Muitas coisas ainda estavam por vir, aquela tempestade que a mim foi destinada, apenas parecia ficar mais forte conforme se aproximava.
-Minha cabeça! Urgh. -Uma dor estranhamente forte me faz deitar de volta na cama.
-Que demora para acordar. Você sabe muito bem que eu odeio esperar, isso me deixa muito... Zangado. -Alexander me olha seriamente, mas com um tom ameaçador.
Eu não respondo, apenas permaneço quieta.
-Que garota obediente. Sabe, você é como um veneno, te possuir é tão emocionante, já ele está sempre tentando salvar uma pessoa fadada a morrer infinitas vezes. Talvez esse seja o poder do amor? -Alexander se aproxima de mim, e me encara intensamente. -É tão agradável pensar que você nem se lembra dele, aquele demônio deve estar se debatendo para encontrar um meio de fazê-la viver.
-Você é louco! -Eu cuspo nele.
-Haha, você é ousada, mas ele não vai te salvar dessa vez. Agora, você caiu nas minhas mãos, e não vai se livrar tão fácil, eu vou te perseguir em todas as suas próximas vidas. -Ele se vira, me deixando sozinha no quarto.
-Eu não entendo o que ele quer dizer com tudo isso...
Minha vida estava mais fora dos trilhos do que sempre esteve. Dúvidas começaram a surgir, e sonhos me confundiam, coisas que eu já jamais vivenciei, pessoas que nunca conheci, tantas coisas...
-Mirai, nosso futuro está entrelaçado. Você nasceu para me salvar, e a minha salvação, é a salvação de todos os humanos!
Vozes estranhas ressoam na minha cabeça juntamente com imagens estranhas.
-Em um futuro próximo, vamos voltar aqui nesse jardim, essa é a nossa promessa.
Eram como flashes de vários momentos diferentes.
-Monstro! Matem essa coisa, ela é a culpada de todos os nossos problemas!
-A morte é pouco para essa coisa, por sua culpa o mundo está em caos!
Eu me debati tentando parar isso.
-Eu te disse, você nunca pode se livrar de mim! Você pode entregar a sua alma para aquele demônio quantas vezes quiser, no momento em que o relógio bater marcando meia noite, tudo se reinicia. O tempo está ao meu favor, Mirai.
Eu acordo completamente suada, sinto uma sensação horrível que não sei explicar, me faz continuar inquieta.
-Ssgn... Ssgn... Ssgn..... -Com a respiração pesada, sinto como se meu coração estivesse a ponto de sair pela boca.
Vejo um vulto rapidamente passar, fazendo meu medo aumentar.
-Eu... Eu odeio... Odeio esse mundo... Snif, snif...
Por mais que eu não entendesse, eu sentia um grande ódio, não sabia do que, e nem qual o motivo.
-Levanta, AGORA! -Josephina grita, enquanto Estella joga um balde de água em mim.
Eu olho para elas com uma fúria evidente, enquanto elas riem de mim.
-Oh, que olhar é esse? Acha que assusta alguém? Desde quando ficou tão atrevida assim? -Josephina puxa meu cabelo.
Eu ranjo os dentes, tentando segurar minha língua.
-Isso mesmo, você fica bem assim, já tem cara de perdedora, hehe. -Estella debocha.
(Eu só queria que elas desaparecessem! Eu odeio, odeio, odeio, odeio tudo. Essa família, essa casa, a minha vida, TODOS!)
Sinto algo explodir dentro de mim, e ao mesmo tempo que isso acontece, o espelho do meu quarto se quebra, acertando um dos cacos no rosto de Estella.
-Aaaaargh!! Mãe, me ajuda! -Estella grita, colocando a mão onde está o corte.
Vendo o sofrimento dela, de alguma forma sinto um certo prazer em presenciar essa situação.
-Oof, hehe... -Eu dou uma baixa risada.
-Sua bruxa! Foi você! Não pense que ficará em pune! -Josephina me empurra, fazendo com que eu caia em cima dos cacos.
Minha mão acaba cortando, e ao olhar o sangue, minha cabeça começa a girar, e minha visão muda para algo diferente.
Ao meu redor, vejo um caos total. Sangue e mais sangue por toda parte, milhares de corpos despedaçados no chão, a imagem horrível me faz ter náuseas.
-Alister, para! Ugh, eu te imploro, não mate mais pessoas! -As palavras saiam da minha boca sem o meu controle.
O que estava na minha frente não parecia ter sequer um pingo de remorso de suas ações. Com o corpo coberto de sangue, ele ignorava as minhas palavras, continuando a rasgar mais pessoas com as suas garras. Os gritos que chegavam aos meus ouvidos, faziam meu corpo arrepiar.
-Alister, me escuta! Não vale a pena... -Meu corpo se move sozinho em direção a ele.
(Não, não, não... Eu não quero ir até lá.)
-ESTÁ DIZENDO QUE EU DEVERIA PERDOAR AS PESSOAS QUE TE LEVARAM A MORTE? VOCÊ NÃO É MAIS REAL, VOCÊ MORREU OUTRA VEZ, E EU NÃO PUDE FAZER NADA. -Ele grita sem se virar.
-Alister, esse é o meu destino, você não pode mudá-lo tirando a vida de pessoas inocentes! -Eu continuo chegando mais perto dele.
