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Renascer Do Crepúsculo "A Lenda Da Condessa".

Capítulo 1 (meu trigésimo aniversário)

Estava exatamente às quatro da manhã quando finalizei a cirurgia cardíaca que parecia durar uma eternidade. Minhas mãos, exaustas pela precisão e delicadeza do procedimento, começaram a tremer levemente, quase imperceptíveis para qualquer pessoa que não estivesse prestando atenção. Olhei para o relógio na parede, percebendo que aquela cirurgia havia se estendido para além de minha resistência física.

Olhando para o médico auxiliar ao meu lado, um profissional competente e confiável, pedi gentilmente: "Dr. Oliveira, poderia finalizar a sutura no paciente, por favor? Meus dedos parecem não responder como deveriam".

Ele assentiu compreensivamente, assumindo a tarefa enquanto eu me afastava do campo cirúrgico. Minha mente oscilava entre o alívio de estar prestes a terminar e a decepção de não poder concluir aquela cirurgia com minhas próprias mãos. A exaustão pesava em meus ombros, física e mentalmente, mas eu não podia deixar transparecer. Afinal, como uma médica experiente, eu estava acostumada a todo tipo de desafio.

Enquanto observava o Dr. Oliveira trabalhar com habilidade, meu olhar se desviou para o relógio novamente. Hoje era meu trigésimo aniversário. Quem sabe, em outros tempos, aquilo significaria uma comemoração especial. Mas como uma menina prodígio, filha única de pais ricos, mas ausentes, aprendi a não valorizar tanto os meus aniversários. Para mim, o trabalho sempre foi a prioridade.

A cirurgia foi um sucesso, e o paciente estava fora de perigo. Alguns residentes se aproximaram, visivelmente impressionados com o resultado e desejando parabenizar-me pelo aniversário. Eu pedi que aguardassem até o amanhecer pelo menos. Ainda havia muito a ser feito, e eu precisava de um momento de descanso antes de qualquer comemoração.

Caminhei pelos corredores do hospital, cumprimentando algumas enfermeiras pelo caminho. Elas sabiam da minha dedicação à medicina e compreendiam como era importante para mim ter sucesso naquilo que eu escolhi como missão de vida. À medida que me aproximava do corredor onde ficava o escritório e a sala de descanso, avistei Emília, minha amiga e colega de profissão, sorrindo para mim.

Em um abraço caloroso, ela me desejou feliz aniversário. "Parabéns, Catarina! Você é uma médica incrível e merece todo o reconhecimento neste dia especial", ela disse sinceramente.

Emília sempre foi uma companheira fiel, compartilhando das mesmas paixões e lutas diárias no hospital. Seu apoio e amizade eram inestimáveis para mim. Sorri em resposta, agradecida por ter alguém que sabia a importância que aquele dia representava.

Conversamos por alguns minutos, compartilhando nossas experiências daquele plantão,demos risadas quando Emília contou o que houve no pronto socorro momentos antes uma senhora de oitenta anos veio até o hospital dizendo que era uma emergência, precisava remover toda a pele em excesso do rosto pois seu novo namorado a chamará de velha, Emília tentou aconselhar a mulher que no pronto socorro não fazíamos cirugia plástica, ainda tivemos tempo de compartilhar um chá da máquina ao lado da enfermaria antes de decidirmos voltar ao trabalho. Ainda havia muitos pacientes a serem atendidos, vidas a serem salvas. Mas, no fundo do meu coração, senti um profundo sentimento de gratidão. Apesar das dificuldades e sacrifícios, eu estava orgulhosa do caminho que escolhi seguir. E, mesmo que meu aniversário possa passar em meio a cirurgias e plantões, eu sabia que estava cumprindo meu propósito. Isso, por si só, era motivo suficiente para celebrar.

Enquanto caminhava em direção ao escritório para confirmar a próxima intervenção, fui surpreendida pela nova enfermeira-chefe, Gotel. Seu semblante sério e postura formal eram notáveis desde que ela tinha entrado no hospital, mas mesmo assim, ela sempre foi educada e prestativa, muito diferente da enfermeira-chefe anterior, Rose, que percorria os corredores com mau humor estampado no rosto.

Gotel entrou na sala e se aproximou de mim, interrompendo meu próximo passo. "Dra. Catarina, desculpe, mas eu precisava te avisar que o paciente seguinte da cirurgia eletiva pediu para que fosse adiada", ela informou em tom profissional.

