Capítulo 4 - parte 1

“O espírito imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele gritando.” - Marcos 1:26.

...~Angel~...

Abro os meus olhos devagar, a minha visão embasada, mas gradualmente fica normal. Estou no mesmo beco, no canto onde meu amigo anjo me deixou.

O que aconteceu ontem à noite? Não passou de uma ilusão? Não... como é que os humanos chamam mesmo? Sim lembrei... sonho ou pesadelo ou sei lá o que.

Consigo mover meu corpo, mas ainda sinto fraqueza e dores mas, nada que não possa ignorar, por enquanto. Me levantei estiquei um pouco.

- Está acordado? – escutei uma voz conhecida por trás e quando olhei vi meu amigo anjo.

- Acho meio difícil ter um sono descente nessas condições que você me largou.

- Não fique bravo comigo, com essas asas dificulta fazer algo a mais por você.

Ele joga um em mim um sobretudo bege escuro.

- Feche as suas asas e ponha isso, vai escondê-las por enquanto. Foi bem difícil de conseguir.

- Obrigado.

Segui o conselho dele, fazendo com que nas minhas costas ficasse uma pequena corcunda. O meu estômago fez um barulho estranho e alto, por fim uma dor.

- O que é isso? – perguntei colocando a mão no meu estômago.

- Você esqueceu? Não presta atenção no seu humano? Isso se chama fome.

- Fome? Não me lembro de tal palavra.

- Você não observa os humanos direito? Era a única coisa legal nesse trabalho.

- Acha mesmo que ligo para os humanos, se eu soubesse que ficaria preso nesse corpo miserável eu teria me inscrito no negócio de reencarnar antes e pegado um corpo humano forte e resistente.

- Não fique triste e como os humanos dizem mesmo... Ah sim... Não chore pelo leite derramado. Mas você nunca havia questionado este corpo antes.

- Claro, quando se é anjo não temos desejos ou doenças, não dependemos do corpo para tudo. Tirando que os meus poderes eram fortes.

- Você ainda os tem?

- Sim, mas sinto que os meus poderes são limitados. E assim que os obscuros descobrirem serei caçado como um cervo por um leão.

- A parte ruim é que você não está exagerando.

- Aos poucos sinto esses desejos humanos que os corrompem.

Escutamos o som de um carro passando por perto.

- Preciso ir. - ele fala.

- Espere!

- O que?

- Você notou algo de errado com aquele humano de ontem? Aquele que estava no bar Hunter.

- Não há nada de errado com ele, não passa de um humano como todos os outros.

- Não é isso... – quando ia terminar a frase ele simplesmente me ignora e abri suas asas, voando para longe.

- Ele não notou e ainda me ignorou. Ou será que estou perdendo um pouco da habilidade de ver anjos. Penso que cada segundo que passo na Terra como humano, afasto-me do mundo espiritual.

Acho melhor explorar um pouco essa cidade, já que é de dia e aproveitar arrumar algo para comer.

Sai do beco e comecei a vagar pelas ruas movimentadas.

Logo o cheiro de comida, como pães e carne sendo cozidas dança pelas minhas narinas, demonstrando a beleza de cada aroma. Olho para o lado e vejo uma grande padaria, com vários pessoas, desde mais simples à pessoas com ternos, mais sofisticadas.

A minha boca enche d’água e quando notei que eles pediam algo em troca por comida, um tipo de papel especial com pequenos círculos finos de metal... Qual era o nome mesmo? Ah sim... dinheiro...

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