Capítulo 8

A origem parte 2 (Primeira vida de Alister)

Eu comecei a observá-la desde aquele dia. Uma menina completamente fraca, que não se defendia, muito menos retrucava.

-Aquela criança é mesmo filha de Saulo?

Algumas vezes, eu tinha minhas dúvidas. Antes que eu percebesse, se tornou uma rotina olhar para ela. E algumas vezes, tive o impulso de tentar ajudá-la.

Claramente, meu pai soube das minhas ações e não deixou de ser severo.

-Alister, por acaso esqueceu a identidade daquela menina? Deixe-a sofrer, nem mesmo o próprio pai se importa com ela. 

Ele estava certo, eu não deveria me meter, ela é filha do homem que matou minha mãe, não deveria fazer nada por ela.

E assim, anos se passaram, aquela pequena criança cresceu, e se tornou uma linda mulher. Mas claro, ela continuava sofrendo naquela casa, e por algum motivo, me sentia estranho vendo tudo aquilo.

Então um dia, enquanto ela estava machucada, eu acabei me fazendo o que eu não deveria…

-Aff, sério. Por que meu pai deixou você voltar para a escola? Não sei o que isso garotos vêem em você, que tal cortar esse seu rosto feio? -Como um pedaço de vidro na mão, ela avança.

Não houve reação por parte da menina, ela apenas ficou parada esperando o pior acontecer.

-Idiota! 

Foi como um impulso, quando percebi, já estava na frente dela, agarrando o pescoço da pessoa que tentou feri-la. 

Não entendi o motivo, mas o meu aperto no pescoço da agressora só ficava mais forte. Quando ela estava prestes a morrer, uma mão tocou meu braço.

-Acho que já foi o suficiente, matar ela não vai resolver as coisas. 

Aquela garota me tocou, e com um grande arrepio, soltei a agressora no chão com tudo. 

-Sabe, ela é uma pessoa ruim, mas não acho que ela deva morrer. Sendo sincera, eu não deveria salvá-la, mas não entendo bem o por que não consigo fazer mal para ela, e muito menos para os outros que me machucaram. -Ela estendeu a mão sobre a garota e uma luz branca se fez ao redor dela.

As marcas ao redor do pescoço da outra garota, começaram a desaparecer. Estava claro que eram poderes de cura.

-Você deve ir embora, ela irá acordar em breve, se ver você, poderia ser bem ruim.

Eu não sabia o que falar, apenas me afastei como ela me disse.

-Aliás, obrigada por me salvar. 

Eu estava arrependido do que fiz, mas ao mesmo tempo aliviado de ela estar bem.

Mas um demônio não pode simplesmente ajudar sua inimiga, e claro, como toda ação tem suas consequências, as minhas não poderiam ser diferentes.

-O que eu havia te dito? Não ajude essa menina! Entenda, você só precisa conseguir o contrato com ela. O sofrimento é o que mais trás desespero, por isso, ela precisa experimentar o pior.

Era o que eu devia fazer, mas então por que eu sentia que precisava interferir?

Dessa vez, eu decidi me obrigar a estar longe dela, esperando o momento certo em que pudesse conseguir o contrato. 

Mas nada aconteceu, por mais que sofresse, ela nunca me chamava, eu tinha a certeza de que ela sabia quem eu era, mas ainda sim agia como se não precisasse da minha ajuda.

No fim, pela primeira vez, vi algo inesperado acontecer. 

De algum modo, as pessoas souberam que ela tinha poderes, e começaram se aproveitar dela para seu próprio benefício. Assim, eu esperei até que ela se cansasse e me procurasse, mas não aconteceu. No fim, tragédias começaram a acontecer, e a primeira pessoa a levar a culpa foi ela. 

Nem mesmo em sua morte, ela não optou por mim. 

Quando ela morreu, as pessoas pensaram que haviam se livrado do mal que lhe abominavam, mas tudo piorou em apenas algumas horas. O mundo estava em caos, e as pessoas não sabiam mais a quem culpar, então continuaram a amaldiçoando mesmo após a morte. 