Meu olhar se fixou no rosto dela por um breve momento, surpresa com a notícia inesperada. "E qual foi o motivo?", perguntei curiosa.

Gotel suspirou antes de responder: "O pai dele faleceu recentemente. Ele precisou ir ao funeral e sentiu que não seria capaz de enfrentar a cirurgia nesse momento".

A compreensão encheu meu coração, há alguns anos havia perdido minha avó Alice,a última coisa que queria seria estar em uma cirurgia enquanto ela estava sendo velada, fiz um sinal com a cabeça e agradeci a Gotel pela informação. Independentemente das aparências, ela sempre demonstrou eficiência e empatia em seu trabalho. Ela ainda me surpreendeu antes de sair ao entregar uma pequena caixa em minhas mãos, desejando-me um feliz aniversário.

Abri a caixa e me deparei com um colar delicado, com um pingente em formato de rosa. Um sorriso discreto apareceu em meus lábios, mesmo que eu não soubesse explicar o motivo. Havia algo familiar naquela joia, como se eu já a tivesse tido em minhas mãos em algum momento anterior.

Suspirei, afastando os pensamentos confusos que invadiram minha mente. Meu celular vibrou no bolso, interrompendo minha contemplação. Era Stephan, meu.. amigo..meu melhor amigo..na verdade é complicado... desde o mês passado ele insistentemente cobrava que eu reservasse um tempo para celebrar meu aniversário com ele. Eu me odiei por prometer que jantaríamos juntos na noite seguinte. Até tentei pegar mais um plantão para evitar o compromisso, mas não tive sucesso, não tenho nada contra Stephan é um advogado de sucesso é um homem atraente, inteligente, parece perfeito.. perfeito demais..

Respondi à mensagem dele com um emoji sorrindo e confirmei: "Não se preocupe estarei lá".

Coloquei o colar de volta na caixa e guardei-a em meu jaleco. Enquanto seguia em direção à sala de descanso, deixei escapar um suspiro cheio de sentimentos conflitantes. Meu trigésimo aniversário estava cheio do vazio de sempre. Mas, no fundo do meu coração, eu sabia que aquele dia seria especial, de alguma forma. E talvez, justamente por causa das reviravoltas que a vida me presenteia, aquele jantar com Stephan pudesse ser uma agradável surpresa em meio ao caos da minha rotina como médica.

Prossegui pelo corredor, sentindo o peso da exaustão acumulada em meu corpo, mas também um sentimento de esperança e gratidão. Meu aniversário poderia não ser como os outros, com festas e presentes, mas eu tinha certeza de que não podia continuar sendo a mesma pessoa solitária.

Aproveitando o tempo livre na sala de descanso, decidi me permitir um breve cochilo. Estava exausta e, antes que percebesse, literalmente adormeci como uma pedra. Meus olhos se fecharam e o cansaço me envolveu, me levando para um mundo de sonhos.

No meu sonho, estava em frente à porta da minha casa, acompanhada pelos meus pais. O dia estava ensolarado, os passarinhos cantavam alegremente, e eu sentia uma profunda gratidão. Tudo parecia perfeito. Mas, de repente, uma chuva intensa começou a cair, o tempo escureceu e uma sensação de angústia se apoderou de mim.

Meus pais, em um movimento rápido, entraram no carro. Eu corri desesperadamente atrás deles, gritando para que me levassem com eles, mas eles apenas aceleraram e partiram sem olhar para trás. A sensação de solidão e abandono me atravessou como uma lâmina afiada, rasgando meu coração.

A escuridão me rodeava, e eu acordei subitamente quando ouvi o Dr. Oliveira me chamando, tirando-me do meu pesadelo. Levantei da cama num salto, percebendo que estava coberta de suor. O médico perguntou se estava tudo bem, e eu apenas confirmei, forçando um sorriso para disfarçar o desconforto.

Olhei para o meu relógio de pulso e constatei que já era seis da manhã. Tinha que me recompor e seguir em frente. Agradeci ao Dr. Oliveira pela preocupação, pedindo-lhe que não se incomodasse comigo, e segui em direção ao banheiro.

Joguei água fria no rosto, tentando afastar a angústia que ainda me envolvia devido ao sonho perturbador. O maior medo que sempre carreguei em meu coração era o da solidão, e aquele sonho refletia todas as marcas que a infância difícil e distante dos meus pais deixaram em mim.

