Capítulo 3 – O Limiar da Escuridão
Subcapítulo 2: Ecos de uma Nova Realidade
O som metálico do confronto ecoou pelo campo, ressoando em cada fibra do corpo de Sera. Ela assistia, paralisada, enquanto Damian lutava com uma destreza quase sobrenatural. A figura encapuzada, ágil e mortal, atacava com movimentos rápidos e precisos, como se estivesse tentando testar as fraquezas dele.
Mas Damian não parecia ter fraquezas. Ele desviava de cada golpe com uma elegância assustadora, seus movimentos tão fluidos que pareciam uma coreografia macabra.
"Você precisa aprender a ouvir," disse ele entre ataques, a voz firme, mas não desprovida de urgência. "Fique para trás, Sera. Isso não é algo que você está pronta para enfrentar."
"Talvez não, mas não vou ficar parada!" respondeu ela, a adrenalina pulsando em suas veias.
A figura encapuzada aproveitou a distração de Damian e deslizou por baixo de um golpe dele, avançando na direção de Sera com uma velocidade que ela mal teve tempo de processar. Seu coração disparou, e seus instintos gritaram para correr, mas algo a manteve firme no lugar.
A adaga em sua mão pareceu ganhar vida. O calor que antes era apenas uma sensação incômoda agora se transformava em algo pulsante, como se o objeto estivesse respondendo ao perigo iminente. Quando a figura estendeu a mão para agarrá-la, Sera agiu sem pensar.
Ela ergueu a adaga e, em um movimento instintivo, a lâmina encontrou carne. Um grito baixo e gutural escapou da figura encapuzada, que recuou, segurando o ombro onde o sangue agora escorria.
Damian, que havia virado a cabeça no último instante, parecia surpreso. Não era comum vê-lo assim. "Você o acertou," disse ele, quase em um tom de incredulidade.
"É claro que acertei," respondeu Sera, ofegante. "O que você esperava?"
Antes que Damian pudesse responder, a figura encapuzada ergueu-se novamente, a postura ainda mais ameaçadora do que antes. Mas desta vez, não atacou. Em vez disso, ficou imóvel, os olhos — ou o que quer que estivesse sob aquele capuz — fixos em Sera.
"Interessante," murmurou uma voz baixa e arrastada. Era a primeira vez que a figura falava, e o som era tão sinistro quanto o próprio confronto. "A nova catalisadora tem coragem. Mas coragem não será suficiente para salvá-la."
Sera apertou a adaga, o coração batendo descontroladamente. "Quem é você?"
A figura inclinou a cabeça, como se estivesse estudando-a. "Apenas uma sombra, enviada para observar. Mas vejo que há mais em você do que o esperado."
"Se está aqui para observar, pode muito bem sair enquanto ainda consegue," interrompeu Damian, avançando com a espada levantada. "Não lhe darei outra chance."
O encapuzado riu, um som áspero que parecia reverberar em todas as direções. "Oh, Damian, ainda tão protetor. Não se preocupe, não ficarei mais tempo. Só queria confirmar algo."
Antes que qualquer um pudesse reagir, a figura desapareceu nas sombras tão rápido quanto havia surgido. Um silêncio tenso tomou conta do campo de treino.
"Ele foi embora," murmurou Sera, ainda segurando a adaga com força.
"Por enquanto," respondeu Damian, a voz carregada de preocupação. Ele se virou para encará-la, os olhos brilhando de uma maneira que ela não conseguia decifrar. "Você não deveria ter interferido."
"Eu o acertei, não foi?" retrucou ela, erguendo a adaga como prova.
Damian estreitou os olhos, aproximando-se lentamente. "Sim, e é isso que me preocupa."
"O que quer dizer com isso?" perguntou ela, dando um passo para trás instintivamente.
"Essa adaga respondeu a você, Sera. Isso não é algo comum. Apenas catalisadores verdadeiros conseguem ativar a essência de uma arma como essa. E o fato de você ter ferido aquela coisa significa que está mais profundamente conectada a este mundo do que qualquer um imaginava."
"Isso é bom, certo?" perguntou ela, tentando esconder a insegurança na voz.
Damian suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Não necessariamente. Significa que eles vão querer você ainda mais. O que quer que ele estivesse 'observando', agora está confirmado. Você é um alvo, Sera."
As palavras dele pesaram como chumbo sobre ela. Sera sentiu o peso do medo crescendo em seu peito, mas também algo novo — determinação. Ela não sabia por que, mas uma parte dela estava disposta a enfrentar o que fosse necessário.
"Então me treine," disse ela, a voz mais firme do que antes.
Damian ergueu uma sobrancelha, parecendo surpreso pela primeira vez desde que a conhecera. "Você tem certeza? Não há volta depois disso."
"Não tenho escolha, não é?"
Ele hesitou, mas então assentiu. "Muito bem. Mas se quer sobreviver, terá que aceitar algo muito importante: tudo o que você era antes morreu. A partir de agora, você é outra pessoa. E para viver neste mundo, terá que ser mais forte do que pensa ser."
As palavras dele eram duras, mas Sera não recuou. Algo havia mudado dentro dela, algo que ela ainda não entendia completamente, mas que sabia que era essencial para enfrentar o que viria a seguir.
E, enquanto o sol começava a se esconder no horizonte, Sera sentiu que estava cruzando um ponto sem retorno. A batalha estava apenas começando.
