capítulo 5

Capítulo 5

Nick

Depois do jantar na casa dos meus pais, que foi uma agonia completa, porque eu só pensava em Aria a poucos metros de mim, eu voltei para o pequeno chalé e a observei.

O certo seria que eu chamasse a polícia e ficasse o mais longe dela possível. O problema não era meu. Aria era adulta agora e precisava lidar com as consequências dos seus atos.

Mas como eu poderia fazer isso? E se ela estivesse em perigo?  Eu não podia ser o culpado por uma tragédia.

Esperaria que ela acordasse e conversaria civilizadamente com Aria.

Merda, essa era uma péssima ideia. Péssima! Muito, muito ruim! Mas eu não consegui não passar a noite toda a observando dormir tranquilamente. Monitorei seus batimentos o tempo todo, para ter certeza de que ela estava bem.

Mesmo cansado das doze horas intensas de trabalho, não consegui pregar o olho.

*

Quando Aria falou da sua tia, naquela manhã eu senti vontade de sacudir ela com força e gritar. Como ela podia sequer cogitar a ideia de pedir ajuda a sua tia? Depois de tudo que a mulher tinha feito com ela, Aria só podia ser maluca.

- Ela me ajudaria! - falou ela parecendo brava.

- Claro e depois faria o mesmo novamente! Quem sabe com alguém até pior! - disse exasperado não querendo acreditar na sua ingenuidade.

Quando percebi estava a poucos centímetros dela. Sua respiração praticamente se misturava com a minha. Como ela ainda podia ter esse poder sobre mim? Não era possível que eu ainda sentisse algo por ela. Até porque, ela com certeza não sentia nada por mim.

- Não... não... fale assim comigo! - ela disse dando um passo para trás e só então percebi que talvez eu a estivesse intimidando.

- Desculpe! - falei e fiz o mesmo, retrocedi um passo. - Eu só não consigo acreditar que você acha mesmo que ela a ajudaria!

- Ela já me ajudou antes. Cuidou de mim, dos meus estudos... tenho certeza que tudo que fez foi pensando no meu bem. Ela só queria o melhor para mim. Não conhecia Adam, assim como eu só fui conhecer de fato a pouco tempo...

- Não sabia? Será mesmo? Acha que toda aquela insistência dela anos atrás para que ficasse com Adam foi coincidência? - perguntei com as mãos na cintura, olhando em seus olhos.

Dizer o nome do desgraçado que eu nunca quis saber, ainda me irritava.

- Tenho certeza que sim! - ela disse e não pareceu acreditar nas suas próprias palavras.

- Tem certeza... - repeti a imitando, porém com ironia.

- Seu idiota! Você não mudou nada! - ela falou com lágrimas nos olhos.

Algo mudou, minha raiva se foi completamente. Sentir seu cheiro, que ainda era o mesmo de antes, ouvir sua voz suave, olhar seus cabelos ruivos desgrenhados e cumpridos, observar seus lindos olhos e ver as lágrimas marejando, querendo descer, fez com que toda a raiva recuasse.

- Eu... sinto muito! - falei baixo e tentei tocar seu braço, mas ela não deixou - Estou mesmo agindo como um idiota peço desculpas!

- Ok... - ela murmurou e cruzou os braços, claramente ainda irritada.

- Quero ajudar você! - falei e agora quem não acreditava nas próprias palavras era eu. De onde tinha vindo isso?

- Quer me ajudar? Por que? - ela perguntou desconfiada.

- Porque... bom, eu não sei porque. Mas quero e acho que você precisa! Podemos denunciar Adam, dizer que foi legítima defesa...

- Não... - Aria disse me interrompendo- Não sei se quero fazer isso!

- Não sabe? Está com medo de ser presa? - perguntei - Posso pedir ao meu pai que os advogados da empresa dele ajudem você. Eu tenho certeza de que ele não se importaria... - Parei assim que vi o seu rosto, ela não estava com medo disso - Você se importa com ele! - falei baixo.

- Sim... - ela disse e abaixou a cabeça, seu corpo inteiro tremeu e um soluço escapou de sua garganta. Tive vontade de abraçá-la, mas eu não confiava em mim para isso - Eu sei que é loucura. Mas eu o amei muito. Adam nem sempre foi como era agora. Sabe... ele foi bom e gentil comigo no começo. Mais ou menos a uns dois anos atrás que tudo começou...

- Tudo o que? - perguntei temendo a resposta. Nem sabia ao certo se queria mesmo saber.

- Ele começou a ser violento com as palavras, era bruto comigo. Até que... decidiu que eu não deveria mais sair de casa. Se tornou ciumento e possessivo...

- Exatamente como você achou que eu me tornaria! - falei  a interrompendo - Foi isso que você alegou quando terminou comigo e dias depois estava noiva dele!

- Já fazem anos, Nick! Não vamos falar nisso! - pediu ela e ergueu sua cabeça. Seu rosto estava avermelhado e seus olhos ainda estavam marejados.

- Sim, tem razão. Já fazem anos e eu já superei, não vamos mais falar de nós! - falei. Mas a verdade é que eu não tinha superado Aria, estava começando a fazer isso, agora que já faziam anos e a encontrar simplesmente acabava com os meus planos.

- Enfim... agradeço que queira ajuda, mas não há necessidade. Assim que eu contar a minha tia Renata, ela vai entender e querer me ajudar. Vai se sentir muito culpada, mas a culpa não é de ninguém. É somente minha, minhas escolhas, minhas consequências!

- Há, por favor Aria - disse voltando a ficar irritado - Você deve ser muito ingênua mesmo! Por isso que ela a manipulou com facilidade!

- Pare de dizer estas coisas, minha tia também não é um monstro. E pode ser sim que ela tenha preferido Adam que era um pouco mais velho que você por causa do dinheiro e da carreira dele, mas ela achou que isso seria o melhor para mim. Estávamos falidas na época, à beira de sermos despejadas. Adam foi bom conosco, na época!

- Quer saber, volte para sua tia! Volte para o Adam! Tanto faz, eu não ligo! - falei sentindo meu corpo tremer de raiva.

Eu estava mentindo, mentindo descaradamente. Eu me importava e muito, queria desesperadamente que ela dissesse que precisava da minha ajuda. Mas onde isso levaria? Só podia ser a um lugar e eu não queria mesmo isso.

Meu celular tocou de repente, fazendo com que nós dois saíssemos do transe que nossos olhares se encontravam, estávamos perdidos um no outro. Já faziam anos, mas neste momento parecia que haviam se passado apenas alguns dias, quem sabe no máximo, horas.

Porque eu fui invadido e dominado por todos os sentimentos que eu lutava para enterrar o mais fundo dentro do meu ser. Mas neste momento, neste instante, tudo estava prestes a explodir com força e não seria nada bom para mim e nem para a Aria.

O celular ter tocado, foi a melhor coisa que poderia acontecer para nós dois.

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