Quando Alessa deixou a mansão de seu pai, ela sabia com total de cem por cento de certeza que não precisaria usar a adaga que colocara no coldre em suas coxas, por baixo da saia de seu vestido.
Ela tinha certeza que nenhum louco — ou louca — tentaria algo contra ela, Alessa Darnell.
Mas agora, enquanto pressionava de leve o pescoço do homem à sua frente, sua certeza caía por terra. Claro, ele não tentara nada, mas a seguia como uma sombra, e a aura vinda dele, aquela energia que pulsava escuridão, aço, névoa e hortelã, a deixou grogue. Bêbada. Quando percebeu o que estava fazendo, a adaga já estava na pele dele, ameaçando cortar o pescoço que — Deuses! — era musculoso de um jeito absurdamente sensual.
“No que estou pensando?”
Alessa sentiu a pele de suas bochechas queimarem, e apertou a adaga em resposta.
— Por que estava me seguindo? — perguntou ela, a voz baixa e feroz.
Ela sentiu o homem se remexer, o peito subindo e descendo de uma forma rápida, quase como se ele estivesse surpreso, enfeitiçado, deslumbrado. Talvez os três ao mesmo tempo.
— Não fiz por mal — respondeu ele, a voz rouca enviando arrepios para cada pedaço da pele dela. — Só queria conversar com você, raio de lua. Estava lhe seguindo para tal.
Ela conhecia aquela voz. O som doce e rouco. Liam. Piscou, surpresa, pois não lhe passara despercebido o apelido que ele usou.
Raio de lua. O mesmo que ele usara em seu leito de morte. Aquele apelido que ela não ouvira de ninguém antes, mas que trazia uma sensação tão boa, tão diferente, que a fazia querer ouvir sempre. De preferência, que fosse dito só por ele.
Alessa recuou um passo, um pouco consternada com os próprios pensamentos. Liam aproveitou o momento para se virar um pouco para ela, um sorriso divertido brilhando em sua face perfeita.
Alessa teve que conter um suspiro. A luz da luz iluminou o rosto dele, os cabelos loiros penteados de lado, os olhos verdes que pareciam ler sua alma. Os trajes negros com detalhes prateados abraçavam seu corpo musculoso, emoldurando-o como se ele fosse uma escultura de um deus. Qual deles? O da beleza, com certeza.
Os lábios perfeitos se ergueram mais ao perceber como ela o olhava, como ela o devorava. E os olhos de Alessa seguiram o movimento, permanecendo naquele lugar por longos segundos, por tempo demais.
Seriam eles doces como a voz? Ou teriam sabor de hortelã como o cheiro dele?
Ela engoliu em seco, e virou o rosto para o outro lado. Não era hora de pensar nisso. Não mesmo.
— Deveria ter me falado, então — ela resmungou, dando mais um passo para trás e retirando a adaga do pescoço dele de vez.
Liam não disse nada, só se virou completamente para ela e a observou guardar a arma no coldre em suas coxas, os olhos verdes queimando com algo que fazia Alessa perder o fôlego.
Ela observou Liam. Ele era alto, muito alto. Tinha provavelmente um metro e noventa de altura, pois os braços dela ardiam só por ter ficado poucos segundos erguidos para contê-lo. Ela tinha que levantar bem o rosto para encará-lo de frente, aquele ar selvagem e sensual rodando entre eles de um jeito feroz. Tão feroz.
— Não me olhe assim, raio de lua. Você não sabe o que eu sou capaz de fazer — advertiu ele, a voz baixa e mais rouca.
Ela ergueu uma sobrancelha, em desafio.
— Você esqueceu que eu estou armada? Que posso perfurar seu estômago agora, sem me preocupar com as consequências?
— Você não faria isso — disse, convicto.
Alessa quase acreditou.
— Por que não? — Ela deu um passo para ficar mais próxima, mas se arrependeu no segundo em que o cheiro de hortelã dele a envolveu de novo, fazendo sua cabeça girar. — Por que eu pareço fraca? Por que sou mulher? Por que…
— Porque tenho certeza que há outras maneiras muito mais interessantes de acabar comigo, não acha? — ele a interrompeu, e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
Alessa quis rir. Mas não o fez, pois ele não estava errado. Ela tinha ótimas ideias de punição, que claramente não envolvia ela enfiando uma adaga no estômago dele. Ou o ferindo, a não ser com suas unhas e dentes enquanto gritava palavras sujas. Muito sujas.
“Ah, Deuses, o que raios eu estou pensando?”
Alessa balançou a cabeça, decidida a mudar de assunto. Suspirando, perguntou:
— Então, o que quer falar comigo, Príncipe Liam Von Vanthaine?
— Tecnicamente, eu não vim para cá como príncipe — comentou ele, com certa diversão na voz.
— Tecnicamente? O que é então?
— Seu futuro marido, se assim quiser.
Alessa o encarou boquiaberta. Ele estava falando sério? Na sua primeira vida, ele ao menos tinha a convidado para dançar primeiro, mesmo com ela usando calças. Eles tinham conversado, flertado até. Mas agora… bem, mal trocaram palavras. E ela não poderia dizer mais com certeza se ele estava interessado nela ou no fato dela tê-lo quase degolado.
