Não temos tempo

Como ninguém me impediu acabei contando pelo menos umas dez histórias, não seria tudo isso, mas como escutei alguém discutir mais ao fundo achei mais prudente segurar as crianças um pouco mais.

Elas foram se dispersando pouco a pouco, mas logo uma senhora volta me abraçando e agradecendo pelo carinho com a sua filha, ela até tentou me pagar, mas recusei de todas as formas.

Apenas aquele sorriso já me bastava, ela estava com vários livros nos seus braços e ainda me garantiu que irá treinar para quando me encontrar novamente me ajudar nas histórias.

Assim que elas foram embora, não me contive e corri até a reitora que me acolheu de braços abertos, a minha empolgação era tamanha que chegava a dar pulinhos de alegria.

— Sabia que não me arrependeria de trazer você.

— Você percebeu o sorriso dela? E a empolgação? Ela me garantiu que vai treinar para ler comigo na próxima, mas não sei se vou estar aqui — toda a minha empolgação foi desaparecendo assim que a realidade foi voltando.

— Onde estão os seus livros?

— Desculpa, mas naquele momento do susto eu acabei os derrubando.

— Precisamos ir.

— Tudo bem, pelo menos consegui vários sorrisos — tentava sorrir, eu havia escolhido ótimos livros, acabo suspirando e forçando o sorriso no meu rosto.

— O que impede de os separar novamente Liebe? — me assusto com a voz grossa de Gatte, o que fez ele sorrir.

— Que falta de educação a minha, me perdoe estava empolga demais, como vai Gatte? — estendo a mão para ele que mesmo desconfiado acaba apertando.

— O tempo senhor Erben, precisamos voltar para o internato e infelizmente não posso esperar que Liebe escolha os livros novamente, como lhe informei ela está sobre a minha responsabilidade e deve retornar comigo, mesmo não tendo aula não posso me isentar por muito mais tempo.

— Eu a levo depois.

— Como? Desculpa, mas por que me levaria depois? Não vou voltar para o internato? — tentava disfarçar o pânico de voltar para aquela casa e receber outra surra.

— Eu a levo de volta ao internato assim que escolher os livros novamente.

— Senhor Erben, não quero incomodar e sei que ainda tem obrigações aqui no evento, além disso, Liebe tem compromisso amanhã com o seu filho.

— Liebe, o que combinou com Held?

— De passarmos o dia, juntos Gatte, nos falamos na sexta a noite, espero que não tenha nenhum problema.

— Então fica decidido, você fica comigo, pode escolher os seus livros tranquilamente e na segunda te levo de volta ao internato.

— Mas e as minhas coisas? Roupas e tudo mais? — não sei até onde isso seria bom, as lembranças que tenho da leitura era que eles apenas brigavam muito, Gatte odiava Liebe.

— O meu motorista vai com você no internato, pode preparar e entregar para ele? — Gatte conversava diretamente com a reitora, que apenas sorria e concordava.

— Apenas um pedido Senhor Erben, Liebe não deve ficar sozinha como já mencionei, ela precisa de proteção.

— Terá que me explicar depois, mas vou a manter ao meu lado todo o tempo.

A reitora apenas me deu um beijo na cabeça e saiu com um homem, deve ser o motorista que Gatte mencionou, engulo seco sem saber o que fazer agora e a minha única saída é ser eu mesma.

— Desculpa, não queria mesmo incomodar, mas se tiver…

— Fique tranquila, amei o que você fez pelas crianças e adultos — paro de andar e olho curiosa para ele que apenas sorri em resposta — Não tinha apenas crianças apreciando a sua narração, muitos adultos pararam também e agradeço por esta contribuição.

— Sinceramente eu amei, posso ver os livros depois se tiver alguma coisa para resolver.

— Vamos ver os seus livros sim? Pode escolher quais desejar é um presente pela apresentação.

Sugiro começar do último andar para o primeiro, Gatte não hesitou e me acompanhava sempre fazendo algum comentário sobre a apresentação, algumas crianças ainda circulavam pelo evento e também vinham me abraçar.

Gatte acabou confidenciando que este é o primeiro evento que ele patrocina e que se o resultado for como o esperado irá produzir outros, mas desta vez serei contratada para me apresentar.

— Mas como ficaria? Ainda sou menor de idade.

— Está se referindo ao pagamento?

— Não… Me desculpe, acabei te interrompendo, estou me referindo a autorização para assinar vai precisar da assinatura do responsável, não vai?

— Seu pai ou a minha assinatura é válida, não quer que eles saibam? — nego com a cabeça sem olhar nos seus olhos.

— Ótimo, já tenho uma contratada então.

— Já estou empolgada e nem sei a data ainda — ele acaba rindo baixo pela minha dancinha esquisita em forma de comemoração.

— Não sabia sobre essa sua paixão e desenvoltura com os livros.

— Poucos sabem sobre mim, Gatte, na verdade, o que é revelado é apenas uma aparência fantasiosa de algo manipulado.

— Uma linda forma para descrever uma mentira — o meu sorriso é fraco, lembrando que até pouco tempo atrás eu também estava a julgando, ou melhor, condenando Liebe.

— A mentira nem é o problema maior.

— Por isso precisa de proteção? — confirmo com a cabeça sorrindo e me viro para as prateleiras novamente olhando os livros enquanto penso em tudo que já li desse livro e tudo não passou de uma manipulação.

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