-Você não entende... Eles te mataram diversas vezes, e eu tive que suportar isso, eu não fiz nada porque foi um pedido seu, mas eu não suporto mais! -Sua voz fica trêmula.
-Olha para mim, por favor! -Antes que eu me desse conta, estava perto o suficiente para toca-lo.
Por segundos que quase pareceram eternos, ele permaneceu de costas para mim. Eu estendi meu braço, tentando alcançá-lo, mas a minha mão o atravessou.
-Viu? Eu te disse, você morreu. Eu sou um demônio que já foi humano, e você um ser cujo eu não posso tocar, nem mesmo em morte. Eu deveria só aceitar que sua alma vai desaparecer à meia noite? Eu vi isso acontecer tantas vezes, por mais que eu mude nosso presente, o futuro é sempre o mesmo. -Ele continua de costas para mim.
Lágrimas começam a descer pelo meu rosto.
Ele finalmente se vira.
Seu rosto, suas asas, todo o seu corpo estava coberto de sangue. As roupas que ele usava pareciam trapos, um rosto belo disfarçado pela dor e sofrimento, e seus olhos vermelhos entregaram todos os sentimentos que ele tentou esconder.
-Mirai... Um dia, eu vou conseguir te salvar, isso é uma promessa! -Lágrimas começam a descer pelo seu rosto, e mesmo sabendo que não há como sentir o calor do toque dele, eu o abraço.
O sino toca meia-noite, mostrando-nos que o nosso tempo juntos acabou, e que um novo tempo se iniciaria. Fadados ao sofrimento de reviver a mesma situação, nos olhamos por um último segundo, até minha alma desaparecer completamente.
bléimmmm, bléimmmm, bléimmmm.
[...]
Sons de sino continuam na minha cabeça, estranhamente, isso me trás uma nostalgia esquisita.
Ao abrir meus olhos, percebo a situação, os cacos de vidro no chão, sangue espalhado por todos os lugares, a Estella gritando desesperadamente. Tudo que eu vi pareceu durar mais tempo, mas foram apenas alguns minutos.
-Use seus poderes de cura nela agora! -Josephina deixa a filha e me arrasta até Estella, sem se importar com os cacos espalhados me ferindo.
-Eu não tenho isso! -Eu nego.
-Mentirosa, eu acabei de ver sua mão se curar do corte! Sua egoísta de merda, gastei meu tempo cuidando de você, para se tornar uma pessoa ingrata que causa mal a minha filha.
-E se eu não quiser curar ela? -Eu provoco, mesmo sabendo que não posso realmente curar ninguém além de mim mesma.
-Sua Bruxa asquerosa!
-Já que eu sou uma bruxa, não está com medo de que eu também possa cortar esse seu rostinho cheio de rugas? -Eu debocho de Josephina.
-Maldita! Você vai se arrepender de tudo que disse!
-Haha, a madame perdeu a compostura, huh?
Com isso, ela pega um dos pedaços do vidro, sem se importar de ferir a própria mão e me ataca.
Eu desvio rapidamente, mas ela avança em mim novamente, me deixando sem saída.
De repente, um nome surge na minha cabeça.
-ALISTER! -Eu grito com toda força que posso.
Com os olhos fechados, espero até que ela me alcance, mas nada acontece.
-Finalmente decidiu fazer o contrato comigo? -Ele sorri para mim.
Abro meus olhos, vejo Josephina e Estella desmaiadas. Uma estranha sensação de alívio me atinge, me fazendo cair no chão.
-Não foi bem isso... Eu não sei por que chamei esse nome, e nem sabia que era você...
-Tudo bem, mesmo se você não me chamasse, ainda viria aqui.
-Por que?
-Eu já te disse o que quero... Preciso de você para os meus planos.
-Não me parece ser isso realmente.
-Mas é... E aliás, o efeito vai durar apenas cinco minutos, então escolha rápido se fará o contrato comigo ou não!
-Você não disse que precisa de mim? Acredito que não vá deixar com que eu morra.
-Você não é o único meio, acredite. Só é mais fácil, então se quiser viver, escolha rapidamente.
Algo me dizia que ele estava mentindo, mas me parecia a melhor opção.
-Tudo bem... Eu aceito!
Ele sorri, pegando um pedaço do espelho no chão, fazendo um pequeno corte no meu dedo. Ele lambe o sangue, me fazendo corar.
-Isso é mesmo necessário?
-Você sempre fala isso todas as vezes... -Ele solta um pequeno sorriso.
-O que?
-Esqueça, está feito!
Eu não senti dor, nem mesmo nenhuma diferença, tudo estava parecendo normal.
-O que é essa coisa? -Josephina e Estella olham aterrorizadas para as asas e o chifre de Alister.
A expressão delas me causa um ataque de risos.
-Haha, como isso é hilário! Hehe... Ver vocês assim é tão... Divertido! -A satisfação que sinto me surpreende.
Eu me viro para ver Alister, que arregala os olhos parecendo não entender minha reação.
-Você! -Josephina aponta para mim.
-Eu gostaria de apreciar mais esse momento icônico, mas temo que já deu a minha hora. Uma pena, estava tão bom... Vamos, Alister. -Eu passo os braços em volta do pescoço do Alister, olhando diretamente nos seus olhos.
Posso perceber que de algum modo, ele está confuso. Ele me pega no colo, e eu olho mais uma vez para Josephina e Estella.
Com um último sorriso, me vejo sendo levada para um lugar diferente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 39
Comments