Capítulo 7

                                                   A origem parte 1 (Primeira vida de Alister)

Minha vida sempre foi um vazio sem esperança. Cresci sem um pai, tendo que cuidar de uma mãe completamente louca.

-Demônio! Você é um monstro igualzinho a ele! -Minha mãe apontava para mim enquanto estava encolhida no canto.

Todos os dias, minha mãe perdia o controle, eu sabia que ela não me odiava, pois haviam curtos momentos em que ela me pedia perdão. Eu queria odiá-la, mas não conseguia, e apesar de não entender bem, eu sabia que nossos problemas eram culpa do meu pai.

Eu não o conhecia, nem sequer sabia seu nome. A única certeza que eu tinha era que a minha mãe tinha um medo profundo dele, e por esse motivo, eu o odiei intensamente.

Um dia, minha mãe ficou gravemente doente, e aos poucos, a morte dela se tornou mais próxima. Ela era a única coisa que eu tinha, mesmo que eu não recebesse o seu amor, eu queria lhe dar minha vida, não importava como.

Foi então que ele apareceu, seu nome era Saulo. Aquele homem dizia conhecer meu pai, e que sabia uma forma de trocar a minha vida pela da minha mãe.

Eu tinha apenas doze anos, no calor do momento, aceitei sem pensar. Aquilo foi a pior coisa que eu poderia ter feito...

Uma grande nuvem negra me cercou ao apertar a mão daquele homem, e eu senti como se minha vida estivesse sendo sugada. Eu sorri, achando que a minha mãe viveria, mas ao olhar para o lado, eu vi a pior cena da minha vida.

-Você é mesmo um tolo, confiar em alguém que acabou de conhecer? -Ele me olhava seriamente, enquanto perfurava o peito da minha mãe.

Eu não tinha forças para gritar, nem mesmo para tentar salvar ela. Naquele momento, meu coração se tornou frio, o vazio que havia em mim se preencheu de ódio e desejo de vingança.

Ele apenas me olhava neutro, como se eu fosse um inseto insignificante sem valor algum. Então, ele apenas caminhou tranquilamente.

A morte também me esperava, nem ao menos poderia vingar minha mãe.

-Não se preocupe, você não vai morrer ainda. Acredito que deva ser torturante sobreviver a isso, mas ainda tenho planos para você. -Disse aquele homem antes de desaparecer.

Não só perdi minha mãe, mas também a minha humanidade. Senti uma dor horrível por todo o meu corpo, mas pior que isso era a minha aparência.

Meu corpo humano havia desaparecido, agora sim eu era um verdadeiro monstro. Naquele momento senti como se aquilo fosse quem eu realmente era, e que minha mãe estava certa.

-Você não é um monstro! Essa é a sua verdadeira aparência, meu filho. -Uma coisa ainda mais horrenda dizia ser meu pai.

Ele estendeu a mão para mim, que permaneci sem reação.

-Saulo chegou antes de mim, agora que sua mãe está morta, o selo que havia em você foi rompido. 

-É por sua culpa que me tornei isso?

-''Isso'' é quem você é de verdade. Eu entendo que não queira abrir mão da sua humanidade, você pode ter seu corpo de volta, mas ainda terá chifres e olhos vermelhos.

Eu não o respondi, mas ele entendeu exatamente a minha resposta.

De alguma forma, meu corpo voltou a ser o que era, mas eu ainda tinha a aparência de um monstro.

-Eu preciso que venha comigo, Saulo rompeu seu selo porque precisa de algo que somente sua forma demoníaca pode lhe proporcionar. Como pai, devo lhe preparar, já que não tenho o poder de interferir quando o momento chegar.

''Pai'', aquele a quem eu sempre odiei, e que ainda odeio. A partir daquele momento, minha vida mudou.

Com o passar dos anos, ele me preparou para a chegada hora, mas nada acontecia. Quando completei 23 anos, parei completamente de envelhecer, e assim se passaram os primeiros cem anos da minha vida.

Durante todo esse tempo, não havia escutado nenhuma notícia sobre Saulo. Até que três anos depois, soube que ele tinha tido uma filha.

-Alister, essa menina tem poderes de luz fluindo sobre ela. Consiga um contrato com ela, a essência daquela criança pode salvar você no momento certo.

Eu não sabia quem ela era, mas estava empenhado em conseguir meu objetivo.

-Volta para o burraco de onde você saiu! Eu não vou dividir o papai com a filha de uma prostituta qualquer! -Uma menina um pouco maior que ela a empurra com força.

-Eu não... -Ela recebe um tapa na boca antes que pudesse responder.

-Eu simplesmente estou farta de você! Afinal, quem é sua mãe? Com quem meu marido me traiu?

-Aquele homem repetiu isso inúmeras vezes, eu não sou filha dele, apenas fui adotada.

A mulher a bate mais uma vez.

(Devo interferir? Seria uma ótima forma de me aproximar daquela criança.)

-Hic, hic... -O choro dela se tornava cada vez mais alto.

-Não vai fazer nada, mestre? -Ethan aparece bem atrás de mim.

-De alguma forma, sinto pena dela, mas preciso esperar o momento certo para agir.

-Devia fazer isso logo, mesmo que ela seja filha da pessoa que matou sua mãe, ela não é culpada dos erros do pai.

Ethan tocou exatamente na ferida, onde eu tinha mais dúvidas.

-Tem razão, e eu preciso dela para o meu plano dar certo.

Como havia me tornado um demônio, pude fazer coisas que jamais imaginei, não que isso fosse algo para me orgulhar.

-Eu posso apenas me livrar delas!

-Mestre, você vai deixar a criança traumatizada!

-Então isso não terá graça alguma. 

-Você tem o poder de se fazer qualquer coisa com elas... Ah, esquece, melhor eu mesmo fazer isso! -Ethan voa em direção a elas, fazendo com que as duas que estavam atormentando a menina saíssem.

-Um corvo? Eu ouvi falar que eram criaturas ruins, mas você me salvou. Obrigada senhor corvo! -Ela sorriu com lágrimas nos olhos.

-Viu só? Também é divertido fazer outras coisas além de matar humanos.

-Quieto, ela está olhando para cá.

A menina nos olhou intensamente, e naquele momento, tive uma sensação estranha que não soube explicar.

-Ela já parece tão tranquila, crianças agem assim após sofrerem abusos?

-Não sei, Ethan. Ela apenas quer aparentar ser forte mesmo com toda dor, isso me lembra alguém...

(Alguém que já fui...)

-Ela está fazendo sinal para a gente? Mestre, o que ela está dizendo? 

-O, B, R, I, G, A, D, A... Ela disse obrigada.

-Que criança esquisita, primeiro agradeceu a um corvo, e agora a um demônio. O normal não seria estar com medo desse chifrão e olhos vermelhos?

Eu bato no Ethan, fazendo com que ele caia.

-Mestre, por que fez isso comigo? -Ethan choraminga. 

-Sinto que vai ser bem interessante lidar com essa menina.

Claramente eu achava que tudo iria da forma que planejei, mas ainda haveria muitos acontecimentos inesperados que estavam por vir. 

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