Capítulo 2 – Ecos da Noite
Subcapítulo 1: A Marca da Escolha
O sol estava baixo no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e laranjas, mas Sera não sentia a calorosa promessa de um novo dia. Na verdade, ela mal percebeu a luz do amanhecer que começava a invadir a mansão Blackthorn, suas janelas altas e imponentes já recobertas pela sombra do que parecia ser um segredo imenso e intransponível. Ela estava em seu quarto, encarando o espelho diante dela, tentando absorver o reflexo que lhe era apresentado: uma mulher que mal conhecia, mas que estava se transformando diante dos seus próprios olhos, à medida que se aprofundava naquele mundo.
Aquela casa... ou melhor, aquele lugar, parecia ter um poder estranho sobre ela. O livro que Damian lhe entregara já não parecia tão distante em sua mente. Suas palavras, como um eco, ainda ressoavam em seus ouvidos, fazendo-a questionar tudo o que ela conhecia sobre si mesma. E as sombras, aquelas mesmas que ela sentia em sua pele, pareciam se intensificar cada vez mais.
Sera olhou para as marcas em suas mãos. Suas palmas estavam levemente marcadas, como se um selo invisível tivesse sido gravado ali. Não era algo físico, mas algo mais profundo, como uma conexão antiga que ela ainda não compreendia completamente. Algo que não deveria existir, mas estava ali, sem que ela pudesse fazer nada a respeito. Ela olhou para o espelho, seu olhar se perdendo nas próprias sombras que dançavam no vidro.
Foi nesse momento que o som suave de uma batida na porta a tirou de sua introspecção. Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu lentamente, e uma figura conhecida apareceu no limiar do quarto. Era Elena, a governanta da mansão, com seu semblante calmo e a postura impecável que sempre a acompanhavam. Mas, ao contrário das outras vezes, hoje havia algo diferente em seu olhar. Era como se ela soubesse que Sera estava à beira de algo, algo que mudaria tudo.
“Elena,” Sera disse, tentando disfarçar o desconforto que sentia. Ela ainda não se acostumara com a presença constante da governanta, embora sua educação impecável e sua presença forte fosse inegável. “O que há de novo? Por que você está aqui?”
Elena permaneceu em pé, olhando diretamente para ela. “O Senhor Blackthorn deseja que você esteja na biblioteca. Ele disse que é hora de discutir o próximo passo.”
Sera franziu a testa. “E o que seria isso? O próximo passo para quê?”
Elena hesitou por um breve momento, como se ponderasse a melhor forma de responder. “O Senhor Blackthorn não compartilha muitos detalhes, mas acredite, senhora, o que ele oferece não é algo que você pode rejeitar.”
Aquelas palavras tinham um peso, uma gravidade, que Sera não podia ignorar. Ela sabia, no fundo, que tudo o que havia acontecido até agora não fora por acaso. Ela não havia caído naquele lugar sem razão, não tinha encontrado Damian sem uma razão. Ele estava a levando, de maneira calculada, para um destino que ela ainda não podia compreender completamente, mas que a cada dia parecia mais inevitável.
“Então, eu vou até ele,” Sera disse, tentando esconder o turbilhão de sentimentos que se formavam dentro dela. Algo a dizia que, ao seguir aquelas instruções, ela estaria dando um passo irreversível, algo do qual não haveria mais como voltar. Mas ao mesmo tempo, ela não tinha escolha. As palavras de Damian ainda ecoavam em sua mente: "Não há escolha."
Elena se inclinou levemente, um gesto de respeito, e se retirou, deixando Sera sozinha novamente. A jovem deu uma última olhada no espelho, seu reflexo agora obscurecido pelas sombras da noite. Ela sabia que estava prestes a cruzar um limite. O que quer que estivesse esperando por ela na biblioteca, ela não estava mais certa de querer saber. Mas a verdade, ao que parecia, não era algo que ela poderia evitar.
Ela pegou um casaco pesado de lã que estava sobre a cama, sentindo a frieza do tecido contra sua pele. O peso de sua decisão parecia aumentar a cada passo que ela dava pelo corredor longo e escuro. A mansão Blackthorn era como um labirinto, e cada novo passo parecia afastá-la mais da mulher que ela costumava ser.
À medida que ela se aproximava da biblioteca, a sensação de que estava sendo observada a invadiu novamente. As paredes, como sempre, pareciam guardar segredos. A porta da biblioteca estava entreaberta, e uma leve brisa parecia empurrá-la, como se o próprio espaço estivesse chamando-a para entrar.
Ela hesitou por um momento, mas logo se viu empurrando a porta. Ao entrar, o cheiro de madeira envelhecida e livros antigos a envolveu imediatamente. A luz suave que entrava pelas grandes janelas iluminava o rosto de Damian, que estava de costas para ela, observando algo em um dos livros na mesa central.
"Você chegou," ele disse sem virar, sua voz baixa e cheia de uma calma inquietante. "Estava esperando por você."
Sera ficou em silêncio, observando-o. Cada palavra que ele proferia parecia carregada de significado, e ela sabia que, ao ouvir a próxima, algo dentro de si mudaria para sempre.
Ela se aproximou da mesa, finalmente quebrando o silêncio que se estendia entre eles. “O que você quer de mim, Damian? O que exatamente está acontecendo aqui?”
Damian se virou lentamente, e seus olhos escuros brilharam com uma intensidade que fez o coração de Sera bater mais rápido. Ele se aproximou dela, o cheiro de seu perfume forte e penetrante no ar.
“O que eu quero de você, Sera,” ele começou, a voz quase um sussurro, “é que você entenda o que realmente está acontecendo. Não só aqui, mas em você. Você vai ser minha parceira, minha consorte... porque sem você, o que estamos construindo aqui não pode se completar. Você faz parte disso, e não há como negar.”
Sera sentiu o peso das palavras dele, cada uma delas como um fardo que se fixava em sua mente. Mas, antes que pudesse responder, Damian levantou uma mão, tocando suavemente o livro que ela segurava. “Este livro não é só um guia, Sera. Ele é uma chave. E você está prestes a usá-la. Para quê, exatamente, só o tempo dirá.”
O que ele queria dizer com aquilo? A resposta estava longe de ser clara, mas algo dentro dela sentia que a chave do que ele estava dizendo estava mais perto do que ela imaginava.
E então, enquanto as sombras da biblioteca se estendiam ao redor deles, Sera compreendeu que, mais uma vez, ela estava diante de uma escolha. A escolha de aceitar tudo o que Damian lhe oferecia, de ir mais fundo no enigma que ele a convidava a desvendar. Ou recuar, tentar fugir, e arriscar perder tudo o que já começara a descobrir sobre si mesma.
Era tarde demais para fugir. Ela já estava presa.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Leonor Santana
Eu sabia que ele estava preso em algo que somente ela poderia liberta-lo. Porque essa mansão é uma prisão de sentimentos passados por seus ancestrais e não pode ser desfeito por qw pessoa.
2024-12-06
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Keny hill
obrigado por sua opinião!!! vou tentar melhorar
2024-12-06
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