Capítulo 1 – Sombras do Passado
Subcapítulo 3: O Jogo Começa
O relógio de parede soou com um leve tilintar, marcando o início da noite. O silêncio profundo da mansão Blackthorn preenchia cada canto da sala, tornando a respiração de Sera quase audível. Ela se afastou da mesa, onde o álbum de fotografias antigas repousava, ainda pesado nas mãos. Damian permanecia parado, observando-a com um olhar intenso, como se estivesse esperando por algo – uma reação, uma resposta, uma decisão.
Ela podia sentir a tensão no ar, densa e quase elétrica. O ambiente parecia ter uma vida própria, como se a mansão fosse mais do que apenas paredes e objetos; ela pulsava com histórias não contadas e promessas inquietantes. A única coisa que parecia inalterada era a confiança imutável de Damian. Ele estava seguro de si, confortável em seu domínio, enquanto Sera começava a se perguntar se, de fato, entenderia o que estava acontecendo ali.
“Você realmente quer saber o que está por trás disso, não é?” A voz de Damian a arrancou de seus pensamentos. Ele estava tão perto agora, quase a tocando. Sera se virou, seus olhos encontrando os dele.
“Claro que quero,” ela respondeu, sua voz mais firme do que se sentia. “Você me trouxe aqui com essa história de legado e mistério. Eu... preciso entender o que está acontecendo.”
Damian sorriu, mas não era um sorriso acolhedor. Era um sorriso de quem sabia mais do que estava disposto a revelar. “Tudo tem um preço, Sera. E às vezes, o preço não é apenas uma quantia de dinheiro ou tempo. Às vezes, é a parte mais profunda de nós mesmos.”
Sera engoliu em seco. Ele estava falando de algo além das simples fotografias, algo que ia além daquilo que ela estava pronta para entender. Mas não podia retroceder agora. Já estava dentro do jogo, e se houvesse uma chance de descobrir a verdade, ela teria que jogar.
Damian caminhou até o centro da sala, o ritmo de seus passos suaves e ritmados. Ele parou em frente a uma janela enorme, olhando para o jardim que parecia se perder na escuridão da noite. “Aquela imagem que você viu no álbum... Ela é apenas o começo. Uma peça de um quebra-cabeça muito maior.”
Sera o seguiu com o olhar, tentando não ceder à pressão que parecia aumentar a cada segundo. “E o que exatamente você espera de mim? Sou uma fotógrafa, não uma detetive.”
“Você pode ser ambas. Eu preciso de alguém que veja além da superfície. Alguém que capture as verdades que foram escondidas.” Damian virou-se abruptamente, seus olhos fixos nela. “Eu preciso que você revele o que está perdido.”
Sera não disse nada. O tom de sua voz e a intensidade do olhar dele a desestabilizaram. Ela tentou lembrar por que estava ali, qual era o seu objetivo – uma oportunidade única, uma chance de finalmente ter algo mais, algo que a fizesse se sentir importante em um mundo que parecia tão vazio. Mas, conforme olhava para Damian, ela começava a perceber que talvez estivesse se metendo em algo perigoso, algo que nem mesmo suas lentes seriam capazes de registrar por completo.
“O que você está me pedindo é impossível,” disse ela, tentando manter a calma. “Essas fotos… Não podem ser recriadas. Elas são antigas demais, distantes demais da realidade de hoje.”
Damian caminhou até a mesa e, com um movimento brusco, abriu o álbum de novo, parando em uma página específica. Ele apontou para uma foto em particular – uma imagem em preto e branco de uma mulher jovem, com os cabelos escuros e o olhar intenso, tão profundo que parecia atravessar a foto.
“Acredita que essa mulher está morta, não é?” ele disse, a voz baixa, como se estivesse compartilhando um segredo. “Mas não está. Ela vive. E é sua tarefa capturar o que ela perdeu.”
Sera sentiu um calafrio correr por sua espinha. Não era possível. Não poderia ser. “Essa mulher… Ela parece tão real.”
Damian sorriu novamente, aquele sorriso enigmático. “Ela é real. Mas você precisa saber que, ao olhar para essas fotos, você não está apenas vendo o passado. Você está abrindo uma porta. E uma vez que essa porta seja aberta, não há como voltar atrás.”
Ela engoliu em seco, o peso da responsabilidade, ou seria da ameaça, pendendo sobre ela. Olhou mais uma vez para a imagem da mulher. Algo na expressão dela, na maneira como os olhos pareciam fixar algo que Sera não conseguia ver, a incomodava. A mulher na foto parecia estar pedindo algo, como se estivesse esperando que alguém a compreendesse.
“Eu... não entendo,” disse Sera, a voz trêmula. “O que você está realmente me pedindo para fazer?”
Damian deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Agora, seus olhos estavam mais próximos do que nunca. “Você está me pedindo para fazer o impossível,” ele respondeu, a voz quase um sussurro. “Eu estou pedindo para que você revele os segredos que estão escondidos há gerações. O que foi perdido na escuridão do tempo. Eu quero que você enxergue o que ninguém mais pode ver.”
Sera sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. Quando ela entrou na mansão Blackthorn, não havia compreendido totalmente o que havia em jogo. Mas agora, ao ouvir as palavras de Damian, sentia uma presença sombria se infiltrando em cada parte de seu ser. Ela tinha a sensação de que estava prestes a cruzar uma linha invisível, uma linha da qual não havia como voltar.
E, no entanto, uma parte dela queria continuar. Queria desvendar a verdade. Queria descobrir o que estava perdido no tempo, no espaço e no coração daquela mansão. Mesmo sabendo que, ao fazer isso, ela poderia perder algo muito mais valioso do que apenas sua segurança.
“Eu farei o que for preciso,” disse ela, sua voz baixa, mas decidida. “Mas você está me avisando de tudo isso, Damian. Porque, se eu entrar de cabeça nesse jogo, não haverá mais volta.”
Damian olhou para ela com uma expressão que misturava aprovação e um toque de diversão. “Não há volta, Sera. Não há volta.”
E, naquele momento, Sera soube que sua jornada estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 54
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