capítulo 15

Capítulo 15

Nick

- Venha, vamos caminhar! - li os lábios da Bea quando disse isso a Aria.

Ela ficou um pouco hesitante, olhando de um lado para o outro, provavelmente buscando por Adam, mas ele não estava à vista. Eu só esperava que a Lara conseguisse manter ele longe o tempo necessário para que eu convencesse ela a vir comigo.

Bea me olhou e piscou, quando se viraram para a direção de onde eu estava e saíram de braços dados, sumi no meio da multidão e entrei novamente no escritório.

Meu coração batia galopante no peito. Eu me sentia um adolescente fazendo algo errado. Mas a verdade é que eu estava tentando fazer a coisa certa, ao menos desta vez.

Cada segundo que passava, parecia como uma eternidade.

Será que algo tinha acontecido? Elas estavam demorando, não estavam?

Peguei meu celular, para mandar uma mensagem para a Bea, mas ouvi um barulho e a maçaneta girou. Quando ergui meu olhar, guardando o celular no bolso, lá estava Bea entrando sorrindo com a Aria pendurada em seu braço.

Quando Aria me viu, ela parou de andar, mas Bea, gentilmente a puxou  para dentro do escritório e fechou a porta.

- Nick... - ela murmurou e praticamente não saiu som, então se virou para a minha irmã - Por que me trouxe aqui? - sua pergunta saiu baixa e em tom de desespero.

- Fique calma, ele só queria...

- Eu não posso! - Aria disse mais alto agora e se virou para a porta - Preciso voltar!

Caminhei os quatro passos que nos separavam e segurei seu braço e a virei para mim.

- Aria, por favor! - pedi olhando nos seus lindos olhos, seu cabelo ruivo parecia incandescente na luz baixa do escritório amadeirado.

- Eu não posso! - sua voz saiu suplicante e seus olhos já estavam marejados - Se adam perceber que eu sumi...

- Ele não vai perceber! - Bea se apressou em dizer - Acredite!

- O que vocês fizeram? - ela perguntou assustada.

- Ele está bem! - falei e ainda segurava seu braço - Preciso que me escute! - pedi com o olhar fixo no seu.

Aria tremia e claramente estava com medo, não de mim ou de Bea, mas do que o marido poderia fazer se notasse que ela tinha sumido.

- Aria - chamou minha irmã, atraindo o olhar dela para o seu - Converse com o Nick, eu prometo que está segura e que Adam não notara sua ausência! Apenas o escute! Eu volto daqui a alguns minutos, prometo!

Bea falou tão séria e confiante, que Aria pareceu relaxar um pouco, então a soltei. Minha irmã beijou o rosto da amiga e saiu de fininho fechando a porta e nos deixando a sós.

- Não há nada que você me diga, que já não tenha dito. Sei o que vai dizer e já falamos sobre isso! - Aria falou e abaixou a cabeça, caminhando para o fundo do escritório.

Ela estava linda o vestido preto, era longo e justo, de mangas longas em renda. Ela parecia uma mulher, diferente da menina que sempre assombra meus sonhos e pesadelos.

- Me diga - falei calmamente - Como anda o trabalho?

Aria parou de caminhar e se virou para mim, me olhando com cautela.

- Por que a pergunta? Não me viu mais no restaurante e quer saber por que? Nick, precisa parar com sua obsessão por mim, sabe, já conversamos sobre isso muitos anos atrás!

- Já conversamos mesmo. Mas eu perguntei por que Bea procurou por você no restaurante e também na empresa em que você... trabalha e...

- Ok, Nick, se sabe que não estou mais trabalhando lá, por que o interrogatório, isso não é da sua conta! Já falei isso a você! - ela disse irritada.

Cocei o queixo e passei a mão no cabelo, suspirando. Eu precisava manter a calma, ser racional e razoável, ou poderia acabar colocando tudo a perder.

- Preciso que entenda, Aria, que quando seu marido faz o que faz com você, isso não só é da minha conta, como dá conta de todo mundo que sabe as atrocidades que ele inflige a você!

- Ele não faz nenhuma atrocidade comigo! - seu tom foi baixo, mas carregado de raiva, talvez ela acreditasse mesmo que ele não era mal.

