Capítulo 3

-Mirai, significa “futuro”. Minha criança, sua missão é destruí-lo, só assim você poderá salvar a paz que existe no mundo. Você entende isso, certo? -Um senhor idoso me olha carinhosamente. 

-Sim, papai. 

(Papai?).

-Nunca se esqueça de sempre priorizar a vida humana, mesmo que a morte esteja diante de você! Eles são seres frágeis que precisam da nossa proteção. -O sentimento de dúvida me invadiu, como se eu mesma estivesse vivenciando.

-Por que eu tenho que morrer por eles?

-Por que é a coisa certa a se fazer.

Eu estava me sentindo estranha, era como se eu estivesse recebendo avisos através de sonhos. Eu sentia a obrigação de tentar agir por alguma coisa, mas nem ao menos sabia o que era. 

-Mirai? -Uma voz masculina me assusta, me tirando daquela visão estranha. -Se acalma, eu sou a pessoa que senta do seu lado nas aulas.

É realmente ele, pela primeira vez pude reparar direito.

-Meu nome é Simon, você parece ter medo de falar comigo. 

-Não é bem isso… 

-Sério? então podemos ser amigos? 

-NÃO!! -Foi uma resposta automática.

 “Amigos”, uma palavra que odeio ouvir. Todas as pessoas que foram gentis comigo tiveram um final ruim, não quero ver mais nenhuma morte na minha frente.

-Do que você tem tanto medo? -Ele me olha calmamente.

-Eu… -Percebo uma figura estranha me observando de longe. Não tenho certeza se é Alexander, mas prefiro não arriscar. -Desculpe, mas não podemos ser amigos. -Eu começo a correr.

Ter amigos, isso foi algo que nunca pude permitir a mim mesma, ou não me deixaram ter a chance. Uma criança tão odiada feito eu, não poderia se dar ao luxo de almejar algo como ser amada. Eu já me odiava, eu sabia os meus limites, mas alguém me estendeu a mão sem olhar para o meu passado, sem ter medo de morrer como aconteceu com as outras crianças. 

Era meu aniversário de sete anos, naquele tempo eu já tinha tido três amigos, mas todos eles morreram na minha frente. Eu carreguei aquelas memórias todos os dias, era um tormento, eu queria morrer, mas por mais que eu tentasse, algo me impedia. 

Eu estava sozinha, todos me chamavam de assassina, e minha família me deu as costas como sempre fazia. Então decidi tentar morrer mais uma vez, já que viver machucava tanto, mesmo sabendo que poderia falhar mais uma vez.

-Buááá… Por que não funciona? Eu nem ao menos sinto dor. 

Nem dor, nem mesmo uma ferida. Naquele tempo eu não tinha medo de morrer, na verdade era tudo que eu mais queria.

Eu não sabia mais o que fazer, eu não podia morrer, não conseguia fugir, tudo que eu pude fazer foi suportar tanta dor. Quando eu pensei que tudo estava perdido para mim, alguém se aproximou. 

-Pare de tentar morrer, eu não voltei aqui para você morrer antes mesmo de se tornar adulta. -Um homem desconhecido afastou a faca de mim. 

-Senhor, por que eu não consigo morrer? Por que tenho que viver assim? O que eu fiz de tão ruim? -Eu já não me importava com nada, então não havia motivos para eu guardar tudo para mim.

-Você não fez nada de errado, foram eles, todos os culpados vão pagar. Apenas cresça, eu voltarei para salvar você, isso é uma promessa! -Após dizer essas palavras, ele toca a minha testa, e me sinto sonolenta.

-Eu quebrarei essa maldição, Mirai. -Ele sussurra.

Aquelas palavras foram meu refúgio desde aquele tempo, e essa era a minha esperança, a única coisa que ainda me fazia resistir a tanta dor. Depois daquilo, nunca mais tive amigos, e segui minha vida sendo odiada por todos.

-Um sonho? Ah, por que ele ainda não veio me salvar desse lugar? É mesmo certo ainda esperar? 

Me levantei da cama com uma dor de cabeça forte.

-Aaah… Espera, eu não estava na rua agora mesmo? Como parei em casa? Aliás, essa não é a primeira vez que isso acontece!

-Você demorou para perceber, já estava perdendo a paciência com você! -Tem um homem parado perto da porta.

-Quem é você?  E como entrou aqui?

-Você é bem lerda, ainda não percebeu que sou um demônio? -Ele mostra suas asas.

Estranhamente, eu não sinto medo dele.

-Se quer minha alma, pode desistir. -Eu viro o rosto.

-Eu não quero a sua alma, mas sim algo bem melhor que isso. -Ele se aproxima de mim.

-E o que seria isso? 

Ele coloca sua mão em meu queixo, me obrigando a olhar nos seus olhos. 

-São lindos. -Eu me sinto hipnotizada por seus olhos.

-O que? -Ele analisa minha expressão.

-Seus olhos, eles são lindos. Nunca vi olhos vermelhos antes. -Minhas palavras parecem afetá-lo muito.

-Você… Por que sempre diz isso? -Seu rosto parece triste, e sua mão acaricia rapidamente minha bochecha. 

(Isso parece tão estranhamente  familiar).

Durou apenas alguns segundos, já que seu jeito frio retornou. 

-Faça um contrato comigo. -Ele se afasta de mim. 

-Por que eu deveria? Ainda não sei o que quer de mim, e também, o que eu ganharia com isso?

-Simples, me ajude na minha vingança, que te liberto desse lugar.

-Como eu poderia? Não tenho nada de especial.

-Em primeiro lugar, eu posso te tirar daqui, acho que você já cansou de viver assim. 

-Seria uma boa proposta se eu não soubesse de algumas coisas. 

-O que você quer dizer com isso? -Ele me olha curioso.

-Como conseguiu entrar aqui? Diga a verdade, ou te mato agora. -Eu aponto uma adaga em seu peito. 

-Haha, você… Cada vez me surpreende mais. Sabe que isso não vai me matar, certo? 

-Tem razão, eu só poderia matá-lo se tivesse se apaixonado por mim. -Ele me olha surpreso. -Por que essa cara? Eu sei que Alexander também é como você, então descobri como me livrar dele. 

-Isso não irá funcionar em mim, nem mesmo nele. Não é tão fácil matar seres como nós assim.

-É claro que eu sei disso, acha mesmo que eu ainda deixaria meus poderes escondidos assim? Eu sei que não sou normal, é por isso que você precisa de mim, certo? Talvez eu te ajude, um dia, mas agora minha prioridade é me vingar dessa família, cansei de ser boazinha e viver com medo. 

-Belas palavras, mas não serão de grande ajuda para você! Ah, só mais uma coisa, eu parei o tempo, como você já deve ter percebido. Os efeitos acabarão em um minuto, e ele virá até você, então é melhor estar pronta. -Ele desaparece e uma fumaça escura se forma ao seu redor. 

Eu não esperava que depois daquilo nos encontraríamos outra vez, mas para ele, parecia ter algo em que jamais poderia abrir mão, e eu também não pretendia abrir mão do que eu queria.

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