Samantha

Fiquei muito preocupada depois que acertei a cabeça do Dominic com a garrafa vazia de vinho. Principalmente por ele desmaiar depois e demorar para despertar, entretanto fiquei mais tranquila ao descobrir que quem despertou era o Dom e não seu outro eu, Nic.

Algo estranho aconteceu, Dom, como Nic o chama estava tão mergulhado em algo que me ofereceu o quarto ao lado do seu pela primeira vez para passar o resto da tarde e dormir essa noite. Até mesmo o meu jantar ele deixou na porta do quarto em cima da mesinha que fica de frente para o mesmo.

O dia amanheceu e está cada vez mais perto o dia de me livrar desse cárcere dourado. Mas me sinto esquisita com esse pensamento, como se me deixasse irritada pensar em ficar longe.

— Me desculpa por ontem, Sam. — me assusto ao passar pela sala para ir até a cozinha e encontrar Dom sentado no sofá — Já preparei nosso café da manhã, vamos?

Ele se levanta e anda na direção da pequena sala de refeições. O silêncio me incomoda pela primeira vez e não resisto em perguntar:

— Desde quando você tem essa outra personalidade, o Nic? — pensei que ele não iria responder, mas com seu olhar fixo no seu pão enquanto passa a faca de um lado para o outro responde:

— Desde a adolescência! Ele não é tão ruim, só não está tendo paciência já que você é a única mulher que não nos faz sentir dor, agonia e repulsa. Um mistério a ser desvendado.

— Creio que seja realmente por isso que está me mantendo aqui, suponho.

— Fui sincero desde o início, eu não minto, Sam.

Meus olhos vão para os braços dele, para suas tatuagens e faço mais uma pergunta:

— Por que cobriu suas cicatrizes com tatuagens e como as conseguiu? — nesse momento o vejo tenso, seu maxilar endurece e seus braços tremem.

Dominic não responde, ele apenas se levanta e sai da mesa me deixando sozinha na sala. Acho que toquei em algo que não deveria, não foi minha intenção fazer isso. Só queria saber mais sobre ele e conversar.

Termino meu café e arrumo a mesa, limpando e tirando tudo. Me aproximo do quarto dele e abro a porta devagar apenas para ser recebida pelo som alto tocando uma música de enlouquecer os ouvidos.

O quarto está escuro, mas o pouco de luz que entra com a porta aberta consigo vê-lo socando um saco daquele que encontramos em academia de boxe. Mas aquilo não estava lá antes.

Fecho a porta antes que ele note que eu estou espiando. Sigo para o quarto onde passei a noite e não dormi bem, o motivo? Não sei, pretendo continuar sem saber.

Dominic não se aproximou mais de mim depois do ataque do Nic. Fizemos refeições juntos, eu pegava ele me olhando quando eu não estava olhando e foi isso. No sétimo dia o apartamento estava sem sua presença, fui até a porta e a mesma estava aberta.

— Então vai ser assim? Eu vou embora e você não terá a capacidade de ao menos se despedir de mim?

Meu telefone faz um bip e ao olhar para a tela vejo que é o aplicativo do meu banco. Dominic fez uma transferência de oitocentos mil dólares sendo que era setecentos. Olho à minha volta e falo:

— Então vai ser mesmo assim?

Sem resposta volto para o quarto e pego minhas coisas, vou até o banheiro e visto o que eu estava usando na noite em que ele me trouxe para cá, pego minha bolsa e meu celular e volto para a porta de saída que deixei encostada olho uma última vez para dentro do apartamento e saio. Sem olhar para trás volto para a minha vida antes de Dominic Torrance.

****************************************************

Dominic

Eu não consegui prosseguir com o que estava fazendo com a Samantha. Foi estranho para mim parar de repente já que antes eu estava focado em entender meu corpo e não no que ela sentia, mas isso começou a me incomodar e eu passei a me importar com o que ela sente.

Agora estou aqui no corredor olhando para a porta do meu apartamento esperando que ela acorde e perceba que eu cumpri com o contrato e estou deixando ela ir. Mas ela pára na porta e olha para os dois lados do corredor fazendo eu me esconder e olhar sorrateiramente para ela.

