Quero ir com você

Na segunda, quando levantei para retornar o internato, percebo que Held já saiu, ou nem deva ter dormido em casa, isso foi um lembrete que nem tudo parece ter mudado, isso só confirma que me entregar a ele foi um enorme erro.

— Não gaste o seu tempo pensando em algo que não pode controlar, venha tomar café ou vamos nos atrasar — a voz de Gatte no pé da escada me fez pular de susto.

— Claro — saio da frente da porta de Held, o acompanhando até a cozinha.

Gatte não falou mais nada, mas estava sempre empurrando alguma coisa que gosto para comer, ele estava preocupado e isso me deixou mais tranquila. A reitora fazia o que estava a seu alcance, mas ter uma proteção a mais aquecia o meu coração.

Assim que chegamos todos estavam me olhando, afinal não cheguei com os meus pais como era de costume, porém quando Gatte toca nas minhas costas me acompanhando até a entrada fiquei completamente confusa.

Ao chegar na secretaria ele pede para falar com a reitora em particular que concorda abrindo a porta da sua sala enquanto me viro para ir para minha aula, mas ao ver Vetter saindo da sala dos professores sinto a minha respiração acelerar.

Evito olhar para a reitora para que ele não desconfiar e espero que ela entenda o pequeno passo que dei para trás, mas quando Gatte me puxa pela cintura me trazendo perto dele me assusto os fazendo olharem para mim.

— Você participa também — o seu olhar preocupado me confirmou que eles haviam visto Vetter também, então apenas confirmo com a cabeça entrando na frente deles sala adentro.

Assim que a reitora fecha a porta, Gatte me abraça enquanto passa as mãos nas minhas costas como forma de consolo, a sua respiração deixa nítido que ele estava furioso igual à biblioteca no sábado.

— Pode me explicar o motivo desse professor ainda estar solto aqui neste internato?

— Liebe — ela me olhava preocupada.

— Eu contei tudo a Gatte — minha voz era baixa, mas mantinha o meu olhar.

— Senhor Erben não temos provas ao suficiente para o manter preso e sinceramente a segurança de Liebe é a minha proteção, o que está ao meu alcance estou fazendo.

— Pois é pouco, ele a tocou, filmou e ameaçou como pode manter ele aqui? — apesar de ele estar sentado, a sua voz demonstrava que estava prestes a perder o controle.

— Tenho ciência destes fatos e dessas filmagens, exatamente por este motivo que a trouxe para o meu quarto e com a desculpa de um comportamento duvidoso a mantenho ao meu lado o maior tempo possível, além das escutas que ela carrega.

— Escuta?

— Sim, um protótipo que está sendo desenvolvido por alguns alunos da universidade parceira daqui ele está em teste ainda e fui indicada para controle de comportamento, como se…

— Você estivesse escondendo algo ou fugindo das detenções — Gatte completa a minha fala e apenas confirmo com a cabeça — Foi uma boa desculpa.

— Sim, foi com essa escuta que consegui ter acesso as outras filmagens, já que ele confessou que fez tudo de caso pensando, inclusive se tornar tutor de Liebe para ter acesso livre a ela.

— Como pode? — Gatte acaba perdendo a paciência e altera a sua voz enquanto se levanta de uma vez completamente transtornado, apenas olho para reitora que abaixa a cabeça.

— Gatte…

— Não Liebe, sei que é seu pai, mas ele é um imbecil inútil, como ele pode te entregar desta forma?

— Ele não está nem um pouco interessado em mim desde que a minha mãe faleceu, a única coisa que importa para ele é que entre naquela igreja e me case com o seu filho e ele mantenha a sua vida de fachada com ela aquela maníaca — não sei como, mas aquelas palavras saíram pela minha boca como se já estivessem presas há muito tempo.

— Você vai ficar com o seu telefone todo o tempo e se preciso for coloco um segurança para te acompanhar aqui dentro.

— Senhor Erben, isso vai chamar mais atenção dele…

— Não me importo, a minha única preocupação é que Liebe fique a salvo, agora se me dão licença preciso resolver algumas coisas.

Ele estava completamente transtornado e sabia que ele iria atrás daquele homem que se apresenta como o meu pai, mas não posso deixar que ele conte tudo, ou quem vai sofrer as consequências sou eu.

— Gatte, quero ir com você.

— Melhor não Liebe, não será nada agradável, prefiro lhe poupar desse constrangimento.

— Senhor Erben, vou fazer o meu melhor em proteger Liebe.

— Espero mesmo, porque se ele a tocar novamente não será somente ele que vai pagar — Gatte deixou bem claro a ameaça para a reitora que se levanta de uma vez.

— Não me acuse de fechar os olhos, entenda que ninguém veio reclamar a não ser Liebe e mesmo assim a acolhi e enfrentei até mesmo o seu pai quando veio tirar satisfação.

— Como é?

— Sim, a que tudo indica Vetter tem obsessão por Liebe, pois nenhum outro aluno até o momento se manifestou, no dia do evento lhe disse que usei o seu nome — Gatte confirma com a cabeça — Pois bem, usei, pois, o pai de Liebe veio acompanhado por Vetter me obrigar a entregar Liebe a eles.

— Não faça isso, já disse que tem a minha permissão e agora mais que nunca, quero ele longe dela, o que precisar é só me comunicar que será providenciado imediatamente.

Gatte ao terminar de falar vem na minha direção me dando um beijo na testa e sorrindo sai da sala, ao me virar percebo a reitora me analisando, mas não fala nada. Sei que ela está pensando em alguma coisa, mas só vai falar quando tiver clareza, então nem adianta eu perguntar.

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