Assim que a porta se fechou atrás de Zeus, o silêncio voltou a dominar a casa. Suspirei fundo, aliviada por estar, finalmente, sozinha. A tensão entre nós nos últimos dias era insuportável. Desde que começamos a dividir esse espaço, parecia que estávamos envolvidos em uma batalha silenciosa, onde ninguém cedia.
Aproveitei a oportunidade para me refugiar em um banho demorado. A água quente escorria pelo meu corpo, levando embora, ao menos por alguns minutos, a sensação de peso que carregava nos ombros. Fechei os olhos e deixei a mente vagar. Imagens do rosto de Zeus vinham e iam, mas a raiva queimava forte dentro de mim, apagando qualquer lembrança boa que pudesse surgir.
Após o banho, vesti algo confortável e desci até a cozinha. Abri a geladeira, sem fome, mas com a necessidade de fazer algo para ocupar minhas mãos. Preparei uma refeição simples e fiquei sentada à mesa, empurrando a comida no prato. Os ponteiros do relógio na parede pareciam se mover mais devagar naquela noite. Eu esperava Zeus voltar, mas ao mesmo tempo, temia o confronto inevitável.
Sabia que ele usaria palavras afiadas, me provocaria, e meu instinto seria fugir novamente. Zeus tinha um talento especial para me desarmar, para me deixar sem chão com seus olhares frios e calculados.
Quando terminei de lavar a louça, subi de volta para o quarto. O relógio marcava quase onze da noite. O cansaço finalmente venceu, e me joguei na cama. Meu corpo estava exausto, mas minha mente não conseguia desligar. No entanto, sem perceber, adormeci rapidamente.
Um som distante me despertou no meio da madrugada. Algo parecia errado, mas não conseguia identificar o que era. Meu corpo implorava por água, e decidi descer até a cozinha. Descalça, caminhei pelo corredor, os olhos ainda se acostumando à escuridão.
Quando cheguei perto do corrimão, meu corpo congelou.
Abaixo, no sofá da sala, Zeus estava com outra mulher. A cena era um choque absoluto. Ele estava sentado, e ela, nua, estava sobre ele, beijando-o como se eu não existisse. Meus olhos queimaram, e a dor subiu pelo peito como uma chama incontrolável.
Zeus me viu. Nossos olhares se encontraram, mas ele não se mexeu. Pelo contrário, seus dedos se apertaram ainda mais contra a cintura dela, e seus olhos me desafiavam, frios e desprovidos de remorso.
Não consegui suportar aquilo. Girei nos calcanhares e corri de volta para o quarto. Ao fechar a porta com força, meu corpo desabou no chão. As lágrimas vieram como uma tempestade, molhando meu rosto e me sufocando.
— Zeus, eu te odeio — sussurrei, enquanto soluços escapavam dos meus lábios. — Vou te odiar enquanto eu estiver aqui...
Os dias seguintes foram um teste para minha força. Eu fiz o que prometi: ignorei Zeus completamente. Ele tentava me confrontar, lançar comentários ou puxar conversas, mas eu desviava, fingia que ele não existia.
Eu estava determinada a não ceder. Não lhe daria o prazer de uma discussão, de qualquer reação que mostrasse como ele havia me ferido.
Uma manhã, encontrei um bilhete dele no balcão da cozinha. Sua caligrafia era inconfundível, com aquelas letras inclinadas e precisas:
"Eu retorno em quatro dias. Precisamos conversar."
Li as palavras uma, duas, três vezes. Cada letra parecia me provocar, como se ele estivesse me dizendo que ainda tinha controle sobre mim. Com um movimento firme, amassei o papel e o joguei no lixo.
Mais tarde naquele dia, Marena, ligou para mim. Sua voz estava carregada de curiosidade e preocupação.
— Anna, o que você fez? Zeus chegou aqui possuído de raiva.
Soltei um riso curto, cheio de amargura.
— Eu? Nada! Apenas estou ignorando a existência dele.
Houve uma pausa do outro lado da linha.
— Isso explica muita coisa... Mas o que está acontecendo?
Respirei fundo, tentando conter as emoções.
— Marena, eu prefiro não falar sobre isso agora. Mas, mudando de assunto, o que acha de irmos ao salão amanhã? Quero mudar meu cabelo.
