|•Capítulo 8•|

Grace foi quem me acompanhou até o carro de meu marido — esta era a mim uma palavra estranha a qual nunca pensei que usaria e cá estou eu, usando-a. Ela tem um gosto ruim quando usada contra vontade. Mas pelo que Grace sussurrou em meu ouvido, íamos em carros separados. Graças aos céus pois me sinto a cada segundo mais gelada e trêmula. Grace passa o cinto de segurança pelo meu corpo e fecha a porta ao meu lado, desejando-me boa sorte.

Em alguns segundos, o carro já estava em movimento e aquilo me deixava nauseada. Arrependo-me de ter feito uma refeição com a família Bianchi, ao menos, se eu estivesse de estômago vazio não teria o que vomitar dentro de um carro — que provavelmente deve ser um dos mais caros do mundo. Devo me acalmar, o nervosismo as vezes nos desestruturam.

Me desestrutura.

O que quer que esteja à minha espera me apavora e se for uma noite de núpcias então…ah! O que devo fazer? Não estou pronta para me entregar a alguém que sequer conheço. O mais provável é que eu vomitei e bem, já estou com vontade de fazer isso. Posso sentir o sangue percorrer minhas veias num ritmo lento e contínuo, me deixando tonta. Uma batida de coração, um giro que o mundo dá. Cada vez mais lento mas sem parar. Como a marcha de um exército.

Um, dois, três. Um, dois, três. Um, do…apago.

[ … ]

Me mexo. Me sinto desconfortável. Devo ter ficado na mesma posição por muito tempo. Espere! Estou deitada, eu não estava no carro a caminho de seja lá qual for a moradia do CEO? Tento me sentar confusa, impossível, minha cabeça gira, meu estômago revira, deito-me outra vez, colocando a mão na testa.

— Senhora Mancini, você se sente melhor? — uma voz suave diz em italiano. Senhora Mancini? Tudo bem, devo me acostumar.

— Onde estou? O que aconteceu? — murmuro com certa dificuldade. Acho que vou vomitar agora mesmo.

— O motorista constatou que a senhora havia desmaiado assim que chegou à mansão. Você está na casa de seu marido, senhora.

— Hum…o CEO — resmungo, apertando os olhos com força. Estou fora de órbita.

— Sim — ela responde hesitante, parecia estar constrangida com o que eu disse.

Resmungo algo que nem eu mesma entendo.

— A senhora está bem? — há preocupação em sua fala, ela toca meu rosto. Quente. Por um segundo pensei que derreteria minha pele que devia estar como um cubo de gelo. — Está fria — ela se assusta, recuando.

— Não me sinto bem — falo baixo demais, me virando no que deve ser a cama e me sento. — Acho que vou vomitar, por favor me leve ao banheiro — busco apoio com as mãos, nada.

— A senhora tem certeza? — ela hesita tocando meu braço.

— Não me chame de senhora — resmungo. Que tontura insuportável! — Não sou idosa.

— Ah, tudo bem — ela gagueja encabulada. — Consegue se levantar? — me segura com mais firmeza.

— Me ajude — peço me esforçando.

Com certa dificuldade e desajeito, a mulher me põe de pé, me guiando atrapalhadamente. Eu não tenho certeza se estou na terra ou tentando me equilibrar em um globo terrestre gigante girando a 200 km/h.

— Pronto? — paramos. Devo estar no banheiro, em frente ao sanitário.

— Me chame de Bella — me abaixo sem mais nenhuma palavra e sinto a mulher segurar meus cabelos com delicadeza, o vestido me atrapalha.

— Não se incomode em sujar o vestido, te ajudo a se limpar assim que terminar — ela parece ser meus pensamentos.

Isso é constrangedor. Sem dar resposta, coloco tudo para fora, sentindo meu estômago se contrair várias vezes até que não restasse mais nada dentro dele. Ao finalmente terminar, sem forças, continuo debruçada no sanitário, até que a mulher tenta me levantar, e sem delongas, ainda derrotada, forço meu corpo para cima, levantando, as pernas trêmulas.

— Obrigada — agradeço em meio a um arquejo.

— Venha, deixe-me te ajudar a se limpar — ela me guia outra vez, colocando-me sentada em algum lugar do banheiro.

— Se não for pedir muito, por favor, tire a maquiagem do meu rosto — peço baixo.

— Tudo bem. Irei buscar o removedor e roupas para você se banhar.

— Obrigada.

