Capítulo 1 – Sombras do Passado
Subcapítulo 4: O Preço do Conhecimento
A mansão parecia diferente agora. O ar, denso e pesado, trazia consigo uma sensação de claustrofobia. Sera sentia o peso das palavras de Damian ecoando em sua mente enquanto caminhava pelos corredores. A promessa de descobrir o desconhecido e o inegável sentimento de que ela estava prestes a ser consumida por algo maior a atraíam, ao mesmo tempo em que a aterrorizavam. O desejo de saber mais parecia invadir seu ser, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que não havia mais volta.
Damian a conduziu por mais uma série de corredores estreitos, cada um mais opressor do que o anterior. As paredes, forradas de tapeçarias pesadas e quadros antigos, pareciam fechar o espaço ao redor dela, como se a própria casa estivesse observando seus movimentos. Quando ela pensou ter ouvido algum som distante, uma batida baixa e quase imperceptível, o silêncio logo se restabeleceu, deixando-a ainda mais desconfortável.
Eles pararam diante de uma porta de carvalho imponente, adornada com detalhes dourados que pareciam brilhar à luz suave das velas. Damian a olhou por um momento, como se estivesse avaliando sua reação, antes de girar a maçaneta e abrir a porta com um ranger.
O ambiente dentro da sala era diferente de qualquer coisa que Sera tivesse visto até então. O espaço era amplo, mas sombriamente decorado, com móveis antigos e elegantes. O cheiro de madeira envelhecida e livros raros invadia o ar, mas havia algo mais. Algo pesado, quase tangível, que ela não conseguia identificar.
“Esta é a biblioteca pessoal da família Blackthorn,” Damian explicou, fechando a porta atrás deles com suavidade. “Aqui guardamos os registros mais valiosos. Não apenas os materiais históricos, mas também os segredos que moldaram a nossa linhagem.”
Sera olhou ao redor, os olhos se fixando nas estantes altas que ocupavam as paredes, repletas de livros, pergaminhos e tomos que pareciam estar cobertos por uma camada de mistério. “Segredos... e o que exatamente você está me pedindo para fazer aqui?”
Damian sorriu de maneira enigmática e se aproximou de uma mesa central, onde um livro de capa preta descansava, aberto em uma página. “Você vai estudar, Sera. Vai aprender sobre a história dessa família, sobre o que está por trás das imagens que você está prestes a recriar.”
Ela franziu a testa, caminhando até ele com passos hesitantes. “Mas e os registros que você mencionou? O que exatamente está aqui?”
“Tudo o que você precisa saber.” Ele gesticulou para o livro, onde as palavras escritas pareciam dançar nas sombras da sala. Sera se aproximou, as mãos tremendo levemente enquanto tocava o livro. O couro estava frio e duro sob seus dedos, mas havia algo fascinante naquele objeto, como se ele estivesse chamando por ela.
Ela abriu a página à frente e começou a ler. As palavras eram antigas, escritas em um tom formal que parecia pertencer a um outro tempo. Mas o que mais a atraía não eram as palavras em si, mas o mistério que elas carregavam, o tom de advertência que começava a se infiltrar em cada frase.
“As linhagens não são apenas sangue e nome,” Sera leu em voz baixa, “mas também a marca do destino que não pode ser evitada. Aquele que ousa mergulhar na escuridão nunca poderá sair dela impune.”
Ela parou, os olhos se erguendo para Damian, que observava silenciosamente. Ele não disse nada, mas seus olhos transmitiam um significado implícito – ele sabia exatamente o que ela estava sentindo. O peso daquelas palavras era claro: ela estava prestes a se envolver em algo que transcendia a fotografia, algo muito mais profundo e perigoso.
“O que isso significa, Damian?” Sera perguntou, a voz carregada de uma curiosidade que ela não conseguia controlar.
Ele se aproximou lentamente, seus passos silenciados no tapete grosso da sala. “Significa que as linhagens da minha família foram marcadas por escolhas. Escolhas que criaram esta casa, estas histórias, e que agora exigem um preço. O preço do conhecimento.”
