Acordei com o celular tocando feito alarme em manhã de segunda. Reclamei baixinho da claridade que invadia o quarto e, com os olhos ainda fechados, estiquei o braço até a cômoda, pegando o telefone.
— Alô... — murmurei com a voz rouca de sono.
— Senhora Castilho? Aqui é da clínica "O Seu Sonho é Possível". Estamos entrando em contato para informar que seu procedimento foi analisado pela equipe médica. Se desejar, já pode iniciar o procedimento hoje mesmo. Ou prefere agendar para outro dia? — A voz da atendente era calma, quase doce. Mas ao ouvir o nome da clínica, despertei num segundo. Abri os olhos, sentei na cama e meu coração acelerou como se soubesse que algo grande estava prestes a acontecer.
— Hoje mesmo. Pode marcar. Já estou me preparando — respondi, sentindo o peito vibrar de emoção.
— Perfeito. Esperaremos você até às 9:15. Estaremos aqui — disse ela antes de encerrar a ligação.
Fiquei parada por um momento, sentindo meu coração bater mais forte. A ansiedade e a alegria se misturaram num turbilhão. Olhei ao meu lado: Vítor ainda dormia profundamente. Nem percebi que ele tinha chegado. Devia ter sido bem tarde.
— Vítor — chamei baixinho, tocando de leve seu ombro. Queria compartilhar a notícia. O médico já havia me explicado que o sucesso não era garantido, mas só de saber que o procedimento começaria hoje me enchia de esperança.
— Hum... — ele resmungou, abrindo os olhos devagar.
— Que horas você chegou? Estava tão cansado assim?
— Atrasos, problemas na empresa. Aquela confusão de sempre — respondeu com um suspiro.
— Então escuta essa: acabaram de ligar da clínica. A fertilização in vitro vai ser hoje. A gente vai começar o procedimento. Nosso sonho está mais perto — falei sorrindo, sentindo as palavras saírem como uma explosão de alegria.
— Isso é maravilhoso, meu anjo. Vai dar tudo certo — disse ele, encostando os lábios nos meus com um beijo leve.
— Vai comigo?
— Hoje não consigo, amor. Tenho uma reunião importante. Sabe como é... Mas me manda notícias, por favor. — Ele levantou da cama, pegou a toalha e foi direto pro banheiro.
Depois que ele saiu, fui tomar meu banho. Quando terminei, ele já havia partido. A vida dele tem sido assim: correria, responsabilidades, e ultimamente... uma certa distância. Tento não pensar demais nisso. Talvez, com um filho, ele se sinta diferente. Talvez a ausência de resultados o tenha deixado sem esperanças. Mas eu ainda acredito. E essa é a minha chance de fazer tudo acontecer.
Enquanto me arrumava, liguei para Emília, minha patroa. Expliquei o motivo da ausência e ela, como sempre, foi compreensiva. O médico já havia me orientado que eu deveria estar há cinco dias sem relações para realizar o procedimento, o que, com a rotina exaustiva entre mim e Vítor, não foi difícil de cumprir. Os dias têm sido tão cheios que a intimidade se tornou rara.
Saí de casa com o coração leve, mas acelerado. Caminhei pelas ruas de São Paulo sentindo o frio no rosto, o sol brilhando tímido. Usei meus óculos escuros para esconder a emoção que transbordava. Algumas pessoas me cumprimentaram no caminho — rostos conhecidos do restaurante. Sorri para cada um deles, tentando manter a calma.
Estava nervosa? Muito. Mas também cheia de coragem. Depois de tudo que enfrentei, esse era o passo mais importante. Eu precisava disso.
Entrei na clínica com o coração batendo alto. Esperei ser chamada na recepção. Quando finalmente escutei meu nome, levantei e fui conduzida a uma sala onde uma mulher sorridente me aguardava.
— Olá, Ana. Sou a doutora Camila, sua psicóloga neste procedimento. Vamos conversar um pouco? — disse, com um tom acolhedor. — Me diga, de zero a dez, o quanto você deseja realizar esse sonho?
