“Gi”
Ele sabe meu segredo ou falou isso só para Júlio parar de me infernizar a vida.
— Você fala demais, detetive, deveria me respeitar como seu superior.
- Minha superior é a delegada Gi, é para ela que devo respeito. Vamos, querida, temos mais o que fazer.
— Vamos, Guilherme.
“Gi”
Subimos no carro e eu não consigo parar de pensar, preciso saber se realmente ele conhece meu segredo ou se foi só para Júlio parar de me menosprezar, parei o carro em uma praça e desci. Guilherme desceu atrás de mim e me sentei em um banco debaixo de uma árvore centenária, fechei os olhos esperando meu coração acalmar. Senti a mão de Guilherme segurando a minha.
— Fala comigo, por favor.
Olhei naqueles olhos que me parecem tão confiáveis, mas meu coração tem muito medo.
— Você sabe meu segredo ou só falou para Júlio parar de me menosprezar?
— Sei seu segredo, e não estou nem um pouco incomodado por ele.
Eu tentei controlar, mas as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto, não sei explicar direito.
— Gi aquilo não foi culpa sua, ele era um velho devasso e acostumado a usar o poder que tinha para abusar das moças.
— Mas fui com ele, Guilherme, e dei a chance para ele fazer aquilo comigo.
Guilherme ergueu meu rosto, enxugou as lágrimas que teimam em escorrer, me abraçou e fiquei ali, me sentindo protegida, escutando o coração dele batendo calmo.
— Me perdoe do jeito que te tratei, eu estou lutando todo dia para melhorar e controlar a minha raiva.
— Não precisa pedir perdão, aquilo só serviu para me mostrar que há barreiras que não podem e não devem ser rompidas, agora estamos nos lugares certos.
— Gi quero ser muito mais do que sou hoje para você, vou te contar uma parte da minha vida, talvez assim você consiga me entender, não que isso justifique o que fiz com você.
— Guilherme, vamos embora, isso foi só um momento de fraqueza, já passou, você não precisa compartilhar comigo nada da sua vida.
Mas que mulher difícil, agora mesmo estava desabando em meu abraço, agora está em pé e pronta para me colocar no esquecimento, preciso que ela me escute, será que sei chorar como fazia na faculdade?
As meninas me achavam sensível porque chorava, vamos ver se funciona com a super delegada Gi.
“Gi”
Tenho que cortar essa conversa porque ele vai achar que estamos nos tornando mais que colegas de trabalho e isso não vai acontecer, foi só um momento de fraqueza, já passou.
Mas ele dobrou o corpo e tapou os olhos, acho que está chorando, coitado! o que aconteceu no passado deve ter deixado sequelas, vou ajudá-lo como me ajudou.
Vou escutá-lo como amiga do trabalho.
— Me conta o que te atormenta tanto.
— Desculpa, eu não queria que você me visse assim, mas as suas lembranças ativaram as minhas.
— Não quero que você interprete errado meu gesto, como sua superior, quero você bem para cumprir com seu dever e por isso, e só por isso, vou te escutar.
— Eu entendo, delegada.
Você deve ter lido minha ficha e viu que eu era do grupo que trabalhava disfarçado, para poder descobrir em que lugar estavam os líderes da favela e assim nossos ataques serem eficientes.
— Sim, eu li e estava escrito em vermelho “trauma no trabalho”.
— E mesmo assim você me aceitou, por quê?
— Porque não podia ter uma pessoa mais ferrada do que eu mentalmente falando e me considero um exemplo em meu serviço.
— Você não é ferrada, você consegue colocar seu trauma em uma caixa e fechá-lo e assim continua trabalhando.
— Quem dera fosse assim, eu faria um buraco bem fundo e enterraria essa caixa lá para que nunca mais me atormentasse, mas vamos parar de falar de mim.
— Tem razão, o que vou te contar ainda não consegui colocar em palavras, então tenha paciência.
***Lembrança.
— Sou Ederson Silva (italiano), venho da máfia e quero fazer parte da sua equipe.
Estou em frente ao espelho tentando me convencer de que sou um mafioso, com essa cara e esse nome vou morrer na primeira curva da favela.
Por que não arranjaram um nome tipo “Antônio Guerrera”, olha só, até eu, que sou novo nessa profissão, consegui um nome mais forte, mas nada pode ser fácil para o soldadinho, não é mesmo?
Tenho que provar todo dia que sou bom, eles vão ver, só vou pegar o líder dos criminosos, aí vão ter que acreditar em meu potencial.
Saí do meu apartamento já me despedindo porque não sei quando voltarei a ser Guilherme Mendonça, e fui em direção ao meu destino incerto.
— Guilherme, você está aqui?
— Oi, Gi desculpa, eu estava em uma lembrança. Me colocaram na favela como Ederson Silva (o italiano).
— Você? O italiano?
— Pois é, acho que fizeram deliberadamente para o novato falecer no primeiro dia.
— Mas, se você está aqui conversando comigo, não foi o que aconteceu.