Sera sentiu o estômago se apertar. O que ela estava prestes a aprender não era apenas um conto antigo. Era um fardo que tinha sido carregado por gerações. Ela sentiu, instintivamente, que não estava pronta para o que estava prestes a descobrir.
“Mas por que eu?” Ela se virou para Damian, os olhos cheios de perguntas e, agora, de uma apreensão que não conseguia mais disfarçar. “Eu sou apenas uma fotógrafa.”
“Você é mais do que isso, Sera.” Damian respondeu com uma intensidade que fez o coração dela disparar. “Você tem um olhar único. E você tem uma coragem que, ao que parece, está prestes a ser testada.”
Sera engoliu em seco. Ela sabia que, a partir daquele momento, nada seria simples. A ideia de ser um mero espectador dessa história já estava fora de questão. Ela estava prestes a se tornar parte dela, e o que isso significava?
Damian, notando sua hesitação, sorriu suavemente. “Talvez seja tarde demais para perguntar isso agora, mas você tem a coragem necessária para ver o que está escondido atrás dessas portas? O que ainda precisa ser revelado?”
Ela olhou para o livro em suas mãos, sentindo o peso das palavras em seu peito. A resposta parecia óbvia, mas a dúvida continuava. Ela já tinha cruzado uma linha invisível, e o conhecimento que Damian prometia tinha um preço. O preço de abrir uma porta que talvez nunca mais fosse possível fechar.
“Eu tenho,” Sera respondeu, finalmente, a voz rouca de uma decisão que não sabia se realmente queria tomar. Mas sabia, no fundo, que havia algo em jogo que não poderia mais ignorar.
“Então comece,” Damian disse, sua voz agora baixa e grave, quase um comando. “O jogo está apenas começando.”
Sera respirou fundo, sentindo uma mistura de ansiedade e curiosidade que crescia dentro dela. O silêncio na sala parecia mais denso agora, como se as paredes estivessem observando cada movimento, cada palavra. O livro em suas mãos, com suas páginas amareladas e escritas antigas, estava se tornando mais que um simples objeto. Ele estava se tornando o ponto de partida para uma jornada que ela sabia que mudaria sua vida de uma maneira que ela ainda não conseguia compreender totalmente.
Damian se afastou lentamente, cruzando os braços enquanto observava a expressão de Sera. Seu olhar era calculista, como se ele soubesse algo que ela ainda não conseguia perceber. Sera, por sua vez, sabia que o peso do que estava prestes a aprender não seria leve. Ela olhou para ele, seus olhos brilhando com uma determinação silenciosa.
“Então, o que eu preciso fazer agora?” ela perguntou, a voz firme, tentando se convencer de que estava pronta para aquilo. O medo estava lá, mas a necessidade de entender o que estava acontecendo era maior. Ela não podia mais recuar.
Damian fez um gesto vago com a mão, indicando a sala ao redor. “Aqui, Sera, tudo tem um propósito. Cada livro, cada item, cada sombra nesta mansão está ligada a uma história que precisa ser contada. Mas você não vai encontrar todas as respostas aqui. Pelo menos, não imediatamente.”
Sera olhou ao redor, observando as estantes cheias de livros e tomos antigos. Cada um parecia carregado de um poder que ela não entendia, como se cada história estivesse impregnada com algo além das palavras. Algo sombrio. Algo perigoso.
“O que você quer dizer com isso?” Ela franziu a testa, sentindo que a conversa estava se tornando mais enigmática do que ela gostaria.
Damian sorriu de maneira quase imperceptível. “Quero dizer que o caminho não é linear. Às vezes, você vai precisar olhar além do óbvio. Às vezes, as respostas não vêm com facilidade. E o que você descobrir pode ser mais do que você consegue lidar.”
