Capítulo 4 - parte 2

Volto a vagar sem rumo com a esperança de achar comida ou dinheiro. Andando de cabeça baixa, esbarro de frente com o homem que me abordou ontem a noite.

- Você é o anjo da peça?

Apenas olhei para cima e noto que foi o homem que me "obrigou" a participar da peça. Me afastei dele. Ignorando e continuo andando.

- Espere! – ele gritou pegando meu braço. - Não sou o que você está pesando. – disse puxando o meu braço para perto do seu corpo. - Vamos conversar, eu pago um café para você.

“Comida...” – a primeira palavra que veio em minha mente e fez meu estomago roncar.

- Tudo bem... –retruquei, baixando a cabeça.

E ele apenas sorriu.

Fomos para uma padaria diferente de tudo que vi antes, há várias mesas com pães bonitos, um maior e mais suculento que o outro e de sabores bem interessantes. Fico olhando a vitrine babando. Pelo estado do local, não aceita qualquer um. Entramos no estabelecimento, so de olhar a quantidade de coisas não sei o que escolher.

O humano se senta em uma mesa quadrada pequena com dois cardápios em cima, com duas cadeiras. E sento eu a sua frente.

- Pesa o que quiser. - ele disse pegando o cardápio.

Olhei com cara de dúvida, não sei o que pegar, já que eu nunca consumi comida humana na forma de anjo, não lembro do sabor quando me reencarnei.

Ele abaixa o cardápio, me encara e dá um longo suspiro.

- Irei pedir algo para você, depois você pode escolher o que quiser.

Ele provavelmente percebeu minha indecisão.

Confirmei com a cabeça sorrindo.

- Você realmente parece uma criança.

Um rapaz com pele clara, cabelos castanhos de uniforme, roupa preta com branca e um pequeno avental amarrado na cintura vieram em nossa direção com um pequeno caderninho de anotação e uma caneta em suas mãos.

- O que desejam senhores? – ele perguntou.

- Dois cafés e um pão doce, para ele.

- Ok. – ele responde e anota os pedidos e depois se retira.

- Irei pedir isso para você agora, já que parece não ter decidido o que quer, depois pegue o que quiser.

- Ok, muito obrigado. - disse timidamente.

Estou contente por ter encontrado esse humano, mas ao mesmo tempo sinto que no final dessa conversa, não terminará bem.

- Não sei seu nome.

- Não tenho nome.

- Não tem nome?

Espera, me esqueci do nome... Tenho que me acostumar com isso, todavia não será fácil.

- Não deixe para lá... Estava apenas brincando... Pode me chamar de Angel...

- Angel?

Confirmo com a cabeça.

- O seu nome até combina muito bem com o seu papel na peça.

Ele me fita de baixo para cima.

- Quando te vi, pensei que fosse o substituto que ligamos. E pela sua aparência na hora, você era mais do que perfeito, não sabia que estava apenas de passagem. Desculpe-me por força-lo a participar de uma peça, achei que fosse um substituto.

- Tudo bem.

- Achei que você fazia arte ou algo parecido, não sabia que mora na rua.

Como ele descobriu?

- Nem eu... - retruquei baixo.

- O que disse?

- Tudo bem...

- Mas se você mora na rua como conseguiu essa fantasia? Parece ser realmente cara, suas vestes brancas com detalhes dourados bem leves. Realmente parece ser obra de um grande designer, pois quando ele colocou os detalhes dourados, fez com que ao mesmo tempo que chama a atenção das pessoas ele não chama e isso destaca suas grandiosas asas...

As vestes tem o bordado para ajudar a lutar contra espíritos ruins, não para agrada-lo, ou á vocês humanos.

– E as suas asas... Mesmo não sendo albinas são tão perfeitas... Pareciam até reais. Acho que nenhum artista que eu conheço faria um trabalho tão bem-feito. Onde conseguiu? Ou roubou?

Roubar? Acha mesmo que um anjo roubaria? Ele convidou para comer, apenas com a intenção de chamar-me de ladrão?...

- Aqui está. – fala o atendente nos interrompendo colocando duas xícaras na mesa e um prato com pão doce recheado de creme –Aproveitem o pão acabou de sair do forno. – ele depois se retirou.

O cheiro do pão invade as minhas narinas, não consigo pensar em mais nada, nem lembro o por que estou tão irritado. Pego o pão e dei uma bocada, fazendo com que a minha boca fique suja de creme.

Que sabor incrível... Durante milênios não senti um sabor tão maravilhoso quanto esse, claro que só reencarnei duas vezes e não tinha tal coisa em ambas as épocas…

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