Capítulo 2

O sol, finalmente, espreitava por entre as nuvens depois de uma semana de intensas chuvas e muito frio. Carla e Isabela, aproveitando o sábado radiante, passeavam pela feira de artesanato no charmoso centro de Fox, uma cidade aconchegante de riquíssima natureza e de pessoas acolhedoras, e com mais de dez mil habitantes, faziam de Fox um bom lugar para morar..

Apesar de pequena, Fox possuía uma história rica. O museu local, instalado em uma antiga estação de trem, contava a saga dos primeiros colonizadores, que chegaram em busca de terras férteis e encontraram um paraíso escondido entre as montanhas. Fotografias antigas e objetos pessoais desses pioneiros remontavam ao passado, preservando a memória e as tradições da cidade. E era essa combinação de história, natureza e tranquilidade que tornava Fox um lugar tão especial.

Após a feira, as amigas foram ao pequeno shopping local. Isabela, extasiada, passou quase uma hora experimentando vestidos extravagantes, com Carla pacientemente a aconselhando. Carla, porém, observava tudo com um ar distraído, sem ânimo para compras. Seus pensamentos pareciam distantes.

-- A entrega das cartas será às quatro da tarde. Não se atrase, Carla, -- lembrou Isabela, -- Já falei com a diretora do orfanato, e as crianças estão ansiosas..

Deixando Isabela em casa, Carla seguiu para o supermercado. Tirando da bolsa uma lista de compras, ela saiu do carro deixando o mesmo no estacionamento.

Enquanto isso, no orfanato, a pequena Wendy era chamada à sala da diretora Maya. Seus passos eram hesitantes, e um aperto no peito acompanhava cada batida do seu coração. Ao entrar, seus olhos arregalados encontraram o olhar gentil, porém sério, da diretora.

-- Wendy, minha querida, sente-se um pouco, Maya convidou, com sua voz suave como mel.

Wendy sentou-se na ponta da cadeira, as mãozinhas inquietas no colo. Um nó se formava em sua garganta.

-- Wendy, todas as crianças escreveram suas cartas, mas senti falta da sua. Por que resolveu não escrever este ano? Maya perguntou, inclinando-se para frente, buscando conectar-se com o olhar da menina.

Os olhos de Wendy marejaram.

 -- Senhora Maya, - sua voz saiu trêmula, -- para quê? Todos os anos eu peço a mesma coisa... e parece que ninguém ouve. Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, deixando um rastro brilhante.

Maya, tocada pela sinceridade da criança, sentiu um aperto no coração.

-- Querida, algumas coisas que pedimos, às vezes, não podemos ter... E no seu caso… é realmente difícil.. Mas isso não quer dizer que seja impossível..

O rosto de Wendy endureceu. As lágrimas deram lugar a uma expressão séria, quase raivosa. Seus lábios finos se comprimiram num biquinho ressentido. -- A senhora leu a minha cartinha? Não gostei da sua atitude, diretora!, exclamou, cruzando os braços com força.

Maya levantou-se e ajoelhou-se diante de Wendy, buscando seu olhar.

-- Meu amor, como diretora, é minha obrigação ler e compartilhar com as famílias o seu pedido.

A voz de Maya era calma, mas carregada de emoção.

-- Eu queria que fosse o Papai Noel que lesse!, Wendy insistiu com sua inocência de criança, já com voz embargada.

Maya acariciou os cabelos de Wendy, um sorriso triste em seus lábios.

-- Minha pequena, queria que escrevesse outra cartinha. Quem sabe este ano seu pedido não possa ser atendido? Às vezes, para realizarmos um sonho, passamos por muitas dificuldades, mas todas elas nos fortalecem. Não desista do seu sonho, minha criança.

Os olhos de Wendy brilharam de repente .. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, e seus bracinhos envolveram Maya num abraço apertado.

-- Olha, eu vou ao supermercado no centro comprar algumas coisas para o orfanato. Quer vir comigo? Maya perguntou, já se levantando.

Wendy assentiu com a cabeça, a animação retornando aos seus olhos.

No supermercado, Wendy se maravilhava com as prateleiras cheias de guloseimas. Seus olhos brilhavam a cada corredor, a boca entreaberta em um misto de surpresa e desejo. Parando diante de uma montanha de chocolates, ela olhou para Maya, com um olhar brilhando de esperança.

