Quero que você seja a minha mulher

29/10/2022.

POV's Selena

17:30 PM.

Eu já o mandei embora, mas Justin permanece aqui, sentado no sofá, me olhando o tempo todo. Por Deus, esse homem não vai conseguir me convencer do contrário, nós não temos a menor possibilidade de voltarmos a sermos como antes.

A tensão é enorme neste ambiente, esse silêncio está quase me enlouquecendo. Nós apenas estamos nos olhando, cada um de um lado. Parecemos dois idiotas, não querendo dá o braço a torcer.

— Happy birthday to you...—

Annabelle surge cantarolando  a musiquinha, me desconcentro saindo dos devaneios. Enxergo um bolo confeitado pequeno em suas mãozinhas e existem algumas velinhas acesas. Onde será que essa garota arrumou dinheiro para comprar essas coisas de aniversário?

— Happy birthday to you, happy birthday dear mami, happy birthday to you. — assombro as velas só para deixá-la contente.

Reviro os olhos, sorrindo fraco.

Observo o outro me fitar de canto de olho, surpreso até por eu concordar, pois não faz parte de mim, perder tempo com essas bobagens. Nunca fui de perder o meu tempo, mas apenas para agradá-la eu aceito.

— Te amo, mami.

— Também te amo, minha princesa. — retribuo a sua declaração, vendo o seu sorriso doce se preencher nos seus lábios angelicais. E ao ouvir, o loiro fica incrédulo.

Nunca cheguei a ser fofa nem com Mabel, é por isso que a primeira reação do próprio é dá um sobressalto levemente do sofá, achando um absurdo. Justin fica assustado com a cena que presencia. Fecho a cara, porque não estou gostando nem um pouco dele está enfiado na minha casa.

Não devo nem chamar este cômodo de casa. Só há uma pequena sala, e um balcão que reparte a cozinha e o banheiro. No cômodo principal, têm um sofá, no qual eu uso como minha cama. Encostado do balcão, tem o coxão velho que Annabelle dorme, ela praticamente dorme em péssima condição. Temos esses móveis velhos devido o lixão que fica ao nosso redor, tudo que temos vem do lixo.

— De quem vai ser o primeiro pedaço?— a minha garotinha questiona, com os olhinhos ansiosos. Seus olhinhos brilham tanto, que meu coração até se aquece ao vê-la tão radiante.

Rio.

— É seu!– sôo entusiasmada, a ouvindo achar graça por se sentir especial.— Ok, pare de me abraçar.— a repreendo, pois não quero que note Justin que ela seja a única coisa que consegue tirar humanidade de mim.

— Tá bom, vou chamar a menina também pra comer o bolo, mami.— encaminha-se para ir do lado de fora. A paro:

—Menina não, o nome dela é Mabel.

— Tanto faz.— dá de ombros, igual uma criança sapeca, saindo correndo.

Mordo o meu lábio inferior. Espero que as duas possam se darem bem, estou torcendo para isso.

— O quê que ela tem de diferente?— a voz dominante soa curiosa, chamando a minha atenção. Olho pro lado, o encarando:

— Como assim?—ergo a sobrancelha em dúvida, balançando os ombros, sem saber o que significa.

— Ela...— gesticula com o dedo.— Por que você ama ela, e não a gente?— sua pergunta traz mágoa ao dizer. Seus olhos estão aflitos, como se quisesse buscar uma explicação.

— Ora, porque Annabelle é mais frágil, talvez. Ela é a minha caçula, — o respondo, arrumando uma desculpa, não estando a vontade para jogar a real de fato.

— Talvez o motivo seja outro,  porque ela seja filha do homem que você gostou.— rebate o meu comentário, desconfortável, aparentando estar com ciúmes.

— Não vamos entrar nesse ponto agora, Justin. — suspiro, não querendo entrar numa DR.— Já te pedi pra você ir. Já  está na hora, certo?— empurro um pouco a cadeira para frente, disposta a  levá-lo até porta e fazê-lo dá o fora daqui.

— Não vou embora até você responder a minha pergunta, Selena. Preciso saber.— insiste sendo um teimoso, colocando mais pressão em cima de mim.— Ele era melhor do que eu?—  há uma insegurança nítida em seu tom, sendo incapaz de disfarçar.

Que homem lesado!

— Melhor do que você.— repito a frase,  rindo, não sendo capaz de segurar a ironia. Ele está falando de si mesmo. Isso só piora!

— Por que está rindo da minha cara, Selena?

— Será que você não ver o óbvio?

— Óbvio?

— Justin, os anos se passaram, mas você ficou mais burro. A Annabelle, na verdade, é....— quando vou dizer que ela é a bebê, as duas adentram. Me calo, fazendo o idiota ficar mais pilhado.

