capítulo 5

Marina chega em seu quarto, prepara um lampião e fica esperando escurecer, realmente a noite estava clara o céu todo estrelado, ela calça a sua bota,sobe no parapeito pra pular a janela, nao era muito alta, verificou se tinha alguém que pudesse vê-la, e saiu de mansinho pra não fazer barulho, a casa estava silenciosa, como a janela do quarto de sua mãe e de seu pai dava para outro lado, não corria risco de ser vista, caminha feliz, a lua estava clara , deixou o lampião apagado pra não correr o risco de verem a luz de longe, pega uma trilha e segue, já escuta o barulho da água passando entre as pedras, seu coração acelera, aperta o passo pra chegar mais rápido, de vez em quando olha para trás pra ver se está sendo seguida. Quando se aproxima vê um vulto sentado debaixo de uma árvore, ela da um sorriso e corre para encontrá-lo.

Marina- Que bom que você conseguiu vir, estou com muitas saudades, senti tanto sua falta.

Eugênio- Tamem tô com muita sardade docê, o sinhozinho num qué dexá oce i na senzala mais.

Marina - Não, me prendeu dentro de casa, só posso sair com a minha mãe, até o jardim, agora , mais do que nunca tenho que fugir daqui.

Eugênio- Vamo senta ali naquela pedra - Mas é pirigoso por demais.

Marina - Se ficar ele logo vai me arrumar um marido, já colocou a minha mãe pra me ensinar a ser uma boa esposa, tive que fingir que estou interessada.

Eugênio - Mais oce ta tão nova pra ele te casa.

Marina - Não tenho medo de fugir, hoje minha mãe me disse que tem uma fazenda aqui na região que os donos são pessoas boas, não é igual meu pai.

Eugênio- O sinhozinho é muitio duro cunoís.

Marina - Você tem coragem de fugir comigo de verdade?

Eugênio- Tenho, mais oce pricisa sabe que é difirci.

Marina - Faço qualquer coisa, pra me livrar dessa vida, e pra ficar com você.

Eugênio- Intao nois tem que pranejar diritinho, tem um escravo que chego tem poco tempo, ele é nego fujão, ouvi o feito fala pra ele não fazê gracinha que aqui nego fujão vai pro tronco, vo priguntá pra que banda nois tem que ir pra acha o tar desse quilombo.

Marina- Será que vão me aceitar lá? Por causa do meu pai.

Eugenio- Nois num fala que tamo vindo dessa fazenda, ninguém conhece nois, daqui num tem ninguém que fugiu .

Marina - Então estamos combinados, vamos preparar e marcar o dia pra fugimos, estava pensando em levar a Leni também, ela tem medo de fazerem com ela como fizeram com a sua mãe.

Eugênio- Mais será que ela vai? Num sei não, ela é muito medrosa, pode atrasar nois.

Marina- Agente chama e explica as dificuldades se ela quizer não vamos deixá-la para trás .

Eugênio- Vamo não , oce tá certa,

Marina aponta o dedo e mostra - Você viu, tem vagalumes aqui, olha só estão piscando, é tão bonito!!

Eugênio - Pera aí vou pegá um procê,

ele se levanta e fica pulando fazendo Marina dar risadas, até que ele consegue, coloca as mãos em concha e prende um vagalume que ilumina de azul as suas maos.

Marina - Nossa nunca tinha visto um de tão perto, é lindo, queria ser um vagalume, ser livre e ter muita luz assim!!

Eugênio- Mais ocê é linda tamém, iguarzinho esse vagalume.

Marina- Vamos soltar, ninguém merece ficar preso, e olha só como eles juntos são mais bonitos!!

Os dois ficam observando a noite, Eugênio segura a mão de Marina e ficam lá em silêncio, querendo que o tempo congelasse para não se separarem.Depois de um tempo Marina se levanta e diz- Temos que voltar, já está ficando tarde e você precisa dormir um pouco, agora mesmo é hora de começar o trabalho. Vamos combinar de encontrar aqui segunda feira, vc vai descobrindo qual o caminho que agente vai seguir arrumarei umas comidas pra gente levar.

Eugênio- tá , num pudemo carregar peso, pra mode num

atrasa na caminhada.

Marina- vou separar uns pães com carne seca uma trouxinha.

Eugênio-Intão inté segunda, oce vai primero, vo espera um pouco adispois vorto pra senzala.

Marina dá um beijo no rosto de Eugênio e sai correndo , logo depois o rapaz volta pa senzala.