Respirei fundo e olhei para o reflexo no espelho. Os olhos cansados, meu cabelo completamente desalinhado ea expressão preocupada me devolveram o olhar. Ergui o queixo e decidi não permitir que o passado ditasse a minha vida. Eu era mais forte do que isso.

Persistência e determinação foram as armas com as quais construí minha carreira de médica. E agora, naquele dia especial do meu aniversário, eu escolhi enfrentar meus medos e buscar a felicidade que eu merecia.

Deixei o banheiro e, ao sair da sala, pedi ao Dr. Oliveira que não se preocupasse, dizendo-lhe que estava tudo bem.

Aquele novo ano seria diferente de todos, o futuro afinal poderia reservar surpresas e eu estava disposta a descobrir o que era.

...Catarina Cardoso...

Capítulo 2 (Uma casa de sentimentos vazios)

Após finalizar um longo plantão de doze horas no hospital, finalmente cheguei em casa às oito da manhã.

Nunca me acostumaria com o ar que minha casa refletia, eu a comprei decorada afinal não tinha tempo de fazer isso por mim mesma, os antigos donos eram fissurados por decoração elegante e minimalista era realmente belo.

Abri a porta, tirei meus sapatos, sentindo um alívio na pressão dos meus pés cansados.

Entre as paredes brancas e móveis bem alinhados, encontrei um refúgio temporário. Dirigi-me à cozinha e bebi um copo de água fresca para hidratar o corpo exausto. Em seguida, fui alimentar meus peixes no aquário, observando-os nadar livremente naquela pequena comunidade aquática.

Enquanto eu me ocupava com os peixes, recebi uma ligação de vídeo da minha mãe. Ela me desejava um feliz aniversário, com uma certa frieza na voz. Pediu desculpas por não estar presente, explicando que meu pai estava jogando golfe. Era sempre assim, os compromissos e interesses deles vinham sempre antes de mim, a filha que nunca se sentiu verdadeiramente amada.

Minha mãe encerrou a chamada com a mesma frieza de sempre, deixando-me com uma sensação familiar de vazio. Suspirei, tentando não permitir que essa falta de afeto me afetasse. A vida continuava, e eu precisava me preparar para meu encontro com Stephan mais tarde.

Chegando ao meu quarto, decidi tomar um banho revigorante antes de descansar. Enquanto tirava meu jaleco branco, acabei derrubando uma pequena caixa que estava no bolso. Curiosa, apanhei-a e abri. Era o colar que Gotel havia me dado. O objeto era feito de prata reluzente e adornado com rubis brilhantes.

Coloquei o colar em meu pescoço, observando como ele brilhava contra minha pele. Era um pequeno lembrete dos sentimentos que Gotel despertava em mim, uma conexão genuína e especial que eu não encontrava nos relacionamentos vazios dos meus pais.

Admirando a beleza da joia, pensei em como aquele colar representava muito mais do que apenas um presente material. Era um símbolo das emoções reais e do afeto que eu ansiava experimentar na minha vida. Era um lembrete de que eu merecia mais do que a superficialidade e o distanciamento que caracterizavam minha relação com meus pais.

Com o colar no lugar, tomei um banho revigorante, permitindo que a água quente aliviasse a tensão acumulada no meu corpo. A sensação era reconfortante, quase como se estivesse me livrando das amarras emocionais do passado.

Depois de me secar, vesti uma roupa confortável e me deitei na cama. O cochilo breve era necessário antes do jantar com Stephan, eu já sabia qual seria o assunto, hoje ele dará a cartada final, perguntará se eu o amo, se estou disposta a tentar ser mais que uma amiga, mas eu ainda não tenho esse tipo de sentimentos por ele, nunca os tive por homem nenhum, mesmo na adolescência todos os meus breves romances eram na verdade uma maneira de receber carinho silenciar minhas carências emocionais,com esses pensamentos eu adormeço.

Acordei com o som irritante do despertador e, ao abrir os olhos, percebi que já era noite. O relógio anunciava que já eram sete e meia da noite. Um misto de surpresa e desânimo tomou conta de mim ao perceber que tinha apenas trinta minutos para me arrumar.

Antes de começar a me preparar, decidi responder aos e-mails e mensagens de felicidades pelo meu aniversário. Agradeci a todos, mas ainda sentia um vazio no peito ao lembrar que as mensagens carinhosas e os parabéns virtuais não eram capazes de preencher o buraco deixado pela falta de amor dos meus pais.

