Eu não conseguia tirar da cabeça o bilhete que Zeus havia deixado para mim.
" Retorno a noite, você não está sozinha...".
As palavras eram poucas, quase enigmáticas, mas havia algo ali que mexia comigo. Quando ouvi o som da porta da frente se fechando, soube que ele tinha saído. Era minha chance. Abri a porta com cuidado, peguei a bandeja que ele havia deixado, e levei para dentro do quarto. Sentei-me na cama, observando a comida simples, mas preparada com um cuidado que me desconcertava. Cada mordida parecia carregar um pouco do mistério dele. Eu me perguntava o que passava pela cabeça de Zeus enquanto fazia isso, enquanto se preocupava comigo de um jeito tão silencioso.
Depois de terminar, peguei os pratos e fui até a cozinha. A casa estava silenciosa, quase opressiva. À medida que caminhava pelos corredores, sentia como se estivesse invadindo um território proibido. Tudo ali parecia carregar a presença dele: o ar, os móveis, o chão. Quando terminei de lavar os pratos, meus olhos foram atraídos por um corredor mais distante. Meu coração acelerou. Era como se algo me chamasse para explorar. Eu sabia que era imprudente, mas minha curiosidade foi mais forte.
Quando cheguei ao quarto de Zeus, a porta estava encostada. Por um momento, pensei em voltar, mas meus pés continuaram avançando. O espaço era grande, bem maior do que eu imaginava, mas ao mesmo tempo simples. A cama enorme e perfeitamente arrumada chamou minha atenção, como se representasse o controle que ele sempre parecia ter sobre tudo. Me aproximei do guarda-roupa e abri uma das portas. Lá estavam suas roupas, entre camisas impecáveis e ternos que exalavam elegância.
No banheiro, uma banheira de hidromassagem me surpreendeu. A ideia de Zeus em um momento de relaxamento parecia tão fora de lugar que quase me fez rir. Ele sempre parecia tão rígido, tão no controle... Como seria ele fora dessa fachada? Balancei a cabeça, tentando afastar essas ideias, e saí do quarto com uma mistura de curiosidade e uma estranha atração. Havia algo nele que eu não conseguia explicar, algo que me puxava para mais perto, mesmo que isso me assustasse.
De volta à cozinha, decidi preparar algo para mim. Encontrei alguns ingredientes na geladeira e comecei a fazer um omelete simples. O cheiro da comida preencheu o espaço, trazendo um pouco de conforto. Perdi a noção do tempo enquanto mexia nos temperos, até sentir um arrepio subir pela minha espinha.
Levantei os olhos devagar e lá estava ele, parado na porta, me observando. Meu corpo congelou. O olhar de Zeus estava diferente. Havia algo nele, algo que eu não conseguia decifrar, mas que fazia meu coração bater mais rápido.
— Não sabia que você gostava de cozinhar — ele disse, com a voz grave e baixa.
Tentei disfarçar o nervosismo, desviando o olhar.
— Eu... só queria comer algo diferente — respondi, tentando soar casual, mas minha voz saiu trêmula.
Ele permaneceu imóvel, mas seus olhos não saíam de mim. Era como se ele estivesse tentando enxergar além da minha superfície. Levantei-me rapidamente, tentando passar por ele, mas Zeus deu um passo à frente, bloqueando minha saída.
— Preciso ir para o meu quarto — murmurei, tentando manter a calma.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se analisasse cada palavra minha.
— Está com medo de mim? — perguntou, com uma calma que fazia minha pele arrepiar.
— Não... claro que não. — Minha resposta saiu automática, mas eu sabia que ele podia ver a verdade em meus olhos.
Tentei mais uma vez contorná-lo, mas ele levantou a mão, não para me tocar, apenas para me impedir.
— Não parece tão confiante — ele disse, com um tom que beirava a provocação.
O ar entre nós ficou pesado, quase sufocante. Meu corpo reagia de maneiras que eu não conseguia controlar. Havia algo na proximidade dele que era ao mesmo tempo fascinante e assustador.
— Zeus... — tentei dizer algo, qualquer coisa que quebrasse aquele momento, mas minha voz saiu quase como um sussurro.
— Você esteve no meu quarto, não foi? — ele perguntou, de repente, com a voz carregada de um misto de acusação e algo mais que eu não conseguia identificar.