- Se eu contasse a você que uma de minhas irmãs tem um marido que bate nela quando se estressa, talvez por algo grande ou pequeno, se eu dissesse que ele já trancou uma delas em casa e que provavelmente está fazendo o mesmo agora, sabe Deus porque motivo, você acharia normal? Acharia aceitável?

- Onde está Adam? - ela perguntou e deu um passo na minha direção - Contou sobre a minha vida para as suas irmãs?

- Contei! - falei sério e dei um passo em sua direção - Eu precisava de ajuda, aliás, você precisa de ajuda!

- Eu não preciso e não quero ajuda! - Aria disse e deu mais um passo - Diga, onde está Adam? - exigiu ela.

- Está bem! Já disse! - falei bravo e agora estávamos a no máximo dez centímetros um do outro.

- Onde... ele... está? - ela perguntou pausadamente.

- Com a Lara! - respondi e ela estreitou os olhos confusos.

- Com... a Lara? Fazendo o que?

- Ela está apenas distraindo ele, nada demais. Não se preocupe! - disse para tranquilizar Aria, mas a verdade é que não Lara era bem capaz de fazer algo louco, para prender Adam pelo tempo necessário.

- Nick, eu preciso ir! - Aria disse passando por mim, mas a segurei novamente pelo braço.

- Não, você não vai! - falei e a puxei para mim, seu peito bateu contra o meu.

Minha intenção era apenas que ela parasse, mas não medi a força necessária, fazendo seu corpo colidir com o meu. Sua boca ficou a centímetros da minha, seu peito subia e descia rápido, seus lábios estavam entreabertos e a respiração ofegante.

Eu não queria, eu nem sequer pretendia. Mas por um impulso, grudei minha boca na sua. Aria estava com gosto de champanhe, seus lábios estavam mornos e ela me recebeu com um pouco de relutância, ela estava em um conflito interno, visto que automaticamente seus braços magros se enroscaram no meu pescoço, mas sua boca demorou a corresponder de fato, segundos se passaram. Lentamente movimentei meus lábios contra os seus, até que Aria cedeu tanto ao beijo, quanto aos meus braços, ela relaxou um pouco contra mim, encostando seu corpo no meu. Envolvi meus braços ao seu redor, misturando meu calor com o seu, adorando aquele cheiro familiar e acolhedor do seu perfume, que ainda era o mesmo de muitos anos atrás. Sua língua encostou na minha e senti quando ela estremeceu. Aria ainda estava nervosa, embora muito menos do que antes. Ela queria o beijo tanto quanto eu, mas o medo ainda estava presente.

Afastei minha boca da sua e beijei seu queixo, seu pescoço, sua bochecha. Passei minhas mãos afagando suas costas.

- Você está bem aqui comigo, está segura! Eu quero apenas protegê-la! - murmurei em seu ouvido - Tudo que quero, é o seu bem!

Mais um estremecimento, percorreu seu corpo e me afastei apenas para olhar em seus olhos, segurando seu rosto em minhas mãos. Aria estava chorando. Lágrimas escorriam por suas bochechas.

- Nick... - ela sussurrou meu nome e seus lábios tremeram devido ao choro que Aria tentava controlar, mas fracassava - Eu não sei o que fazer! - ela confessou.

- Me deixe te ajudar, me deixe fazer com que tudo de ruim suma da sua vida e apenas coisas boas fiquem! Eu quero que você fique bem! Ninguém merece viver a vida que você está levando. Você nem sequer percebe o quão frágil está! - falei ainda segurando seu rosto em minhas mãos e olhando no fundo dos seus olhos - Não teve uma vez em que conversamos que você não chorou. Você está cada vez mais magra. Seu semblante é sempre de tristeza e seu olhar é sempre de medo! Deus, eu não suporto mais a ver assim, não imagino o quão destruída você está por dentro, mas precisa entender que você claramente está com dependência emocional e que Adam é abusivo! - disse baixo, porém sério, eu precisa, ela precisava entender isso.

Aria não disse nada, apenas encostou sua cabeça em meu peito e voltou a chorar, seu corpo tinha alguns espasmos e tremia tanto que parecia estar com frio. A envolvi novamente em meus braços e encostei meu queixo no topo da sua cabeça.

Deus... como eu queria ajudá-la! Estava realmente muito tentado em colocá-la por cima do meu ombro e a levar daqui, Aria querendo ou não.

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