A Chama da Escolha

Capítulo 4 – O Preço do Desejo

Subcapítulo 4: A Chama da Escolha

A noite avançava como uma fera silenciosa, envolvendo o céu em um manto de escuridão. As luzes da cidade cintilavam através da janela do apartamento de Damian, refletindo um brilho sombrio que parecia combinar perfeitamente com o peso da atmosfera entre eles. Sera estava em pé, próxima à janela, seus olhos fixos no horizonte. Suas mãos tremiam ligeiramente, mas ela as escondeu, cruzando os braços sobre o peito, como se aquilo pudesse conter o tumulto dentro dela.

Damian observava em silêncio, sentado na poltrona de couro que dominava a sala. Ele parecia calmo, mas seus olhos denunciavam algo mais — um tipo de expectativa calculada, como se estivesse esperando o momento exato para agir.

“Você sabe o que está em jogo, Sera?”, ele perguntou finalmente, rompendo o silêncio com sua voz grave e sedutora.

Ela não respondeu imediatamente. Estava lutando contra uma avalanche de emoções, tentando encontrar as palavras certas. Mas como explicar o que sentia? Como expressar o medo e o desejo conflitantes que pareciam estar arrancando pedaços dela por dentro?

“Eu sei”, ela disse finalmente, embora sua voz soasse mais fraca do que pretendia. “Mas saber não torna isso mais fácil.”

Damian se levantou, movendo-se com a graça predatória que era tão característica dele. Cada passo parecia medido, cada movimento calculado para intensificar o momento. Ele parou a poucos metros dela, a distância entre eles pulsando com a eletricidade de palavras não ditas.

“Você está certa”, ele admitiu, seus olhos nunca deixando os dela. “Não é fácil. Nunca será. Mas as coisas que realmente importam raramente são.”

Sera sentiu a força de suas palavras como um golpe. Ele estava certo. Desde o momento em que o conheceu, sua vida havia sido uma sucessão de escolhas difíceis. Mas aquela escolha parecia ser a mais desafiadora de todas.

“Por que eu?” ela perguntou, virando-se para encará-lo completamente. Seus olhos brilhavam com uma mistura de desafio e vulnerabilidade. “Por que você me escolheu para isso, Damian? Por que não outra pessoa?”

Ele inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso enigmático se formando em seus lábios. “Porque você é diferente, Sera. Porque, apesar de tudo, você tem algo que a maioria das pessoas perdeu há muito tempo: uma alma indomada.”

As palavras dele a atingiram de maneira inesperada. Alma indomada. Era assim que ele a via? Uma mulher lutando contra o destino, contra as correntes invisíveis que tentavam moldá-la? Parte dela queria acreditar nisso, queria acreditar que havia algo especial nela que a tornava digna de tudo isso. Mas outra parte, a parte cínica, suspeitava que Damian estava apenas jogando com suas emoções, manipulando-a para seu próprio benefício.

“Você fala como se me conhecesse melhor do que eu mesma”, ela respondeu, cruzando os braços novamente.

“Talvez eu conheça”, ele disse, avançando um pouco mais. “Talvez eu veja coisas em você que você ainda não é capaz de enxergar.”

A proximidade dele fez o coração de Sera disparar, mas ela se recusou a recuar. Algo dentro dela dizia que recuar seria uma derrota. Ela precisava enfrentá-lo, mesmo que não soubesse exatamente o que isso significava.

“E se você estiver errado?” ela desafiou. “E se eu não for tudo isso que você pensa que sou?”

Damian sorriu, aquele sorriso que era ao mesmo tempo encantador e irritantemente confiante. “Então essa será a minha aposta. Mas eu nunca erro, Sera.”

As palavras dele pairaram no ar entre eles, e Sera sentiu a tensão aumentar novamente. Havia algo nos olhos de Damian, algo que falava de segredos e sombras, de coisas que ele sabia e que ela ainda não conseguia compreender.

“Você tem uma escolha a fazer”, ele disse finalmente, sua voz mais suave agora, quase um sussurro. “Pode continuar lutando contra isso, contra mim, contra você mesma. Ou pode aceitar o que está diante de você e finalmente começar a viver plenamente.”

Sera sentiu a verdade das palavras dele ecoarem dentro dela. Por mais que quisesse resistir, por mais que quisesse manter o controle, algo dentro dela sabia que ele estava certo. Ela não podia continuar fugindo de quem era, do que sentia.

“E o que acontece se eu escolher errar?” ela perguntou, sua voz carregada de uma vulnerabilidade que ela não conseguia esconder.

Damian deu um passo final, fechando a distância entre eles. Ele levantou uma mão, seus dedos roçando levemente a lateral do rosto dela. O toque foi tão inesperado que ela quase recuou, mas se forçou a permanecer onde estava.

“Então você aprenderá, Sera”, ele respondeu, sua voz tão suave quanto o toque. “Porque até os erros podem nos ensinar algo sobre nós mesmos.”

O coração de Sera batia tão rápido que ela sentia que ele podia ouvir. Damian estava tão perto agora, seus olhos fixos nos dela, sua presença preenchendo todo o espaço ao redor. E naquele momento, ela soube que não havia como fugir.

