Por mais que eu pensasse que ficaria livre um dia, as coisas pareciam se complicar mais, me impedindo de ser livre.
-Finalmente acordou.
(Que lugar é esse? Eu tenho certeza que estava no meu quarto um segundo atrás).
-Quem é você? -O idoso me olha friamente.
-Não reconhece seu próprio pai? -Ele me mostra um sorriso falso.
-Então você é Saulo? -Não consigo esconder o ódio nas minhas palavras.
-Como sabe quem eu sou? Eu avisei claramente para aquele anjo corrompido que você não deveria saber de mim.
-Eu vi você em um sonho.
-Parece que a maldição está enfraquecendo mais rápido.
-Maldição? Além de ser um pai desnaturado, ainda é louco?
-Esses não foram os modos que te ensinei na sua vida passada, criança.
-O que você quer dizer com isso?
-Estranho, ele ainda não te contou a verdade… O que esse maldito demônio está tramando dessa vez? Eu não achei que ele abriria mão da relação de vocês assim.
-Acho que o senhor já está tão velho que começou a imaginar coisas, nós dois não temos relação alguma.
-Sua insolente, você acha que me engana? Sinto traços dele em você! Por mais que eu tente te colocar no caminho certo, você sempre se envolve com ele. Sua alma já está suja, mesmo que o contrato se quebre, todas as vezes você o faz outra vez. -Ele agarra meu cabelo.
(Do que esse louco está falando?).
-É sua culpa, Mirai! Mas eu vou agir, e dessa vez me livrarei desse maldito, não ouse interferir novamente.
-Me solta! -Eu tento me debater.
-Quieta!
Por algum motivo, não consigo mais mexer meu corpo.
-O que você fez comigo?
-Você fala tanto! Essa reencarnação sua é pior do que as outras, talvez seja um efeito colateral de voltar tantas vezes.
Ele me solta.
-Não terei pena de você só porque é minha filha! Eu irei te usar mais uma vez, mas acredito que seja mais doloroso nesta vida. Uma pena que você não vai se lembrar de nada que ouviu aqui quando voltar.
-Que?
-Esse olhar aterrorizado é sempre o mesmo toda vez. Que pena que você nunca saberá quem te causou tanta dor, e mesmo que soubesse, você não é nada contra mim.
Ele se senta em um trono que aparece do nada, e me mostra um sorriso que me dá calafrios.
-Eu te convocarei novamente, minha filha.
Um tipo de luz estranha me envolve, e depois tudo fica escuro.
[...]
-Mestre, conseguiu fazer o contrato? -Ethan aparece animado.
-Não, nessa reencarnação ela está repleta de ódio, não entendo o motivo de cada vez ela agir um pouco diferente da personalidade original dela. -Eu me sento colocando a mão na cabeça.
-Talvez tenha algo haver com a maldição. O mestre não tinha dito que ninguém mais sabia sobre, e não saberíamos que efeito tinha além de ela morrer antes dos vinte e dois anos?
-Eu ainda preciso descobrir mais, e saber quem é o culpado por isso. O problema é que cada vez que ela volta, algo muda, na última vida que ela teve, foi Saulo quem cuidou dela, e isso é suspeito, já que originalmente ela deveria ser abandonada na terra.
-Talvez ele tenha se arrependido de abandonar a filha assim, pode ser que ele quis mudar o destino da senhorita igual você já tentou. Se lembra que você já a trouxe para o inferno em uma das vidas dela? Ela se apaixonou por você desde pequena, mas morreu mais cedo do que o esperado.
-Sim, por mais que eu tente ela sempre morre. Eu não consigo aceitar isso, eu não sei mais o que fazer. -Os sentimentos de raiva e frustração me invadem completamente. -Prepare aquilo, preciso me acalmar.
-Mestre, a senhorita sempre dizia para não utilizar mais esse método, você prometeu para ela.
-Ela também não cumpriu a promessa que me fez…
-Mas mestre, não foi culpa da senhorita. -Ethan me olha com pena.
-Eu não me importo, ela é a única que consegue controlar meus desejos insaciáveis de matar, mas não posso vê-la agora. Esses sentimentos estão me deixando louco, não consigo mais me controlar.
-Mas mestre…
-Calado! Você acha mesmo que pode me controlar só porque esteve comigo todos esses anos?
-Me perdoe, mestre! Irei fazer as preparações.
-Aaah… -Eu me jogo na cadeira.
