capítulo 9

• POV: Nathalia •

Depois de todo o meu constrangimento com Micael na cozinha, Olívia me chamou para o jardim da parte de trás da casa.

Ficamos conversando e ela me contou um pouco sobre ela e eu um pouco de mim.

Ouvimos vozes dentro da casa e logo depois meu irmão, Renata e Fernanda apareceram no jardim.

ㅡ Bom dia, bom dia povinho. ㅡ Fernanda como sempre muito agitada.

Para minha surpresa ela veio direto para Olívia e deu um beijo na bochecha dela.

ㅡ Bom dia tia. ㅡ meus olhos e os de Renata se arregalaram.

ㅡ Oi filha. ㅡ Olívia a respondeu com um abraço.

ㅡ O que? ㅡ olhei para minha melhor amiga esperando pelo menos algo que explicasse essa estranha intimidade.

ㅡ Amiga cê não lembra que eu nasci, cresci é moro no morro. ㅡ ela me olhava com um sorriso. ㅡ Tenho certeza que tinha te contado.

É verdade.

Só que, que maldito mundo pequeno, qual a probabilidade dela morar no mesmo morro que Micael era dono e meu irmão o segundo no comando. E pior, nunca nem pensou em me contar.

ㅡ Seu irmão me fez prometer que não falaria nada sobre o que ele trabalhava e bem, é a vida dele, quando estivesse pronto ele ia contar. ㅡ Fernanda sempre foi assim, mesmo que soubesse de algo, ela não falava se não a envolvesse.

Ela não se intrometia nos assuntos alheios, porém sempre aconselhava a resolver logo antes que se tornassem bolas de neve e não dessem mais para serem resolvidas.

ㅡ Tia Olívia trabalhou como voluntária no orfanato que eu cresci. ㅡ explicou.

Uma das mil coisas que eu não sabia sobre minha melhor amiga. Fernanda por algum motivo foi criada em um orfanato, ela nunca me contou o por quê e eu não a pressionava, afinal seu lema era "quando estiver pronto para contar, apenas conte" e ela nunca esteve pronta para falar sobre sua vida antes de me conhecer.

Fernanda era o tipo de amiga que salva você em toda e qualquer situação, mais quando precisa de algo ela se isola e volta quando está melhor. Mesmo com meus esforços para ajudá-la, ela diz que não precisa e que magoa quando tentamos ajudá-la. Então eu apenas a deixo.

ㅡ Fernanda era a peça do orfanato. Sempre fazendo o diretor ficar com cabelos brancos. ㅡ Olívia riu com a lembrança e Fernanda gargalhou.

ㅡ Será que ele ainda tá vivo? Queria fazer uma visita aquele velho ranzinza. ㅡ Fernanda se jogou na cadeia ao meu lado.

ㅡ Não sei, ele se aposentou e nunca mais tive notícias dele. ㅡ respondeu.

Olhei para minha irmã que ainda estava em pé ao lado do meu irmão.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ perguntei.

O sorriso de Fernanda sumiu na hora.

ㅡ Fomos hoje a uma clínica para fazer exames e saber se está tudo bem com Retana. ㅡ meu irmão passou um dos braços pelo ombro dela.

Meu coração acelerou. Senhor por favor que minha irmã esteja bem, por favor.

ㅡ Está tudo bem comigo. Descobrimos que estou grávida de três meses e meio. ㅡ Renata começou e sua voz pareceu sumir. Ela olhou para Felipe e ele concordou, parecia estar encorajando ela. ㅡ E são dois bebês.

Meu mundo parou e vi Felipe apertar nossa irmã contra ele.

ㅡ Quando estávamos subindo para cá, vimos a Fernanda, eu contei tudo a ela. ㅡ vi minha melhor amiga suspirar.

A voz de Renata pareceu sumir e Felipe a fez ficar de frente para ele e a apertou.

ㅡ Eu estava sim, na única festa que Renata foi depois de terminar o namoro, quase quatro meses atrás. ㅡ meu Deus a data batia. ㅡ Eu estava de olho nela porque Renata tava bebendo como se não ouvesse amanhã. ㅡ Fernanda passou a mão no cabelo. ㅡ Ouve um tiroteio naquela noite e todo mundo correu para lados diferentes, eu procurei por toda parte, mais ela não estava em lugar nenhum, até entre as meninas mortas eu tinha procurado com o coração na mão e implorando a Deus que ela não estivesse lá. E realmente não estava, eu só encontrei com ela dois dias depois e ela não se lembrava de nada. ㅡ Minha irmã olhou para mim.

Seus olhos vermelhos e perdidos.

Olívia se levantou da cadeira onde estava sentada e foi em direção a Renata. Ela estendeu os braços e minha irmã praticamente se jogou nos braços dela.

ㅡ Vai ficar tudo bem, meu amor. ㅡ Olívia apertava minha irmã com os braços, uma mão em suas costas e a outra acariciando seus cabelos. ㅡ Vai ficar tudo bem, estamos aqui para você, ninguém aqui está te julgando, a decisão é sua e apenas sua, nossa obrigação é apoiar em qualquer situação. ㅡ ouvi quando um soluço foi solto.

Vendo aquela cena, eu não me aguentei, começei a chorar, se nossa mãe tivesse feito aquilo, apoiado, conversado, aconselhado e instruído, minha irmã caçula talvez não estivesse nessa situação.

Um dos principais pilares da nossa família nunca sequer existiu, nossa mãe nunca fez seu papel, e agora vendo Olívia e a maneira como abraçava minha irmã, uma enorme inveja de Micael e Theo me atingiu.

Espero que vocês tenham aproveitado e que agradeçam todos os dias pela mãe incrível que vocês tem.

ㅡ Olívia, eu nunca pensei em ser mãe. ㅡ minha irmã se afastou um pouco para olhar nos olhos de Olívia e ela concordou.

ㅡ Eu entendo. ㅡ disse.

ㅡ Mas quando eu estava na sala de ultrassom e a médica me fez ouvir o coraçãozinho deles batendo. ㅡ outro soluço. ㅡ Eu pensei, será que minha mãe tinha sentido sequer um pingo de felicidade. ㅡ eu desabei e vi Felipe com os olhos cheios de lágrimas. ㅡ Porque aquele foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu, uma pessoa que só faz besteira, foi capaz de fazer algo tão especial. ㅡ Olívia abraçou Renata.

ㅡ Você é ótima Renata, tenho certeza que vai ser a melhor mãe do mundo. ㅡ a voz de Olívia estava embargada.

ㅡ Se eu for melhor que a minha mãe, então já está ótimo para mim. ㅡ minha irmã olhou para mim. ㅡ Se eu conseguir ser igual você foi para mim, eu vou estar realizada. ㅡ meu irmão abaixou a cabeça e passou a mão pelo rosto.

Renata se soltou de Olívia e veio até mim, ela parou na minha frente.

ㅡ Por favor não me odei. Por favor.

ㅡ Eu não te odeio, muito pelo contrário, eu amo você. Amo vocês. ㅡ a puxei para um abraço e chamei meu irmão com a mão.

Ele se juntou a nós no abraço.

Finalmente éramos apenas nós, nada de outras pessoas que se diziam família para nos causar traumas. Estávamos ali, como sempre fomos, só que agora apenas focando em quem realmente importava.

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