Zaira- Saudades

Hoje eu acordei pela manhã e tive vontade de estar em seus braços, o gosto da sua boca ainda está quente e presente nos meus lábios. Ainda sinto suas mãos e o seu cheiro impregnado no meu corpo. Fico pensando em cada detalhe daquele dia e como ele marcou minha vida com apenas alguns gestos, se eu continuasse o vendo, com certeza, eu estaria entregue a uma paixão descabida e totalmente entregue ao prazer, mas não posso ter essa atitude agora. Tenho objetivos a serem alcançados, uma distração poderia me tirar da competição por uma vaga na federal.

Penso no que eu sentia por Edgar e a dor dos sentimentos que eu tinha já não me machucam mais, não o esqueci mas é um conforto saber que aquela paixão não está avassaladora como antes. Hoje penso muito mais em Juan do que em mim mesma.

Eu não posso perder meu foco, que é estudar e cuidar do meu povo, de alguma maneira ser útil para eles. Quero que meus pais sintam orgulho de mim e que eu possa ser um apoio para eles, um dia minha mãe verá que valeu apena o sacrifício.

Pego meu carro com as malas e saio do centro da cidade onde estou. Procuro uma pensão para moças na área universitária, depois de horas procurando eu encontro um quarto onde vou ficar até o dia da prova. Mudei meu horário do cursinho para não encontrar com Vic, ela pode ser coagida a dizer o horário da minha aula e eu acabar me perdendo nos desejos de estar nos braços de Juan.

Apesar de achar que Juan só está encantado com aquilo que lhe está sendo difícil. Ele não vai me procurar e daqui a pouco vai me esquecer. Ele tem a Norma que é apaixonada por ele e quem sou eu para competir com essa mulher.

Fico pensando nele enquanto coloco as roupas no velho armário, não é um lugar cinco estrelas mas é limpinho. Eu sinto um frenesi percorrer meu corpo quando penso em sua ousadia e suas mãos tocando meus seios. Sua respiração perto do meu ouvido e o seu sussurro inaudível. Ele é um homem muito atraente e tem uma pegada forte. Seu porte físico é um charme a mais e me deixa fora de controle.

Fecho meus olhos com as lembranças e peço a Devel que nos faça reencontramos em outra ocasião, e se ele for a minha sorte, que ele não consiga ficar com mais ninguém. Que seus olhos se fechem para as outras mulheres e que sua cabeça seja voltada para mim.

Sei que é egoísmo, mas eu não me sentiria bem em ficar com um pessoa que não é fiel a mim. Não sei como foi para o meu prometido, se ele teve outra pessoa ou se resguardou para mim. Mas eu me resguardei e cultivei um amor por aquele que um dia pensei que fosse o meu prometido. Sei que em algum lugar Devel tem uma pessoa especial para mim e vou esperar por ela. Estou torcendo para que seja um Juan na minha vida, com um detalhe pequeno, seja somente meu.

Ligo para meu pai e lhe conto o que aconteceu e peço a ele que não se preocupe, eu estou bem e vou me dedicar aos estudos, será um mês onde preciso de toda energia concentrada apenas para essa prova. Se eu não conseguir agora, só no próximo ano e eu quero começar meu curso o quanto antes.

Ligo para vitória e conto que estou bem, só não vou dizer onde estou, mas vamos nos encontrar no dia da prova e que ela se dedique bastante, pois quero ir para a faculdade com ela. Apesar de não sabermos em qual instituição seremos aceitas com a nota de corte. Bom seria, se fosse aqui na cidade, mas não acredito que isso seja possível.

Os dias passam e eu me dedico aos estudos, saio do quarto apenas para o cursinho, me alimento na própria pensão e evito sair para não correr o risco de me encontrar com Juan ou alguém da agência.

Depois de quinze dias nessa rotina, uma das meninas da pensão me chama para um sorvete. É domingo e estou cansada de ficar presa no quarto. Saio com ela e encontramos alguns colegas do cursinho. Tudo está perfeito e agradável até que vejo Pedro e Maitê. Eu não tive como fugir e nem como evitar o encontro.

Tem certas coisas na vida da gente que não tem explicação, uma cidade enorme e vamos nos encontrar no mesmo shopping e na mesma sorveteria em um bairro totalmente diferente.

__ Sol, você por aqui? Vic nos disse que você tinha voltado para a casa dos seus pais.

Maitê fala sem se preocupar que as outras pessoas estão ouvindo.

__ Eu não fui, estou por aqui mesmo.

__ Juan está a sua procura, você quer que a gente diga onde você está?

Pedro joga uma indireta e meu coração dispara, um dos nossos amigos percebendo que estou sem graça, me abraça passando as mãos pelos meus ombros:

__ Não precisa dizer nada, ela está sendo muito bem cuidada e seja quem for esse Juan, Stefany não precisa dele.

Pedro olha para Victor e fecha a cara, Maitê senta- se ao meu lado e conta a respeito das novidades da agência. Diz que já contrataram outra secretaria e que Norma está marcando em cima do chefe e que ele virou outra pessoa depois que eu saí da empresa.

Dou-lhe um sorriso sem graça e não pergunto nada a respeito, não quero me chatear mais do que já estou chateada.

Depois que eles saem eu agradeço a Victor pela ajuda. Ele fica curioso para saber do que se trata e porque eu saí da agência. Dou uma desculpa boba e encerro a conversa.