— Claro, mas vou avisar Zeus.
Minha voz saiu firme e cortante:
— Não! Nada de avisar ninguém. Entendeu, Marena?
— Sim. Tudo bem. Até amanhã.
No dia seguinte, no horário combinado, saímos juntas. Durante o trajeto, desabafei tudo o que estava preso dentro de mim. Falei sobre a cena no sofá, sobre a frieza de Zeus e sobre minha decisão de não deixar que ele me afetasse mais.
Marena ouviu tudo em silêncio, mas quando chegamos ao salão, ela finalmente comentou:
— Anna, se prepare. Porque quando ele voltar, vai querer descontar tudo em você.
Encarei meu reflexo no espelho enquanto o cabeleireiro preparava a tinta para meu cabelo. Um sorriso desafiador surgiu no canto dos meus lábios.
— Pois que ele venha, Marena.
Minha voz saiu firme. Dentro de mim, algo havia mudado. Eu não era mais a mesma. Zeus havia despertado uma raiva em mim que eu nem sabia que existia, e agora, ele provaria do próprio veneno.
Com os cabelos tingidos em um tom escuro, mas ainda longos, senti-me renovada ao sair do salão. Olhei meu reflexo no espelho da entrada e não pude deixar de sorrir. As mechas estavam perfeitas, e por um instante, me senti mais forte, como se essa nova aparência fosse um escudo contra tudo o que me assombrava.
O celular de Marena começou a tocar, quebrando minha breve contemplação. Ela atendeu de imediato.
— Fala, Zeus... — disse ela, levantando as sobrancelhas enquanto me olhava. — Anna, ele quer falar com você.
Suspirei, já antecipando o que viria.
— Passa a ligação para ela! Agora! — ouvi a voz grave de Zeus do outro lado da linha.
Marena hesitou, mas estendeu o celular para mim.
— Anna, é o Zeus. Ele quer falar com você.
Peguei o telefone das mãos dela, olhei para a tela e, sem dizer nada, desliguei a chamada.
— Anna, o que você fez? — Marena perguntou, alarmada.
— Nada que eu não devesse. Não quero falar com ele.
Durante toda a tarde, o celular dela não parou de tocar. Zeus insistia em falar comigo, mas eu mantinha minha postura firme. Para tranquilizar Marena, decidimos voltar para casa. Antes de ir embora, ela me lançou um olhar preocupado.
— Anna, se Zeus for rude com você, me ligue, por favor.
— Não se preocupe, Marena. Eu vou ficar bem.
Abraçamo-nos antes de nos despedir, mas a inquietação dela permaneceu comigo. Quando entrei em casa, o telefone continuou tocando sem parar. Era Zeus, claro. O som insistente começou a me incomodar, então tirei o aparelho do gancho e fui dormir.
— Finalmente, sossego... — murmurei para mim mesma antes de adormecer.
Aquela noite foi surpreendentemente tranquila. O sono veio fácil, e por algumas horas, me senti em paz.
Na manhã seguinte, fiz minha rotina habitual. Preparei um café da manhã simples e sentei à mesa para saborear um iogurte. O silêncio da casa era reconfortante, mas foi interrompido pelo som de pneus derrapando na entrada. Meu coração deu um salto, e antes que pudesse reagir, a porta da frente foi aberta com força.
Zeus entrou com passos pesados, sua presença preenchendo o ambiente como uma tempestade iminente. Ao me ver sentada, calma e alheia à sua fúria, ele explodiu:
— Por que diabos você não atendeu o telefone e desligou o celular?
Ergui os olhos lentamente, mantendo a calma que sabia que o irritaria ainda mais. Levantei-me, joguei o pote vazio de iogurte no lixo e o encarei.
— Porque eu simplesmente não estava afim de falar com você.
Passei por ele, empurrando seu braço para abrir caminho. Zeus me seguiu, agarrando meu braço com firmeza. Sua mão quente queimava contra minha pele, mas não recuei.
— Você vai me escutar! Como ousa me ignorar desse jeito? — Ele parecia mais um vulcão prestes a entrar em erupção.
Meu olhar se estreitou, e respondi com firmeza:
— E vou continuar ignorando você até que me tire daqui!
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Atualizado até capítulo 102
Comments
bianca lina
mais plisss 🙏🙏🙏
2024-12-05
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