A noite desceu rapidamente, envolvendo a mansão e seus arredores em uma escuridão quase impenetrável. O campo de treino parecia diferente sob a luz fraca das poucas lanternas acesas. Damian, que até agora mantinha sua postura imponente e inabalável, parecia perdido em pensamentos enquanto guardava a espada em um suporte.
Sera ainda sentia a adaga em sua mão como uma extensão de si mesma. Apesar do suor que escorria pela sua testa e do cansaço que começava a se instalar em seus músculos, ela se recusava a soltar a arma. Era como se deixar a adaga de lado fosse uma admissão de fraqueza, algo que não podia se permitir naquele momento.
"Está começando a entender o que está em jogo?" Damian perguntou, a voz baixa, mas carregada de intensidade.
"Eu entendo que esse 'mundo' que você insiste em dizer que faço parte está tentando me matar," respondeu Sera, dando passos incertos em direção a ele. "O que eu não entendo é o que você ganha com isso. Por que está me ajudando?"
Damian olhou para ela por alguns segundos, o rosto uma máscara de neutralidade, mas os olhos escondendo algo que Sera não conseguia decifrar. "Ajudo porque é necessário. Não por você, mas pelo equilíbrio que sua existência representa."
Ela bufou, cruzando os braços. "Então, sou só uma peça de um jogo maior? Nada além de uma ferramenta para o 'equilíbrio'?"
"Você é muito mais do que isso," ele disse, a voz tão baixa que ela quase não ouviu. Antes que pudesse pressioná-lo por mais respostas, ele mudou de assunto abruptamente. "Precisamos reforçar sua conexão com a essência antes que eles ataquem novamente."
"Como exatamente eu faço isso?"
Damian indicou que ela o seguisse. Eles atravessaram um pequeno portão que dava para uma trilha estreita e sinuosa. O silêncio era quebrado apenas pelo farfalhar das árvores e pelo som de seus passos na terra. Sera percebeu que estavam indo para uma área mais afastada da mansão, onde a escuridão parecia ainda mais densa.
"Esse lugar é... convidativo," comentou Sera, tentando aliviar a tensão crescente.
Damian não respondeu. Ele finalmente parou em frente a uma clareira, onde uma pequena fonte de água refletia a luz da lua. No centro do espaço, havia uma pedra lisa, coberta de símbolos que Sera não reconhecia.
"Isso é um ritual?" ela perguntou, olhando para ele com desconfiança.
"Não exatamente," respondeu Damian, posicionando-se ao lado da pedra. "É um exercício. Sua conexão com a essência ainda é instável. Se não fortalecê-la, qualquer arma, mesmo essa adaga, será inútil nas suas mãos."
"Então, o que eu faço?"
"Segure a adaga e concentre-se," instruiu ele. "Pense no momento em que enfrentou aquela figura hoje. No que sentiu. No que a arma pareceu exigir de você."
Sera hesitou, mas obedeceu. Ela ergueu a adaga e fechou os olhos, tentando bloquear o desconforto de estar em um lugar tão isolado e sombrio. Sua mente voltou ao confronto — a sensação de perigo iminente, o calor pulsante da lâmina em sua mão, a explosão de coragem que havia surgido do nada.
A princípio, nada aconteceu. Mas então, algo mudou. Ela sentiu a adaga vibrar, como se estivesse reagindo aos seus pensamentos. Uma corrente elétrica percorreu seu braço, e ela quase soltou a lâmina por reflexo.
"Continue," disse Damian, a voz agora mais próxima.
"Eu não sei se posso—"
"Você pode," ele interrompeu.
Sera respirou fundo e tentou novamente. Desta vez, a vibração tornou-se mais intensa, e ela sentiu uma onda de energia atravessá-la. Era como se a adaga estivesse viva, como se estivesse conectada a algo muito maior do que ela podia compreender.
De repente, flashes de imagens começaram a invadir sua mente. Cenários que ela não reconhecia — uma batalha em um campo de cinzas, um céu tingido de vermelho-sangue, figuras encapuzadas surgindo das sombras. E no centro de tudo, Damian, com o rosto marcado por algo que parecia dor e determinação.
Ela abriu os olhos com um sobressalto, o coração batendo acelerado. "O que foi isso?"
Damian a observava, os braços cruzados, mas os olhos fixos nela. "Fragmentos. A essência da adaga está conectada às memórias de seus antigos portadores. Parece que ela aceitou você, mas com isso vêm os fardos."
"Fardos?"
Ele deu um passo em sua direção, a voz assumindo um tom mais grave. "A cada vez que você usa essa arma, um pedaço da sua humanidade será testado. A essência não perdoa fraquezas."
"Então, no fim, eu não sou apenas um alvo para esses monstros. Também sou para essa adaga," disse Sera, com uma risada amarga.
Damian não respondeu imediatamente. Ele apenas estendeu a mão e tocou o ombro dela, um gesto tão inesperado que a pegou de surpresa. "Você tem mais força do que acredita. Mas isso será testado de maneiras que nem eu posso prever."
Sera encontrou os olhos dele, a intensidade ali quase a fazendo desviar o olhar. Mas ela se recusou a recuar. "Então me diga o que preciso fazer."
Ele assentiu lentamente. "Amanhã começamos o próximo estágio. Por agora, descanse. Você vai precisar."
Enquanto voltavam pela trilha, Sera não pôde deixar de olhar para a adaga em sua mão. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas uma coisa era certa: não havia como voltar atrás.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Leonor Santana
Esse povo não come não? São criaturas sem fome ou sede ? já li outros livros nas eles se alimentavam acho que a escritora está esquecendo dessa parte.
2024-12-06
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