— Dez, doutora. E se tivesse mil, escolheria sem pensar — respondi com um sorriso largo.
— Adoro essa energia — disse ela, animada. — O doutor avaliou seus exames e tudo está ótimo. Seu útero está preparado para receber o embrião formado a partir do sêmen do seu marido. Enr... — Ela foi interrompida por uma enfermeira que entrou discretamente na sala.
— O doutor está pronto, pode encaminhar a paciente — disse a enfermeira.
— Ótimo. Vamos? — disse Camila, se levantando. Caminhamos juntas por um corredor até uma sala ampla e bem iluminada. Lá estavam os profissionais que me acompanharam durante toda a preparação.
— Aqui, Ana. Você vai se trocar — disse Camila, indicando uma salinha. Ela me entregou uma roupa quase transparente. — Vista-se e estarei te esperando — completou, antes de sair.
Fiquei um pouco desconfortável com a roupa. Quase não cobria nada. Vesti com cuidado e fui até o banheiro. Lavei o rosto, respirei fundo várias vezes. As mãos estavam geladas. Queria que Vítor estivesse ali. Um simples “vai dar certo” da boca dele já me traria paz. Mas não dessa vez.
Saí do banheiro e encontrei Camila me esperando. Seguimos até a sala do procedimento. Me deitei na cama, a anestesia foi aplicada, e colocaram um pano tampando minha visão da parte inferior do corpo.
— Ana, está tudo bem? Sentindo algo? — perguntou Camila.
— Nada, estou bem — respondi.
Alguns minutos se passaram, e então o procedimento foi concluído.
— Tudo certo, Ana. Agora você ficará deitada por vinte minutos. Isso aumenta as chances. Depois disso, está liberada. Em quatorze dias, volte para fazermos o teste de sangue e verificar o resultado. Até lá, pode viver normalmente, mas sem carregar peso, combinado?
— Sim!
Enquanto esperava os 20 minutos de repouso, fiquei deitada olhando para o teto branco da clínica. Era engraçado pensar em como tudo mudou tão rápido. Meses atrás, eu chorava no banheiro com mais um teste negativo na mão. Agora, estava ali, em silêncio, carregando uma possibilidade dentro de mim.
Fechei os olhos e tentei imaginar como seria segurar meu filho pela primeira vez. Será que teria os olhos do Vítor? Ou a minha risada? Tantas perguntas sem resposta. Mas havia algo dentro de mim que dizia que tudo valeria a pena. Cada exame, cada lágrima, cada frustração. Tudo fazia parte do caminho até aquele momento.
Quando a enfermeira entrou no quarto para me liberar, agradeci em silêncio por cada pessoa daquela equipe. Levantei devagar, com cuidado, e fui até o banheiro me olhar no espelho. Vi uma mulher mais forte do que imaginava. E sorri. Um sorriso tímido, mas cheio de fé.
Peguei minha bolsa, ajeitei a roupa e caminhei até a saída. O ar fresco da manhã me recebeu do lado de fora como um abraço. Olhei para o céu, respirei fundo e segui meu caminho para casa.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Carmem Lùcia Pimenta
Sabe, tem mulheres que são cegas, olha a importância que VITOR DEU PARA O TÃO SONHADO DESEJO DE SER PAI,SE FOSSE UM MARIDO QUE AMASSE ESPOSA E REALMENTE QUIZESSE UM FILHO, PULARIA DA CAMA FELIZ PARA IR ACOMPANHÁ-LA /Puke//Puke/
2025-02-14
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Creuza De Jesus Oliveira Alves
pois é ele não tá nem si e a boba acreditando que tava trabalhando que otaria como muitas mulheres temos que se mais esperta do que eles. pra eles não nos fazer de otaria
2025-03-23
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Elizabeth Fernandes
Ele está traindo ela com certeza pois queria tanto um filho e não deu importância pra ir até a clínica
2025-03-08
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