Com um suspiro, me esgueirei para o banheiro. Tomei um banho morno, deixando a água cair sobre meu corpo e despertar cada músculo cansado. Era o momento de me preparar para uma conversa difícil com Stephan, e eu precisava estar alerta e pronta para enfrentar qualquer desafio.

Após o banho, passei uma maquiagem leve, seguida por um batom vermelho sangue. Queria que combinasse com o colar de rubis que Gotel havia me presenteado. Ao olhar meu reflexo no espelho, prendi meu cabelo úmido em um coque desajeitado no alto da cabeça. Não queria parecer arrumada demais e transmitir a ideia errada para Stephan.

Caminhei até meu closet e escolhi um vestido violeta de alças. Por cima, coloquei um casaco, afinal, mesmo estando na primavera, o clima estava estranhamente frio e chuvoso lá fora. Mais uma vez, olhei meu reflexo no espelho após calçar meus sapatos. Queria ter certeza de que estava apresentável antes de sair de casa.

Enquanto observava a chuva densa cair lá fora, a escuridão do lado de fora parecia ecoar o vazio em meu coração. O barulho das gotas de chuva batendo nas janelas ecoava minha solidão interna. Tentei afastar esses pensamentos enquanto verificava se havia esquecido de algo.

No momento em que me preparava para pegar minha bolsa, ouvi a campainha tocar. Era estranho, afinal de contas, não estava esperando nenhuma visita naquela noite. Meu coração acelerou levemente com a surpresa, mas, curiosa, fui atender a porta.

Abri a porta devagar, encontrando um homem de pé em frente a mim. Seus olhos azuis me encaravam com uma mistura de surpresa e admiração. Era Stephan, de pé, molhado pela chuva, segurando um pequeno buquê de rosas vermelhas.

Fiquei sem palavras por um instante, tentando processar a sua presença ali. Ele sorriu nervosamente e disse: "Olá, Cat. Eu sei que estou adiantado, combinamos de nos encontrar no restaurante, mas eu estava ansioso para te ver".

A chuva continuava caindo lá fora, e o brilho das luzes dos postes refletiam em suas madeixas douradas e molhadas. Eu respondi apenas :" Entre, por favor."

Enquanto caminhávamos em direção à sala, Stephan conversava animadamente, tentando me fazer sorrir, mas eu mal conseguia prestar atenção às suas palavras.

Ele estendeu as flores para mim, e eu as peguei engolindo em seco, pelo visto não seria tão fácil como eu imaginei, eu estava com raiva porque preparei um discurso perfeito e sucinto para dizer a ele que somos amigos e seremos apenas isso até o fim.

Mas a forma como ele me olhava, como ele dizia o meu nome e sorria para mim me fazia sentir como uma megera, ingrata.

Sentia-me culpada por ter tratado Stephan com asco tantas vezes. Ele sempre fora amável e atencioso, mas eu, imersa em minha dor, não soube reconhecer sua bondade. A culpa pesava em meu peito.

Ele prosseguiu: " você parece chateada, algo aconteceu?" respirei fundo não queria dar a ele nenhuma resposta atravessada mas não pude me conter : " Stephan, eu disse a você que não precisava vir me buscar.." Ele me olhou sem jeito o terno e os sapatos inundados de água: "Cat, eu só... você é importante para mim, queria fazer uma surpresa".

Com essas palavras a culpa em meu coração se intensificou, lembrei que tinha uma toalha de banho limpa na lavanderia. Era o mínimo que eu poderia fazer para aliviar seu desconforto, eu disse um pouco envergonhada: "Stephan, espere um momento, vou buscar uma toalha para você". Ele assentiu, acompanhando-me em silêncio.

Na lavanderia, peguei a toalha e respirei fundo, tentando acalmar minha mente confusa, eu e Stephan sempre fomos bons amigos, ele me acolheu e me amou como se fosse alguém de sua família, eu não suportaria perder sua amizade, mas ele está apaixonado e eu ignorei isso por tempo demais.

Em meio aos pensamentos tumultuados, percebi que Stephan me olhava como se tentasse me decifrar. Seus olhos transbordando sentimentos que eu sabia que existiam mas fingi não notar por todos esses anos. O silêncio entre nós era quase palpável.

Comecei a dizer, mas as palavras pareciam fugir de mim: "Stephan, eu..." Não sabia como expressar toda a confusão e a mistura de sentimentos que enchiam meu coração naquele momento.