Após algum tempo, estava tudo pronto. Eu preciso matar…
Humanos, uma espécie que eu sempre tive nojo de conviver. Eles matam em prol do próprio egoísmo, por isso, nunca hesitei em descontar minha raiva neles. Eu matei diversas vezes, e minha sede de sangue só aumentava, em um dado momento, eu sentia prazer em ver os olhares aterrorizados de cada um deles. Mas um dia, ela apareceu, a minha salvação, que antes era minha inimiga.
-Alister! -Sua voz me atingiu como um tiro.
-Desapareça agora se não quer ter o mesmo fim que seus amados humanos.
-Você não é um monstro para mim, sei que é o que todos dizem, inclusive meu pai, mas eu sei que você não é assim. -Por um segundo, quase perdi o foco.
-Eu te disse para desaparecer! -Eu grito.
-Não! Eu não vou desistir de você agora que eu sei o motivo de ter se transformado em um demônio. Deixe essa vingança de lado, você só estará se destruindo mais!
-O que você sabe? O que sabe sobre mim para falar isso? Seu pai me tirou tudo! Quer que eu desista do meu motivo de ainda viver nessa vida de merda?
-Meu pai errou fazendo o que fez com você, mas tudo que ele queria era salvar os humanos. Alister, ainda existe uma chance para você! Eu posso te ajudar se quiser. -Ela ergueu a mão para mim.
-Mesmo sabendo o motivo de eu precisar de você, está me oferecendo ajuda?
-Não entenda errado! Eu não irei te ajudar nos seus planos, mas se desistir dessa vingança, eu posso ajudar você a voltar às suas origens.
-Eu não preciso da ajuda de alguém que vai morrer por essa espécie suja!
-Não seja idiota! Eu não quero ver você se perder assim, seja humano ou não, eu quero que o mundo seja um lugar feliz para todos, Alister, incluindo você! Não me importo de morrer por isso, se apenas eu puder fazer algo pelo mundo…
Ela me olhou nos olhos, mesmo com seu rosto coberto de lágrimas. Então ela me abraçou, foi tão quente, algo que ninguém nunca fez por mim. Aquela pessoa, que estava predestinada a um fim próximo, abraçou um demônio coberto de sangue, com milhares de corpos ao redor.
No seu olhar não havia medo, a única pessoa que não olhou para mim como um monstro, que viu as dores do meu coração antes das minhas atitudes horríveis. Ela me deu uma esperança, e um sentimento que eu desconhecia me encheu completamente.
E assim, eu me apaixonei por ela na primeira vida que ela teve, e a vi morrer naquele mesmo lugar tempos depois pelas mãos daqueles que ela mais queria salvar. Naquele dia se iniciou o ciclo, e o meu ódio pelos humanos aumentou ferozmente. Eu destruí tudo, dei um fim na causa da morte dela, mas de algum jeito, tudo voltou.
Pensei que fosse algo bom, eu a vi outra vez, e ela me aceitou rapidamente, mas o nosso tempo juntos durou tão pouco, e eu a vi morrer mais uma vez.
Nem ao menos pude impedir, eu a vi sofrer ainda quando criança, se tornar uma adulta cheia de cicatrizes, a pureza da sua primeira vida ia sumindo cada vez que tudo se repetia, e a verdadeira personalidade dela aos poucos, ficou totalmente diferente do original. Mesmo com tal mudança, no final, ela se sacrificava por eles.
-Morram! -Com os olhos sedentos por sangue, eu ataquei um por um de cada uma das pessoas que Ethan trouxe.
-Seu monstro, nos deixe em paz! Argh.
-Os monstros aqui são vocês!
Eu continuo uma matança intensa, os gritos de cada um deles, o pavor em seus olhos, cada palavra de maldição sobre mim, estou me deixando ser consumido por essa sensação boa. Rasgá-los ao meio é tão prazeroso quanto ouvir suas súplicas.
-Pare, por favor, eu suplico! Eu posso te dar tudo que quiser, eu sou rico, só me dizer que consigo.
-Clássico, todos são assim. Eu poderia ter poupado você se não fosse tão egoísta em se importar somente com sua própria vida.
-Não, eu me importo com a vida de todos, poupe nossas vidas!
-Que tedioso você é… Não!
-Seu monstro nojento!
-Eu não me importo de me tornar um monstro se for para acabar com os culpados do sofrimento dela! -Eu o corto ao meio.
-Alister! -Uma voz doce ressoa em meio a todo aquele caos. -Eu me importo! Por favor, volte aos seus sentidos, AGORA!
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Atualizado até capítulo 39
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