Capítulo 6

Muitas coisas ainda estavam por vir, aquela tempestade que a mim foi destinada, apenas parecia ficar mais forte conforme se aproximava. 

-Minha cabeça! Urgh. -Uma dor estranhamente forte me faz deitar de volta na cama.

-Que demora para acordar. Você sabe muito bem que eu odeio esperar, isso me deixa muito... Zangado. -Alexander me olha seriamente, mas com um tom ameaçador.

Eu não respondo, apenas permaneço quieta. 

-Que garota obediente. Sabe, você é como um veneno, te possuir é tão emocionante, já ele está sempre tentando salvar uma pessoa fadada a morrer infinitas vezes. Talvez esse seja o poder do amor? -Alexander se aproxima de mim, e me encara intensamente. -É tão agradável pensar que você nem se lembra dele, aquele demônio deve estar se debatendo para encontrar um meio de fazê-la viver. 

-Você é louco! -Eu cuspo nele.

-Haha, você é ousada, mas ele não vai te salvar dessa vez. Agora, você caiu nas minhas mãos, e não vai se livrar tão fácil, eu vou te perseguir em todas as suas próximas vidas. -Ele se vira, me deixando sozinha no quarto.

-Eu não entendo o que ele quer dizer com tudo isso... 

Minha vida estava mais fora dos trilhos do que sempre esteve. Dúvidas começaram a surgir, e sonhos me confundiam, coisas que eu já jamais vivenciei, pessoas que nunca conheci, tantas coisas...

-Mirai, nosso futuro está entrelaçado. Você nasceu para me salvar, e a minha salvação, é a salvação de todos os humanos!

Vozes estranhas ressoam na minha cabeça juntamente com imagens estranhas.

-Em um futuro próximo, vamos voltar aqui nesse jardim, essa é a nossa promessa. 

Eram como flashes de vários momentos diferentes.

-Monstro! Matem essa coisa, ela é a culpada de todos os nossos problemas! 

-A morte é pouco para essa coisa, por sua culpa o mundo está em caos!

Eu me debati tentando parar isso.

-Eu te disse, você nunca pode se livrar de mim! Você pode entregar a sua alma para aquele demônio quantas vezes quiser, no momento em que o relógio bater marcando meia noite, tudo se reinicia. O tempo está ao meu favor, Mirai.

Eu acordo completamente suada, sinto uma sensação horrível que não sei explicar, me faz continuar inquieta.

-Ssgn... Ssgn... Ssgn..... -Com a respiração pesada, sinto como se meu coração estivesse a ponto de sair pela boca.

Vejo um vulto rapidamente passar, fazendo meu medo aumentar.

-Eu... Eu odeio... Odeio esse mundo... Snif, snif... 

Por mais que eu não entendesse, eu sentia um grande ódio, não sabia do que, e nem qual o motivo. 

-Levanta, AGORA! -Josephina grita, enquanto Estella joga um balde de água em mim.

Eu olho para elas com uma fúria evidente, enquanto elas riem de mim.

-Oh, que olhar é esse? Acha que assusta alguém? Desde quando ficou tão atrevida assim? -Josephina puxa meu cabelo.

Eu ranjo os dentes, tentando segurar minha língua.

-Isso mesmo, você fica bem assim, já tem cara de perdedora, hehe. -Estella debocha.

(Eu só queria que elas desaparecessem! Eu odeio, odeio, odeio, odeio tudo. Essa família, essa casa, a minha vida, TODOS!)

Sinto algo explodir dentro de mim, e ao mesmo tempo que isso acontece, o espelho do meu quarto se quebra, acertando um dos cacos no rosto de Estella. 

-Aaaaargh!! Mãe, me ajuda! -Estella grita, colocando a mão onde está o corte.

Vendo o sofrimento dela, de alguma forma sinto um certo prazer em presenciar essa situação.

-Oof, hehe... -Eu dou uma baixa risada.

-Sua bruxa! Foi você! Não pense que ficará em pune! -Josephina me empurra, fazendo com que eu caia em cima dos cacos.

Minha mão acaba cortando, e ao olhar o sangue, minha cabeça começa a girar, e minha visão muda para algo diferente.

Ao meu redor, vejo um caos total. Sangue e mais sangue por toda parte, milhares de corpos despedaçados no chão, a imagem horrível me faz ter náuseas. 

-Alister, para! Ugh, eu te imploro, não mate mais pessoas! -As palavras saiam da minha boca sem o meu controle.

O que estava na minha frente não parecia ter sequer um pingo de remorso de suas ações. Com o corpo coberto de sangue, ele ignorava as minhas palavras, continuando a rasgar mais pessoas com as suas garras. Os gritos que chegavam aos meus ouvidos, faziam meu corpo arrepiar.

-Alister, me escuta! Não vale a pena... -Meu corpo se move sozinho em direção a ele. 

(Não, não, não... Eu não quero ir até lá.)

-ESTÁ DIZENDO QUE EU DEVERIA PERDOAR AS PESSOAS QUE TE LEVARAM A MORTE? VOCÊ NÃO É MAIS REAL, VOCÊ MORREU OUTRA VEZ, E EU NÃO PUDE FAZER NADA. -Ele grita sem se virar. 

-Alister, esse é o meu destino, você não pode mudá-lo tirando a vida de pessoas inocentes! -Eu continuo chegando mais perto dele.