Sera engoliu em seco, as palavras ecoando em sua mente. Ela sabia que Damian não estava sendo dramático apenas por diversão. Havia algo real e inquietante em sua fala. Algo que fazia com que o ar ao seu redor parecesse mais espesso, como se o próprio ambiente estivesse se tornando mais carregado à medida que ela se aprofundava nas verdades que ele estava prometendo.
“Eu... não entendo.” Ela exalou, começando a se sentir mais perdida do que nunca. “Eu sou apenas uma fotógrafa. Não tenho ideia de como lidar com tudo isso.”
Damian se aproximou dela, parando a poucos centímetros, o olhar profundo e penetrante. “Você não é só uma fotógrafa, Sera. Você tem a capacidade de ver o que outros não veem. Isso é o que me interessa. O que você tem, não pode ser ensinado. É algo que nasce com você.”
Sera olhou para ele, tentando compreender suas palavras. Ela sentia uma intensidade crescente em seu olhar, algo que ia além da curiosidade ou da atração. Havia algo perigoso em seu olhar, como se ele estivesse tentando manipulá-la, puxá-la mais fundo para o abismo sem que ela soubesse disso.
“Eu sei que você tem medo,” ele continuou, sua voz suave, mas carregada de um poder sutil. “Todos nós temos. Mas a verdadeira pergunta não é se você tem medo. A verdadeira pergunta é se você está disposta a pagar o preço para encontrar as respostas. Para descobrir a verdade.”
Sera sentiu uma onda de frustração misturada com algo mais. Um desejo. Um impulso que ela não podia controlar. Algo em seu interior queria saber mais, apesar do medo. Ela queria entender o que estava acontecendo, entender a relação entre as imagens no álbum e a mansão, entender quem Damian realmente era. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de sua mente gritava para que ela recuasse, para que se afastasse antes que fosse tarde demais.
“E qual é esse preço, Damian?” A voz de Sera saiu mais baixa do que ela pretendia, cheia de uma preocupação que ela não queria admitir. Ela sentia que algo estava se aproximando, algo que ela não poderia mais escapar.
Damian a observou em silêncio por um momento, seus olhos intensos, como se estivesse avaliando sua alma. “O preço,” ele disse finalmente, com um sorriso enigmático, “é você mesmo. Não há mais volta. Cada descoberta, cada pedaço da verdade que você encontrar, exigirá mais de você. E ao final, você vai ter que decidir o que é mais importante: a verdade ou a sua sanidade.”
Sera sentiu um frio na espinha, mas não conseguiu afastar o fascínio. Havia algo em suas palavras, na maneira como ele falava, que a atraía, ao mesmo tempo que a repelia. Ela sabia que Damian estava certo sobre uma coisa: ela não poderia mais voltar atrás. Ela estava presa nesse jogo, e as peças já haviam sido movidas. Agora, ela tinha que jogar para descobrir até onde isso a levaria.
“Eu vou descobrir,” ela disse, mais para si mesma do que para Damian. A decisão estava tomada, e ela não podia mais hesitar. “Eu vou continuar.”
Damian assentiu, um sorriso satisfeito surgindo em seus lábios. “Eu sabia que você faria a escolha certa.” Ele deu um passo atrás, como se estivesse já se preparando para o próximo movimento. “Agora, você começa a entender o que está em jogo. Mas esteja avisada, Sera: nada disso é fácil. E nada disso é seguro.”
Ele se virou, indo em direção a uma das estantes, e puxou um pequeno volume encadernado em couro, entregando-lhe com cuidado. “Isso será seu guia. Estude-o com atenção. Nele estão as respostas que você vai buscar... se estiver pronta para vê-las.”
Sera olhou o livro em suas mãos, sentindo a tensão aumentar em seu peito. Mais uma vez, ela sentiu o peso de suas escolhas. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se acendeu. Ela estava pronta. Pelo menos, isso ela queria acreditar. Ela estava mais do que disposta a descobrir tudo o que Damian e a mansão tinham a esconder.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Leonor Santana
Deus me livre eu já estaria longe dessa mansão e desse homem !
2024-12-06
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