Capítulo 2 – Ecos da Noite
Subcapítulo 5: Revelações na Escuridão
A noite era insondável, carregada de silêncios perturbadores e segredos não ditos. Após a saída de Damian, Sera sentou-se no chão frio ao lado da cama, tentando recuperar o controle de suas emoções. O lampejo de medo e adrenalina ainda pulsava em seu peito, mas havia algo mais — uma faísca de curiosidade perigosa que ela não conseguia extinguir.
Ela precisava saber. Precisava entender por que sua vida, que antes era tão normal, havia sido engolida por um abismo de mistério e perigo. Damian claramente sabia mais do que estava disposto a compartilhar, e essa retenção de informações era uma afronta. Se ela estava destinada a sobreviver nesse novo mundo, precisava de respostas.
Determinada, Sera caminhou até a escrivaninha onde deixara sua câmera. A lente fria e familiar era um lembrete de quem ela era antes de tudo isso. Ela a segurou por um momento, contemplando a ideia de registrar os acontecimentos, como se capturar a realidade tornasse tudo menos surreal. Mas então algo mais chamou sua atenção — o envelope preto.
Ela o havia encontrado no meio de suas coisas quando chegou à mansão, mas, na confusão dos últimos dias, não teve coragem de abri-lo. Agora, porém, parecia o momento certo. Com dedos trêmulos, rasgou o selo, revelando um pedaço de papel grosso e cuidadosamente dobrado.
As palavras, escritas em uma caligrafia elegante, enviaram arrepios por sua espinha:
"Não confie na escuridão, mas também não confie na luz. Ambos têm seus próprios interesses. O que importa é o que você escolher se tornar no meio disso."
Antes que pudesse processar o significado, ouviu passos no corredor. Rápidos, determinados. Instintivamente, Sera escondeu o bilhete e pegou a câmera, tentando parecer ocupada. A porta se abriu antes que ela pudesse reagir, e Damian entrou, seu semblante duro como uma tempestade.
"Você está desobedecendo as regras já?" Ele cruzou os braços, os olhos brilhando com algo entre irritação e preocupação.
"Eu não fiz nada," respondeu ela, tentando soar firme, mas a câmera tremendo em suas mãos traía sua inquietação.
Ele deu um passo à frente, analisando-a com cuidado. "Há algo que você não está me contando, Sera."
Ela o encarou, desafiadora, embora seu coração batesse descontroladamente. "Talvez porque você não conte nada para mim. Como espera que eu confie em você se tudo o que faz é me deixar no escuro?"
Damian ficou em silêncio por um momento, sua mandíbula se apertando. Ele parecia travar uma batalha interna antes de finalmente dizer: "Você quer respostas? Muito bem. Mas cuidado com o que deseja."
Ele se virou, indo até a porta. "Me siga," disse, sem esperar sua resposta.
Relutante, mas intrigada, Sera o seguiu pelo corredor. A mansão era ainda mais assustadora à noite, com as paredes cobertas de tapeçarias antigas e móveis que pareciam testemunhas silenciosas de segredos antigos. Damian a levou até uma escadaria estreita que descia para um porão que ela não sabia que existia.
"Onde estamos indo?" ela perguntou, tentando mascarar o nervosismo em sua voz.
"Para a verdade," foi tudo o que ele disse.
As escadas terminavam em uma porta de madeira maciça com um trinco enferrujado. Damian abriu a porta com um empurrão, revelando uma sala iluminada por uma luz fraca e amarelada. O espaço era repleto de livros, mapas e objetos que pareciam mais saídos de um filme de terror do que da realidade.
No centro da sala havia uma mesa, e sobre ela repousava algo que fez Sera parar de respirar por um instante: uma foto dela, tirada meses antes de conhecer Damian.
"Por que você tem isso?" Sua voz soou mais alta do que ela pretendia, ecoando na sala.
Damian se virou para ela, o rosto sério. "Porque você não chegou até aqui por acaso. Você foi escolhida, Sera."
"Escolhida?" Ela sentiu o chão sumir sob seus pés. "Por quem? Por quê?"
Ele deu um passo à frente, e o peso de sua presença parecia mais esmagador do que nunca. "Há uma força dentro de você que atrai o mundo sombrio. Eu a vi antes mesmo de você saber que ela existia. E se você não aprender a controlá-la, será consumida por ela."
Sera balançou a cabeça, recusando-se a aceitar. "Eu não sou especial, Damian. Sou só uma pessoa comum."
Ele soltou um riso seco, mas não havia humor em seus olhos. "Você é tudo, menos comum."
Antes que ela pudesse responder, um som ensurdecedor ecoou pela sala, como um trovão. As luzes tremularam, e Damian imediatamente se colocou entre Sera e a porta.
"Fique atrás de mim," ele ordenou, e pela primeira vez, ela não discutiu.
A porta que haviam acabado de atravessar abriu-se com um estrondo, revelando algo que Sera não conseguiria descrever mesmo se quisesse. Olhos brilhantes, garras afiadas, e um grito que parecia arrancar pedaços de sua alma.
Damian avançou sem hesitar, enfrentando o monstro com uma força que parecia impossível para qualquer ser humano. Ele era rápido, letal, como se aquele fosse seu elemento natural.
Sera, paralisada, apenas observava, o coração batendo tão forte que parecia prestes a explodir. No fundo, porém, uma verdade começava a emergir: ela estava mergulhada em um mundo que não entendia, mas que, de alguma forma, sentia ser parte dela.