Ela encarou a intensidade nos olhos dele. Percebeu que, talvez, poderia muito bem ser os dois.
— Nesse caso, eu deveria me chamar de princesa? — perguntou ela, com sarcasmo.
Liam balançou a cabeça, uma risada gostosa e sensual escapando por seus lábios. Alessa ficou encarando ele, ouvindo aquele som, e se amaldiçoou ao sentir o sorriso surgindo em seu rosto, lentamente.
— Bem, acho que sim. Mas gosto de acreditar que preferirá o título de arquiduquesa. Combina mais com você.
“Ah, é mesmo. Além de príncipe, ele é um arquiduque.”
Alessa se esquecera desse fato. Que Liam ganhara o título depois de seus grandes feitos na última guerra entre Astruna e um reino vizinho. Parte disso, devia-se ao fato do avô de Liam, o antigo imperador, ter implementado uma regra de que os príncipes deveriam provar seu valor na guerra antes de se casarem, algo que Liam fez lindamente.
Ele era poderoso, o único príncipe que herdara o poder do Imperador de Astruna. Alessa não conhecia os poderes, mas ouvira boatos. Como, na presença de Liam, sol se tornava chuva, desertos em mares de neve e gelo. Como ele podia conjurar espadas ao seu bel prazer, ou simplesmente invocar um exército inteiro de soldados de névoa ou sombras.
Forte. Poderoso. Inteligente. Lindo.
O que mais havia nesse homem que ela ainda não conhecia?
— Arquiduquesa — murmurou ela, como se testasse o título em seus lábios. A ideia de aceitar o pedido dele, de escolhê-lo nesta vida, agora não soava tão estranha assim. — Bem, eu gostei. Combina mesmo comigo, Arquiduque Liam. Ou já devo te chamar de querido?
Ele deu um passo para ficar mais próximo dela, encurralando-a entre a coluna e ele. Alessa sentiu que deveria ficar em alerta, que deveria ficar com medo, mas só conseguiu reparar em como ele parecia ainda mais lindo de perto.
— Isso é um sim? — Ele ergueu uma mão e deslizou os dedos longos pelo rosto dela, pegando o queixo e a forçando a olhar para ele, só para ele.
Alessa umedeceu os lábios.
— Quem sabe? — soprou.
O olhar de Liam ficou mais mortal, e ele se inclinou para mais perto dela, fazendo com que suas respirações descompassadas se tornassem uma só.
— Não me provoque, querida. Talvez eu esqueça onde estamos e faça uma besteira que tanto eu quanto você não gostaríamos de acontecer aqui.
— E quem disse que eu não gostaria? — ela provocou, espalmando uma mão no peito dele, sentindo o coração do arquiduque bater forte, desesperado. Tal qual o seu.
“Ah, Deuses, acho que enlouqueci…”
— Eu estou dizendo — ele balbuciou, levando uma mão até a cintura dela, pressionando-a contra a coluna, contra ele.
Liam se inclinou mais, seus lábios a um fio de encostar nos dela. Mas um pigarro, acompanhado de uma tosse fingida, interrompeu o momento dos dois, fazendo-os se afastar tão rápido que Alessa se permitiu se apoiar na coluna antes de ajeitar a saia do vestido e encarar quem quer que tivesse ali.
Quando seus olhos encontraram o castanho escuro do transeunte, seu rosto empalideceu.
— Pai? — ela murmurou, atônita. Não sabia o que dizer.
Miguel encarou ela, os olhos indo dela para Liam repetidamente. Sua expressão estava fechada, ilegível. Ele deu um passo para frente, e finalmente falou:
— Minha filha, quem é esse homem?
Alessa abriu a boca e a fechou várias vezes. Não sabia como explicar, não sabia se queria explicar. Ela olhou para Liam, que abriu um sorriso sedutor, matador, que a fez sentir suas pernas virarem manteiga.
Por fim, o arquiduque encarou o barão.
— Sou o futuro marido dela — disse, como se fosse a coisa mais óbvia, a mais simples e certa do mundo.
Alessa teve vontade de o esganar.
Miguel ergueu uma sobrancelha. Cruzando os braços, ele inclinou a cabeça para o lado, o olhar avaliando Liam de cima a baixo, com atenção. Com uma ferocidade que Alessa jamais vira antes no rosto do pai.
Ela prendeu a respiração.
O tempo pareceu parar quando o ouviu dizer:
— Então, quando marcamos o casamento?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 55
Comments
Bela Black
Aaaah eu casava com ele,era só ele pedir, homem com voz rouca e bonita é tudo de bom
2025-03-25
2
S.Kalks
Até algumas horas atrás tu tava morrendo e não sentia basicamente nada por ele, mas agora tá com fogo 🔥🔥
2025-03-25
1
S.Kalks
mesmo sendo habilidosa, ia ter um trabalho da porra pra tirar a adaga com rapidez
2025-03-25
1