Capítulo 6

Alessa Collins

Saio da faculdade e, assim que meus pés tocam o gramado, sinto os pingos de chuva batendo contra meu rosto...que sensação deliciosa.

Eu amo chuva! O barulho das gotas batendo contra as folhas das plantas, atingindo o chão, e o cheirinho de terra molhada. É tudo tão reconfortante pra mim.

Eu me lembro de quando eu era pequena e morávamos na fazenda. Eu corria pelo pasto, rolava na grama, e chegava em casa parecendo uma porquinha, o que deixava mamãe muito brava, pois minhas roupas ficavam imundas e pretas de terra.

Já meu pai, gargalhava alto, me pegando no colo e dizendo que já que eu parecia uma leitoa, iria me assar para o Natal. Era uma cena simples, mas que me traz uma saudade tão grande.

Anos depois, quando eu tinha 14 anos, nós mudamos para Nova York, pois a nevasca que atingiu nossa cidade nos fez perder boa parte da colheita e ficamos com muitas dívidas, o que forçou meu pai a aceitar um emprego como preparador físico de um time de futebol.

Minha mãe, dona Marília Collins, conseguiu um emprego num hospital, já que é formada em enfermagem, e isso ajudou e muito nas despesas.

Eu e meu irmão, Adam, começamos a estudar e foi muito difícil pra mim, me adaptar às coisas por aqui. Eu saí de uma cidade pequena, onde minhas amigas usavam botas, camisa xadrez e montavam à cavalo, pra vir morar em uma cidade onde as meninas usavam saias curtas, sandálias de salto e amavam carros esportivos.

Sofri bulling por estar acima do peso e não ser tão descolada quanto elas. Eu era a roceira, caipira, a bicho do mato, como diziam.

Sofri muito, muito mesmo, com as ofensas. Mas nunca contava aos meus pais, porque entendia que precisávamos nos adaptar à essa nova realidade, e meus pais estavam tão felizes com seus empregos, que não seria eu a tirar isso deles, então me calei e aguentei tudo, por um ano inteiro, até meu irmão ficar sabendo e tomar minhas dores, depois de me dar uma bronca por ter escondido isso dele por tanto tempo.

Adam é 2 anos mais novo que eu, ele hoje tem 19 anos, mas na época eu tinha 15 e ele 13.

Porém, se eu sou pequena, meu irmão é bem alto, e por sempre gostar de praticar esportes, seu tipo físico sempre deu a ele a aparência de ser mais velho.

Ele socou um idiota que estava me assediando e ameaçou metade da escola.Desde aquele dia ninguém nunca mais mexeu comigo, afinal, eu era irmã de Adam Collins, o carinha gatinho, popular e cobiçado por 8 em cada 10 garotas da nossa escola. Além disso, Adam tinha um corpo atlético, mesmo com pouca idade, e o soco dele fez um belo estrago no rosto do idiota que implicava comigo.

Eu continuo de pé ao lado de fora do prédio da faculdade, imersa em meus pensamentos, com o rosto erguido e os olhos fechados, sentindo a chuva fina batendo contra a minha pele, quando sinto meu corpo ser erguido e colocado sobre o ombro de alguém, que corre comigo em direção ao estacionamento. Sorrio divertida, sabendo bem de quem é esse corpo enorme e cheio de músculos que me ergueu como se eu fosse um saco de farinha de 5kg.

- Quando vai perder essa mania de ficar parada na chuva, formiguinha? - ele fala, com aquela voz grave, ao me colocar no chão e apertar o controle, destravando as portas da caminhonete azul metálica.

- Nunca! - sorrio e beijo sua bochecha. - Mas confesso que amo ser carregada por você e causar inveja nas patricinhas que vivem na sua cola. - falo, divertida.

- Você não tem jeito! - meu irmão bufa, fingindo estar chateado. - Mas não tem problemas. - ele dá de ombros. - Também espanto os urubus de cima da minha irmãzinha.

- Você sabe que eu sou mais velha, não é Adam? - falo entrando no carro.

- É, mas de acordo com o seu tamanho, eu passo como irmão mais velho facilmente, maninha. - ele fala, assumindo a direção e ligando o carro.

Eu simplesmente reviro os olhos, pois não vou dar o braço a torcer, mas realmente ele tem razão. Afinal, os meus 1,63 de altura nem competem com o 1,89 dele. Aff!

Eu e Adam estudamos na mesma faculdade. Eu estou no penúltimo período do curso de fotografia, e ele, no terceiro de engenharia mecânica.

- Vou pra oficina, quer que eu te deixe em casa ou vai direto comigo? - ele pergunta, saindo do estacionamento, em direção à estrada.

Meu irmão trabalha em uma oficina/loja de peças e acessórios/motoclub/ lanchonete. Isso mesmo, o lugar é tudo isso e mais um pouco. É um lugar enorme, onde funciona uma oficina especializada em motos antigas, ou como dizem, clássicas. Lá tambémfunciona uma loja de acessórios e peças para carros e motos, um motoclub, onde os motociclistas se reúnem e combinam seus eventos, exposições, encontros, etc. E tem a lanchonete onde eu trabalho como garçonete.

Meu irmão descolou esse emprego pra mim, mas fica de olho, então acho que foi um jeito dele me ter bem debaixo das suas asas de guardião...sim, ele é superprotetor!

- Vou direto hoje. - falo, pendendo meu cabelo num coque frouxo. - Vamos sair hoje? É sexta feira.

- Hoje não vai dar. - ele responde e o vejo sorrir de lado. - Tenho um lance marcado.

- Um lance? - o encaro. - Adam Collins, o que você vai aprontar? - falo, estreitando os olhos e ele faz cara de inocente.

- Eu? Mas eu nunca apronto.

- Sei bem! - me ajeito no banco. - Bom, sinceramente, acho que tenho pena das moças que caem na sua lábia, irmãozinho.

- Primeiro, as que eu pego, estão longe de serem moças..- ele dá um sorrisinho. - Segundo, elas já saem comigo sabendo o que as espera, e são elas que vêm até a mim, por isso, elas não caem na minha lábia, acho que eu que sou o enganado! - ele dá de ombros, antes de cair na risada.

- Adam, você ainda vai encontrar alguém que te deixe de quatro, e aí, eu vou rir muito por te ver correndo atrás de alguém.

- Eu? Correndo atrás de mulher? Se esse dia chegar, me interne querida irmã, pois eu estarei claramente louco! - ele fala, convicto de suas palavras.

Eu somente meneio a cabeça. Esse meu irmão ainda vai rastejar por alguém. Só espero que ela não quebre o coração dele, pois apesar de mulherengo, ele é uma boa pessoa e eu não gostaria de vê-lo sofrer...talvez só um pouquinho.

Adam

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