As lágrimas rolavam irrefreavelmente como naquela noite em que tudo foi finalmente esclarecido e eu passei a odiar Ruth um pouco mais — um pouco mais quer dizer triplicamente mais. Como ela pôde fazer tudo aquilo? Como pôde me privar de viver, de ter minha família ao meu lado? Eu mal vivi com meu pai e já o perdi…três meses. Três meses que meu pai foi assassinado. Hoje. E se ele ainda estivesse aqui, o que teria acontecido? Onde eu estaria agora, estaria aqui?
Onde só havia uma viúva, dois órfãos, uma serva e um coveiro e o religioso diante do túmulo [ … ].
Walter merecia mais. Mas se provou tão fácil que todas as pessoas que se faziam seus amigos eram interesseiros…tão fácil! Uma família quebrada em todos os sentidos que vivia cercada por um bando de urubus falantes. Insuportável. Das vezes que ouvi de relance as visitas, agradeço por não ter participado de nenhuma delas. Daquelas baboseiras de ricos — ou simplesmente invejosos da riqueza que meu pai tinha. Roubada por Oliver. Não há outra explicação, ele não iria a falência tão fácil se não fosse trapaça. Não…
Subitamente sinto alguém envolver a mão na minha e apertá-la tentando passar conforto a mim. Tão maior e firme que minha mão deve parecer a de uma criança perto da sua. Quando estou prestes a secar minhas lágrimas que ainda queriam rolar descontroladamente, ele as seca. Com cuidado e com respeito. Seu perfume amadeirado me invade os sentidos. Tão selvagem e indomado! Inspiro uma, duas vezes, me acalmando. Eu quero abraçá-lo, apertado. Alexander…Alex. Tê-lo para mim. Meu. Mas não posso. Não tenho esse direito. Não presa ao CEO que nunca sequer disse um "a" para mim. Apaixonada pelo mordomo. O que o CEO faria se soubesse? Não, não, não! Ninguém pode saber disso, ninguém! Não posso prejudicá-lo com minhas idiotices.
— Bel, você está bem? — Alex pergunta , preocupação na voz.
Expiro.
— Estou Alex, obrigada! — respondo, ainda tentando engolir o nó da garganta, afogá-lo no fundo de mim, mas sinto que não me importo nem um pouco de chorar na frente dele.
Alexander se senta ao meu lado, constato por sua presença — e ainda assim não solta minha mão, a qual ele acaricia devagar, calmo, com o polegar.
— Você tem certeza? — ele insiste um tempo depois, não faltou completar com o "que está bem?", estava explícito na voz.
Concentro-me em minha respiração por um tempo.
— Não — por fim respondo num sussurro.
— Se quiser, sou todo ouvidos — ele brinca, me fazendo sorrir levemente.
Não posso contar a ele meu passado, não posso contar a ele quem sou. Sou falsa, sou nada, sou tantas e ninguém ao mesmo tempo. Tudo e vazio e Alexander não pode saber disso e pode muito bem ter alguém ouvindo, então, meias verdades…
— Todos por aqui devem saber que apesar de meus pais de sangue serem Ernest e Grace, eu não fui criada aqui. Um casal era pago para que me criassem nos EUA, mas a mulher sequer me criou, pouco se importava comigo na verdade. Uma serva cuidava de mim e tinha meu irmão que eu amo de coração que sempre fazia de tudo para estar ao meu lado, apesar da mulher tentar proibi-lo com vigor, em vão. E tinha o homem que cuidava de mim e que passou a pouco se importar se o pagavam para isso ou não. Esse sim, meu pai. Hoje faz três meses que ele faleceu e eu queria que ele tivesse tido um enterro mais digno do que ele era, do que foi para mim também — revelo.
— Eu sinto muito — Alex lamenta um tempo depois com pesar.
— Então você é a quarta pessoa que sente de verdade, porque a mulher dele não parece capaz de sentir nada a não ser amor pelo dinheiro — alego com pouca ironia na voz. — Só espero que meu irmão esteja bem… — suspiro. E Amélia também.
É difícil contar algo a uma pessoa sem citar nomes. Ele saberia de tudo somente ao juntar os nomes. Jack, Ruth, Amélia, Walter…saberia tão facilmente quem sou de verdade.
— Você parece se importar muito com esse seu irmão… — foi mais uma afirmação do que uma pergunta — é seu irmão de verdade? — questiona.
Fico rígida por um minuto, relaxando logo após. Mantenha a calma Bella, foi somente uma pergunta.
— Não — balanço a cabeça discordando. — Apesar de tudo crescemos juntos e ele é como um irmão para mim assim como sou para ele. Antes de voltar para cá, fiz-lhe uma promessa a qual pretendo tentar cumprir um dia.
— Não quero ser evasivo mas minha curiosidade não permite que eu não pergunte…
Solto uma risada baixa e digo antes que ele pergunte o óbvio:
— Prometi a ele que o encontraria e mesmo se ele estivesse morto, encontraria uma forma de me despedir dele.
— Morto?! — confuso.
— É, nunca se sabe — dou de ombros.
— Tem razão — Alex concorda um tempo depois, a voz carregada de dor, rouca.
— Minha vez de perguntar: você está bem? — arqueio uma sobrancelha e Alexander aperta minha mão a qual eu já até mesmo havia esquecido estar dada a dele.
— Deixemos a minha história para outro dia pequena — ele diz, contido, a voz quase gutural e me puxa para um abraço.
Um abraço o qual eu cedo e não me importo com quem veja, não me importo que relatem para o CEO. Alex tem se tornado o meu porto seguro em meio ao meu mar revolto e eu estava buscando por isso. Pequena. Não devo discordar, seu corpo enorme ao redor do meu me faz sentir uma criança em busca de conforto, de carinho. E de fato, se tratando destes assuntos, devemos considerar que eu ainda sou.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 37
Comments
Gabs
se ele juntar as peças da pra perceber algo
2023-02-04
5
Nora Ney Guimarães Guimaraes
um abraço gostoso é bom de mais 😍
2023-02-16
1
Sil Fernandes
😭😭😭❣️❣️❣️
2025-02-23
0