresa em meio ao caos da minha rotina como médica.
Prossegui pelo corredor, sentindo o peso da exaustão acumulada em meu corpo, mas também um sentimento de esperança e gratidão. Meu aniversário poderia não ser como os outros, com festas e presentes, mas eu tinha certeza de que não podia continuar sendo a mesma pessoa solitária.
Aproveitando o tempo livre na sala de descanso, decidi me permitir um breve cochilo. Estava exausta e, antes que percebesse, literalmente adormeci como uma pedra. Meus olhos se fecharam e o cansaço me envolveu, me levando para um mundo de sonhos.
No meu sonho, estava em frente à porta da minha casa, acompanhada pelos meus pais. O dia estava ensolarado, os passarinhos cantavam alegremente, e eu sentia uma profunda gratidão. Tudo parecia perfeito. Mas, de repente, uma chuva intensa começou a cair, o tempo escureceu e uma sensação de angústia se apoderou de mim.
Meus pais, em um movimento rápido, entraram no carro. Eu corri desesperadamente atrás deles, gritando para que me levassem com eles, mas eles apenas aceleraram e partiram sem olhar para trás. A sensação de solidão e abandono me atravessou como uma lâmina afiada, rasgando meu coração.
A escuridão me rodeava, e eu acordei subitamente quando ouvi o Dr. Oliveira me chamando, tirando-me do meu pesadelo. Levantei da cama num salto, percebendo que estava coberta de suor. O médico perguntou se estava tudo bem, e eu apenas confirmei, forçando um sorriso para disfarçar o desconforto.
Olhei para o meu relógio de pulso e constatei que já era seis da manhã. Tinha que me recompor e seguir em frente. Agradeci ao Dr. Oliveira pela preocupação, pedindo-lhe que não se incomodasse comigo, e segui em direção ao banheiro.
Joguei água fria no rosto, tentando afastar a angústia que ainda me envolvia devido ao sonho perturbador. O maior medo que sempre carreguei em meu coração era o da solidão, e aquele sonho refletia todas as marcas que a infância difícil e distante dos meus pais deixaram em mim.
Respirei fundo e olhei para o reflexo no espelho. Os olhos cansados, meu cabelo completamente desalinhado ea expressão preocupada me devolveram o olhar. Ergui o queixo e decidi não permitir que o passado ditasse a minha vida. Eu era mais forte do que isso.
Persistência e determinação foram as armas com as quais construí minha carreira de médica. E agora, naquele dia especial do meu aniversário, eu escolhi enfrentar meus medos e buscar a felicidade que eu merecia.
Deixei o banheiro e, ao sair da sala, pedi ao Dr. Oliveira que não se preocupasse, dizendo-lhe que estava tudo bem.
Aquele novo ano seria diferente de todos, o futuro afinal poderia reservar surpresas e eu estava disposta a descobrir o que era.
...Catarina Cardoso...
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Vanda Belem
Comecei ler agora, a escrita é muito envolvente. Já amei essa medica /Drool//Drool//Drool//Drool/
2024-01-26
1
Rosária 234 Fonseca
lendo seu livro pela primeira vez estou gostando muito
2023-11-10
1
Mila Gomes
ansiosa por continua a história
2023-09-25
2