capítulo 6

Capítulo 6

Aria

Por mais que eu estivesse muito tentada a aceitar a ajuda do Nick, eu não faria isso. Não quando o conhecia o suficiente para saber que ele poderia ser como o Adam.

E por mais perdida que eu estivesse naqueles lindos olhos azuis e no seu físico, eu não podia ficar e aceitar ajuda, ou sabe mais o que ele gostaria de fazer por mim.

O celular do Nick tocou e ele olhou para a tela, fechando brevemente seus olhos e o colocou no bolso novamente.

- Você disse que quer me ajudar - falei olhando nos seus olhos - Me ajude então, me empreste o seu celular, para que eu possa ligar para a minha tia!

- Porra... - ele disse suspirando - Não é possível que você queira voltar para a casa dela. Sabe bem que a Renata sempre usou você, tirou todas as vantagens possíveis, inclusive...

- Pare! Eu escolhi Adam porque quis! - falei. - Eu achava mesmo que Adam era diferente, eu acabei o amando.

- Se você diz! - ele falou e não pareceu acreditar.

- Me deixe ligar para ela e pedir um uber! É tudo que peço, vou sumir da sua vida e não precisa se preocupar mais comigo! Não sou seu problema! - falei sentindo a garganta queimar.

- Você... - ele disse e deu um passo, mas recuou - Você não é um problema, droga! Não é! - seu tom saiu mais suave, embora ele estivesse com raiva.

- Não importa! Por favor... - pedi em tom suplicante.

*

Uma hora e vinte minutos depois, eu estava chegando na casa da minha tia.

- Sua tia se recuperou bem da falência! - murmurou Nick quando parou em frente ao endereço que passei. Ele tinha insistido em me trazer em segurança, embora tenha usado bastante ironia na palavra “segurança”.

- Sim, se recuperou! - falei apenas isso sobre o assunto - Obrigada pela carona e por ter me ajudado, sou realmente muito grata. Sem você, não sei o que poderia ter acontecido comigo!

- Não precisa me agradecer! - ele falou me olhando, mas desviou seu olhar para a rua e pegou sua carteira que estava no console ao seu lado - Este é meu cartão, se precisar de mim pode me ligar. Sei que não quer minha ajuda, mas estarei à disposição!

- Obrigada! - falei pegando o cartão que eu acabaria ou perdendo ou jogando fora.

- Se cuide! - Nick disse quando abri a porta do carro para descer.

- Você também! - falei e saí.

Minhas pernas tremiam e eu só pude torcer para que não caísse no chão e passasse uma vergonha daquelas. Apertei a campainha e acenei para a câmera da frente, logo o portão se abriu. Ouvi o barulho do carro do Nick ligando e depois que entrei, não pude ver mais nada.

Cheguei até a porta de entrada  e bati. Em menos de um minuto ela se abriu e vi minha tia. Ela estava como sempre. Bem arrumada, com um  dos seus vestidos longos, um batom vermelho contrastando sua pele pálida como a minha e seus cabelos ruivos esvoaçantes.

- Minha pequena! - ela disse ao me ver e abriu os braços.

- Tia... - falei e a abracei com força.

Apesar de tudo, ela era tudo que eu tinha e me senti reconfortada nos seus braços.

- Meu amor, o que houve? Que carinha é essa? Venha comigo! - ela disse me guiando pelo corredor para chegar na sala.

Para me desespero, assim que avistei o sofá, sentado de costas estava ele, seus cabelos negros eram inconfundíveis. Ele se virou e vi sua barba tão escura quanto seus cabelos, moldarem seu rosto lindo como o de um anjo mau.

Dei dois passos para trás e arregalei meus olhos. Acabei esbarrando no aparador de bebidas, que fez barulho. Adam se virou e me viu.

- Tia... - disse e quase não saiu o som da minha boca.

- Tudo bem, tudo bem, querida! Adam me contou tudo! - ela falou e passou a mão nas minhas costas.

- Contou? - falei sentindo meu coração subir pela garganta.

- Sim! - ela falou séria.

- Eu disse a ela que foi tudo um acidente. Mas que você ficou nervosa e acabou sumindo. Já acharam nosso carro! - ele falou e ficou de pé com um pouco de dificuldade, colocando a mão na lateral da sua barriga e fazendo uma careta de dor - Estávamos preocupados, vim ver se você estava aqui e como não estava, nós dois íamos chamar a polícia! Ainda bem que chegou! Onde esteve? - Adam estava calmo e sereno, como quando o conheci, seu tom era amigável.

- Eu... eu... sofri um pequeno acidente e fui para o hospital! - menti.

- Eu disse a ele! - minha tia respondeu - Venha, vamos nos sentar querida!

- Não! - falei e ela me olhou assustada, visto que praticamente gritei - Eu... não quero!

- Ela ainda está assustada, Renata. Acha que devo estar chateado. Mas não estou! - Ele disse e caminhou alguns passos na nossa direção. - Nos deixe a sós, vamos conversar e acertar tudo!

Minha tia concordou e nos deixou a sós. Ele não se aproximou mais e eu fiquei escorada na parede perto do corredor.

- Por que disse isso a ela? Não foi um acidente! Sabe bem disso! - falei baixo, com medo que minha tia ainda estivesse por perto.

- Eu sei. Eu mereci! - ele admitiu e me surpreendeu com isso - Eu estava louco, completamente maluco nos últimos tempos. O que você fez, me acordou de tudo de ruim que eu estava fazendo. O que fez ontem, me mudou Aria!

Adam deu um passo na minha direção, ainda com a mão na barriga.

- Ninguém muda assim, literalmente da noite para o dia! - falei.

- Pode ser estranho, mas eu juro que falo a verdade! - ele disse dando mais dois passos - Aria, meu amor, sabe que a amo. E estou disposto a aceitar a facada que me deu, não farei nenhum boletim de ocorrência, eu já a perdoei por isso. Como disse, eu mereci! Merecia mais na verdade!

- É, merecia! - falei baixo, olhando nos seus olhos escuros como seu cabelo e sua barba. Ele sorriu e pareceu achar graça.

- Senti saudade dessa sua personalidade forte! - Adam disse e se aproximou mais.

- Minha personalidade foi apagada depois de tudo que fez! - acusei.

- Sim, sim! Tem toda a razão! E não sabe o quanto isso me dói. Essa noite eu passei no hospital sendo atendido e acredite, pensei muito no quanto tudo que estava acontecendo era culpa minha, meu amor! Me arrependo, me arrependo de verdade e estou pronto para mudar, por você, por mim, por nós! Pelo nosso casamento!

- Não existe mais nós... - falei e senti seu cheiro, o que me deixou um pouco zonza.

- Existe... - ele me alcançou e tocou meu rosto com a sua mão livre - sabe que existe. Sei que você me ama, eu também a amo! - Adam falou baixo e aproximou seu rosto do meu. Sua barba fez cócegas na minha bochecha e sua boca chegou perto do meu ouvido - Eu te amo meu amor, minha garota!

Fazia muito tempo que ele não me chamava assim. Sua outra mão que estava antes na sua barriga, segurou minha cintura com firmeza.

- Adam - falei - Não...

- Diga que não me quer - ele falou baixo - Diga que não me ama e eu vou embora...

Eu não podia dizer isso, porque eu não sabia se era verdade. A boca de Adam encontrou a minha e ele roçou seus lábios quentes nos meus.

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