Antes que eu pudesse formular uma frase coerente, Stephan tomou a iniciativa e, com sua voz calma e determinada, começou a falar: "Cat, eu não consigo mais fingir que não sinto nada por você. A cada dia que passa, minha admiração se transforma em algo mais profundo. Eu te amo."

Senti meu coração disparar e toda a energia abandonar meu corpo. Fiquei muda, olhando para ele, buscando as palavras certas, mas elas pareciam inalcançáveis.

Aos poucos, as lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Eu queria gritar, chorar, dizer a ele que também sentia algo especial, mas seria mentira. Toda a minha vida, fui ensinada a esconder minhas emoções, a me proteger do sofrimento e a não confiar em ninguém, Stephan teve acesso a um lado meu que escondo dos outros, eu podia ser vulnerável com ele, podia ser eu mesma. Ele era meu amigo, só isso.

Stephan, percebendo minha dificuldade em responder, se aproximou lentamente e envolveu-me em um abraço acolhedor. Suas mãos, quentes e reconfortantes, pareciam dizer que eu não precisava ter medo, que ele estaria ali por mim.

Enquanto me permitia afundar em seus braços, fui invadida por uma onda de emoções conflitantes. Então ele se inclina para trás tocando minha boca com a sua. Eu me afasto um pouco e digo: "Eu não posso, Stephan, somos amigos".

Mas Stephan não está prestando atenção em minhas palavras. Por que ele deveria? Elas não convencem nem a

mim mesma!

Ele me puxa para si, me abraçando novamente eu sinto as mãos dele em minha cintura, e me aconchego contra seu corpo molhado pela chuva.

Posso sentir a sua respiração contra a minha orelha, e tudo o que preciso fazer é inclinar o meu rosto um pouco para trás e a sua boca encontra a minha, infinitamente quente no ar frio daquela noite de primavera, e eu tenho ainda mais certeza que vou arrepender-me quando o beijo tornou-se abrasado e parecia caminhar para algo irreversível.

Enquanto ele beija eu penso em algo suficientemente convincente, mas só consigo pensar que de alguma maneira devo isso a ele por todos esses anos.

Ele afasta os lábios dos meus e os aproxima da minha orelha dizendo: "Eu quero você, Cat, mas só se me quiser também.

Não digo nada, Stephan me segura mais uma vez como se eu fosse seu único refúgio. Eu deslizo as mãos sobre o seu

peito, sinto as batidas do coração. Eu permito. Me entrego a Stephan como se o amasse tanto quanto ele me ama. Enquanto estamos entrelaçados um ao outro Stephan diz ofegante: " Você não imagina o quanto eu desejei isso, Cat, ter você assim e ainda melhor do que em meus sonhos, obrigada por isso." Fiquei em silêncio tentando conter as lágrimas ele tinha razão em agradecer eu sentia que estava fazendo um favor a ele, nunca amaria Stephan como ele me ama.

...Stephan Watson...

Capítulo 3 (Cuidado com o que deseja)

Após a intensa noite de amor com Stephan, eu me vi tomada por uma mistura avassaladora de emoções. Enquanto o observava dormir, minha frustração e culpa cresciam dentro de mim. Eu não tinha sido capaz de ser sincera com ele, e agora tudo estava arruinado.

Levantei-me da cama em silêncio, tentando não fazer barulho para não acordá-lo. A chuva lá fora estava ainda mais intensa, e o som das gotas batendo na janela ecoava minha angústia. Era madrugada, a escuridão parecia refletir a confusão em minha mente.

Vesti-me rapidamente, colocando um casaco, e peguei as chaves do carro. Olhei para Stephan uma última vez, com lágrimas nos olhos, sabendo que não conseguiria encará-lo pela manhã. Eu precisava de espaço para colocar minha mente no lugar.

Saí em direção à garagem, tentando conter as lágrimas que teimavam em escorrer. Respirei fundo ao girar a chave na ignição, tentando acalmar minha mente turbulenta. Assim que abri o portão da garagem, vi Stephan surgir batendo na janela do carro, debaixo da chuva.

Eu queria ignorá-lo e seguir em frente, mas não pude. Abaixei o vidro e pedi com a voz embargada: "Stephan, por favor volte para dentro, você vai acabar ficando doente".

