O amanhecer chegou com um misto de cores no céu, mas minha mente estava longe de contemplar sua beleza. Eu não preguei os olhos a noite toda. O que Zeus fez? Por que sua camisa estava manchada de sangue? Essas perguntas martelavam na minha cabeça sem descanso.
Marena me contou uma vez que Zeus volta de suas viagens completamente diferente, especialmente quando está com Marcos. Mas o que exatamente eles fazem nessas viagens? Será que são assassinos de aluguel? Esse pensamento me arrepia, mas não consigo descartá-lo.
Olho para o relógio na mesinha ao lado da cama. Já passam das sete da manhã. Meu estômago ronca alto, me lembrando de que não posso ficar trancada aqui para sempre. Preciso comer, mas a ideia de cruzar com Zeus pelos corredores me deixa nervosa. Ele pode ser intimidante sem sequer tentar.
Decido tomar coragem. Troco de roupa rapidamente e escovo os dentes, mas minha hesitação continua. Paro diante da porta do quarto por alguns minutos, respirando fundo, tentando encontrar um pouco de determinação. Quando finalmente abro a porta, o corredor está silencioso. O único som que ouço é o canto dos pássaros vindo do lado de fora.
Caminho devagar, meus passos fazendo o mínimo de barulho possível. Quando passo pelo quarto de Zeus, noto que a porta está apenas encostada. A curiosidade me consome. Espio pela fresta, na esperança de que ele ainda esteja dormindo. Mas a cama está vazia.
— Provavelmente ele já saiu...
Minha voz sai em um sussurro. A sensação de estar sozinha me dá coragem. Entro no quarto devagar, observando os detalhes. O ambiente é organizado, mas com um ar sombrio, como se cada objeto carregasse a essência de Zeus. No centro da cama, vejo a camisa que ele usava ontem à noite.
Minha mão hesita antes de pegá-la, mas cedo à tentação. Ainda tem o perfume dele. É um aroma amadeirado e forte, que combina perfeitamente com sua presença marcante. Examino os detalhes e a cor sombria.
De repente, uma voz grave e familiar me faz congelar.
— Perdeu alguma coisa, Anna?
Viro-me tão rápido que quase deixo a camisa cair. Zeus está parado na porta, apenas de toalha na cintura. Seu olhar sério e intenso faz meu coração acelerar.
— Zeus... eu achei que você não estivesse em casa! Perdão pela intrusão!
Ele se aproxima, fechando a porta com uma mão enquanto a outra segura firme a toalha em volta de sua cintura. Cada passo que ele dá em minha direção me faz recuar instintivamente.
— Você não respondeu minha pergunta. O que estava procurando no meu quarto?
— Eu... eu só... estava curiosa...
— Curiosa? Sobre o quê?
— Sobre nada, eu juro!
Minha voz falha, e sinto o rosto esquentar. Tento não encará-lo diretamente, mas é impossível ignorar sua presença dominante. Ele é muito mais alto do que eu, e sua postura firme só aumenta a diferença entre nós.
— Foi você quem veio ao meu quarto, Anna — ele diz, sua voz carregada de um tom que me deixa ainda mais nervosa.
— Zeus, por favor... me desculpe! Só me deixe sair...
Ele ri, mas não de um jeito amigável. É um som baixo e quase ameaçador, como se estivesse se divertindo com o meu desconforto.
— Você gosta quando minha mão toca em seu rosto, não gosta?
— Esse não é você, Zeus. Pare com isso...
— Deixe-me sentir seus lábios.
— Por favor, Zeus... deixe-me ir!
Estou encurralada contra a parede. Ele se inclina um pouco, e por um momento, penso que ele realmente vai me beijar. Fecho os olhos, meu coração disparado.
Mas nada acontece.
Abro os olhos devagar e o vejo do outro lado do quarto, procurando uma roupa no closet. Ele se move com uma calma que me desconcerta, como se o que acabou de acontecer fosse completamente irrelevante.
— O que foi isso? — pergunto, minha voz baixa, quase um sussurro.
— O que foi o quê, Anna? — Ele nem me olha, concentrado em achar o cinto da calça.
— Você... não me beijou.
Ele para por um instante, segurando o cinto nas mãos. Seus olhos finalmente encontram os meus, e há algo neles que não consigo decifrar.
— Não posso forçá-la a fazer o que não quer. E eu não abuso de mulheres.
— O quê? O que você disse...?
Ele se aproxima de novo, mas dessa vez não há ameaça em seu olhar. Apenas frieza.
— Saia do meu quarto. Preciso me vestir para sair.
Fico parada por alguns segundos, tentando processar suas palavras. Ele não me força a sair, mas o peso do seu olhar me faz recuar. Saio rapidamente, descendo as escadas em direção à cozinha.
Minha mente está um caos. O que foi aquilo? Zeus é tão imprevisível. Ele quase me beijou, e então simplesmente se afastou como se nada tivesse acontecido. Apoio as mãos na bancada, tentando acalmar meus pensamentos, mas a confusão não diminui.
Minutos depois, escuto seus passos descendo as escadas. Ele entra na cozinha com a mesma expressão impassível de sempre. Pega uma xícara, enche-a de café e a leva aos lábios sem dizer uma palavra.
Eu o observo, esperando algum sinal, alguma explicação. Mas ele apenas termina de beber, coloca a xícara na pia e pega as chaves do carro.
— Zeus...
Ele não responde. O som do motor arrancando lá fora ecoa na minha cabeça, deixando-me sozinha com minhas perguntas sem resposta.
As horas passam lentamente. Tento me concentrar em outras coisas, mas minha mente volta sempre para Zeus. Ele é um mistério, uma tempestade constante. Às vezes, ele é frio como gelo, outras, caloroso como o sol.
Lembro-me de quando o conheci. Ele quase nunca falava, mas havia algo nos seus olhos que me atraía. Não era apenas beleza física; era algo mais profundo, mais sombrio. E essa escuridão, apesar de assustadora, também era fascinante.
Mas e hoje? O que aconteceu? Por que ele hesitou? Eu devia estar aliviada, mas, de algum jeito, isso só me deixa mais intrigada. Zeus é um homem que não parece hesitar diante de nada, então por que hesitou comigo?
Decido sair da cozinha e caminhar pelos jardins. O ar fresco ajuda a clarear um pouco meus pensamentos, mas não resolve tudo. Cada vez que fecho os olhos, vejo o rosto de Zeus.
Já é noite quando ouço o som do carro entrando na garagem. Meu coração acelera. Por que fico assim toda vez que ele está por perto? Tento agir naturalmente, mas meus nervos estão à flor da pele.
Zeus entra na sala, seu olhar sério como sempre. Ele passa por mim sem dizer nada, mas antes de subir as escadas, para por um instante.
— Jantou? — ele pergunta, sem olhar diretamente para mim.
— Ainda não.
— Coma algo. Não quero você desmaiando por aí.
— Zeus... podemos conversar?
Ele me encara por alguns segundos, como se estivesse avaliando se vale a pena.
— Depois.
E então ele sobe, me deixando mais uma vez sozinha com meus pensamentos.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Thaliaa Vieira
Tu é complicada né
2024-12-29
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