A cidade estava envolta por uma névoa fina quando deixei a mansão do Martín para trás, a rua silenciosa refletindo o que eu sentia por dentro. O mundo parecia um lugar distante, imerso em sombras, e cada passo que eu dava parecia me afastar mais da tranquilidade. O frio cortante do amanhecer me fazia pensar em como tudo ao meu redor estava se tornando opaco, sem cor, como se o tempo estivesse desacelerando, permitindo que eu refletisse sobre o que estava por vir.
Enquanto caminhava, meu olhar se fixou no reflexo do sol, que refletia nos vidros das janelas das casas e lojas, que se espalhavam pelo centro da cidade. O brilho das lâmpadas parecia tão inútil quanto eu me sentia naquele momento. O que mais poderia acontecer que realmente me surpreendesse? A resposta estava clara em minha mente: nada. O pior já havia ocorrido, e tudo o que me restava agora era lidar com as consequências.
Passei por uma praça silenciosa, as folhas das árvores tremendo com o vento frio. Foi quando, do outro lado da rua, algo me fez parar. Olhei mais atentamente e, apesar do som distante da cidade, reconheci a silhueta de Elena. Ela estava sentada sozinha em uma cafeteria, com o olhar distante, um copo de café entre as mãos. O ato de se aquecer com a bebida parecia um reflexo, como se fosse a única coisa que a fizesse sentir algum conforto naquele momento.
Fiquei parado na calçada por um tempo, observando-a, sem saber exatamente o que fazer. Ela não me notou de imediato, e mesmo quando nossos olhares se cruzaram, não houve surpresa, apenas um reconhecimento silencioso, como se o encontro já fosse esperado.
Puxei a porta da cafeteria, que se abriu com o som de um sino suave. O barista me lançou um olhar rápido, mas logo se concentrou no que estava fazendo. O cheiro de café fresco e o som abafado da conversa de outros clientes preencheram o ambiente. Mas meu foco estava em Elena.
Ela olhou para mim quando entrei, como se estivesse esperando por algo, mas ainda hesitante. Talvez o que ela tinha a dizer fosse mais complicado do que parecia. Eu podia perceber que ela carregava algo, e eu precisava saber o que era.
Me sentei na cadeira à sua frente sem esperar convite. O ambiente parecia distante, e um silêncio pesado se instaurou entre nós. Por alguns segundos, ninguém falou, mas eu sabia que ela não estava ali por acaso.
Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz hesitante, mas firme.
— O que você quer? — Perguntou, olhando diretamente para mim. O medo estava evidente, mas também havia algo mais, talvez uma necessidade de ser ouvida.
Eu sabia que ela tinha algo importante para contar. Não era só um simples desabafo, era algo profundo, algo que mudaria tudo ao meu redor. O que quer que fosse, eu precisava ouvir.
— Eu só quero saber o que está acontecendo. — Respondi, de forma calma, mas firme. O silêncio entre nós estava se tornando insuportável, e eu sabia que tinha que agir. — Você me deve uma explicação, Elena.
Ela olhou para o café em suas mãos, a expressão em seu rosto se tornando ainda mais séria. Respirationando fundo, ela finalmente começou a falar, as palavras saindo como se ela precisasse se livrar delas para seguir em frente.
— Martín... ele sequestrou a minha irmã. — Ela engoliu em seco, os olhos marejados, mas sem derramar uma lágrima. — Ela está em algum lugar. Eu não sei onde. E, por mais que tenha procurado por ela, ninguém sabe nada. Foi só depois que eu soube do que ele estava fazendo... Ele a levou porque minha irmã tem problemas com drogas. Ela foi se envolver em algo que não conseguia mais controlar. E agora... agora ele a mantém em um lugar onde é obrigada a trabalhar para pagar uma dívida, fazendo coisas que ela nunca faria se tivesse escolha.
Eu fiquei em silêncio, processando o que ela havia acabado de dizer. Não era a primeira vez que eu ouvia sobre Martín estar envolvido em atividades suspeitas, mas o que Elena estava revelando agora ia muito além do que eu imaginava. Esse homem, que eu ajudava a proteger, estava realmente envolvido em algo terrível, algo que eu não podia ignorar.
— Onde exatamente ela está? — Perguntei, a urgência na minha voz não disfarçada. O peso da situação começava a se revelar de maneira mais cruel a cada palavra de Elena. A raiva que eu não sabia que estava guardando dentro de mim começou a se formar.
Ela hesitou antes de falar, os olhos fixos no café. A preocupação em seu olhar era mais forte que qualquer medo que ela sentisse de falar a verdade. Eu podia ver o quanto aquilo a estava consumindo.
— Não sei o local exato. Mas ele chama o lugar de "O Refúgio". — Ela levantou os olhos, buscando algo em mim, talvez uma resposta, talvez uma promessa. — Eu fui até lá uma vez. Vi a entrada. Mas quando tentei chegar mais perto, os homens dele me afastaram. Me ameaçaram... Se eu voltasse, eles fariam algo com alguém que eu amo. Eles disseram que eu nunca mais encontraria minha irmã.
Eu sabia que as palavras dela não estavam sendo ditas apenas por desespero, mas por um sentido profundo de necessidade. Ela estava quebrada, mas ainda esperançosa de que havia uma chance de salvar sua irmã. As peças estavam se encaixando, e eu não podia mais ignorar o que estava diante de mim.
A verdade era simples: eu sabia quem Martín era. Ele não se importava com as pessoas, nem com o sofrimento alheio. Ele controlava tudo ao seu redor com mãos de ferro. Mas, ao ouvir Elena, algo dentro de mim se mexeu. Eu não poderia ficar de braços cruzados, observando. Não agora.
— Eu vou ajudar você a encontrá-la. — Disse, a voz mais grave do que eu imaginava. Ela olhou para mim, como se não acreditasse que isso fosse possível, mas não disse nada. O olhar dela se suavizou, como se ela estivesse começando a acreditar que talvez, apenas talvez, havia uma chance.
Ela não falou mais nada, mas o silêncio entre nós carregava um peso imenso. Eu sabia que a decisão estava tomada. Não havia mais volta. Eu estava dentro disso, e não poderia simplesmente virar as costas.
— Obrigada. — Ela murmurou, a voz baixa, quase inaudível, mas cheia de gratidão. Era tudo o que eu precisava ouvir.
Eu a observei por mais alguns segundos. Ela estava à beira do desespero, mas havia algo de resoluto em sua postura. Eu sabia que a sua jornada não seria fácil. E, no fundo, sabia que a minha também não seria. Mas agora, não havia mais dúvidas. Eu faria tudo o que fosse preciso para ajudá-la.
Eu não sabia onde "O Refúgio" estava, nem o que me aguardava lá, mas a verdade era que, de alguma forma, a minha própria busca por redenção começava a se alinhar com a dela. Eu tinha minhas próprias razões para agir, mas não importava. O que importava agora era que Elena não estava mais sozinha. E eu não estava mais apenas observando. Eu estava pronto para agir.
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Atualizado até capítulo 102
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