— Não me agradeça Bella — ela solta meu braço. — Estou fazendo o meu trabalho.

— Independente se está fazendo seu trabalho ou não, devo agradecê-la. Poucas pessoas me ajudaram desta forma antes — admito.

— Saiba que você arrancou um sorriso meu Bella, e que isso é algo raro — sorrio. — Sou a governanta, Charlie. É um prazer conhecê-la.

— O prazer é todo meu — retribuo.

— Irei buscar o que precisa — ela diz e ouço seus passos se afastarem rapidamente.

[ … ]

— Charlie — depois de um vasto tempo de silêncio a chamo.

Havia acabado de sair do banho, agora estava enrolada num roupão branco — extremamente fofo e quente — e sentada numa poltrona do quarto enquanto a governanta procurava uma roupa que combinasse comigo no palpite dela.

— Oi — ela responde em italiano aparentemente distraída.

— Estou nervosa — digo com sinceridade.

— Por que? — confusa.

Um arrepio percorre minha espinha, balanço os ombros.

— A consumação do casamento… — sussurro envergonhada.

— Ah, isso… — ouço passos pelo quarto. — Por que está nervosa por conta disso? — um segundo de silêncio. — Não é mais virgëm? — ela indaga.

Sinto meu rosto queimar.

— Não é isso… — desconcertada. — Claro que sou virgëm! Quem iria querer uma cega que não sabe cuidar de si mesma? — solto uma risada baixa. — Só estou nervosa por conta disso…

Charlie apoia as mãos em meus ombros, massageando-os.

— Está tensa e com medo — ela constata. — Você é linda, é claro que te querem. A primeira vez não é tão ruim assim…mas sabe, não se preocupe com isso. Quando fui buscar as coisas para seu banho vi o chefe saindo. Ele não deve estar interessado em consumar o casamento. Fique feliz por isso — ela fala, começando a pentear meus cabelos.

Silêncio.

— Por que está me tratando tão bem dessa forma? — curiosa.

— A impressão que te deram lá fora é que somos todos pessoas ruins, não é? — ela solta uma risada baixa. — Se eu disser que seu marido é uma pessoa boa você não irá acreditar Bella, então vou deixar que você veja isso sozinha.

O CEO desfigurado uma pessoa boa? Pela minha impressão, ele só seria uma pessoa um pouco melhor a mim do que Oliver, que concerteza me torturaria lenta e dolorosamente antes de me matar. Faz alguma diferença?!

— Como ele se chama, Charlie? — pergunto sem pensar.

Ela fica um tempo em silêncio, me deixando intrigada. Me intrometi demais?

— James — ela responde hesitante enquanto faz algum tipo de penteado em meu cabelo.

— Por que hesitou tanto para responder uma pergunta tão simples? — um tempo depois questiono.

A governanta suspira.

— Não sei se eu quem deveria te dar essa informação. O chefe é rigoroso — acrescenta.

O chefe é rigoroso. Tudo bem. Isso quer dizer que não devo me intrometer. Às vezes a curiosidade me faz ser enxerida. Não às vezes, sempre. É algo espontâneo, quando vejo, já foi. Quando dou por conta de mim, já estou bisbilhotando a vida da pessoa, querendo saber tudo sobre ela — até os segredos mais obscuros. Devia me tornar espiã — cega mas não surda. Uma fingida doçura e preocupação, palavras gentis e inocentes…informações rolando soltas sem a mínima desconfiança — uma espiã. Não deve ser tão ruim assim não é?

Estou num lugar que não conheço e com pessoas que muito menos faço ideia de quem são. Tenho que descobrir. Descobrir do que são capazes, o que querem. E preciso me proteger, mas como? Lutar — impossível. Não há como me proteger. Do que adianta estar protegida de Oliver se estou nas garras deste CEO? Devia me proteger dos dois. Talvez a morte torturante e dolorosa de Oliver fosse uma melhor opção. Saí das mãos de um demôniø e ao que parece, agora estou nas mãos do próprio diabø. Que o que quer que sejam as divindades, que elas me protejam.

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Comments

Rosângela Amorim Rezende

Rosângela Amorim Rezende

Bela já arranjou uma amiga dentro da casa

2023-04-09

4

Sil Fernandes

Sil Fernandes

Que bom que tem alguém de bom coração para ajudar.

2025-02-23

0

niley munoz

niley munoz

todo e o pensamento de Bel...pelo amor de Dios está historia está enrolada demais. .

2024-02-25

0

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