Sob Luzes de Seul
O som das risadas infantis ecoava pelo pátio da creche, misturando-se ao barulho das folhas ao vento. Crianças corriam de um lado para o outro, ocupadas demais com seus próprios mundos para notar a chegada de uma nova aluna.
Sn segurava firmemente a mão do avô enquanto observava o ambiente ao seu redor. Seus olhos curiosos absorviam cada detalhe: os balanços que rangiam suavemente, o escorregador amarelo e vermelho que parecia enorme para sua pequena estatura, e as crianças que brincavam despreocupadas. Algumas estavam em grupos, outras sozinhas, mas todas pareciam já ter encontrado seu lugar ali.
— Você vai se sair bem, minha menina — o avô sussurrou, apertando levemente sua mão. — Se precisar de algo, peça ajuda à professora, certo?
Sn assentiu, mas não respondeu. Seu coração acelerava com o medo do desconhecido. Ela não queria ficar ali sozinha.
— Vamos, querida. Vamos conhecer seus coleguinhas.
Com passos hesitantes, Sn seguiu a professora que a guiava até um pequeno grupo de crianças. Algumas olhavam para ela com curiosidade, outras pareciam desinteressadas.
— Crianças, esta é Sn. Ela será sua nova amiga. Sejam gentis, certo?
Um breve silêncio se instalou, até que uma menina de tranças se aproximou com um sorriso.
— Oi! Quer brincar de casinha comigo?
Sn hesitou. Não conhecia aquelas crianças, não sabia como agir. Então, apenas balançou a cabeça, sentindo-se perdida.
Foi então que uma bola vermelha rolou até seus pés. Instintivamente, abaixou-se para pegá-la e, ao levantar a cabeça, seus olhos encontraram os de um menino que a observava de longe. Ele parecia um pouco mais velho que ela, com cabelos escuros e um olhar intenso demais para alguém tão jovem.
Ele se aproximou, mas não sorriu.
— Você é nova?
Sn assentiu, segurando a bola com força.
— Eu sou Kang Jiho — ele disse, cruzando os braços. — Me dá a bola.
Ela hesitou por um momento. Algo no tom dele parecia mais uma ordem do que um pedido. Mas, sem querer arrumar problemas no primeiro dia, estendeu a bola.
Jiho pegou-a, mas não foi embora. Continuou olhando para ela, como se analisasse cada detalhe.
— Você não gosta de brincar?
Sn apertou os lábios. Nunca tinha sido muito boa em se enturmar.
— Não sei…
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Você não fala muito, né?
Ela balançou a cabeça.
— Hm. Isso é bom. Crianças falam demais.
Por alguma razão, Sn sentiu que aquele menino era diferente dos outros. Ele não tentava ser amigável à força, não fazia perguntas demais. Apenas observava, como se estivesse decidindo se valia a pena continuar ali.
— Você pode sentar comigo na hora do lanche — Jiho disse por fim, antes de se virar e sair correndo para brincar novamente.
Sn ficou ali, segurando as alças do seu macacão, sentindo-se estranhamente aliviada. Pela primeira vez naquele dia, não se sentiu tão sozinha.
Os dias passaram, e aos poucos, Sn começou a se acostumar com a rotina da creche. Mas havia algo que se tornava constante em seu dia a dia: Kang Jiho.
Ele sempre estava por perto, mesmo sem dizer muito. Durante as brincadeiras, ele sempre a escolhia para seu time, e se alguém tentava pegá-la para brincar de outra coisa, Jiho apenas dizia:
— Ela está comigo.
E ninguém ousava contestar.
No começo, Sn não entendia por que ele fazia isso. Jiho não era necessariamente gentil, nem falava muito, mas ele sempre estava lá. Como uma presença silenciosa e constante.
Até que, certo dia, um grupo de meninos mais velhos decidiu implicar com ela.
— Você é tão calada, parece uma boneca estragada! — zombou um deles.
Sn abaixou a cabeça, segurando a barra da blusa.
— Ela nem sabe brincar direito!
Antes que Sn pudesse reagir, uma sombra surgiu ao seu lado.
— Vocês têm algum problema?
A voz de Jiho era fria, quase desafiadora.
Os meninos recuaram ao ver o olhar sério dele. Jiho podia ser uma criança, mas sua postura já impunha respeito.
— Só estávamos brincando — um deles murmurou.
— Então vão brincar longe — Jiho respondeu, sem desviar o olhar.
Os garotos hesitaram, mas acabaram se afastando.
Sn olhou para Jiho, surpresa.
— Você não precisava…
— Precisei sim — ele interrompeu, colocando as mãos nos bolsos. — Se eles incomodarem de novo, me fala.
Ela assentiu, sem saber como agradecer.
A partir daquele dia, Kang Jiho se tornou mais do que apenas um colega de creche. Ele se tornou um protetor.
E, sem saber, naquela infância distante, um laço silencioso começou a se formar.
Um laço que, anos depois, seria reatado da forma mais inesperada.
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Atualizado até capítulo 42
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