-Você não entende... Eles te mataram diversas vezes, e eu tive que suportar isso, eu não fiz nada porque foi um pedido seu, mas eu não suporto mais! -Sua voz fica trêmula.

-Olha para mim, por favor! -Antes que eu me desse conta, estava perto o suficiente para toca-lo.

Por segundos que quase pareceram eternos, ele permaneceu de costas para mim. Eu estendi meu braço, tentando alcançá-lo, mas a minha mão o atravessou.

-Viu? Eu te disse, você morreu. Eu sou um demônio que já foi humano, e você um ser cujo eu não posso tocar, nem mesmo em morte. Eu deveria só aceitar que sua alma vai desaparecer à meia noite? Eu vi isso acontecer tantas vezes, por mais que eu mude nosso presente, o futuro é sempre o mesmo. -Ele continua de costas para mim.

Lágrimas começam a descer pelo meu rosto.

Ele finalmente se vira. 

Seu rosto, suas asas, todo o seu corpo estava coberto de sangue. As roupas que ele usava pareciam trapos, um rosto belo disfarçado pela dor e sofrimento, e seus olhos vermelhos entregaram todos os sentimentos que ele tentou esconder. 

-Mirai... Um dia, eu vou conseguir te salvar, isso é uma promessa! -Lágrimas começam a descer pelo seu rosto, e mesmo sabendo que não há como sentir o calor do toque dele, eu o abraço.

O sino toca meia-noite, mostrando-nos que o nosso tempo juntos acabou, e que um novo tempo se iniciaria. Fadados ao sofrimento de reviver a mesma situação, nos olhamos por um último segundo, até minha alma desaparecer completamente.

bléimmmm, bléimmmm, bléimmmm.

[...]

Sons de sino continuam na minha cabeça, estranhamente, isso me trás uma nostalgia esquisita. 

Ao abrir meus olhos, percebo a situação, os cacos de vidro no chão, sangue espalhado por todos os lugares, a Estella gritando desesperadamente. Tudo que eu vi pareceu durar mais tempo, mas foram apenas alguns minutos.

-Use seus poderes de cura nela agora! -Josephina deixa a filha e me arrasta até Estella, sem se importar com os cacos espalhados me ferindo.

-Eu não tenho isso! -Eu nego.

-Mentirosa, eu acabei de ver sua mão se curar do corte! Sua egoísta de merda, gastei meu tempo cuidando de você, para se tornar uma pessoa ingrata que causa mal a minha filha. 

-E se eu não quiser curar ela? -Eu provoco, mesmo sabendo que não posso realmente curar ninguém além de mim mesma.

-Sua Bruxa asquerosa! 

-Já que eu sou uma bruxa, não está com medo de que eu também possa cortar esse seu rostinho cheio de rugas? -Eu debocho de Josephina.

-Maldita! Você vai se arrepender de tudo que disse! 

-Haha, a madame perdeu a compostura, huh? 

Com isso, ela pega um dos pedaços do vidro, sem se importar de ferir a própria mão e me ataca.

Eu desvio rapidamente, mas ela avança em mim novamente, me deixando sem saída.

De repente, um nome surge na minha cabeça. 

-ALISTER! -Eu grito com toda força que posso.

Com os olhos fechados, espero até que ela me alcance, mas nada acontece. 

-Finalmente decidiu fazer o contrato comigo? -Ele sorri para mim.

Abro meus olhos, vejo Josephina e Estella desmaiadas. Uma estranha sensação de alívio me atinge, me fazendo cair no chão. 

-Não foi bem isso... Eu não sei por que chamei esse nome, e nem sabia que era você...

-Tudo bem, mesmo se você não me chamasse, ainda viria aqui.

-Por que? 

-Eu já te disse o que quero... Preciso de você para os meus planos. 

-Não me parece ser isso realmente.

-Mas é... E aliás, o efeito vai durar apenas cinco minutos, então escolha rápido se fará o contrato comigo ou não!

-Você não disse que precisa de mim? Acredito que não vá deixar com que eu morra. 

-Você não é o único meio, acredite. Só é mais fácil, então se quiser viver, escolha rapidamente.

Algo me dizia que ele estava mentindo, mas me parecia a melhor opção. 

-Tudo bem... Eu aceito!

Ele sorri, pegando um pedaço do espelho no chão, fazendo um pequeno corte no meu dedo. Ele lambe o sangue, me fazendo corar.

-Isso é mesmo necessário? 

-Você sempre fala isso todas as vezes... -Ele solta um pequeno sorriso.

-O que? 

-Esqueça, está feito! 

Eu não senti dor, nem mesmo nenhuma diferença, tudo estava parecendo normal.

-O que é essa coisa? -Josephina e Estella olham aterrorizadas para as asas e o chifre de Alister.

A expressão delas me causa um ataque de risos.

-Haha, como isso é hilário! Hehe... Ver vocês assim é tão... Divertido! -A satisfação que sinto me surpreende.

Eu me viro para ver Alister, que arregala os olhos parecendo não entender minha reação.

-Você! -Josephina aponta para mim.

-Eu gostaria de apreciar mais esse momento icônico, mas temo que já deu a minha hora. Uma pena, estava tão bom... Vamos, Alister. -Eu passo os braços em volta do pescoço do Alister, olhando diretamente nos seus olhos.

Posso perceber que de algum modo, ele está confuso. Ele me pega no colo, e eu olho mais uma vez para Josephina e Estella.

Com um último sorriso, me vejo sendo levada para um lugar diferente.

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