Ele me olhou confuso. Eu prossegui tentando manter a voz firme " Preciso de um tempo para processar tudo o que está acontecendo, não estou pronta para conversar agora."

Stephan não entendia minha reação, e insistia em falar comigo mesmo com suas palavras abafadas pelo som da chuva pude ouvir ele dizer " Cat, tudo isso é estranho eu sei, mas está caindo uma tempestade você parece estar assustada demais, não é bom sair dirigindo assim, se quer ir a algum lugar eu levo você."

Desesperada, fechei o vidro e saí em disparada pela estrada puder ouvir Stephan gritando meu nome.

A chuva atrapalhava minha visão, o carro deslizava na pista molhada, e eu mal conseguia enxergar a estrada à minha frente. As lágrimas turvavam ainda mais minha visão, e tudo parecia ruir ao meu redor.

Em meio à escuridão e ao caos, repeti em voz alta que, se pudesse voltar no tempo, mudaria tudo. Mas antes que pudesse concluir meus pensamentos, o colar dado por Gotel, que eu usava em meu pescoço, liberou um brilho vermelho intenso, que me cegou por um momento.

Perdi completamente o controle do carro, que começou a girar na pista molhada, enquanto tudo ao meu redor escurecia. Minha consciência foi gradualmente se apagando, me entreguei ao abismo do desmaio.

Não conseguiria dizer realmente se perdi a consciência, mas sem dúvida

não tive noção de mim mesma durante algum tempo. “Acordei”, se essa for a

palavra, quando ouvi uma voz estridente de mulher, que não reconheci, o nome que ela chamava não era o meu, forcei abrir os olhos não conseguia abrir eles por completo mas pude ouvir, ela dizia de maneira firme e ansiosa: " Alena, minha doce criança acorde, oh pelos céus e pela terra, porque essa menina resolveu andar de cavalo justo no dia que o Conde Grigore vem buscá-la, eu disse mil vezes! Não, eu disse dez mil vezes..."

Aos poucos, minha consciência retornou, consegui abri os olhos com uma sensação de sonolência na cabeça. Porém, ao me deparar com a visão diante de mim, meu coração disparou de surpresa.

Logo à minha frente, pude ver a mulher que falava, ela era rechonchuda com roupas incrivelmente estranhas, quase como se tivesse sido transportada diretamente do século dezoito. Seu vestido, cheio de babados e rendas, contrastava com a seu penteado esquisito.

Ela se aproximou apressada, chamando-me de Alena e me abraçando com vigor. Senti-me sufocada por aquele abraço inesperado, o que me fez pedir para que ela se afastasse. Respirando fundo, tentei assimilar tudo aquilo que estava vivenciando.

Ao olhar ao redor, notei que estava em um quarto gigante, feito de pedras antigas. As paredes tinham uma textura rústica e, à esquerda, havia uma lareira crepitante com um fogo aconchegante. Aquela cena era completamente diferente de qualquer coisa que eu já tinha presenciado. Olhei para minhas roupas elas não eram as roupas que estava usando quando sai de casa, eu estava com uma camisola branca que cobria até meus pés, só conseguia pensar que estava sonhando ou tinha morrido.

Decidida a me levantar, tentei me erguer, mas a tontura me atingiu, e a mulher agilmente me segurou, evitando que eu tombasse no chão. Confusa e em busca de respostas, questionei-a sobre o meu paradeiro. "Onde estou? Em que ano estamos? Quem é você?".

Enquanto me recompunha ouvia as respostas de Francis, a sensação de que nada daquilo poderia ser real me assombrava. Aos poucos, as peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar, revelando uma história que parecia impossível demais para ser verdade.

Eu, Alena Calin Kovacs, era a terceira filha do lorde Dragan, e da falecida condessa Stella, éramos uma nobre família do condado de Satir ao norte da Romênia.

Francis, a mulher rechonchuda e de roupas estranhas, era a governanta da minha família há anos. Meu casamento havia sido oficializado três dias atrás, com um tal conde Grigore, e esse mesmo conde, segundo Francis, estava a caminho da minha casa para me buscar e finalmente "consumar" o casamento.

Aquela avalanche de informações era difícil de assimilar. Eu ainda lutava para entender como havia ido parar naquela época distante e, mais assustador ainda, como toda essa trama do casamento poderia ser real. Aquilo parecia saído dos livros de história, uma realidade distorcida.