Isso durou até mais ou menos a meia noite, quando o sino tocou, pude perceber algo estranho. De algum modo, eu vi a alma dela encarando seu próprio corpo, seus olhos estavam completamente vazios, não havia luz, esperança, nem mesmo nada. Ela mudou o olhar de seu corpo para mim, e sussurrou "obrigada por tudo, mas se eu te escolhesse, ainda não estaria sendo usada da mesma forma que eles fizeram?".

Ela sabia exatamente o que eu queria, a pessoa que foi usada a vida inteira, já havia crescido com a ideia de que não havia mais esperanças, e para ela, eu não era nada além de mais um poço sem fundo onde ela estaria se jogando. 

Depois disso, o tempo parou. As pessoas não se mexiam, e o mundo começou a mudar de alguma forma, o que estava destruído, foi voltando a forma. As pessoas que ali estavam, sumiram, assim como o corpo caído dela, juntamente com a alma.

-O que foi isso? 

Após algum tempo, percebi que voltei ao passado. Pensei que primeiramente que deveria ser uma segunda chance de conseguir minha vingança. 

Eu fui até a casa da garota, queria saber como ela estava, e quantos anos eu tinha voltado.

Eu fui exatamente para o lugar onde eu a observava, mas para minha surpresa, ela estava lá.

-Você chegou… 

Ela estava igual, mas ao mesmo tempo diferente.

-O que faz aqui?

-Para ser sincera, eu não sei… Apenas senti que precisava vir até você, afinal, foi você quem me salvou várias vezes durante esse anos.

-Não pense que fiz isso por consideração a você.

-Eu não penso assim, eu sei o que você quer de mim. O poder concentrado em mim, é isso que você quer, certo? 

-Especificamente, quero sua essência. 

-Então eu sou útil para você? 

-Sim.

-Então me use. 

-Está falando sério? 

-Claro.

Eu pensei que ela se lembrasse de tudo, mas não foi isso, era mais como uma obrigação, ela sentia que precisava fazer o contrato comigo.

Naquele momento, consegui o que tanto queria, e meu pai ficou orgulhoso por isso. Tudo que eu precisava era acabar com Saulo.

Meu foco ficou totalmente na minha vingança, tanto que quase me esqueci daquela garota. 

Aos poucos, ela tentou se aproximar de mim, e eu não conseguia afastá-la.

-Alister, eu acho que gosto de você. 

Eu não me sentia da mesma forma, mas também senti que não deveria magoá-la

-Você sabe o que eu sou, não pode estar comigo.

-Tudo bem, eu só quero estar perto de você.

Ela se contentou apenas com isso, mas ainda fazia tudo que eu quisesse.

Eu estava frustrado por não conseguir mais nada de Saulo, tanto que esqueci de que aquela garota poderia mais uma vez sofrer o mesmo mal do passado.

E quando eu menos esperei, mais uma vez ela morreu, eu senti um pequeno aperto naquele momento, e pensei que tinha perdido mais uma vez a minha oportunidade.

Ela morreu da mesma forma de antes, mas agora, parecia que era mais odiada que antes.

Mais uma vez, o tempo voltou. Eu fui até aquele lugar, e mais uma vez, lá estava ela. Algumas palavras que ela disse, mudaram, mas ainda era o mesmo objetivo de antes.

Já era a terceira vida, de alguma forma, eu estava mais atencioso com ela.

-Ei, quer ver o pôr do sol comigo? 

Ela me chamava para várias coisas que nunca havia feito antes. Eu queria dizer não, mas as palavras não saiam da minha boca.

Com o tempo, me vi desviado dos meus objetivos, e a minha cabeça estava coberta de pensamentos sobre ela. Todos os dias, eu a esperava com um sorriso, algo que eu nunca havia feito antes, foi então que eu percebi que estava me apaixonando por ela.

Depois de um tempo, aquela declaração da vida passada, mais uma vez veio, só que dessa vez, foram com palavras mais fortes.

-Eu amo você! Sei que eu não deveria, mas eu não consigo controlar os meus sentimentos.

Naquele momento, algo no meu coração mudou. Eu senti ele bater rapidamente, e não consegui segurar a vontade de beijá-la.

