Eu passo três dias e três noites na bebedeira, a festa estava muito boa mas bebi para esquecer, foquei mentalmente na ideia de que agora tenho que ter responsabilidades, mesmo não sendo o que eu queria.
Os Roms são homens de palavra e preservam as tradições e a família. Não posso ser diferente, apesar de que muitas coisas mudaram. Eu e meu irmão estudamos, fiz faculdade de administração, cuido da joalheria da família e meu irmão fez duas faculdades, ele gosta de estudar e seu passa tempo é cavalos.
Meus pais compraram um sítio onde temos um pequeno aras na cidade onde moramos. Meu pai ganhou muito dinheiro vendendo pedras preciosas, hoje podemos ter uma vida mais tranquila mesmo sofrendo muitos preconceitos por nossas origens.
Aprendemos a arcar com nossos compromissos e a palavra tem peso de ouro. O que foi dito será cumprido mesmo que somos prejudicados.
Todos já foram dormir, eu e Igor ficamos esperando a fogueira apagar, até que na última labareda eu vou até a tenda. A bebedeira já passou e estou pronto para encarar minha atual condição. Não será uma coisa difícil, Sarita é uma moça linda e tem seus encantos, uma virgem é sempre uma boa aquisição e essa será daqui em diante apenas minha, mãe dos meus filhos e minha companheira para a vida.
Entro na tenda que está a meia luz, a vejo linda e sedutora entre os tecidos coloridos em uma cama preparada para nós. Seu corpo coberto por rendas e tecidos finos e ela em uma dança sensual exibe seu corpo e demostra suas habilidades como mulher.
Eu a observo com desejo e a puxo pelo lenço e a jogo em cima da cama, entro em seu pescoço beijando até seus seios e passando as mãos pelo seu corpo ela geme em meus ouvidos. Tomo sua boca em um beijo intenso e me recordo dos beijos de Zaira, quando abro meus olhos percebo que não é ela e o clima esfria. Sarita continua com seu ataque ao meu corpo que não reage ao seu toque como deveria. As tentativas são muitas, mas alguma coisa me impede de continuar.
__ Vista-se!
__ Como assim? Você não vai consumar nosso casamento?
__ Estamos casados, não era isso que você queria, você chegou a tirar sua família do acampamento contando a eles que eu havia beijado sua irmã. Ficamos sem nos ver por anos por sua causa, eu não gosto de mentiras e muito menos falsidades. Por isso vista-se!
__ Você vai me devolver aos meus pais?
__ Não! Eu sou um homem de palavra, mas não espere de mim mais do que isso.
__ Mas como vou provar minha pureza ao amanhecer, a anciã virá buscar o lenço.
__ Isso não é problema.
Pego o punhal no canto da cama e corto minha coxa com um pequeno corte e limpo o sangue com o lenço. Ela me olha assustada e começa a chorar.
__ Você disse que não gosta de mentiras.
__ É isso ou você volta para casa dos seus pais e diz que o nosso casamento não foi consumado, a anulação é imediata e você estará livre para se casar com quem desejar.
__ Você sabe que não é assim, eu só poderia me casar novamente depois de você.
__ Por isso não, eu te devolvo e me caso de novo.
Ela fica muda e em meio as lágrimas e pega o lenço das minhas mãos. Eu faço um curativo e me deito ao seu lado na cama.
Quando amanhece, ela se levanta e se veste, seu corpo escultural e sua pele alva, seus cabelos caídos aos ombros e seu perfume é envolvente. Eu a observo tristonha e abatida. Ela prepara o café como é o costume dos ciganos serem servidos pelas esposas, assim ela mostra seus dotes e seu preparo. Visto-me e ela observa meu corpo. Espero que diga alguma coisa, mas está muda e não sei qual decisão tomou.
Abro a entrada da tenda e rapidamente a anciã chega para pegar o lenço. Olho em sua direção e calmamente caminha até a cama e pega o pequeno tecido manchado com sua honra e entrega a velha cigana, que atesta aos pais que sua filha era pura.
Eu me sinto fraco e mentalmente abalado. Meu casamento será consumado algum dia, mas preciso aprender a gostar dela sem mágoas. Não está fácil para nenhum de nós, mas deve estar mais difícil para Zaira.