— Subi a favela e no primeiro buteco vi meu alvo, sentado com mais uns caras, e vi também um motoqueiro vindo em direção a eles armado. Eu sabia o que ia acontecer, era minha chance, se conseguisse salvar o líder do grupo, entraria no grupo sem dificuldades.
— Não era perigoso, o cara da moto poderia perceber de você e atirar antes que você chegasse nele.
— Eu já estava morto, se não conseguisse fazer com que os caras da favela me aceitassem no grupo, deixei minha mochila no chão e pulei no motoqueiro, impedindo que ele atirasse no “alemão”.
— Deu, certo?
— Sim, deu, em pouco tempo era o braço direito dele, passava as informações para o grupo da polícia e assim começamos a desmantelar a facção criminosa.
— Quanto tempo você ficou no grupo?
— Cinco anos, conheci Rose no meu segundo ano de traficante, ela subia o morro para dar aulas para um grupo privilegiado de crianças.
— Quem é Rose?
— Minha esposa faleceu quando me descobriram.
— Você é viúvo? Não tem nada na sua ficha.
— O Ederson ficou viúvo, eu casei com ela mesmo sabendo dos riscos que ela ia correr, contei a verdade para ela e pedi que fugisse, mas não fez e conseguiu me convencer de que conseguiríamos sair bem de toda essa mentira.
— O que aconteceu?
— Nos casamos na favela e passamos a morar em uma casa que o alemão nos deu ao lado da casa dele.
Rose passou a dar aulas para todas as crianças que apareciam em nossa porta. Eu me sentia o homem mais sortudo do mundo, tinha um anjo como esposa, linda, delicada, o amor da minha vida.
Mas meus amigos policiais começaram a achar que eu estava passando para o lado do traficante e invadiram a favela sem me avisar, capturaram o alemão e mais alguns líderes.
— E onde estava a Rose?
— Na escola, com as crianças, eu fiquei desesperado, precisava tira-lá de lá, antes que descobrissem quem eu era de verdade.
— Quando cheguei na escola, só encontrei um bilhete.
“Vamos trocar sua belezinha aqui pelo alemão, vá até seus comparsas e mande soltar o alemão ou a Rose vai pagar sua dívida conosco”
— Como eles descobriram tão rápido?
— Não sei, mas descobriram e eu juro que tentei falar com meus superiores, mas não soltaram alemão e naquela noite recebi o vídeo deles matando minha mulher.
— Nossa, Guilherme, que situação difícil, eu nem sei como reagiria.
— Pois eu vou te dizer como reagi, eu me armei até os dentes e dei uma de Rambo, subi a favela e matei cada um que vi naquele vídeo, machucando minha mulher.
Quando conseguiram me parar, eu já tinha feito um estrago, atiraram em mim e me deixaram lá no chão para morrer, não sei como, mas as mulheres da favela me ajudaram.
Acordei dias depois em um casebre no meio da mata com uma das mães das crianças para quem Rose dava aulas.
— Elas te salvaram porque Rose auxiliou os filhos delas.
— Fiquei um mês recuperando minhas forças e quando apareci vivo, meus superiores me afastaram e me disseram ser melhor eu sumir porque, se descobrissem que eu estava vivo, poderia ter retaliação.
— Então, eu trouxe uma bomba relógio para dentro da minha delegacia?
— Acho difícil me acharem aqui, ou me identificarem, eles acham que morri, eu jurei não colocar a vida de ninguém em risco, eu não quero o sangue de outra mulher em minhas mãos.
— Mas mesmo assim está se envolvendo comigo?
— Eu tentei evitar, mas meu coração não quis me ouvir, e colocou você dentro dele.
— Preciso pensar em tudo o que ouvi hoje, mas prometo que vou te responder.
— Se você quiser que eu vá embora, eu vou.
— Vou pensar que atitude devemos tomar, agora vamos voltar para nosso serviço.
“Gi”
Entendo a parte agressiva dele, por muito tempo viveu no meio dos criminosos, já senti mudanças na personalidade, ele está mais calmo e mais ponderado. Mas e a parte em que todos corremos risco, será que se a facção descobri-lo aqui virá acabar o que começaram? Qual o risco para quem estiver perto dele? Nossa, vou ter que avaliar bem essa situação antes de tomar qualquer atitude. Não só por mim mas por todos os envolvidos.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Alisa TorYos
Hmmm....
Só eu achei isso estranho?
Mandassem o corpo e ele enterrasse, ok está morta.
Mas só mandaram um vídeo deles a matando, será que foi encenação e ela mentiu a vida de casados dele inteira, entregando ele para a facção?
2025-04-09
2
Simone Silva
parabéns autora pelo seu livro ❤️ por favor colocar mais capítulos quando você puder ❤️ ❤️ ❤️
2025-02-22
3
Elisabete
poxa tomara q ela poça ajudar ele e poça um ajudar o outro a superar os traumas e se dê ao amor
2025-02-23
2