Eu não esperava a chegada de Elena no meu apartamento. A verdade é que ela foi esperta em me seguir até aqui, considerando que jamais trouxe alguém para o meu espaço de descanso. Isso me incomoda profundamente; detesto invasões. No entanto, como prometi ajudá-la a salvar a irmã, não posso simplesmente mandá-la embora, por mais que minha paciência esteja por um fio.
— Zeus. — Ela estava na porta, a voz grave, os olhos fixos nos meus. Sua expressão estava decidida, mas havia algo ali, uma preocupação disfarçada. — Precisamos conversar.
Fui até ela, puxando a porta para que entrasse.
— O que houve? — Perguntei, tentando disfarçar a ansiedade na minha voz.
Ela entrou, olhando para o meu apartamento simples, como sempre fazia. Elena percebeu, que eu gostava de manter as coisas discretas. Eu era um cara que passava despercebido, e isso era vital para o que eu estava tentando fazer. Mas aquela situação estava me consumindo por dentro, e eu sabia que não poderia ficar mais esperando.
— Eu não posso esperar mais, Zeus. — Ela parou no meio da sala e me encarou com seriedade. — Você disse que iria ajudar minha irmã. Você vai?
Eu respirei fundo, sentindo o peso da responsabilidade cair sobre meus ombros. Elena confiava em mim. E eu não podia falhar com ela, especialmente com o que estava em jogo. A irmã dela estava em "O Refúgio", um lugar onde pessoas como ela eram tratadas como mercadorias, e eu estava preso a essa maldita situação.
— Sim, eu vou. — Falei com firmeza, mas sabia que o plano ainda não estava claro. Eu precisava agir rápido, mas também com cautela. Qualquer passo errado poderia nos custar tudo.
Ela me observou, e eu vi a luta interna dela. Ela estava preocupada, eu sabia. Ela tinha perdido muito tempo tentando buscar uma solução, e agora a pressão de salvar a irmã estava demais.
— E quando? — Ela perguntou, a voz tensa. — O que você vai fazer? Como vai tirá-la de lá sem que você mesmo seja pego?
Eu não sabia como, mas sabia que não poderia esperar mais. Eu estava trabalhando como segurança para Martín, o homem por trás de "O Refúgio". Isso me dava acesso a muitas informações, mas também a riscos enormes. Eu sabia o que precisava fazer, mas estava me contorcendo em busca de uma maneira de não ser descoberto. Se Martín soubesse da minha real intenção, ele não hesitaria em me eliminar. E isso não seria bom para ninguém.
— Vou esperar a oportunidade certa. — Eu disse, meus olhos fixos nos dela. — O que eu posso fazer agora é desestabilizar um pouco as coisas, sem ser notado. Se eu causar um pouco de caos dentro da operação de Martín, ele vai desviar a atenção de "O Refúgio". Isso nos dará uma chance.
Elena ficou em silêncio, absorvendo as palavras. Ela sabia que eu tinha razão, mas ainda assim, a sensação de urgência a consumia.
— E quando você achar que é o momento certo, como vai tirá-la de lá? — Ela perguntou, os olhos quase implorando uma resposta.
Eu senti o peso da pergunta. Eu não tinha uma resposta clara. O que eu sabia era que precisava agir com o máximo de discrição possível, mas sem saber por onde começar, estava me sentindo preso.
— Eu não sei. — Eu admiti. — Mas eu preciso ganhar tempo. Vou estudar mais a fundo os horários, as falhas na segurança, tudo. Assim que uma brecha aparecer, eu vou agir.
Elena me encarou por um longo tempo. Era evidente que ela queria mais. Ela queria ação, não planejamento. Mas, infelizmente, a ação sem pensar seria a morte certa, tanto para mim quanto para a irmã dela.
— Zeus, eu confio em você. Só… não me faça esperar tanto tempo. — Ela disse, a voz suavemente quebrando no final.
Eu a olhei e acenei, tentando transmitir mais confiança do que realmente sentia. Não podia prometer nada, mas sabia que não restava escolha. Eu tinha que arriscar.
No dia seguinte, passei a manhã analisando tudo o que sabia sobre a operação de Martín. Ele era um homem meticuloso, mas até ele cometia erros. O sistema de câmeras de segurança de "O Refúgio" era de última geração, mas eu sabia como encontrar falhas. Se eu pudesse cortar o fluxo de informações por um tempo, a chance de pegar a irmã de Elena de surpresa aumentaria.
Mas a questão estava em quando. E mais importante, como eu poderia fazer tudo isso sem ser descoberto?
As horas passaram lentamente, e eu comecei a perceber que havia uma janela de oportunidade. Martín e seus comparsas iriam sair para um encontro com um novo grupo de investidores. Esse era o momento. O local onde a irmã de Elena estava mantida era em uma ala separada, com pouca vigilância, e eu sabia que, se agisse rápido, poderia libertá-la sem ser visto.
Naquela noite, vesti minha roupa usual de segurança, disfarçado como sempre. Não podia parecer nada além de um simples guarda de Martín. A única diferença era a pressão que eu sentia por dentro. Tinha um propósito agora, algo muito maior do que qualquer salário ou cargo.
Cheguei a "O Refúgio" com calma. A operação estava em pleno funcionamento. Mulheres se moviam de um lado para o outro, algumas ainda tentando se acostumar com a ideia de que suas vidas haviam sido arruinadas. Eu me movia discretamente pelos corredores, sem chamar atenção. Sabia onde estava indo.
O sistema de câmeras estava monitorando cada movimento, mas eu já havia alterado os circuitos naquela manhã. Algumas câmeras não funcionavam, outras estavam em modo de gravação, mas sem envio de dados. Isso me dava alguns minutos de liberdade.
Cheguei até a ala onde a irmã de Elena estava. Ela estava sozinha em um quarto pequeno, com a expressão vazia, a resignação no rosto. Quando me aproximou da porta, ela olhou para mim, surpresa.
— Quem é você? — Sua voz era baixa, mas havia uma leve faísca de esperança.
— Sou alguém que veio para te tirar daqui. — Falei em um sussurro, abrindo a porta com cuidado.
A irmã de Elena parecia hesitar por um momento, mas logo entendeu que eu não estava ali para fazer-lhe mal. Ela estava nervosa, mas confiante.
— Como… como você vai me tirar daqui? — Ela perguntou, os olhos arregalados de medo.
— Não se preocupe. Eu tenho um plano. Agora, você precisa me seguir. — Falei, estendendo a mão.
Ela hesitou por um segundo, mas, ao ver a sinceridade nos meus olhos, se levantou e seguiu-me pela porta. Sabíamos que o tempo era curto. O alarme poderia disparar a qualquer momento, mas eu estava determinado a fazer isso funcionar.
Tínhamos apenas alguns minutos. Cada passo que dávamos era uma aposta. Mas eu sabia que, se a irmã de Elena não fosse tirada de lá naquela noite, o risco seria irreversível.
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Atualizado até capítulo 102
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