— Pode entrar, Mabel.— minha menina fala na maior simpatia. Contudo, sinto até dó de como a minha outra filha a trata. 

— Pai, vamos embora. Não quero ficar mais nenhum minuto nesse chiqueiro.— ofende a minha resistência, sendo bastante arrogante até.

— Não quer nenhum pedaço de bolo, Mabel?— a ofereço super educada e recebo em troca malcriação.

—Valeu, Selena, quero não. Obrigada mesmo assim.— exibi uma careta de nojo, forçando uma voz fina, carregada de  desdém.— Vamos pai, não estou me sentindo bem.— mente, fazendo o homem finalmente se tocar de que não chegaremos a lugar nenhum.

—Posso conversar apenas por mais alguns minutos a sós com Selena?— volta a querer ficar comigo sozinho. Reviro os olhos, entediada. É impressionante de como ele não cansa!

— É melhor você ir, Justin, escuta a sua filha.— a trato assim, o que a afeta. Não renego Mabel como minha, só que chegamos no ponto da própria não me suportar, também não vou ficar forçando a barra.

— Vamos, pai! Por favor!— insiste suplicando, quase o convencendo. Justin fica meio dividido e acaba dizendo que só vai sair, se conversar comigo uma última vez.

Por fim, acabo cedendo, porque estou de saco cheio.

(....)

— Fala logo o que você tem a dizer.— peço, para acabar logo com esse clima pesado, não aguento mais.

De repente, Justin agacha-se na minha frente, meio que desesperado para uma última tentativa. Viro a cara, respirando fundo ao avistar o papel ridículo no qual ele está se prestando.

Minha respiração fica acelerada quando sinto sua mão gélida acariciar a minha mão. Observo nossas mãos coladas e fico mexida. Não o afasto e nem nada, seu ato carinhoso causa um friozinho na barriga.

Engulo em seco.

Oh meu Deus, me sinto tão nervosa!

— Não quero homem não, Justin. Já não sei nem mais como fazer essas coisas.— admito.

O único que tive algum envolvimento foi ele, já se passaram anos e até desaprendi como é se relacionar. Fora que fiquei muito traumatizada após ser abusada por aquele maldito do Harry.

Eu acho que agora estou curada, porque não estou sentindo medo do toque que Justin está dando, é um sinal que eu consegui me curar dos danos psicológicos que me afetaram até um tempo atrás. Esquecer? Nunca, eu nunca vou apagar o que aquele desgraçado me fez passar.

— Selena, pare de ser teimosa.— seu tom rouco percorre quase inaudível.

— Teimosa, eu? Será que você não percebe Justin que ficar com alguém como eu, é perca de tempo?— me rebaixo, olhando-o fixamente para dentro dos seus olhos cor de mel.

— Por que está dizendo que não vale a pena? Olhe para você, você continua perfeita!— toca nos fios pretos do meu cabelo, colocando uma mexa que cai sobre o meu rosto atrás da orelha.

— Sério, eu nunca pensei que você ia se tornar tão cego.— debocho do lado irreconhecível que estou vendo do Justin Bieber. — Por Deus. Será que você não cansa?

— Cansar do que? — franze a testa, estando confuso com a minha fala.

— De correr igual um cachorrinho atrás  de mim depois de anos. Existem outras mulheres, ok? Você pode ter qualquer outra do seu lado. E não ficar com uma cadeirante que não tem onde cair morta.

— E é assim que você se ver, Selena?— suas íris se encontram incrédulas pelo que ouve. Balanço a cabeça concordando no mesmo segundo, e minha afirmação acaba o chocando.

— Você não enxerga o quanto eu me sinto insegura?— desabafo, finalmente, desamarrando as armaduras que coloquei desde do momento que o mesmo colocou os pés aqui. — Não tenho mais nada a carregar nessa vida não, meu! Já aceitei que vou morrer assim. — olho para as minhas pernas.— É melhor que eu morra sozinha, pagando por tudo que aprontei. Menti demais, Justin, menti até pra você.— entro na parte de confessar sobre Annabelle, mas a coragem me falta.

— Não foi só você que mentiu, Selena, eu também menti muito. Eu não sou nenhum santo. — ele confessa. O  me deixa bastante desconfiada do seu comentário, até imagino o que seja.

— Deve ser isso o motivo que a Mabel me odeia, né?— capto. E mesmo envergonhado e cabisbaixo, o loiro assente que sim.

— Você deve ter inventado uma mentira cabeluda, para ela não querer nem olhar na minha cara. — constato, observando a sua maneira de reagir. Ele está todo sem jeito.