— Então vai ser assim? Eu vou embora e você não terá a capacidade de ao menos se despedir de mim? — ela pergunta olhando para os lados.

Eu não consigo responder, pego meu celular e faço a transferência para ela. Nesse momento seu olhar vai para a tela do seu telefone e parece estar chateada.

— Então vai ser assim mesmo? — ela pergunta com a voz carregada de decepção e eu sinto meu peito apertar até que Nic dá o ar da graça.

— “Perfeito, seu otário. A morena vai embora e nós nem tiramos o atraso com ela. Você é um retardado mesmo, tinha tudo nas mãos e não aproveitou.”

— Vai pro inferno. — falo entredentes.

— “Já estamos nele, imbecil. Vivemos nele há muitos anos, esqueceu? O calor nem nos queima mais.” — ele dá uma alta gargalhada na minha cabeça.

A única coisa que tira meu foco do Nic é ver a Sam ir embora pisando fundo e sem olhar pra trás. Foi difícil de ver, me peguei indo na direção dela, mas parando de frente para o meu apartamento. Não dou mais um passo depois disso. E é quando escuto Nic uma última vez parecendo um animal ferido:

— “Vou te deixar sozinho, quero ver se vai conseguir se virar sem mim. Você vai implorar para que eu volte, Dom.”

E tudo vira um silêncio depois, meus olhos não vêem mais a silhueta da Sam, ela se foi e eu fiquei aqui sozinho. Volto para dentro do meu apartamento e fica difícil ver o lugar sem ela.

Droga, eu não devia tê-la segurado por tantos dias. Será que me apeguei a ter alguém aqui comigo? Espero que não, eu amo ficar sozinho… Repito isso algumas vezes até perder o sentido e continuo sentindo o mesmo. Chega o dia da minha consulta e eu me sento no divã em silêncio.

— Senhor Torrance, está me ouvindo? — olho para frente e o doutor balança as mãos para mim tentando chamar minha atenção — Nic?

— Nós brigamos! Ele não vai aparecer, também não sei quando volta e se volta. — respondo cruzando os braços e as pernas numa falha tentativa de me proteger. Me sinto nu sem o Nic, vulnerável.

— Senhor Torrance, não acha que isso seja bom?

— Bom? Como isso pode ser bom?

— Sim, bom! Se ele não voltar significa que talvez esteja curado e poderá voltar a ser uma pessoa normal e terá alta.

— Pessoa normal? Eu sou uma pessoa normal, sempre fui. Não estou normal agora, me sinto vazio e vulnerável, isso é horrível.

Bato na mesinha que está na minha frente e o doutor que estava inclinado na minha direção chega para trás.

— Vou continuar com a maldita medicação porque é o que me controla, mas não venha dizer para mim que eu estou bem sem o Nic porque essa não é a verdade. Vamos encerrar por aqui, doutor.

Me levanto e saio do consultório, tento puxar o ar e não consigo. Preciso me manter focado, vou para o escritório trabalhar.

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Comments

Josigg Gomes Galdino

Josigg Gomes Galdino

Dom está com medo,pelo jeito, ele gosta do Nic,se sente bem, forte e normal,e sem o Nic, ele se sente fraco, vulnerável, perdido, já que estava acostumado com essa sua outra personalidade, e sem a Samantha, ele também está se sentindo perdido e sozinho,O Dom é gentil, solitário, tem medo,e é a pessoa que devia ser,antes de ter sido abusado e torturado,por um ser insignificante e cruel, só com algumas diferenças, ele seria forte e talvez mulherengo, ele seria como o Nic, sedutor, festeiro e mulherengo

2025-04-06

5

Dona Cida Oliveira

Dona Cida Oliveira

Difícil, doenças mentais são muito difíceis,e nescessário muito muito muito carinho, dedicação de familiares e profissionais corretos empenhados na cura e principalmente a pessoa querer ,o AMOR CURA ....MAS...... CAMINHEMOS E VER AONDE VAI.....

2025-03-23

7

Onilda Furlan

Onilda Furlan

Nic é o defensor de Don ele não permite que coisas ruim aconteçam com ele desde adolescentes.

2025-04-14

0

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