Meu coração disparou. Ele sabia. Como ele sempre sabia?
— Eu só... queria explorar a casa — tentei me justificar, mas minha voz falhou no final.
Zeus deu um passo à frente, reduzindo a distância entre nós. Eu podia sentir o calor que emanava dele, um calor que parecia incendiar tudo ao meu redor. Ele inclinou o rosto levemente, seus olhos escurecidos presos aos meus.
— Não precisa ter medo de mim — disse ele, em um tom quase gentil, mas ainda assim carregado de intensidade. — Eu nunca faria mal a você.
Eu queria acreditar nele. Queria, de verdade, mas aquele olhar... Era como se ele estivesse lutando contra algo dentro de si. Quando tentei passar mais uma vez, ele segurou meu braço. Não com força, mas o suficiente para me impedir.
— Por que está fugindo? — ele perguntou, sua voz agora mais baixa, quase um sussurro.
— Eu... não estou fugindo — menti, sem coragem de olhar diretamente para ele.
Ele inclinou-se mais, e o calor do corpo dele fez minha pele formigar. Meu coração estava descontrolado, e eu sabia que ele podia sentir minha tensão.
— Está mentindo, Anna. — Suas palavras eram calmas, mas o tom era inegavelmente sedutor. — Posso ver isso nos seus olhos.
A maneira como ele me olhava, como se pudesse enxergar além de todas as barreiras que eu tentava erguer, me deixava vulnerável. Finalmente, consegui me soltar e dei alguns passos para trás, antes de virar e correr para o quarto. Tranquei a porta rapidamente e encostei nela, respirando com dificuldade.
Deitei-me na cama, puxando o edredom até o queixo, como se isso pudesse me proteger. Mas minha mente não parava de revisitar aquele momento. O olhar dele, a proximidade, a intensidade... Eu estava apavorada, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim queria mais. Zeus era um mistério perigoso, e eu sabia que estava me aproximando demais de algo que podia me consumir inteira.
Ouvi a maçaneta sendo mexida, e um frio subiu pela minha espinha. Meu coração acelerou, e eu me afastei da porta, os olhos fixos nela como se pudesse atravessá-la e enxergar o que Zeus queria. Algo dentro de mim dizia que ele estava diferente hoje, insistindo em algo que eu não podia — não queria — dar.
– Vai embora, Zeus... – gritei, tentando soar firme, mas minha voz tremeu.
Do outro lado, ele ficou em silêncio por um momento. Eu quase podia ouvir sua respiração pesada, como se estivesse tentando controlar algo dentro de si. Então, ele falou:
– Anna, eu preciso pedir desculpas. – A voz dele parecia rouca, como se as palavras fossem difíceis de sair.
Eu me aproximei mais da porta, mas minhas mãos continuavam trêmulas. Zeus nunca pedia desculpas, nunca deixava transparecer emoções que não fossem a sua frieza habitual. Ele sempre foi um mistério, um muro que ninguém conseguia escalar. Mas agora... agora ele parecia diferente. E isso me assustava ainda mais.
– Não era minha intenção – ele continuou. – Não daquele jeito.
Minha garganta apertou. O que ele queria dizer? E por que, apesar do medo, uma parte de mim queria abrir a porta?
O silêncio que se seguiu foi profundo, como se o mundo inteiro tivesse parado. Eu fiquei ali, ouvindo cada segundo que passava, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, que explicasse o que estava acontecendo. Mas não. Zeus não falou mais nada. Apenas se afastou, e o som dos seus passos ecoou, indo embora lentamente.
Eu não consegui entender o que estava acontecendo. Ele estava me confundindo de uma forma que eu nunca imaginei que fosse possível. E, no fundo, isso me deixava inquieta, sem saber o que sentir. Como eu deveria reagir a ele, a tudo aquilo? O que ele queria realmente?
Respirei fundo e voltei para a cama, puxando as cobertas com força como se pudesse me proteger da tempestade de pensamentos que se formava na minha mente. A visão da porta estava gravada diante de mim, como uma lembrança persistente, e, com o som da sua partida ainda ressoando nos meus ouvidos, meus olhos se fecharam, tentando afastar a confusão e adormecer.
Mas, mesmo enquanto dormia, parte de mim sabia que aquela noite não era o fim. Algo dentro de mim dizia que isso tudo ainda não tinha acabado.
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Atualizado até capítulo 102
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