...|•Bella•|...
Eu devia imaginar que uma hora ou outra teria de estar na presença dos Bianchi outra vez. Mas com tanto tempo, com tantos momentos divertidos na presença de Charlie e Alexander…eu me esqueci completamente. Talvez eu tenha me forçado a esquecer. Não importa. Felizmente Grace e Ernest não estavam presentes. Mas Maggie…sinto que não queria vê-la neste momento em que me sinto tão bem. Ainda mais que Alex não estava ali, ao menos Charlie estava e talvez seja suficiente. Charlie me ajuda a me vestir enquanto resmunga que o coque no cabelo está apertado demais. Sequer eu poderia imaginar que ela usava coques.
— Pronto. Bel feche os olhos — obedeço, sentindo a leveza de um pincel pintando minhas pálpebras.
— Com que me vestiu? — pergunto, tentando me distrair do que me esperava um andar abaixo.
— Um vestido azul bem claro e delicado com algumas pedras brilhantes na saia. Estou passando uma sombra azul clara nos seus olhos também e dando um pouco de cor a suas bochechas — ela entendeu o que eu queria, pois começou a falar descontroladamente. — Vai preferir saltos ou uma sapatilha?
— Quero descer as escadas com estilo — comento sorrindo.
Charlie solta uma risada baixa.
— Então recomendo os saltos se quer impressionar e descer como uma rainha. As sapatilhas dão um ar de garotinha saltitante.
— Se for um salto fechado demais então vou preferir parecer uma garotinha saltitante — pondero.
— Ah, não se preocupe, você não irá parecer uma garotinha saltitante então Bel. Os saltos…hum, como devo dizer? — pensativa, ao que parece. — São abertos, sandálias, é isso o que quero dizer. Brancos. E devo acrescentar que tem um design delicado também? — ela ri, a acompanho.
— Deixe a garotinha saltitante de lado por hoje então. Vamos de "a esposa do CEO delicada".
Charlie gargalha descontroladamente enquanto anda pelo quarto.
— Alex iria se mijar de tanto rir se ouvisse isso — ela diz me ajudando a calçar os saltos.
Silêncio por um tempo. Ouço o farfalhar de roupas, provavelmente Charlie a se levantar.
— O que está usando hoje para estar resmungando a todo minuto? — questiono curiosa.
— Tente por favor não fazer uma careta ao ouvir só para me consolar um pouco, tudo bem? — falso sentimentalismo.
— Certo — respondo rindo. — Comece a descrição toda.
— Para parecer uma pessoa bem digna de estar ao lado da esposa do CEO — sorrio —, estou vestida num confortável blazer branco, graças aos céus que não é obrigatório vestidos — suspira. — Agora me diga para qual finalidade um coque mais apertado do que um corpete do século XVIII? E os saltos ao menos são suportáveis…
— Você nunca esteve tão arrumada e comportada dessa forma Charlie — aponto.
— Sua irmã mimada, me desculpe por mas é a verdade, parece bem exigente, entende? Mostrar a ela o quanto todos aqui são discretos não faz mal, não é?
— Tem razão — uma pausa. — E Maggie realmente é mimada — acrescento.
— Você não parece ter muita afeição por ela… — comenta desconfiada.
Dou de ombros. Não tenho mesmo.
— Passar a vida longe da verdadeira família tem suas consequências.
— Então por que se casar no lugar dela? — indaga.
Não respondo, permaneço calada fingindo estar pensativa e por alguns minutos o silêncio se instala.
— Bem, tenho uma coisa para pedir-lhe — Charlie muda de assunto. — Não me chame pelo primeiro nome na frente de sua irmã. Aqui chamamos os empregados somente pelo sobrenome.
— És minha amiga Charlie — afirmo.
— Eu sei, mas por favor… — insiste.
— Como devo chamá-la então governanta? — pergunto com certa rispidez.
— Esse tom lhe cai bem — comenta. — Me chame de senhorita Gianni.
— É melhor descermos então senhorita Gianni, antes que a mimada da Maggie fique impaciente com nossa demora — digo me levantando da beirada da cama e imediatamente Charlie entrelaça seu braço no meu.