E aquela era apenas a primeira batalha
O rugido bestial reverberou pela sala, e Sera se encolheu contra a parede, incapaz de desviar os olhos da cena à sua frente. Damian se movia como uma força da natureza, atacando a criatura com uma precisão quase sobrenatural. Suas mãos pareciam brilhar com uma energia escura e pulsante, que ele usava para desviar as investidas do monstro.
A criatura era colossal, com membros distorcidos e olhos que cintilavam com uma luz carmesim. Cada movimento era brutal, cada grito dela, um assalto aos sentidos. Mas Damian não cedia. Ele a atacava como se tivesse enfrentado aquele tipo de coisa dezenas de vezes, como se fosse parte de sua existência.
Sera não sabia o que era mais assustador — o monstro ou a frieza letal de Damian. O homem que, até então, parecia um enigma arrogante e controlador, agora era um guerreiro, um predador à altura daquela coisa.
"Eu disse para ficar atrás de mim!" gritou ele, sem sequer olhar para ela, enquanto desviava de um golpe que poderia ter despedaçado uma parede.
Ela não respondeu. Não conseguia. O medo apertava seu peito como um punho de ferro. Ainda assim, algo nela começava a despertar, algo profundo e primal, uma vibração na alma que ela não sabia que existia.
O monstro lançou-se novamente, e Damian o segurou pelo pescoço, esmagando-o contra a parede com uma força que fez a sala inteira tremer. Ele murmurou algo em uma língua que Sera não entendia, e a energia ao redor dele intensificou-se, formando uma espécie de corrente elétrica que envolveu o corpo da criatura.
A criatura soltou um último grito agonizante antes de explodir em uma nuvem de cinzas negras que se dissipou pelo ar, deixando um rastro de silêncio opressor. Damian permaneceu parado por um momento, a respiração pesada, os ombros rígidos. Suas mãos ainda brilhavam com aquela energia sombria, que lentamente se apagava, até que ele finalmente se virou para Sera.
Ela estava paralisada, os olhos arregalados e o corpo tenso. Não conseguia processar o que acabara de testemunhar. Aquele não era um homem comum — nem de longe.
"Você está bem?" perguntou ele, a voz baixa e controlada, mas com um toque de preocupação.
"Eu..." Sera tentou responder, mas as palavras não saíam. Ela se levantou devagar, ainda encostada na parede. "O que... era aquilo?"
Damian limpou a poeira do casaco e soltou um suspiro pesado. "Uma criatura das sombras. São atraídas por energia como a sua. É por isso que você precisa aprender a se proteger."
"Minha energia? O que isso significa?" perguntou, a voz finalmente saindo, embora embargada.
Ele se aproximou, parando a poucos passos dela. "Você carrega algo dentro de si, Sera. Algo que nenhuma pessoa comum tem. É como um farol para essas criaturas. Enquanto você não souber como escondê-lo, estará em perigo constante."
Ela sentiu a cabeça girar, como se o chão estivesse se movendo sob seus pés. "Você está dizendo que... isso tudo é por minha causa?"
"Não é culpa sua," disse ele, firme. "Mas é a sua realidade agora."
Sera balançou a cabeça, recuando um passo. "Eu não pedi por isso. Não quero nada disso!"
Damian deu um passo à frente, seu olhar intenso prendendo o dela. "Eu sei que você não quer. Mas você não tem escolha. Lutar ou ser destruída. Essas são as únicas opções que restam."
As palavras dele eram frias, mas verdadeiras. E Sera sabia disso, embora desejasse desesperadamente que tudo não passasse de um pesadelo.
"Eu preciso entender," disse ela, finalmente, sua voz mais firme. "Se eu sou um farol, se essas coisas vêm por minha causa... por quê? O que há de tão especial em mim?"
Damian hesitou por um momento, como se estivesse decidindo o quanto deveria contar. Então, ele disse: "Você é um catalisador, Sera. Uma raridade. Há poder dentro de você que pode mudar o equilíbrio entre luz e escuridão. Por isso, tanto eles quanto outros... querem você."
"Outros?" Ela piscou, tentando absorver tudo. "O que você está dizendo? Que há mais como... aquilo?"
"Sim. E alguns são muito piores."
A sala parecia mais fria de repente, e Sera cruzou os braços, tentando conter o tremor que não era apenas de medo, mas também de algo mais profundo — uma conexão inexplicável com aquilo que Damian descrevia.
"Por que você me protege, então?" A pergunta saiu antes que ela pudesse pensar. "Se eu sou tão perigosa... por que não se livra de mim?"
Damian riu, mas o som estava longe de ser leve. "Se livrar de você não mudaria nada. Eles ainda te encontrariam. Além disso..." Ele hesitou, e por um momento, parecia vulnerável, o que era desconcertante. "Eu tenho meus motivos."
Antes que ela pudesse questioná-lo mais, Damian virou-se e começou a recolher os livros e objetos espalhados na mesa. "Por hoje, você já viu o suficiente. Vá descansar."
"Descansar?" Ela o encarou, incrédula. "Depois disso?"
Ele olhou por cima do ombro, os olhos mais sombrios do que nunca. "Você vai precisar de toda a energia possível para o que vem a seguir."
E com isso, ele saiu da sala, deixando Sera sozinha com seus pensamentos, suas dúvidas e a sensação de que a escuridão que começava a cercá-la era apenas o início de algo muito maior.
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Atualizado até capítulo 54
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