Ela corre , antes de subir na janela retira a sua bota pra não sujar a parede de barro, coloca no parapeito da janela e pula pra dentro do quarto, feliz da vida se prepara para deitar, seu coração fica acelerado, não consegue dormir, fica planejando como conseguiria estocar pães em seu quarto sem levantar suspeitas, depois de muito pensar surge uma ideia, usaria uma fronha, pediria um lanche entre as refeições, mas com uma desculpa para ser servida em seu quarto, inventaria uma dor de cabeça, um mal estar, então poderia estocar dentro do baú.

Não vejo a hora de sumir daqui, pena que a mamãe vai sofrer muito, mas não tem outro jeito, não quero ser infeliz como ela, Deus me livre de ficar como ela, com esses pensamentos Marina adormece, logo ela se levanta e percebe alguém em pé ao lado de sua cama, um pouco confusa se levanta mas percebe seu corpo deitado e dormindo

Marina - Mas o que está acontecendo? Estou sonhando?

A jovem a aguardava sorri e lhe explica: - Minha querida durante o descanso físico, a sua alma fica acordada, e então podemos conversar um pouquinho.

Marina - E quem é você?

Sou Adeli

Marina - Não me lembro de conhecê -la, também conheço tão poucas pessoas.

Adéli- Nos conhecemos há séculos atrás.

Marina- como assim?

Adéli - Já vivemos juntas, éramos irmãs, e agora estou te acompanhando nessa reencarnação pra te orientar.

Marina- o que é reencarnação?

Adéli - É uma nova oportunidade de renascimento do espírito para vencer as suas dificuldades, para evoluir

Marina- E porque você me acompanha, é meu anjo da guarda?

Adéli sorri é faz um carinho em seu rosto - Não sou anjo, mas uma irmã que te quer muito bem, então estou ao seu lado pra te aconselhar.

Marina - Só posso te ver enquanto estou dormindo?

Adéli- sim, posso também te dar conselhos, mas você vai aceitar se quiser, e é por isso que estou aqui, vamos fazer um passeio?

Marina - Posso?

Adéli- Sim podemos, feche os olhos, segura em minha mão.

Marina faz o que Adéli propõe e logo elas estão em uma bela praça.

Marina - onde estamos?

Adéli - em uma praça, gostávamos muito de vir aqui no passado.

Marina- Muito bonito mesmo!

Adéli - Minha querida, vamos conversar sobre o que está planejando fazer, fugindo de casa.

Marina- É minha única saída, você não sabe que o meu pai me impede até de andar pela Fazenda, e ele quer me casar, não, nao quero uma vida igual a da Mamãe.

Adéli - Vocé estará envolvendo outras pessoas que podem sofrer com essa atitude, espere, confia, tudo isso pode mudar.

Marina - Você não conhece o coronel João Barroso, é ele quem manda e não me tolera, não me lembro de nenhum gesto de carinho para comigo e minha mãe.

Adéli- você minha querida sempre imediatista, quer que seja agora e pronto, tenha um pouco de paciência, quando estamos agindo sob a revolta não percebemos o que realmente importa, desista dessa idéia, essa rebeldia não ajudará em nada, te compromete mais, porque o que fizer agora refletirá no seu futuro, como estas colhendo o que já plantou Marina.

Marina- você pode me ajudar a sair de lá com Eugênio, vamos para um quilombo.

Adéli- Ir para o quilombo não está no programa de reencarnatorio de vocês se não mudarem de ideia vão sofrer muito mais.

Marina- se ficar é que vou sofrer, e amo o Eugênio, não suporto ficar longe dele e sei que ele também me ama.

Adéli - Sei do amor entre vocês dois, só que pra viver esse amor não pode machucar outras pessoas, porque se transforma em amor egoísta, como sempre fizeram no passado, aproveita a oportunidade pra mudar assim no futuro vocês poderão viver esse amor.

Marina - Só quero ser feliz

Adéli - É quem não quer? Só não podemos fazer outras pessoas sofrerem pra vivermos a nossa felicidade , agora está na hora de voltar , vamos.

Marina - Não posso ficar aqui mais um pouquinho?

Adéli- Nao, você precisa voltar.

Marina - vou me lembrar do que aconteceu?

Adéli - vai pensar que sonhou, e ficará gravado em suas lembranças, agora feche os olhos, e não se esquece , nao está sozinha.

Marina sente um torpor e cai em um sono profundo.

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