Folgado

"Gi"

Já eram quase três da manhã quando resolvi ir para casa, meus amigos ainda tinham energia para ficar, mas eu já estava cansada.

— Pessoal, eu sei que vocês gostam de amanhecer na balada, mas para mim já deu.

Eles começaram a resmungar coisas como você estraga prazeres, ou vamos, você aguenta mais um pouco, mas eu já me decidi e vou embora. Guilherme se levantou para me acompanhar.

— Não precisa sair por minha causa, Guilherme? Não quero estragar a noite de ninguém.

— Eu já estou cansado disso também, estava esperando a deixa para poder ir embora.

Marreta se manifesta.

— Não esquece que você tem uma dívida conosco.

Guilherme me olhou e disse para Marreta.

— Não se preocupe, eu pago minhas dívidas.

"Gi"

Olhei para Marreta todo cheio de si por ganhar a aposta em cima de mim e resolvi dar uma lição nele.

Fui até Guilherme e pedi para ele se sentar.

— Porque você quer que eu me sente, eu vou sair com você.

— Por favor, sente-se.

Guilherme olhou para mim e se sentou. Olhei para Marreta, dei uma piscadinha, abaixei e dei um selinho em Guilherme.

Olhei para Marreta e dei um sorriso.

— Pague sua conta, você bebeu demais e Guilherme não tem culpa por eu ser uma pessoa difícil.

— Nossa, Gi, bem hoje, você resolveu beijar um cara?

Fui saindo, deixei um Guilherme sem ação porque não esperava que eu ia dar um beijo nele e um bando de homens irritados porque vão ter que pagar as próprias contas.

“Guilherme”

A noite não começou bem, mas depois que dancei com ela e contei que havia aceitado uma aposta para beijá-la, as coisas se acalmaram e até que o resto da noite foi agradável. Gi é boa de conversa, aceita as brincadeiras e brinca também, consegui ver que eles são amigos de longa data. 

O que será que ela faz na delegacia? Não pode ser policial, é muito baixinha. Pelo menos agora sei que não vou precisar vigiar a academia para encontrá-la, vou vê-la na delegacia todo dia, se for a garota do café, eu vou tomar café até não aguentar mais.

Levantou para ir embora, eu vou acompanhá-la até no carro, é minha obrigação de homem, nunca deixaria uma "coisinha" fofa dessa sozinha na rua.

Marreta me lembra da aposta, vejo Gi olhando para ele e volta para mim, me manda sentar, não entendi muito bem o que ela ia fazer, mas sentei.

Qual não foi minha surpresa quando ela abaixa e me dá um selinho? Senti um calor gostoso subir pelo meu corpo e se alojar no meio das minhas pernas, tive que ficar sentado um pouco para ninguém perceber minha ereção 

Me controlei, dei tchau para todos e saí correndo atrás da Gi, se ela acha que pode me dar um beijinho e sair sem se despedir de mim, está enganada.

Alcancei-a, já estava abrindo o carro. Não dei tempo para ela pensar, peguei pelo braço, puxei para mim e beijei com vontade.

“Gi”

Tomei um susto quando ele me puxou, quase dei um golpe nele. Me beijou e, por um momento, me deixei beijar. Ele é bom de pegada, mas é muito folgado. Dei só um selinho nele, já se sentiu no direito de me dar um beijão.

Dei um chute na canela dele, com meu sapato de bico fino, sei que vai ficar roxo. Guilherme me soltou e segurou a canela.

— Nossa, Gi, meu beijo é tão ruim assim?

— Não temos intimidade para você me beijar desse jeito, nem amigos somos.

— Você me deu um selinho, por que então?

— Porque não gosto de deixar Marreta ganhar apostas em cima de minha dificuldade com os homens e você me pareceu confiável o suficiente para entender que só fiz aquilo para você não ter que pagar a conta sozinho, mas me enganei.

“Guilherme”

Tenho que pensar rápido, não posso deixar que ela se afaste de novo.

— Me desculpa, eu não entendi, mas agora sei que você quer só minha amizade, prometo não atravessar mais a linha.

Fiquei olhando para Guilherme e sei que ele não é homem de ter amigas, mas vamos ver como as coisas vão andar.

— Sei que vou me arrepender disso, mas tudo bem. Amigos?

Guilherme apertou minha mão e, com um sorriso que quase me fez paralisar.

— Muitos amigos, Gi.

Abri meu carro e fui embora, nunca entendi o termo borboletas no estômago que as meninas dizem sentir quando encontram um homem que lhes interessa.

Mas acho que é o que estou sentindo. Guilherme mexeu comigo como nenhum outro conseguiu, mas sei que quando ele descobrir quem sou, vai acabar o interesse dele por mim, só vai ficar a amizade como toda vez que os homens se assustam e fogem.

“Guilherme”

Só vou ser apresentado na delegacia depois de amanhã, mas estou quase para ir fazer uma visita sem compromisso, talvez para tomar um café, quem sabe? Dar um oi para os amigos sempre é bom.

“Gi”

Cheguei na delegacia e já estou sabendo que chegou uma denúncia de abuso de menores, já cheguei querendo saber quem está investigando e onde está o menor em questão, se já chamaram a psicóloga para conversar com a criança.

Minha amiga Melissa é perfeita em seu serviço, somos amigas, mas aqui somos delegada e investigadora, não permito que misturem as coisas, aqui sou a líder e me devem respeito.

 Fora do ambiente de trabalho, aceito brincadeiras, mas aqui não, quem não entende isso, faço ser transferido, não aceito insubordinação e nem intimidade, sou a primeira e a última palavra.

Desde que cumpram suas obrigações, eu defendo minha equipe de qualquer um, aqui somos um só.

— Delegada, quem está à frente da investigação é o Mauro, a menina tem 13 anos e o abusador é o avô paterno, que está detido para averiguação.

— E a menina está onde? E com quem?

— A menina foi levada para fazer corpo de delito e a mãe está com ela, já chamamos a psicóloga, mas ainda não chegou.

— Liga lá e fala para mandar outra se a Regina não puder vir.

— Certo, vou ligar.

— Melissa fala que, se a psicóloga não estiver aqui, quando a criança chegar, eu vou resolver isso pessoalmente.

— Vou falar, delegada.

— Temos alguém disponível para tomar o depoimento do avô?

— Não, estão todos ocupados.

— Quando começa o investigador que vem transferido? 

— Amanhã.

— Vou olhar se tem telefone para recados na ficha dele, se tiver, ele vai começar hoje.

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