Zaira, O destino

Eu sinto que alguma coisa vai acontecer e que meu destino foi mudado. É como se um vento soprasse e mudasse a minha história. Quando deixo Sarita na entrada da tenda, sinto que não devo entrar com ela. Ouço alguém me chamar, olho para os lados e não vejo ninguém, vou até a tenda onde estávamos e pego as chaves do meu carro que eu havia esquecido.

Estou saindo e encontro uma velha cigana que me aborda, ela tem as marcas do tempo e pega minha mão, olha com cuidado e por mais que eu não seja apegada as tradições, devemos respeitar os mais velhos e suas sabedorias:

__ Um morre o outro nasce, enganoso é o coração. O amor será mais forte que a sua vontade. Você salvará seu povo da morte. Seu destino está traçado.

Eu olho para a velha senhora e ela me abraça forte e diz:

__ Será difícil como tudo na vida é, mas você é predestinada e forte.

Eu a agradeço pelas palavras e saio às pressas, preciso confirmar que não é Edgar o noivo da minha irmã.

Entro na tenda e todos me olham e para meu desespero Edgar está com seus olhos sobre mim, seu semblante triste me faz chorar copiosamente. As lágrimas escorrendo pelo meu rosto me fazendo lembrar do nosso beijo e o quanto o amei por todos esses anos.

Ele não olha em outra direção e sinto que sua frustração é igual à minha. Sarita está feliz, porém o olha esperando ser correspondida. Saio às pressas e vou para o carro, minha mãe me aborda e diz para eu ter calma e não tomar atitudes precipitadas.

Respiro fundo e fico dentro do carro vendo todos saírem a minha frente. Abaixo a cabeça no volante e choro, saio com o carro pensando que sou a última a sair do local mas olho pelo retrovisor e estou sendo seguida. Uma caminhonete preta pisca o farol três vezes e pede para que eu pare. Não reconheço o carro e acelero, ele torna a piscar e me fecha de uma vez e saio para o acostamento. Estou assustada e de repente vejo Edgar descendo do carro e vindo em minha direção. Ele abre a porta me pega pelo braço e encostando meu corpo contra o carro, toma meus lábios em um beijo apaixonado. Eu esqueço quem somos e tudo que está acontecendo e me deixo levar pelo momento. Recobro minha razão e o empurro para longe de mim:

__ Não faça isso, eu não posso me envolver com você.

__ Não faça isso com a gente, vamos fugir, eu te levo para fora do país e ninguém nunca nos encontrará. Me Voliv Tu!

__ Não diga isso! Eu não sinto nada por você e você é o noivo da minha irmã.

__ Diz, olhando nos meus olhos, que você não me ama e que não sente nada por mim?

__ Se existiu algum sentimento entre nós, acabou agora, eu não posso mudar nossos destinos e fazer minha irmã sofre e passar por essa vergonha.

__ Mas eu posso sofrer? Você pode sofrer, porque é nítido que você está sofrendo.

__ Eu sou forte, vou superar, ela é muito frágil e não vai suportar um desgosto desses.

__ Então você confessa que me ama?

Ele fala segurando meus braços e me encarando.

__ Não! Eu não te amo.

__ Sua boca diz o que você quer falar, mas seus olhos e seu corpo diz outra coisa.

Ele fala e me beija novamente, nossos corpos estão em brasas e sinto seu membro roçando meu ventre. Sua força comprimindo meu corpo e meu coração acelerado. Suas mãos segurando firme meu corpo e nosso beijo intensifica.

__ Me Voliv Tu! Me Voliv Tu! Eu amo você, Zaira. Vamos fugir daqui.

Ele fala beijando meu pescoço e me abraçando forte. Junto forças de onde não tenho e o afasto de uma vez.

__ Chega! Eu não quero essa maldição para a minha vida. Assuma seu destino e estou livre para seguir o meu. Ou nunca mais você me verá novamente.

__ Não podemos seguir se nos amamos.

__ Eu não te amo! E desejo que vocês sejam felizes. Agora me deixa em paz, me esqueça, por favor.

Entro na caminhonete e saio sem rumo. Paro em um posto de gasolina e vou no setor de conveniência, estou com roupas típicas e as pessoas me olham como se eu fosse uma criminosa. Passo direto para o banheiro e não estou com paciência para preconceitos. Retoco minha maquiagem e saio, compro uma água, respiro fundo e lembro-me das palavras da velha cigana. São como um mantra na minha cabeça.

__ Eu tenho que falar com a minha mãe, preciso que ela me ajude.

Falo para mim mesma e saio feito louca, vejo Sarita no carro com meu pai e Aurora, passo direto pois não quero magoá-la. Vou até minha mãe e falo por alto o que aconteceu e ela pede que eu a espere no acampamento e ela dará uma desculpa para todos.

Eu não estou em condições de assistir esse casamento e estando na igreja corro o risco de arruinar o casamento da minha irmã.

O destino traçado para nossas vidas nem sempre é o que desejamos, nem sempre vivemos o amor com a pessoa que queremos, nem Romeu e Julieta tiveram um final feliz, essa é a realidade.

Comigo não será diferente, agora como irei conviver com minha irmã e seu marido? Como poderei abraçar meus sobrinhos?

Eu nunca serei feliz assistindo a felicidade deles e vivendo esse amor dentro de mim.

Preciso sufocar esse sentimento e tocar minha vida em outra direção.

Só não consigo ver saída para uma mulher cigana, que não tem dentro dos clãs ciganos o direito ao estudo e ao trabalho para seu sustento, as mulheres estão mais restritas à esfera doméstica, costurar, fazer rendas e por isso usam da leitura de mãos para ganharem alguns trocados. São sustentadas por seus maridos e tem que se contentar com o que lhes é dado.

Peço a Devel que guie meus caminhos e que me dê uma direção, sei que cheguei até aqui e já conquistei muito mais que outras mulheres do nosso povo, estudei até o segundo grau, tenho carteira de motorista e falo três idiomas. Tive essa oportunidade por que meus pais tem uma cabeça moderna e nos permitiu essa oportunidade, mas Sarita não quis, se agarrou ao matrimônio e preferiu seguir os costumes, só falava nesse casamento e agora viverá seu sonho. Porém todos os meus estão suprimidos, estou nas mãos do destino escrito por Devel, e só me resta esperar para saber o que o tempo me reserva...

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