Paro a caminhonete na porta da tenda, ela pega seus pertences e seguimos viagem para minha cidade. São três horas de viagem até nosso novo lar, ela dorme toda a viagem até chegarmos a uma cidade não muito pequena, mas um lugar tranquilo onde minha família fez residência fixa. Moraremos no mesmo prédio que meus pais, porém em um apartamento menor, que já era meu, dos tempos de solteiro.
Ela entra e observa os detalhes, eu ajudo com as malas e seus pertences.
__ Muito bonito, mas eu pensei que fosse uma casa ou uma tenda.
__ O condomínio é mais seguro, as tendas se tornaram perigosas por causa de assaltos e ficamos muito expostos. Há alguns anos meus pais optaram por morarmos em uma residência fixa.
__ Meus pais também, hoje eles moram numa linda casa em um bairro nobre da capital.
__ Nossos costumes são simples, você vai cuidar da casa e dos afazeres do lar, minha mãe virá te orientar e se quiser poderá voltar a estudar ou fazer algum curso.
Ela me olha desacreditada.
__ E você? Onde você vai?
__ Eu vou trabalhar, tenho uma joalheria no shopping e outra no centro da cidade, cuido das finanças da família.
__ E seu irmão?
__ Cigano, ele tem negócios fora do estado e viaja muito para fora do país. Não se preocupe, daqui alguns dias ele estará de volta e você vai perceber que ficou com o irmão feio da família.
Falo levando as coisas para o quarto e percebo que ela achou o apartamento muito pequeno. É como prender um passarinho em uma gaiola.
__ São dois quartos e uma sala conjugada com a cozinha, acredito que não te dará trabalho para arrumar, não saia na rua sozinha e você pode usar roupas mais comuns e menos chamativas, as pessoas da cidade tem muitos preconceitos e conforme a roupa que você usar poderá ser constrangida. Qualquer dúvida chame a minha mãe.
Eu falo tentando lhe dar mais liberdade, eu não sei como ela foi criada, mas mantemos nossas raízes se adaptando ao ambiente que vivemos.
Saio para o trabalho e a deixo sozinha até a noite, chego e ela está bordando uma blusa, ela para o que está fazendo e vai preparar o jantar eu olho para ela e pergunto:
__ Você estudou?
__ Fiz o ensino médio.
__ E o que você pretende fazer daqui para frente?
__ Cuidar da casa, de você, dos filhos...
__ Sarita, eu sei que esse é modo de criação dos nossos pais, mas temos outras oportunidades, vivemos em um mundo diferente, e você, mesmo sendo mulher não precisa viver só para o lar, marido e filhos. Para te dizer a verdade, eu não pretendo ter filhos agora.
__ Você parece minha irmã falando!
Ela se levanta e se dando conta de que falou na irmã com muito ódio. Eu a observo indo até a janela e pergunto:
__ O que sua irmã pensa a respeito da vida e do futuro?
Ela reluta para responder mas fala entre meio aos dentes:
__ Ela acha que a mulher tem que conquistar seu espaço e não depender do homem e que devem estudar e aprender profissões. Porém eu fui educada para ser uma cigana de verdade e não uma gadgês.
Ela fala como se não tivesse tido oportunidades para evoluir e conciliar os costumes e as tradições a vida moderna.
Ninguém deixa de ser o que é por causa do conhecimento e o meio em que vive. Sua filosofia de vida está no que você acredita, agora é fazer essa jovem mudar seus conceitos de vida tendo sua mente fechada e doutrinada. Me vejo casado com uma pessoa completamente oposta a mim e totalmente diferente em todos os sentidos.
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Atualizado até capítulo 76
Comments
Mônica Santos
casamento arranjado da nisso as vezes as coisas se resolve no tempo mas acho ela muito prepotente e invejosa
2025-01-22
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Tuti Ferreira
a história é muito triste mesmo como que os pais com a mente atrasada acha que pode com o destino das filhas nenhuma vai ser feliz não espero que conserte com o tempo
2024-11-26
2
Silvania Da Costa Silva Costa
A história é muito triste você casar com uma pessoa que você gosta você esperando pelo grande amor da sua vida e dá tudo errado mas o mal você se destrói Vamos ver até onde esse casamento vai dar
2024-10-22
1