Nas duas noites seguintes, a rapariga em falta na festa fui eu. A um sinal do Eddie, esgueirava-me da sala e esperava naquele mesmo quarto pelo Robin. Ali sentada, recordei uma festa de aniversário na escola preparatória de uma rapariga que não gramava mas que era tão popular que não podia recusar o convite, uma rapariga tão popular que a minha mãe fizera questão em que o meu vestido e penteado fossem novos. Uma rapariga de uma família tão rica e tão ridícula que uma das atividades da festa envolvia uma caixa alta de vidro que soprava notas de dólar para tentarmos agarrar tantas quantas pudéssemos em trinta segundos. Também me tinha esgueirado dessa festa.
Tinha-me escapulido para me encontrar com um rapaz que também era muito mais popular do que eu. Tinha ombros precocemente largos mas também possuía um lado um tanto sinistro. Exibia um cansaço debaixo dos olhos, uma tonalidade ligeiramente amarelada na pele cor de azeitona. Andava com uma embalagem de agulhas de insulina na mochila. Havia ursos de plástico cheios de mel nas secretárias dos professores dele para o caso de ele sofrer uma queda perigosa de glicémia.
Não sei o que levou o Danny a escolher-me de entre as raparigas presentes na festa naquela noite. Fez-me sinal com a cabeça e encontrámo-nos no green e depois atravessámos o relvado lado a lado. Tirei os sapatos de cetim cor-de-rosa com os pequenos fechos em forma de rosa e a seguir tirei os collants brancos para sentir a relva debaixo dos pés. O relvado reluzia de um verde fluorescente e a noite estava amena. Deitei-me no blazer dele e beijámo-nos nas sombras profundas das árvores e foi uma nova espécie de doçura, receber uma coisa tão improvável como um beijo do Danny Rosen ao mesmo tempo que contemplava uma lua cheia primaveril.
Esgueirar-me da festa do príncipe não continha a mesma novidade e doçura, mas deixava um travo semelhante. Ser desejada e estar num lugar igualmente estranho era quase mágico. Quase mas não inteiramente. Ainda tinha um bilhete de avião para voltar para casa no dia seguinte. Estava previsto que a Ari regressasse de Los Angeles na manhã seguinte para se despedir de mim e da Destiny. Seríamos substituídas pelo novo lote de raparigas que viajava com a Ari. Eu já tinha tirado a minha mala, que estava praticamente feita, do armário do andar de baixo.
Mesmo depois de ir ter comigo nessa noite, o Robin não mencionou o meu bilhete de avião. Senti-me desiludida por ele me deixar partir assim tão facilmente, mas tentei consolar-me, dizendo a mim mesma que fora, no geral, uma boa experiência. Não havia necessidade de grandes dramatismos; sabia que esqueceria o Robin e que a minha estadia no Brunei acabaria por dar uma história divertida. No fim de tudo, pelo menos fica a história.
E seria bom receber o dinheiro. Constava que nos entregavam um envelope, uma «prenda». A gente metia-o na carteira e só conferia mais tarde. Todas as raparigas me garantiam que seria muito mais do que nos tinham prometido. Afinal o príncipe não se apaixonara por mim. As minhas fantasias com coroas e tiaras estavam praticamente extintas. Mas uma grande parte de mim estava contente por voltar para casa, para as coisas de que gostava: os meus amigos, o teatro, o grande romance de amor que é a própria cidade de Nova Iorque, a minha vida que estava apenas no princípio.
Estava na minha cadeira e a Fiona na sua enquanto o Robin fazia a sua habitual deambulação vagarosa pela sala, com a vodka tónica numa mão e o cetro invisível na outra. A Fiona tanto conversava, como ficava calada. Não era tão falsa como as outras raparigas. Isso ou a sua falsidade era tão sofisticada que passava despercebida.
Tentei memorizar as caras das raparigas, os cantos em que a parede tocava no teto, o aspeto que o Robin tinha de costas. Guardei os pormenores num álbum de fotografias mental em que pudesse pegar e mostrar às pessoas quando as noitadas no Max Fish se aproximassem da hora de fechar. Observei o Eddie a levar a Destiny para fora da sala para lhe entregar o famigerado envelope. Ela piscou-me o olho quando voltou a entrar. Vi-a dar abraços de despedida às outras raparigas, aos homens e aos criados com quem tinha travado conhecimento. Toda a gente gostava dela. Fora um elemento verdadeiramente divertido, com as suas mamas gigantescas, fatiotas chocantes e conversa franca.
Era muito popular – observou a Fiona. – Infelizmente para ela, a popularidade e o sucesso não são a mesma coisa.
Preparei-me para ser chamada pelo Eddie, mas isso não aconteceu. Exprimi a minha ansiedade crescente à Fiona.
Ora, tu não te vais embora. Relaxa.
Era a primeira vez que ouvia falar da possibilidade de não me ir embora. Decidi não acreditar nela. Não era ela que mandava aqui. Não estava a par de tudo. Antes de ter tempo para lhe dizer que achava que ela estava enganada, o Robin sentou-se. A noite foi avançando e o Eddie não chegou a abeirar-se de mim, nunca disse uma palavra; e a Madge ou qualquer outra pessoa também não. Um zunido surdo de pânico começou a soar dentro do meu peito. Porque é que não me pagavam? Fizera alguma coisa de errado? Finalmente a Fiona abordou o assunto, revirando os olhos numa expressão exasperada.
Ela está aflita porque acha que vai voltar para casa.
Ele lançou-me um olhar de falsa surpresa.
Queres ir-te embora?
Não, claro que não me quero ir embora. Mas o meu bilhete é para amanhã.
É claro que vais ficar.
Virou-se para a Fiona. – Devias informá-la.
Já informei.
E assim foi. Recostei-me e reordenei as ideias. Ia ficar. Por quanto tempo? Não tinha mais roupa, já tinha vestido tudo três vezes pelo menos. Tinha coisas para fazer em casa. Tinha… o quê? Recapitulei a lista. Os meus amigos iam continuar onde estavam. Nova Iorque não ia a lado nenhum. O Sean estava mais que farto de mim. Eu e a minha família já tínhamos passado por pior; havíamos de ultrapassar isto também.
Quanto à minha carreira, os meus protestos morreram logo ali. Tinha um estágio com uma gente muito fixe, mas isso não significava que eu fosse fixe. Tinha um currículo que incluía o projeto em curso da Penny, três peças estudantis, dois filmes estudantis e muito possivelmente a pior atuação no pior filme de vampiros alguma vez realizado. Objetivamente, bem vistas as coisas, não tinha nada. Nada senão grandes planos. Esses podiam esperar. Senti em simultâneo os dois extremos do espectro de emoções: senti-me exultante e senti-me agoniada. Estava a ganhar e estava a afundar-me.
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Atualizado até capítulo 30
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