Ela tinha uma escolha a fazer. E, independentemente da decisão, sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.

O toque de Damian parecia uma promessa não dita, uma conexão silenciosa que desafiava qualquer lógica. Sera permaneceu imóvel, permitindo que aquele momento se estendesse. Havia algo avassalador naquela proximidade, algo que fazia com que sua mente oscilasse entre medo e desejo.

“Você sente isso, não é?” Damian perguntou, sua voz baixa e carregada de um magnetismo inegável. “Essa energia entre nós. Você pode ignorar, negar, mas não pode apagá-la.”

Sera tentou encontrar as palavras, mas elas a abandonaram. Tudo o que conseguia fazer era encará-lo, seu coração batendo forte contra as paredes do peito. Ela sabia que estava prestes a cruzar uma linha invisível, um ponto de não retorno. E, de alguma forma, isso não parecia errado.

“Não se trata apenas de você, Sera”, ele continuou, sua mão deslizando de seu rosto para seu pescoço, pousando suavemente ali, como se quisesse ancorá-la naquele instante. “Se trata de nós. Do que podemos construir juntos. Mas, para isso, você precisa confiar em mim. Precisa deixar de lado esse medo que a mantém presa.”

“E se eu não conseguir?” A pergunta escapou de seus lábios antes que ela pudesse impedi-la.

Damian sorriu, aquele sorriso enigmático que a deixava ao mesmo tempo irritada e fascinada. “Você vai conseguir. Porque você é mais forte do que pensa.”

O silêncio que se seguiu foi interrompido pelo som repentino de algo quebrando ao longe. Sera piscou, despertada de sua concentração. Damian virou a cabeça na direção do som, seus olhos estreitando-se instantaneamente.

“Fique aqui”, ele ordenou, sua voz assumindo um tom de autoridade que Sera não ousou desafiar.

Antes que ela pudesse protestar, ele já havia cruzado a sala em direção à porta. Sua postura era tensa, cada passo carregado de propósito. Sera assistiu enquanto ele desaparecia no corredor, o som de seus passos ecoando como um lembrete de que algo estava errado.

Mas ela não ficou parada. A inquietação dentro dela era maior do que a prudência. Contra o bom senso, ela se moveu silenciosamente até a porta, espiando pelo vão que Damian deixara ao sair. O corredor estava parcialmente iluminado, mas vazio.

Sera deu um passo hesitante para fora, seus pés descalços não fazendo som contra o piso frio. A adrenalina pulsava em suas veias enquanto ela seguia o som abafado de vozes vindas de um andar abaixo. Seu coração batia acelerado, cada passo aumentando sua tensão.

Quando chegou ao topo da escada, Sera viu Damian no andar de baixo, parado diante de um homem que ela não reconheceu. O estranho era alto e magro, com uma postura desleixada que parecia contradizer a intensidade de seus olhos. Ele segurava algo nas mãos — uma arma? Não, uma faca.

“Você veio longe demais, Blackthorn”, o homem disse, sua voz carregada de hostilidade.

Damian não parecia abalado. Sua postura era firme, seu rosto uma máscara de controle absoluto. “E você cometeu um erro vindo aqui. Eu avisei que não toleraria mais ameaças.”

O homem riu, um som seco e cortante. “Você acha que pode me intimidar? Isso aqui não é sobre você, Blackthorn. É sobre o que você representa. Sobre o que você está escondendo.”

Sera prendeu a respiração. As palavras do estranho estavam cheias de implicações que ela não compreendia, mas podia sentir o perigo crescendo a cada segundo.

“Se quer uma chance, vá em frente”, Damian respondeu, sua voz mortalmente calma. “Mas saiba que será a última coisa que fará.”

O homem hesitou, mas apenas por um instante. Ele avançou com a faca, e tudo aconteceu rápido demais para Sera processar. Damian se moveu como uma sombra, desviando do ataque com uma agilidade impressionante. Em um piscar de olhos, ele desarmou o homem, torcendo seu braço até que a faca caiu no chão com um clangor alto.

“Você nunca teve chance”, Damian murmurou antes de empurrar o estranho para o chão com força suficiente para deixá-lo incapacitado.

Sera assistiu, paralisada, enquanto Damian se erguia, ajustando o paletó como se nada tivesse acontecido. Ele olhou para cima, seus olhos encontrando os dela.

“Eu disse para você ficar lá dentro”, ele chamou, sua voz misturando exasperação e preocupação.

Sera desceu os degraus lentamente, o peso do que acabara de testemunhar se instalando em seus ombros. “Eu não podia. Precisava saber o que estava acontecendo.”

Damian suspirou, passando uma mão pelos cabelos. “Isso não é algo com que você deveria se preocupar. Mas, agora que viu, não há como voltar atrás.”

“Quem era ele?” ela perguntou, olhando para o homem desacordado no chão.

“Alguém que não entendeu o recado”, Damian respondeu, sua voz endurecendo. Ele deu um passo em direção a ela, seus olhos mais sombrios do que nunca. “Mas você precisa entender, Sera. Isso é apenas o começo. Se ficar ao meu lado, o perigo será inevitável. A escolha ainda é sua.”

E ali, mais uma vez, Sera se viu diante de uma decisão. Uma que poderia mudar tudo.

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