— Inventei pra ela que você tinha fugido com outro homem. Sei que foi loucura, mas tava puto com você, mas eu prometo que vou esclarecer a história e falar a verdade pra Mabel.— arregalo os olhos. Oh que vontade eu sinto de dá na sua cara cínica!

— Justin, você não toma jeito! Que história mais velha, não tinha outra história melhor para se inventar, não?— o repreendo despojada, não brava de fato. Até que a mentira não é tão cruel, visto que falei para Annabelle que ele tinha morrido.

— Você não está com raiva?— questiona receosamente, soando apreensivo.

— Tô né, mas vou fazer o quê? A pestinha vai se acalmar, vai ver que não fugi com homem nenhum e depois quem sabe me aceite como mãe.

— E se ela não aceitar? E se ela continuar te rejeitando?

— Eu vou saber lidar, Justin.— o afirmo convicta. Um suspiro pesado escapa dos meus pulmões inevitavelmente. Passei por coisas piores e soube me erguer, não será uma birra de uma adolescente que vai me fazer desistir dela.

— Quero que ela conviva mais com você, Selena. — diz, encarando-me os meus lábios. Sinto o seu hálito quente bater em meu rosto. Estamos tão próximos, com nossas respirações descompensadas.— E eu também quero ficar do teu lado. Quero que você seja a minha mulher.— faz a declaração, o impacto é tanto que sinto o meu coração disparar.

— Justin...— murmuro ofegante e ele faz shiuu, pondo o dedo em minha boca:

— Fica comigo, Selena.

Suas íris carameladas transmitem um brilho inexplicável  ao implorar, é a primeira vez que fico tão entregue a um sentimento desconhecido. O que significa mesmo amar outra pessoa romanticamente? Nunca senti nada parecido antes. Fecho os meus olhos aproveitando cada segundo que estamos tendo juntos. Sinto a sua mão pousar nas minhas bochechas, as acariciando. Recebo o seu toque macio e suave, causando-me várias borboletas no  estômago.

— Fico. 

Ele me beija. Seus lábios tomam os meus com desejo e peculiaridade. O beijo é lento e  de tirar o fôlego, como se quiséssemos redescobrir cada canto da boca um do outro. Me sinto entregue a Justin.  Quem conduz, é ele, sua língua pede passagem e permito. Foram tantos anos sem beijar, que me sinto até um pouco receosa em não está beijando corretamente. O gosto do nosso beijo é misturado com avelã e algo refrescante.   Puxo alguns fios leves do seu cabelo, arfando contra os seus lábios, quando sinto ele mordiscar a ponta do meu lábio inferior. Justin sempre foi dominador, esta pegada dele me excita.

Temos muita química juntos.

Ele encerra o beijo me dando alguns selinho. Sorrio, vendo-o todo bobo.

— Selena, isso é um sim?

— Isso é um talvez.— o faço voltar o corpo para trás, piscando os olhos algumas vezes.— Só vou ter certeza que é sim, quando você me perdoar pelo que eu fiz.— lhe lanço um olhar sério, chegando na parte mais difícil: onde vou ter que admitir que agi feito uma filha da puta e tirei o seu direito de pai.

Como será que ele vai reagir?

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31/10/2022

Ainda não consegui contar a verdade a Justin e já se passaram dois dias. Descobri que ele virou caminhoneiro, que irônico, de assassino  para alguém normal. Eu até vi o seu caminhão, é enorme.

Iremos para a floresta. Combinamos de ir para o Halloween, ele me convenceu a todo custo e eu não tive como recusar.

— Mami?

— Sim, Annabelle?— saio dos meus pensamentos conflituosos.

— O seu namorado ainda não chegou.— ela espia da janela, fantasiada de Cinderella. Ficou lindo o vestidinho que Justin comprou pra nossa pequena. Ele comprou até uma fantasia para mim, de mulher maravilha.

— Ele não é o meu namorado, menina. — nego sorrindo timidamente, com as minhas bochechas meio quentes. Acho que estou com vergonha de ter que lidar com os seus olhinhos desconfiados me fitando.

— É o que então?— sorri sapeca.

— Apenas um velho conhecido.— sussurro, tendo que mentir.

Como eu vou contar para Annabelle que vou casar com Justin hoje?

Resolvemos nos casar na floresta, porque foi lá onde tudo começou... e lá poderá ser também onde tudo terminará.

A doença de anos atrás que falei para ele, poderá me matar a qualquer momento. O tumor continua alojado no meu cérebro, não vou perder o meu tempo fazendo tratamento de quimioterapia, nem dinheiro eu tenho para pagar esse tratamento. E outra, pra quê? para no final morrer?

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