Capítulo 05

Eu insisti muito com a doutora. Eu precisava saber quem era a mulher que agora carregava meu filho no ventre. Não conseguia aceitar que uma desconhecida fosse, por acaso do destino ou por erro humano, a pessoa a viver, o que por tanto tempo sonhei. Desde o momento em que soube do engano, não tive paz. A cada segundo, meu pensamento estava nela... ou melhor, nele, no bebê que seria o meu filho.

Na primeira tentativa, Ana, a mulher que carrega o bebê, não quis conversar comigo. Recusou. Mas eu tinha um acordo a propor. Algo justo, eu achava. Minha proposta era simples: eu cuidaria de tudo durante a gravidez — saúde, conforto, alimentação, segurança. Em troca, ela me entregaria a criança após o parto. Queria ouvir as condições dela também, claro. Não sou um monstro. Mas era meu filho. Minha última chance. E eu precisava lutar.

Quando a vi, ali sentada no restaurante, confesso que fiquei sem reação. O coração palpitou descompassado. Era ela. A garçonete que me chamou atenção naquele dia, quando fui tomar café com os sócios. Lembrei do seu jeito tímido, do olhar doce. Agora, ela era a mulher que carregava meu herdeiro. E, de forma inesperada, algo dentro de mim estremeceu. Não era só sobre o bebê mais. Ela mexia comigo. E isso me assustava.

— Soube que o senhor insistiu para que esse encontro acontecesse — disse ela com voz firme. — Aqui estou.

Tentei disfarçar o incômodo que sua presença provocava. Limpei a garganta, ajeitei-me na cadeira e comecei:

— Ana, você provavelmente já sabe que minha namorada, Ana Castro, e eu estamos tentando ter um filho há cinco anos. Esse sêmen, que implantaram em você por engano, era a nossa última tentativa. Nossa única esperança. — Falei devagar, escolhendo as palavras.

Ela escutava em silêncio.

— Onde você quer chegar, senhor Lascovic? — ela perguntou, cruzando os braços.

— Quero que considere que, apesar de tudo, esse bebê ainda é meu filho. E eu quero participar da vida dele. Não quero tomar nada de você, só quero ter o direito de conhecê-lo. De ser o pai dele.

Minha voz tremia por dentro, mas mantive o tom firme. Esperei uma resposta positiva. Um sinal de empatia. Mas não foi o que recebi.

— Senhor Lascovic, com todo o respeito, foi para isso que me chamou até aqui? — disse ela, levantando-se com firmeza. — Não vou ceder ao seu pedido, ou seja lá como quiser chamar isso. O bebê é meu. Tudo bem que houve um erro, mas esse erro não é meu. É o meu sonho de ser mãe que está em jogo.

Ela chorava. As palavras vinham entrecortadas por lágrimas. Fiquei ali, calado, sem saber como reagir. Não queria machucá-la. Nem pressioná-la. Mas eu também não era culpado. Nenhum de nós era. O destino jogou com as nossas vidas.

Camila, a doutora, tentou acalmá-la. Depois de alguns minutos, ela se sentou de novo, respirando fundo. Camila levantou-se, pediu licença e saiu. Minha namorada a seguiu, deixando-nos a sós.

O silêncio foi como um véu pesado entre nós. Observei Ana com mais atenção. Os olhos ainda vermelhos, mas agora mais serenos. Olhava para a própria mão, girando a aliança.

— A Ana, minha namorada, teve três abortos espontâneos. Depois de exames, descobrimos um problema no útero dela. Tentamos inseminação. Tudo em vão. Esta era nossa última tentativa — expliquei.

Ela suspirou.

— Se falharam três vezes, por que continuar? — sua pergunta foi direta.

— Porque é o nosso sonho. O meu sonho. — Falei, impulsivamente, tocando suas mãos. — Eu tenho tudo: casas, carros, empresas. Mas nunca desejei essas coisas com o mesmo ardor com que desejo ter um filho. O meu filho.

Ela me olhou, séria.

— Vou ser franca. Sou casada. E o nosso sonho também era esse. E por obra do destino, colocaram o sêmen errado em mim. Meu marido não sabe. Ele pensa que esse bebê é nosso. Eu penso, todos os dias, se devo contar a verdade. Mas se fizer isso, meu casamento acaba. E a única certeza que tenho é que, na minha vida, será apenas eu e meu filho. Só nós dois. Sem pai.

Suas palavras me atravessaram como facas. Mas eu não desisti.

— Houve um erro, senhorita Castilho. Reconsidere — pedi mais uma vez.

— A nossa conversa está encerrada. Tenha um bom dia, senhor Lascovic — ela disse, levantando-se. Saiu do restaurante sem olhar para trás.

Fiquei ali, sozinho. Em silêncio. A cadeira ainda quente de sua presença. O coração em frangalhos.

Mulher teimosa da porra!

...Uma semana depois......

Desde aquele dia, minha vida virou de cabeça para baixo. A Ana — minha namorada — não conseguiu suportar. Terminou comigo. Disse que não aguentaria me ver correr atrás de outra mulher, mesmo que fosse por causa de um filho. Ela me colocou contra a parede: ou eu escolhia ela, ou a criança. E eu escolhi o bebê.

Sim, escolhi meu filho. Mesmo que eu talvez não possa tê-lo, eu o escolhi. Não por teimosia, mas por amor. Um amor que nasceu antes mesmo dele existir.

Contratei seguranças para seguirem Ana Castilho. Descobri onde ela mora. E mais: aluguei o apartamento ao lado do dela. Me mudei imediatamente.

Pode parecer loucura. Pode parecer obsessão. Mas é determinação. Vou ficar ali o tempo que for necessário. Não vou forçá-la a nada, mas estarei por perto.

Depois que ela foi embora naquele dia, fiquei ali parado por um bom tempo, encarando a cadeira vazia. Tantas coisas me passaram pela cabeça. Eu não estava preparado para aquilo. Pensava que poderia ser simples — uma conversa, um acordo, um caminho viável para os dois. Mas estava enganado. Ana Castilho não era qualquer mulher. Ela era forte, decidida. Mas também ferida. E eu vi isso nos olhos dela.

Passei dias revendo cada palavra que dissemos naquela mesa. Me perguntei se fui duro demais, se poderia ter dito algo diferente.

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Comments

Lice Otto

Lice Otto

Egoísmo da Ana, a que não está grávida, de Lascovic escolher entre ela ou o bebê.. Julgo dizer que ela nunca o amou, mas sim, queria com uma criança, arranjar uma gorda pensão.

2023-07-15

86

Hanah Oliveira

Hanah Oliveira

Eu acho que a namorada do Ludovick agiu de acordo com o seu pensamento!
Ela não consegue viver esta situação e caiu fora!
Acredito que o Vitor vá fazer o mesmo e a Ana terá que se unir ao pai de seu filho!
Mas...a Clínica tem que indenizá-la!
Faz favor...né?
como ela vai fazer sem emprego e sem marido?

2025-01-13

0

Graça Barbosa

Graça Barbosa

a cobra peçonhenta está se preparando para voltar, ela não vai aceitar esse término com essa facilidade, afinal foram cinco anos usufruindo tudo que o bonitão oferecia

2025-03-31

1

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