-- Sra. Maya, podemos comprar uma barra de chocolate? perguntou, com um sussurro esperançoso.

-- Mas é claro, meu bem!, Maya respondeu com um sorriso carinhoso, afagando os cabelos da menina. O sorriso de Wendy iluminou todo o corredor, como um raio de sol rompendo as nuvens. Aquele pequeno gesto, a promessa de um simples chocolate, trazia consigo uma faísca de esperança para um coração que ansiava por um milagre de Natal.

O carrinho de Maya deslizava pelos corredores, guiado por uma Wendy agora radiante com sua barra de chocolate. De repente, Wendy parou, e seus olhos se fixaram em uma mulher à frente. Era Carla, escolhendo frutas com uma expressão distante no rosto. Wendy sentiu uma estranha conexão com aquela figura solitária. Largou a mão de Maya e, timidamente, se aproximou.

Carla, absorta em seus pensamentos, mal percebeu a pequena figura até sentir uma mãozinha tocar seu braço. Sobressaltada, olhou para baixo e encontrou o olhar intenso de Wendy. Os grandes olhos castanhos da menina a fitavam com uma mistura de curiosidade e tristeza que a desarmaram por completo.

-- Oi, sussurrou Wendy.

Carla, tocada pela timidez da menina, forçou um sorriso.

-- Olá.

-- Você parece triste, Wendy comentou com a franqueza peculiar das crianças.

O sorriso de Carla desapareceu, dando lugar a uma expressão melancólica. -- Estou um pouco pensativa, só isso, respondeu, desviando o olhar.

Wendy, sem hesitar, estendeu para Carla a barra de chocolate ainda fechada. -- Toma, ofereceu a menina, -- Chocolate sempre me deixa feliz..

Carla olhou para o chocolate, depois para Wendy, surpresa com o gesto. -- Não posso aceitar, querida.

-- Por favor, insistiu Wendy, com olhos suplicantes. -- É para você sorrir.

Aquele olhar penetrante, e a inocência da oferta, fizeram o coração de Carla se apertar. Relutante, aceitou o chocolate. -- Obrigada, murmurou, sentindo a umidade em seus olhos.

-- Qual é o seu nome? Wendy perguntou interessada com um pequeno sorriso brotando em seus lábios.

-- Carla.

-- Eu sou Wendy, a menina respondeu, orgulhosa. -- Você veio comprar comida para sua família?

A pergunta inocente atingiu Carla como um dardo. Uma onda de tristeza a invadiu. Engolindo o nó na garganta, respondeu com a voz embargada, -- Sim, vim.

A palavra "família" ecoou em sua mente, carregada de um significado doloroso.

Wendy percebeu a mudança no semblante de Carla, mas antes que ela continuasse, a diretora apareceu .

-- Me desculpa por ela fazer tantos questionamentos, Maya olha para Wendy com repreensão e diz: -- Não pode fazer isso Wendy, é muito desagradável.

-- Não, não.. Ela foi muito fofa.. Carla estendeu a mão mostrando a barra de chocolate.

-- Ela me deu isso, o que eu faço? Carla diz com um sorriso tímido nos lábios.

Maya ficou envergonhada.

-- Desculpa, senhora, isso ainda não foi pago. Com licença, e mais uma vez, desculpas pelo ocorrido.

Maya pega a barra de chocolate das mãos de Carla e saiu segurando o braço de Wendy e com a outra mão empurrava o carrinho até o caixa.

Ela passou todas as compras com Wendy ao seu lado. Carla também se aproximou do caixa ao lado para passar suas compras e seu olhar cruzou novamente com o de Wendy.

Naquele instante, um laço invisível uniu aquelas duas almas solitárias. Carla olhava para Wendy, com os olhos marejados. Viu nela um reflexo de seu próprio anseio, a busca por um amor que preenchesse o vazio em seu coração..

Carla viu Wendy partir ao lado de Maya e sem entender os seus sentimentos conflitantes dentro de si, sentiu uma pontinha de inveja e tristeza ao ver Wendy indo embora..

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Comments

maria

maria

imagina eu em plena rua as 09:00 da manhã lendo esse conto e chorando o povo deve tá pensando ela é louca kkkkk

2025-01-29

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Helena

Helena

que bom que nesse orfanato parece que as crianças são bem tratadas

2025-01-08

0

Helena

Helena

que gesto mais lindo de Wendy coma Carla.

2025-01-08

0

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