Zaira - Partida

Desde o momento em que fui a igreja e vi minha irmã no carro esperando seu noivo o meu coração partiu ao meio, eu não tenho o direito de estragar sua vida por causa de um amor de infância, ela está feliz por ser o Edgar o noivo, eu não sei se ela já gostava dele ou se é por ele ser um conhecido, mas sua felicidade é notória.

Eu tento me convencer dessa cilada do destino e me conformar com a minha sorte e acabo bebendo um pouco mais do que o costume e quando ouço a música que amo, meu corpo é envolvido pelo desejo de dançar até me acabar. Os graus alcoólicos me fazem delirar e não percebo ninguém a minha volta e sinto apenas o vento em meus cabelos e o calor da fogueira em meu corpo que movimenta ao som do violão.

Quando a música se encerra eu sinto as mãos de minha mãe me levando com ela e me guiando até a tenda.

__ Venha, filha! Você precisa se curar dessa bebida forte.

Eu a abraço e rio da sua preocupação, chegando na tenda ela molha meu rosto e me dá um chá amargo que cura minha bebedeira em minutos.

Vejo Sarita entrando na tenda com um ar arrogante e superior, não se parecendo em nada com minha doce e amada irmã. Estranho sua atitude, pois ela nunca agiu dessa forma.

Pior eu fico quando ela me expulsa da sua vida e diz que não somos mais irmãs. O meu coração agora não está mais dividido, ele está dilacerado.

Saio correndo por um caminho e me perco na escuridão, ando alguns minutos e as lágrimas embaçam minha visão e começo a correr por medo em um lugar desconhecido, sou tomada pelo choro e o desespero.

Vejo-me perdida e sozinha, sinto um calafrio percorrer meu corpo e muito medo, as palavras que Sarita cuspiu na minha cara estão martelando minha cabeça, junto minhas saias ciganas e continuo a caminhar até que vejo o estacionamento ainda escuro e esbarro em um homem grande, corpo atlético e forte. Me desequilibro e ele me segura firme em seus braços, eu não vejo direito seu rosto e apenas seguro em seu corpo.

__ Está com pressa, moça?

__ Desculpa-me, eu não o vi. Te machuquei?

__ Não, mas eu poderia ter te machucado, sou bem maior que você.

Ele abre um sorriso lindo e simpático.

__ E quem é você?

__ Sou Igor, primo do noivo.

__ Sou Zaira, tenho que ir agora. Obrigada pela ajuda.

__ Você quer que eu te acompanhe? Você não parece bem.

__ Não precisa, meu carro está ali.

Ele caminha comigo até o carro e pede para que eu vá devagar.

Vou direto para casa e começo arrumar minhas coisas, pego uma mala e coloco apenas o necessário. Ouço alguém chegando e percebo que é o meu pai.

Ele vem até o quarto e vê minha mala em cima da cama:

__ Você pretende ir para algum lugar?

__ Eu não posso mais ficar aqui, estou me sentindo um lixo, minha vida não faz mais sentido e a sorte me deixou.

Falo caindo em seus braços em busca de consolo. Ele me abraça e chora comigo.

__ Não fique assim, minha querida. Sua mãe me contou o que aconteceu e eu vim pensando no que eu poderia fazer para me redimir do meu erro.

__ Do quê o senhor está falando?

__ Eu estou falando que errei com você, eu deveria ter conversado com você antes de tomar uma decisão, afinal você já passou da idade de um casamento e assim como seu prometido já não é tão jovem, por isso eu te libero do compromisso e te deixo ir.

__ Não estou entendendo o senhor.

__ Você vai me entender, sua irmã se casou com o homem que você amava, mas ela também o ama e vocês não podem ficar na mesma família com esse conflito de sentimentos, será uma tragédia para nossas famílias se alguma coisa a mais acontecer entre vocês, foi um erro esse acordo, por isso eu te libero do compromisso e te deixo ir atrás do seu outro sonho. Trace seu destino e deixe que Devel guie seu caminho.

__ A senhor está me mandando embora?

__ Não, eu cheguei e você já estava com a mala pronta.

Ele fala e me puxa para outro abraço, eu choro em seus ombros e digo:

__ Eu vou para São Paulo, eu tenho uma amiga da faculdade que mora lá e eu liguei para ela, que vai me esperar no aeroporto.

__ Tudo bem! Eu não vou te impedir, só te peço que se cuide e me liga sempre que puder e se precisar de mim eu estarei aqui para te ajudar. A sua faculdade eu pago com gosto, não se preocupe.

Beijo seu rosto, olho o relógio e peço que me leve ao aeroporto. Ele pega minha mala e colocando no carro eu lhe peço:

__ Não diga a ninguém para onde eu fui, preciso desse tempo para pensar no que será da minha vida.

Sei que para meu pai está sendo como quebrar uma barreira, as filhas nunca devem sair sozinhas e muito menos ficar sem os pais ainda solteira. Mas, ou saio dessa rotina ou vou enlouquecer com os últimos acontecimentos.

Entro no voo rumo ao meu destino, deixo minha história e meus sonhos rumo ao desconhecido. Sou uma cigana solitária, quebrando todos os paradigmas da minha cultura e buscando a sorte em outros ares. Agora sou eu a traçar um novo caminho, onde sozinha vou decidir o meu futuro.

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