— Seu pedido é uma ordem, senhora Mancini — Charlie debocha.
Dou um tapa no braço de minha amiga insatisfeita.
— Já disse para não me chamar dessa forma, Charlie.
— Então não deboche da minha cara como se eu fosse uma velha — retruca.
— Tudo bem senhorita Gianni — concordo sorrindo.
[ … ]
Maggie estava na sala de estar da entrada da mansão. Tão específica a localização que Charlie deu…com razão, afinal havia incontáveis salas de estar por toda aquela mansão. Foi o que Charlie disse ao menos. Maggie. O que ela queria ali? Não havia vindo antes, então para quê vir agora? Se tivessem sumido de vez da minha vida eu teria achado ótimo. Mais que ótimo, teria sido a melhor coisa do mundo. E se ela dissesse algo suspeito e as pessoas começassem a desconfiar, tudo estaria acabado. E eu, sozinha no mundo outra vez, até mesmo no olho da rua. Cada passo escada a baixo parecia ser o caminho para a eternidade. O ar parecia ficar mais gelado a cada segundo, os pulmões queimando a cada respiração. A minha sorte era estar apoiada em Charlie, pois quando a voz de Maggie preencheu o lugar, meus joelhos ameaçaram ceder.
— Bella! — ela exclama, passos apressados se aproximam, Charlie solta meu braço e braços mais leves envolvem meu corpo.
Hesito um pouco em retribuir o abraço, o perfume de alguma essência doce demais e enjoativa — que nem me dei o trabalho de identificar — me invadindo os sentidos, por fim retribuo o aperto.
— Como você está irmã? — algo se revira em meu estômago com a palavra proferida por Maggie quando ela se afasta.
— Estou bem e você Maggie?
— Eu não importa, quero saber de você — salienta.
— Senhorita Gianni, me ajude a me sentar por favor — falo estendendo meu braço esquerdo ao lado do corpo, onde Charlie prometeu que estaria.
Ela entrelaça o braço no meu outra vez, me guiando provavelmente para o sofá. Quando estou acomodada, sinto o lugar ao meu lado afundar e Maggie segura minhas mãos. Meu corpo diz para eu recuar, mas aguento firme no mesmo lugar.
— Como foi? — ela indaga.
— Como foi o quê? — arqueio uma sobrancelha.
— Ah, você sabe! A noite de…
Solto uma risada baixa a interrompendo.
— Não houve nada disso Maggie, e acredito que já foi dito a você, não houve lua de mel também, graças aos céus — acrescento.
— Eu pensei que… — ela se cala por um tempo, rindo.
— Sequer ouvi a voz do CEO até hoje Maggie. Nunca me procurou e não serei eu a fazer isso.
— Quer dizer que ele nunca se aproximou de você? — dou de ombros.
— Não — balanço a cabeça. — Estou muito bem na verdade. Tenho a senhorita Gianni e o mordomo para me fazerem companhia. Uma pena que ele não está aqui para que possa conhecê-lo também.
— De qualquer forma devíamos marcar um dia para passearmos fora dos muros desta mansão, não acha? Você precisa de um pouco de ar de fora daqui… — argumenta.
Solto uma risada.
— Acho que você anda um pouco mal informada Maggie. Há dias em que passo o dia todo fora dos muros desta mansão, como você diz. Estou casada, mas não presa. Nesta semana é o primeiro dia em que estou trancafiada o dia todo.
— Tem saído sozinha? — os dedos de Maggie roçam minha bochecha.
— Obviamente que não, mas não é por ser cega que não posso fazer coisas divertidas, como andar por parques a cavalo, fazer piqueniques e o que mais senhorita Gianni? — falo com um pouco de sarcasmo.
— Na semana passada fomos às compras também senhora. Este vestido é um dos que compramos na verdade.
— Ah, sim — finjo me recordar do dia de banho de loja ainda fresco em minha memória no qual fui obrigada a ir às compras na companhia de Charlie.