Foi a primeira vez que eu quis ter alguém, todas as nossas experiências, foram coisas que nunca tive na vida. O "amor"... Foi algo que só ela me fez sentir. 

Eu estava feliz pela primeira vez na vida, e finalmente descobri o que era ser feliz de verdade. Ao lado dela, eu senti que mesmo sendo um essa coisa horrível que me tornei, eu ainda poderia ter alguém que me amasse. 

A paz durou somente pouco tempo, meu pai estava insatisfeito com meu relacionamento com ela. Ele queria que eu a usasse, e que depois me desfizesse dela. 

Eu fui contra, ele não interferiu depois disso, mas os nossos verdadeiros inimigos voltaram outra vez para cumprir o terrível destino em que ela estava fadada. 

Eu fiz tudo o que pude para que ela vivesse, mas foi tudo em vão, e eu a perdi… Não foi igual das outras vezes, dessa vez, meu coração se desfez em pedaços, eu senti uma imensa dor. 

Ao ver o corpo dela caído, uma loucura incontrolável me dominou, nos meus olhos aquelas pessoas não passavam de pedaços imundos de carne que deveriam apodrecer. Minha visão ficou totalmente estranha, eu não via mais pessoas, somente coisas cobertas de sangue. 

-Eu odeio humanos… Estavam errados em pensar que ao matar ela, iriam se livrar do sofrimento. Hahahaha. -Eu ri histericamente.

Peguei minha espada e passei na minha língua como forma de demonstrar minha loucura. Eu senti que a expressão no meu rosto era de um maníaco, um verdadeiro monstro.

Eu matei… Matei cada um deles, um por um… 

Eu não via mais a razão, e se aquela fosse a última vez que eu voltasse ao passado? E se a morte dela fosse para sempre? 

Na minha cabeça, esses eram os únicos pensamentos que passavam. 

Quando o sino tocou, exatamente a meia noite, eu parei, fiquei de joelhos esperando.

-Alister… Essa é a primeira vez que te vejo chorar. 

-Por que você tinha que morrer de novo? 

-Ei, eu preciso que você me prometa uma coisa.

-Isso é hora para promessas? 

-Me escuta! Você não pode agir assim, matar as pessoas é errado.

-Mesmo depois deles matarem uma inocente? 

-Me prometa que nunca mais vai machucar um humano! 

-Não farei isso. 

-Alister.

-Não proteja eles, sabe como isso me dói? 

-É necessário…

-Não, não é.

-Minha alma vai desaparecer em breve, então por favor, aceite meu último pedido…

-Só se você me prometer que não vai mais morrer!

-Como posso te prometer isso? Eu já estou morta! 

-Me prometa! 

-Certo, eu prometo! Agora você!

-Pro… Prometo. 

-Eu te amo, Alister! 

Antes mesmo que eu pudesse responder, ela desapareceu.

Quando o tempo voltou, eu corri em desespero até ela, mas… Ela não estava lá. Tive medo, pensei que ela não existisse mais no mundo, eu não pensei nas minhas ações, e estava no ápice da loucura.

-Olá, senhor salvador! 

Ela estava ali, mas me chamando de forma diferente. Eu corri até ela e a abracei. 

-O que foi? 

-Não é nada. Que bom que você está bem!

Esperei que ela me pedisse o contrato, mas ela não disse uma palavra. 

-Quer fazer um contrato? -Resolvi eu mesmo pedir.

-Não posso fazer isso, você é um demônio, certo? O que vai acontecer com a minha alma se eu fizer um contrato com você? Meu irmão me disse para não ficar próxima de você.

-Irmão?

-Sim, o Alexander. 

Diferente das outras vidas, dessa vez ela tinha um irmão.

Eu a observei durante dias, e percebi que ele não era um simples humano. A essência dele era como a dela, só que menos pura.

Ele era um anjo, com a presença dele, pude perceber que Saulo havia agido pela primeira vez depois de tanto tempo.

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Nota da autora:  Esse capítulo se passa com acontecimentos do passado, no caso, lembranças de Alister. O fato de Miraí conseguir curar alguém nesse capítulo, e no outro não, será explicado mais para a frente, nos próximos capítulos.

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