Edgar- Jantar em família

Todos os dias eu chego em casa e Sarita está do mesmo jeito, assistindo televisão e fazendo alguns bordados, raras são as vezes em que ela está costurando ou fazendo o jantar, geralmente ela já deixa tudo pronto do almoço. A vida dela é uma rotina monótona, sinto pena de uma mulher tão jovem e sem perspectiva. Ela usa um pente nos cabelos em um coque malfeito e seus vestidos longos escondem a beleza do seu corpo para mostrar para ela mesma que é uma mulher casada.

A noite ela veste suas camisolas sensuais e tenta me seduzir, porém não consigo vê-la como uma mulher que me encanta.

Chego tarde do serviço e a vejo do mesmo modo, dou boa noite e ela se levanta do sofá que já tem a marca do seu corpo, ela vai para a cozinha preparar o jantar.

__ Não precisa arrumar a comida, vamos jantar no apartamento da minha mãe.

__ Mas, por quê?

__ Cigano Moreno chegou, eu ainda não o vi e meus pais prepararam um jantar em família.

__ Será que ele veio tratar do casamento, com minha irmã?

Meu sangue ferve e sinto náuseas só de imaginar Zaira em seus braços. Seu corpo agarrado aos seus e seus lábios que outrora foram meus e agora poderá pertencer a ele.

__ Eu não sei, ele não avisou da sua chegada, deve marcar com seus pais nos próximos dias para resolverem essa situação.

__ Te incomoda seu irmão se casar com minha irmã?

__ Eu já te disse que não gosto de mentiras, e seu disser que não, estarei mentindo. Então se não quiser ficar chateada não pergunte o óbvio.

Saio para o banho e a deixo remoendo suas amarguras e ouvindo suas pragas lançadas sobre a coitada da irmã que não está aqui para se defender.

Saio do banho e me assusto ao ver uma cigana em seus trajes de festa e toda coberta em ouro com uma roupa extravagante.

__ Você vai assim?

__ Assim como?

Ela olha para sua roupa e não percebe que está chamando muito a atenção com seus trajes coloridos e excesso de joias.

__ Eu já te falei que não há necessidade de se expor, você está chamando muita atenção e não é assim que você vai me conquistar. Eu gosto das coisas simples e se for para você ir desse jeito, eu prefiro não ir.

__ Mas sua mãe me disse para eu honrar as tradições ciganas e me vestir como uma.

__ Pois assim, você ficará casada com a minha mãe e não comigo.

Ela entrou para o banheiro chorando, tirou toda sua maquiagem pesada e saiu do quarto parecendo um anjo. Sua beleza natural é inquestionável.

Eu a olho com admiração, o que me assusta é o seu jeito no qual foi criada.

__ Assim está bom?

Ela me pergunta querendo a minha opinião sincera, eu respondo olhando em seus olhos com firmeza:

__ Você está linda!

Ela abre um sorriso e eu pego em sua mão até o apartamento dos meus pais.

Somos recebidos com festa, alegria de nos ver chegando de mãos dadas.

Moreno me abraça e diz ter sentido saudades, ele olha Sarita e a tece elogios, ela o olha admirada por seu porte físico e beleza.

Meu pai nos chama para uma bebida em quanto as mulheres preparam a comida.

__ E como ficou tratado o meu casamento?

Moreno pergunta para o meu pai me deixando constrangido e com um nó na garganta.

__ Benjamin conversou comigo na última noite do casamento e pediu para cancelarmos o trato.

__ Como assim? Já passamos da idade para casarmos e ela já não está tão nova para as bodas. E se for bonita como a irmã não vai demorar ser assediada por outro.

Ele fala com um sorriso, como se não fizesse questão do trato. Seu sorriso denota apenas cumprir um dever moral.

__ Ela é linda e merece um casamento honroso.

Eu falo com meu peito apertado.

__ Mas não haverá casamento.

Meu pai fala e as mulheres entram na sala para ouvir a conversa.

__ Zaira foi embora, ela saiu de casa e abandonou as raízes.

Meu coração dispara e tenho vontade de sair correndo atrás dela. Ela teve uma coragem que eu não tive. Sou um fraco e miserável. Olho para Moreno que está assustado com o que ouve atentamente.

__ Por quê ela fugiu? Foi de mim, ou conheceu outro homem?

__ Não de você, ela teve seus motivos pessoais e seu pai pediu que te liberasse do compromisso.

__ Para onde ela foi? Onde ela está agora?

Moreno faz a pergunta que eu quero fazer, mas minha mãe me encara para que eu fique calado.

__ Ninguém sabe, se perdeu no vento e agora você pode se casar com quem você quiser.

Olho para Sarita que está com olhar soberbo:

__ Você sabe onde está sua irmã?

Eu pergunto com sangue nos olhos.

__ Não sei, mas deve estar por aqui por perto. Ela não iria longe, sempre gostou de chamar atenção e ser centro das atenções. Não teria coragem para ir além do estado, é uma covarde. Achou melhor fugir do que encarar o casamento que nos é sagrado.

__ Chega, Sarita! Sua irmã não é assim. Ela pode estar perdida, ou precisando de alguma coisa.

Eu falo e todos percebem minha preocupação e meu estado alterado. Moreno me interrompe e diz:

__ Pai, amanhã partiremos cedo para a capital, quero conversar pessoalmente com seus pais. Eu não posso acreditar que uma moça tenha fugido para não se casar comigo, seria mais fácil ela dizer isso olhando nos meus olhos.

Saio do apartamento dos meus pais sem conseguir jantar. Pareço ter engolido uma bola de sinuca, meu peito apertado e uma preocupação que me sufoca, Sarita parece não se importar com a irmã e ainda faz criticas.

Eu preciso encontrá-la e saber como ela está, me sinto culpado por ter lhe causado essa dor. Passo a noite em claro chorando e bebendo.

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