Zaira e Juan- A procura

Entro na sala depois de bater à porta, caminho em direção a mesa e ele me olha de um jeito estranho.

__ O senhor me chamou?

Falo quebrando o silêncio e a concentração dos seus olhos sobre mim

__ Sim, eu chamei! Eu quero te pedir desculpas pela maneira como fomos apresentados hoje pela manhã.

__ O senhor não tem que me pedir desculpas, é normal um gesto afetuoso quando a pessoa que a gente ama chega de viagem.

__ Ama? ... Eu não a amo, somos apenas amigos.

__ Desculpa, mas não é da minha conta a vida particular dos meus chefes.

__ Você tem razão, mas eu só queria que soubesse que nossa empresa é um lugar de respeito e que não admitimos relacionamento entre os funcionários.

__ Desculpa-me novamente, mas o senhor está dizendo isso para mim, quando o senhor que deveria dar o exemplo namora na sua sala.

__ Você tem razão, mas ela não é minha namorada, somos amigos.

__ Por mim tudo bem! Não se preocupe, não vou comentar nada aos outros funcionários.

Ele parece estar com medo de que eu fale para alguém e isso aqui vire uma agência de namoro.

__ O senhor precisa de mais alguma coisa?

__ Sim, quero que você marque com todos os funcionários de nos encontrarmos amanhã na casa noturna Voliv. Quero comemorar o meu retorno.

__ Sim senhor.

__ Pare de me chamar de senhor, pode me chamar de Juan, e quero que você vá.

Não digo nem que sim, nem que não. Apenas faço as anotações na minha agenda e ele me observa.

__ Mais alguma coisa?

__ Não, apenas não acredite em tudo que falam sobre mim.

__ Não se preocupe, não estou aqui para isso.

Peço licença e saio da sala, acho ele um homem estranho. Não sei porque fica me justificando as coisas, eu não tenho nada a ver com a vida pessoal dele e muito menos o que faz em sua sala.

Saio com Vic para almoçarmos e depois aproveitamos para comprarmos uma roupa para o evento amanhã a noite. Eu nunca fui a uma casa noturna e não sei como é. Vic fica tentando me explicar e eu estou empolgada, será uma festa com bebidas e muita dança, do jeito que eu gosto.

Todos da empresa estão animados e o resto do dia foram apenas comentários a respeito da festa.

O senhor Juan não voltou depois do almoço e também não avisou para ninguém onde ia. Parece que a pessoa não dá satisfação e muito menos recebe ordens de ninguém.

Dona Norma está pelos cabelos, ela quer saber se eu sei do paradeiro do seu namorado, se ela não sabe, quem dirá eu.

Eu cheguei de viagem e resolvi algumas coisas em São Paulo e depois fui resolver alguns problemas pessoais em Minas, fiquei um mês por lá com a família e cuidando do haras. Adoro cavalos, festas, músicas e mulheres, não sou do tipo que dou satisfação do meu paradeiro para ninguém, apenas para o meu pai. Sou um Rom e preservo as tradições ciganas.

Cheguei na empresa logo cedo e Norma está ocupando minha sala, ela sempre faz isso quando eu viajo. Ela me recebe com um beijo e como não sou de ferro correspondo seu carinho com um contra ataque. A coloco em cima da mesa e damos início a uma sessão de carícias. Ela estava com saudades e eu estou carente. Perdi uma noiva e estou solteiro com quase trinta anos, isso não é muito comum em meio ao meu povo.

De repente somos interrompidos e meu coração dispara ao ver em minha frente a linda moça do aeroporto. Ela está linda e como acredito no destino, sei que Devel ouviu o meu pedido.

Quando beijei sua mão no aeroporto e senti o cheiro do seu perfume eu pedi a Devel que se fosse minha sorte a encontrasse novamente, e agora estou diante dela em uma situação embaraçosa.

Seus olhos e sua pele são um ar de pura sedução, e seus cabelos uma fonte de desejos e pensamentos impuros. Ela me olha desviando o olhar, uma maneira de rejeição e descaso que me incomoda.

Ela se apresenta sem sentimentos ou espanto, apenas indiferente. Ela sai da sala e Norma quer continuar de onde paramos, dou-lhe mais um beijo e faço um carinho em seu corpo e a levo a um orgasmo em minha mesa, mas não mexeu com meu coração igual ao que eu senti ao ver a jovem secretária a minha frente.

Devo estar ficando louco, o rosto da bela mulher não me sai dos pensamentos e procuro uma desculpa para vê-la novamente, a chamo na minha sala e ela me trata com indiferença, como se para ela nada que eu faça seja importante ou chame sua atenção, admiro sua postura e seu caráter forte, mas gostaria que ela fosse menos durona.

Preciso arejar minha cabeça e voltar o foco em procurar minha ex noiva, não sei por onde começar e não tenho ao menos uma foto dela.

Vou para o haras visitar meu cavalo ventania e tentar assimilar os acontecimentos da minha vida e se devo procurar essa noiva fujona. E se ela for feia? E o caráter? Será que é igual a irmã? Essas dúvidas me rondam e não sei o que fazer, se a procuro ou deixo por conta do destino.

Meu telefone vibra e olho na tela o número do escritório, atendo e Sol me lembra que tenho um almoço marcado para amanhã com um empresário, ele é dono de uma empresa grande e será uma conta importante para a agência.

__ Tudo bem, eu irei, mas vou precisar de que você vá comigo, quero que você anote pontos importantes para essa conta e me passe seu endereço, te pego meia hora antes.

__ Não precisa me buscar, eu sei onde fica o restaurante, te espero na porta, no horário marcado.

Ela é arredia e determinada, isso a faz ficar mais interessante, no mínimo deve ter um namorado ou esposo. Suas atitudes são de quem tem compromisso com outra pessoa.

Horas pensando na vida e matando a saudade do meu cavalo ventania, estou mais tranquilo e relaxado. Chego a conclusão de que devo procurar essa tal de Zaira, vou começar conseguindo uma foto dela. Ligo para o senhor Benjamin e ele me manda a foto, porém está vestida e maquiada como uma cigana, não sei se ela é muito diferente no dia a dia.

Ela é linda, seu olhar me lembra alguém, mas não é fácil encontrar alguém com um quilo de maquiagem no rosto. Vou procurar pelos acampamentos ciganos e pedirei ajuda para meu amigo dono da casa noturna, ele conhece um grupo maior de ciganos e poderá me ajudar.

Acho que tomei a decisão certa, se o destino nos colocar frente a frente, será um sinal de que ela será minha esposa.

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