Francis percebendo que eu parecia mais estável que antes disse: "Minha senhora, preciso prepará-la para encontrar o conde Grigore a essa hora ele deve estar quase chegando aqui com a comitiva". Nada soava normal, eu tentava processar tudo aquilo, Francis pegava dezenas de peças de roupas, e me apertava vestindo-me uma anágua, um corpete, saia, foram tantas camadas de roupas que eu me sentia ainda mais sufocada que antes.

Francis me levou até um espelho antigo, cujo reflexo mostrava uma versão minha vestida como uma verdadeira dama do século dezoito, com um vestido luxuoso e cabelos arrumados em um penteado elaborado. Olhei para minha imagem refletida e não pude deixar de me sentir como se estivesse observando uma completa desconhecida, e de fato eu estava o meu rosto não era meu, tentei focar no que via, aquela pessoa refletida ali com cabelos castanhos, olhos verdes profundos,magra, pálida não parecia ter mais do que vinte anos, me virei para Francis e perguntei: " Quantos anos eu tenho? Ela me olhou preocupada murmurando" pobre criança, pobre criança...como direi ao seu pai, você não pode ir embora com o Duque nesse estado.. sem memória, sem bons modos.."

Olhei para ela furiosa segurei suas bochechas rosadas e berrei " Responda a minha pergunta, Francis!" Ela gaguejando me disse: Vinte anos, minha senhora, acabou de completar vinte anos".

Ouvi vozes vindo em direção ao quarto, a porta de madeira rangendo era o prenúncio de que aquilo era só o começo.

A realidade ao meu redor parecia pulsar com um ar de mistério e perigo. O som distante de cavalos se aproximando ecoava pela janela.

Enquanto Francis e eu estávamos imersas naquela estranha conversa, um homem alto de meia idade, adentrou o quarto fixei meus olhos nele, ele parecia estar na faixa dos cinquenta anos, estava usando um casaco longa e elegante, feito de tecido nobre, adornado com detalhes em renda, fitas e botões dourados, acompanhada de um colete também adornado, que realçava sua figura, calças justas até os joelhos, que se prendem com fivelas, deixando suas pernas à mostra. Seu cabelo na altura dos ombros, com cachos perfeitamente definidos, indicando um cuidado meticuloso com a aparência pessoal, temi que aquele homem pudesse ser meu marido, o duque.

Francis notando o medo em minha feição olhou para mim e sussurrou para eu respirar fundo, informando-me que aquele homem era meu pai. Um turbilhão de emoções me invadiu. Por um momento, fechei os olhos, tentando me colocar no papel de uma jovem do século dezoito. Fiz uma reverência ao meu pai, como era costume naquela época, enquanto ele se aproximava e me abraçava preocupado.

Ele perguntou: Alena, minha filha você está bem? Soube que caiu do cavalo pela manhã, querida quantas vezes lhe disse para não sair correndo como uma selvagem naquele cavalo?"

Sem muito argumento neguei qualquer ferimento, mesmo que minha cabeça estivesse dolorida daquela experiência tão surreal.

Meu pai sorriu, aliviado com a minha resposta, e disse então: " O conde seu marido acabou de chegar, já que está bem, vamos à sala de jantar falar com ele". Olhei ao redor atonita eu não podia ir até lá, limpei a garganta e respondi: "Papai, permita-me descansar um pouco mais". Ele acabou concordando e também sugeriu que seria melhor que eu descansasse o suficiente, considerando que o Conde provavelmente desejava me levar para minha nova casa.

Agradeci a preocupação de meu pai e respondi que estava me sentindo um pouco tonta, mas logo estaria bem. Ele acariciou meu queixo com gentileza e disse: " A seis da tarde desça, estaremos esperando na sala de jantar, até lá eu distraio o Conde Grigore".

Assenti, sentindo-me um tanto perdida diante de toda aquela situação.

Meu pai deixou o quarto, e eu me vi encarando o espelho novamente. Minha aparência pareciam se encaixar naquele lugar, eu, no entanto estou deslocada, precisava de informações, instruções.

Eu precisava me adaptar e agir como uma verdadeira dama, mesmo que minha mente e coração relutassem em aceitar aquela realidade.

Agarrando-me a qualquer fonte de conhecimento e apoio que pudesse me guiar por aquele turbilhão de emoções, olhei para Francis e disse "me diga tudo que eu preciso saber sobre minha vida, minha família, sobre o Conde Grigore.

...Alena Calin Kovacs...

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