"O CEO quem mandou você comprar o que quisesse". O argumento mais tosco de minha amiga até aquele dia.
— Vejo que você está vivendo muito bem irmã — ela não pode parar de usar essa palavra? — Mas está feliz? — sussurra.
— Mais que nunca Maggie — sorrio. — Com essas companhias que não estaria feliz?
— Obrigada senhora Mancini — Charlie diz, um indício de diversão na voz.
Aceno negativamente com a cabeça em dispensa.
— Como estão nosso pais Maggie? — indago, apenas uma distração.
— Estão bem e com saudades de você, Bel — me seguro para não revirar os olhos.
— Também estou. Por que eles não vieram com você? — questiono.
— Estão ocupados demais com a empresa, mal os vejo recentemente. Por isso resolvi vir vê-la, ver como você está e fico feliz por estar bem.
Inveja parecia lampejar em sua voz. Eu não tive muita certeza de que aquelas palavras eram verdadeiras.
[ … ]
Aquela tarde havia passado tão, tão devagar que deveria-se dizer que tinha sido uma tortura. Maggie decidiu passar a tarde toda comigo, o que da minha parte não era esperado. Estava me sentindo tão sufocada de estar por tempo demais no mesmo lugar que ela que por pouco não implorei a Charlie para que me guiasse — nos guiasse — para o jardim, onde Maggie ficou tagarelando maravilhada. Me arrependi disso também. Ela falava de tudo como que tentando jogar na minha cara meu padrão e minha deficiência.
Maggie não deve ter ficado sabendo que antes de minha família falir e meu pai ser morto — a ficha até hoje não havia caído totalmente, às vezes até imagino se tudo não passa de um sonho ruim —, Walter era o empresário mais rico dos Estados Unidos. Talvez até saiba e tinha a intenção de debochar da decadência de minha família. Não conseguiu, pois não me importo. Não mais. Tudo mudou tão rápido que pensar no meu passado não vale a pena. Seguir em frente parece o certo, mesmo que para isso eu tenha que me portar como uma pessoa de identidade falsa.
E o que me deixa horrorizada comigo mesma é que até eu acredito em algumas horas que fui Bella Bianchi anos atrás e agora sou uma Mancini. Mas a visita de Maggie fez-me dar um banho gelado em mim mesma e retomar a minha realidade de falsidade. O peso na consciência. Mil e uma facetas. Tão falsa quanto a sanidade do mundo. Eu. Pessoas ao meu redor que se tornaram meus amigos…enganados. Queria poder contar-lhes a verdade sem colocar-me em risco. E Jack…será que ele tinha conseguido fugir? Como Amélia estava? Não é tão fácil deixar o passado de fato para trás.
— Bel, você não quer subir para descansar? — Charlie pergunta, fazendo com que eu saia de meus pensamentos.
Alex havia jantado conosco como um pedido de desculpas por ter passado o dia fora. Naquele instante estávamos todos na sala de estar, enquanto os dois primos conversavam sobre assuntos variados, em certos momentos planejando novos passeios.
— Estou sem sono Charlie — respondo. — Estava só pensando em algumas coisas…
— Maggie? — indaga.
— Charlie deixe-a — Alex repreende.
— Tudo bem Alex — afirmo. — É sim Charlie.
— O que tem ela?
— Nada demais, apenas que ela estava diferente hoje — desvio, dando de ombros. — As vezes ela age de forma estranha, só isso.
— Espero que ela não apronte nada — Alex murmura.
Eu e Charlie havíamos contado a ele tudo o que ela havia dito e feito naquela tarde.
— Pensando bem, não estou afim de sair com ela, talvez eu invente uma desculpa.
— Deixe isso para Charlie então, ela sempre tem as melhores desculpas para tudo — Alex debocha e eu solto uma risada em certa parte contida.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Sandra Regina
Não vejo a hora do romance dos dois 🙏🏾😍😍
2023-01-10
7
Sil Fernandes
Tá demorando para r lá a descobrir que é o marido temido.
2025-02-23
0
Tatiane Freitas
essa história tá tão enrolada
2023-07-11
0