Após o almoço, escuto a campainha tocar, seu som ressoando na tranquilidade da casa. Como a residência é vigiada 24 horas por dia para garantir a minha segurança, a única forma de abrir a porta é por dentro e mediante uma senha previamente programada. Assim que insiro a combinação, a maçaneta gira, e a porta se abre lentamente.
Do outro lado, encontro Marena, uma mulher deslumbrante que parece ter saído de um conto de fadas. Seu olhar, de um castanho profundo, carrega uma intensidade que capta a essência da natureza ao seu redor. Os traços indígenas em seu rosto são uma obra-prima da beleza e da força, destacando-se com uma delicadeza envolvente. Seu nariz é sutil, mas marcante, e suas maçãs do rosto são suavemente esculpidas. Longos cabelos negros, que caem em cascata sobre seus ombros, emolduram seu rosto como uma tela perfeita. Ao sol, refletem um brilho que brinca com a luz, dando vida a seus fios.
Ao vê-la, não posso deixar de admirar como a beleza de Marena capta a conexão profunda que ela tem com a terra e suas raízes. É impossível não se sentir cativado pela presença dela, que traz uma aura de serenidade e força.
— Vamos começar a aventura? — ela pergunta, com um sorriso que ilumina o ambiente.
Meu coração acelera com a expectativa do dia que está por vir.
— Olá, Anna! Prazer em conhecê-la. Posso entrar?
— Claro! O prazer é meu! É ótimo finalmente te conhecer pessoalmente; eu só ouvi coisas boas sobre você.
— Então, você está pronta para passar o dia na lagoa? O céu está tão lindo e ensolarado hoje, perfeito para um mergulho!
— Sim! Vou pegar minha bolsa e já vamos! Ah, não esqueça de levar toalhas e protetor solar!
Enquanto descíamos as escadas, Marena observou a casa com um olhar admirado e comentou:
— Zeus, tem bom gosto! É uma pena que às vezes ele seja tão grosso! Ele me lembra do meu marido, Marcos, que também tem seu jeito peculiar. Ambos trabalham juntos, e as histórias que ouço dele são sempre interessantes.
— Com Zeus, não converso sobre o trabalho dele. Na verdade, passo a maior parte do tempo longe dele! É uma relação estranha, uma mistura de respeito e distância, muito diferente do que experimento com Marcos.
— E por que, Anna? Não precisa ter medo do Zeus. Ele é grande, mas não faz mal a uma mosca. Além disso, vocês encontrarão um entendimento que pode surpreender você. Muitas vezes, ele é apenas um urso carinhoso à espera de um momento adequado.
— Eu tenho medo dele e não gosto de outros homens me olhando... Não posso deixar isso acontecer novamente!
— Zeus nos contou o que aconteceu com aquele infeliz do Martín! Aquele nojento nunca mais vai tocar em você; fique tranquila! Agora, vamos aproveitar este lindo dia de sol, longe de preocupações!
Marena e eu fomos com o carro dela, enquanto um segurança dirigia, mantendo-nos em um ambiente seguro. Durante a viagem, ela começou a compartilhar detalhes sobre seu casamento com Marcos, os altos e baixos que passaram juntos, e como ela teve que ser paciente e persistente para moldá-lo no marido que é hoje: um excelente esposo e amigo.
Contudo, quando o assunto se voltou para Zeus, Marena tornou-se mais cautelosa, como se houvesse muito a ser dito, mas não soubesse como. Ela mencionou rapidamente sobre o pai e o irmão dele, absorvendo visivelmente a tristeza do trauma de infância que ele carrega.
— Marena, como isso é possível? Outro dia, Zeus avançou sobre mim, tentando me agarrar. E sabe Deus o que mais...
— Então, não era ele!
— Como não era ele? Me explica, Marena... O que você quer dizer?
— Zeus nunca realmente namorou, mas já teve relações sexuais com outras mulheres. Marcos sempre diz que, após essas experiências, ele quase "sangra" emocionalmente, tanto que chega a parecer que seu coração está quebrado a cada ato de intimidade e fora o ato de se lavar até ficar vermelho quase tirando o couro. Ele faz isso apenas quando é consumido por uma necessidade imensa. Ele possui um leve grau de uma condição que não me lembro o nome, mas evita o contato físico, exceto quando outra parte de si o impulsiona a agir primeiro.
— Outra parte? Como assim?
— Anna, o que sei é que, quando ele sai em missão, Zeus retorna como outra pessoa. É como se houvesse uma mudança interna e, depois, para aliviar essa pressão, ele precisa descarregar sua adrenalina em uma mulher. É uma luta constante entre quem ele é e o que a vida exige dele.
— Entendi! Por isso, naquele dia, ele agiu tão impulsivamente e depois saiu... Ele deve ter ficado confuso, perdido entre as suas emoções.
— Zeus realmente gosta de você, por isso preferiu se afastar e não tocá-la, para não machucar seus sentimentos. Ele sabia que a intensidade da situação poderia ser desastrosa. A única forma que ele conheceu de proteger você foi se afastando. Parece contraditório, mas é a forma que ele encontrou para te guardar.
Ao entender isso, começo a perceber quem Zeus realmente é: um homem lutando com seus próprios demônios. Tenho confiança de que posso acreditar nele. Ambos somos duas pessoas com traumas a serem curados e, talvez, apenas talvez, possamos nos ajudar a superar as sombras que nos cercam.
Depois do passeio, Marena me deixa em casa, e nos despedimos com um abraço caloroso. Ao entrar, sinto a tranquilidade da casa me envolver, mas ainda estou processando as conversas do dia, especialmente as revelações sobre Zeus.
Mais tarde, já à noite, o silêncio é interrompido pelo toque do telefone. Atendo, e a voz grave e firme de Zeus preenche o ambiente.
— Como foi o passeio no lago? — ele pergunta, direto, sem rodeios.
Fico surpresa com o tom seco e controlado, como se ele estivesse mais interessado em vigiar meus movimentos do que em saber sobre o meu dia.
— Foi tranquilo. O lugar é lindo, e Marena foi muito atenciosa...
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele interrompe:
— Certifique-se de não esquecer nada importante quando sair de novo. Você sabe que não pode se descuidar.
Seu tom é quase autoritário, como se estivesse me repreendendo por algo. Sinto o desconforto subir, mas me controlo.
— Zeus, por que você fala assim comigo? Eu não fiz nada de errado...
Ele permanece em silêncio por alguns segundos, o que só aumenta a tensão. Finalmente, responde, ainda com a mesma frieza:
— Eu só preciso saber que você está segura.
E, antes que eu possa responder, ele desliga abruptamente, sem sequer dizer adeus.
Fico olhando para o telefone, atônita, tentando entender a razão de tanta distância emocional e da forma bruta com que ele falou. É como se houvesse duas versões de Zeus: uma que luta para se proteger e outra que parece incapaz de se conectar.
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Atualizado até capítulo 102
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